quarta-feira, 3 de agosto de 2016

“Zhukov” – Frederico Branco


Resenha Livro – 230 - “Zhukov: grandes personagens de todos os tempos” – Biblioteca de História – Ed.Três




“Na Luta contra o Eixo, as nações aliadas não têm dívida maior para com um homem do que a contraída com o marechal Zhukov”. – Eisenhower, 1º Comandante das Forças Aliadas da II Guerra Mundial e Presidente dos EUA (1953-1961)
               
Talvez não há período da história contemporânea com maior repercussão na Indústria Cultural, e no âmbito cinematográfico hollywoodiano em particular, do que a II Guerra Mundial. A título de exemplo, citamos alguns sucessos de público como “O Resgate do Soldado Ryan” de Steven Spielberg e “Pearl Harbor” dirigido por Michael Bay. O que há em comum nestas películas é uma certa orientação ideológica que favorece a intervenção norte-americana como quase que decisiva para a derrota o eixo. Todavia, há de se considerar algumas premissas que são incontroversas mesmo dentre historiadores de distintas orientações políticas: o chamado “Dia D”, a invasão da Normandia em França no ano de 1944 esteve longe de significar o início da derrocada nazista. Em Junho de 1944, os rumos dos acontecimentos já sinalizavam claramente a derrocada do eixo, e há de se destacar que a mobilização desde a França pelos americanos sinalizava a preocupação do alto comando militar norte-americano do rápido avanço soviético (comunista) pelo oriente; ainda mais significativo do ponto de vista político foram as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki em Agosto de 1945, três meses após a rendição da Alemanha e que representavam uma demonstração de força pelos EUA que sairiam da II Guerra como principal potência bélica do planeta, medindo forças com a URSS.

Para uma análise mais detida da queda do III Reich e seus aliados, torna-se necessário um exame de um momento anterior: remetemos o leitor ao ano de 1941. Trata-se de um ano em que a situação parecia perdida para os aliados. No pacífico, o ataque surpresa perpetrado pelo Japão sobre a base naval norte-americana de Pearl Harbour no Pacífico. Os japoneses ocupam no sudeste asiático antigas possessões francesas, britânicas e holandesas, além das Filipinas. Na Europa, os nazistas já haviam concretizado a invasão e ocupação de França, Holanda, Bélgica, Noruega, Dinamarca, Polônia, Grécia, Iugoslávia e Albânia. Os Italianos planejam tomar Alexandria e o Canal de Suez. E é diante da operação voltada a aniquilação da Rússia, quando o exército de Hitler passaria a lutar em duas frentes (oriental e ocidental) que a ascensão militar do Reich irá ser contida. E aqui apresentamos a figura do Marechal Zhukov, o militar mais condecorado e mais popular da história da União Soviética, e que, na II Guerra Mundial, esteve presente na articulação militar dos momentos mais decisivos da luta patriótica contra os invasores nazistas.

Origens

Georgi Konstantinovich Zhukov nasceu a 2 de Dezembro de 1896 na pequena vila de Strelkovka, nas proximidades de Moscou. Era filho de dois simples camponeses que, com muito esforço, conseguiram enviar o filho a uma escola local para o estudo primário. Com 12 anos, Zhukov parte para Moscou onde trabalha de dia como peleteiro e continua seus estudos à noite. E em 1915, quando a Rússia ainda estava submetida ao czarismo, alista-se na Cavalaria do Exército Imperial com o fito de lutar na Primeira Guerra Mundial.

Como se sabe, foi durante a I Guerra, em 1917, que a Rússia viu-se envolvida por uma revolução com uma fase democrático-popular (fevereiro) com a derrubada do czarismo e uma fase socialista (outubro) com a ascensão dos bolcheviques ao poder. As agitações revolucionárias faziam-se sentir nos fronts de batalha e Zhukov adere à causa revolucionária e projeta seus conhecimentos militares à guerra civil subsequente aos eventos de outubro: em 1918 o sargento Zhukov alista-se na Cavalaria da Guarda Vermelha e ingressa no Partido Comunista.

Retidão, disciplina e uma gigantesca disposição de aprendizagem quanto às mais modernas táticas e estratégias militares valeram a Zhukov uma rápida ascensão dentro dos quadros do Exército Vermelho.

