Resenha Livro – 230 - “Zhukov: grandes personagens de todos os
tempos” – Biblioteca de História – Ed.Três
“Na Luta contra o Eixo, as nações aliadas não têm dívida
maior para com um homem do que a contraída com o marechal Zhukov”. – Eisenhower,
1º Comandante das Forças Aliadas da II Guerra Mundial e Presidente dos EUA
(1953-1961)
Talvez
não há período da história contemporânea com maior repercussão na Indústria Cultural,
e no âmbito cinematográfico hollywoodiano em particular, do que a II Guerra Mundial.
A título de exemplo, citamos alguns sucessos de público como “O Resgate do
Soldado Ryan” de Steven Spielberg e “Pearl Harbor” dirigido por Michael Bay. O
que há em comum nestas películas é uma certa orientação ideológica que favorece
a intervenção norte-americana como quase que decisiva para a derrota o eixo.
Todavia, há de se considerar algumas premissas que são incontroversas mesmo
dentre historiadores de distintas orientações políticas: o chamado “Dia D”, a
invasão da Normandia em França no ano de 1944 esteve longe de significar o
início da derrocada nazista. Em Junho de 1944, os rumos dos acontecimentos já
sinalizavam claramente a derrocada do eixo, e há de se destacar que a
mobilização desde a França pelos americanos sinalizava a preocupação do alto
comando militar norte-americano do rápido avanço soviético (comunista) pelo
oriente; ainda mais significativo do ponto de vista político foram as bombas
atômicas em Hiroshima e Nagasaki em Agosto de 1945, três meses após a rendição
da Alemanha e que representavam uma demonstração de força pelos EUA que sairiam
da II Guerra como principal potência bélica do planeta, medindo forças com a
URSS.
Para
uma análise mais detida da queda do III Reich e seus aliados, torna-se
necessário um exame de um momento anterior: remetemos o leitor ao ano de 1941.
Trata-se de um ano em que a situação parecia perdida para os aliados. No
pacífico, o ataque surpresa perpetrado pelo Japão sobre a base naval norte-americana
de Pearl Harbour no Pacífico. Os japoneses ocupam no sudeste asiático antigas
possessões francesas, britânicas e holandesas, além das Filipinas. Na Europa,
os nazistas já haviam concretizado a invasão e ocupação de França, Holanda,
Bélgica, Noruega, Dinamarca, Polônia, Grécia, Iugoslávia e Albânia. Os
Italianos planejam tomar Alexandria e o Canal de Suez. E é diante da operação
voltada a aniquilação da Rússia, quando o exército de Hitler passaria a lutar
em duas frentes (oriental e ocidental) que a ascensão militar do Reich irá ser contida.
E aqui apresentamos a figura do Marechal Zhukov, o militar mais condecorado e
mais popular da história da União Soviética, e que, na II Guerra Mundial,
esteve presente na articulação militar dos momentos mais decisivos da luta
patriótica contra os invasores nazistas.
Origens
Georgi Konstantinovich Zhukov nasceu a 2 de Dezembro de 1896
na pequena vila de Strelkovka, nas proximidades de Moscou. Era filho de dois
simples camponeses que, com muito esforço, conseguiram enviar o filho a uma
escola local para o estudo primário. Com 12 anos, Zhukov parte para Moscou onde
trabalha de dia como peleteiro e continua seus estudos à noite. E em 1915,
quando a Rússia ainda estava submetida ao czarismo, alista-se na Cavalaria do
Exército Imperial com o fito de lutar na Primeira Guerra Mundial.
Como se sabe, foi durante a I Guerra, em 1917, que a Rússia
viu-se envolvida por uma revolução com uma fase democrático-popular (fevereiro)
com a derrubada do czarismo e uma fase socialista (outubro) com a ascensão dos
bolcheviques ao poder. As agitações revolucionárias faziam-se sentir nos fronts
de batalha e Zhukov adere à causa revolucionária e projeta seus conhecimentos
militares à guerra civil subsequente aos eventos de outubro: em 1918 o sargento
Zhukov alista-se na Cavalaria da Guarda Vermelha e ingressa no Partido
Comunista.
Retidão, disciplina e uma gigantesca disposição de
aprendizagem quanto às mais modernas táticas e estratégias militares valeram a
Zhukov uma rápida ascensão dentro dos quadros do Exército Vermelho.
“Consequentemente, além de extenso preparo prático e
experiência efetiva de combate na Primeira Guerra Mundial e na Guerra Civil,
Zhukov chegou a 1930 com excelente preparo teórico. Seu primeiro comando
independente foi o da II Brigada de Cavalaria, integrante da divisão comandada
por Rokossovsky. Este recorda que Zhukov era sempre o primeiro a chegar ao QG
da Brigada que comandava e o último a sair, à noite. Entre seus superiores e
comandados era conhecido como uma espécie de raridade – um oficial que levava
em devida conta tanto a prática quanto a teoria, que invariavelmente se
empenhava ao máximo em tudo o que fazia e que exigia o máximo dos que com ele
trabalhavam. As menores falhas não lhe escapavam. Seus elogios eram raros, suas
reprimendas frequentes e severas, ainda que justas. Altamente disciplinado, era
antes de tudo um disciplinador intolerante em relação a qualquer demonstração
de incompetência profissional”.
Herói da II Guerra Mundial
20 Milhões de Russos morreram na II Guerra Mundial. A
Invasão alemã em território soviético dava-se em três frentes: ao norte com
destino a Leningrado (hoje São Petersburgo); ao centro em direção a Moscou, já
naquela época capital e centro operacional do país; e ao sul em direção ao
Cáucaso, onde os alemães esperavam encontrar-se com tropas japonesas que subiam
rapidamente rumo à Índia e ao golfo pérsico. No caso da frente sul, tratava-se
também de uma operação estratégica para privar a URRS de cereais e recursos
energéticos provindos daquela região.
Em 1941, após a invasão alemã, Zhukov é enviado a Leningrado
com a missão de deter eventual invasão dos nazistas àquela cidade. O que ficou
conhecido como o cerco a Leningrado foi uma grande resistência, heroica e
trágica pelo número de mortos e pelo drama envolvido, mas que representou um
elemento moral importante: foi uma primeira derrota parcial do até então
indestrutível exército alemão. E quem organizou militarmente e
pormenorizadamente tal resistência, com a mobilização de civis na frente de
batalha e em obras como construção de trincheiras ou dinamites, foi Zhukov:
“Zhukov sabia que, se a ameaça imediata estava afastada, os
dias de sofrimento impostos a Leningrado ainda estavam muito longe de seu fim.
Não havia possibilidade de ampliar a brecha do lago Ladoga no círculo de aço
imposto pelos alemães aos defensores. Leningrado continuaria a ser submetida,
durante quase três anos, a ataques quase incessantes da aviação e da artilharia
– e no terrível inverno de 1941, a fome e o frio cobrariam da população um
preço ainda mais elevado do que as balas e granadas alemãs: milhares de pessoas
morreram diariamente de fome e de frio, casos de canibalismo seriam
registrados; papel de parede, cascas de árvore e couro de cintos velhos e
sapatos seriam usados como alimento; faltaria água não contaminada até mesmo
para intervenções cirúrgicas de urgência.
Leningrado deveria arcar com sacrifícios indivisíveis até
1944, quando o longo cerco alemão foi finalmente levantado, mas não se deixaria
dominar – e mais que ninguém, quem inspirou esse espírito de inquebrantável
resistência da guarnição e da população civil da cidade foi Zhukov”.
Se a resistência em Leningrado representara uma derrota
parcial sobre os nazista, a primeira vitória efetiva do Exército Vermelho sobre
as tropas nazistas deu-se na famosa batalha de Stalingrado onde mais uma vez
fez-se presente a presença Zhukov: o marechal planeja a grande operação de
cerco ao IV Exército Alemão e posteriormente a derrota dos nazistas em Kursk
implicando numa contra-ofensiva cujo destino final será a tomada de Berlin.
Zhukov foi o primeiro militar de carreira a ser incorporado
ao comitê central do Partido Comunista da União Soviética. Foi designado como
uma espécie de ministro da defesa da URSS e nesta condição dirigiu a repressão
ao levante na Hungria em 1956 – uma manifestação anti-soviética que divide
opiniões, mesmo dentre os comunistas: para alguns uma atividade
contra-revolucionária, liberal e burguesa; para outros, uma manifestação
espontânea e injustamente reprimida.
Ao que tudo indica, Zhukov não tinha as mesmas “habilidades”
militares que tinha na política: após um pronunciamento público sobre questões
relacionadas ao XX Congresso do PCUS foi desacreditado e aposentado de suas
funções políticas nos anos 1960, sendo reabilitado apenas 10 anos depois.
Parece-nos, todavia, que sua impressionante ascensão militar, bem como seus
heroicos feitos militares, além de sua impressionante lealdade à URSS