“Consequentemente, além de extenso preparo prático e experiência efetiva de combate na Primeira Guerra Mundial e na Guerra Civil, Zhukov chegou a 1930 com excelente preparo teórico. Seu primeiro comando independente foi o da II Brigada de Cavalaria, integrante da divisão comandada por Rokossovsky. Este recorda que Zhukov era sempre o primeiro a chegar ao QG da Brigada que comandava e o último a sair, à noite. Entre seus superiores e comandados era conhecido como uma espécie de raridade – um oficial que levava em devida conta tanto a prática quanto a teoria, que invariavelmente se empenhava ao máximo em tudo o que fazia e que exigia o máximo dos que com ele trabalhavam. As menores falhas não lhe escapavam. Seus elogios eram raros, suas reprimendas frequentes e severas, ainda que justas. Altamente disciplinado, era antes de tudo um disciplinador intolerante em relação a qualquer demonstração de incompetência profissional”.

Herói da II Guerra Mundial

20 Milhões de Russos morreram na II Guerra Mundial. A Invasão alemã em território soviético dava-se em três frentes: ao norte com destino a Leningrado (hoje São Petersburgo); ao centro em direção a Moscou, já naquela época capital e centro operacional do país; e ao sul em direção ao Cáucaso, onde os alemães esperavam encontrar-se com tropas japonesas que subiam rapidamente rumo à Índia e ao golfo pérsico. No caso da frente sul, tratava-se também de uma operação estratégica para privar a URRS de cereais e recursos energéticos provindos daquela região.

Em 1941, após a invasão alemã, Zhukov é enviado a Leningrado com a missão de deter eventual invasão dos nazistas àquela cidade. O que ficou conhecido como o cerco a Leningrado foi uma grande resistência, heroica e trágica pelo número de mortos e pelo drama envolvido, mas que representou um elemento moral importante: foi uma primeira derrota parcial do até então indestrutível exército alemão. E quem organizou militarmente e pormenorizadamente tal resistência, com a mobilização de civis na frente de batalha e em obras como construção de trincheiras ou dinamites, foi Zhukov:

“Zhukov sabia que, se a ameaça imediata estava afastada, os dias de sofrimento impostos a Leningrado ainda estavam muito longe de seu fim. Não havia possibilidade de ampliar a brecha do lago Ladoga no círculo de aço imposto pelos alemães aos defensores. Leningrado continuaria a ser submetida, durante quase três anos, a ataques quase incessantes da aviação e da artilharia – e no terrível inverno de 1941, a fome e o frio cobrariam da população um preço ainda mais elevado do que as balas e granadas alemãs: milhares de pessoas morreram diariamente de fome e de frio, casos de canibalismo seriam registrados; papel de parede, cascas de árvore e couro de cintos velhos e sapatos seriam usados como alimento; faltaria água não contaminada até mesmo para intervenções cirúrgicas de urgência.

Leningrado deveria arcar com sacrifícios indivisíveis até 1944, quando o longo cerco alemão foi finalmente levantado, mas não se deixaria dominar – e mais que ninguém, quem inspirou esse espírito de inquebrantável resistência da guarnição e da população civil da cidade foi Zhukov”.

Se a resistência em Leningrado representara uma derrota parcial sobre os nazista, a primeira vitória efetiva do Exército Vermelho sobre as tropas nazistas deu-se na famosa batalha de Stalingrado onde mais uma vez fez-se presente a presença Zhukov: o marechal planeja a grande operação de cerco ao IV Exército Alemão e posteriormente a derrota dos nazistas em Kursk implicando numa contra-ofensiva cujo destino final será a tomada de Berlin.

Zhukov foi o primeiro militar de carreira a ser incorporado ao comitê central do Partido Comunista da União Soviética. Foi designado como uma espécie de ministro da defesa da URSS e nesta condição dirigiu a repressão ao levante na Hungria em 1956 – uma manifestação anti-soviética que divide opiniões, mesmo dentre os comunistas: para alguns uma atividade contra-revolucionária, liberal e burguesa; para outros, uma manifestação espontânea e injustamente reprimida.


Ao que tudo indica, Zhukov não tinha as mesmas “habilidades” militares que tinha na política: após um pronunciamento público sobre questões relacionadas ao XX Congresso do PCUS foi desacreditado e aposentado de suas funções políticas nos anos 1960, sendo reabilitado apenas 10 anos depois. 

Parece-nos, todavia, que sua impressionante ascensão militar, bem como seus heroicos feitos militares, além de sua impressionante lealdade à URSS, mesmo nos momentos em que foi relegado às sombras, credenciam-no como um personagem de alto relevo da história contemporânea e do movimento comunista em particular.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário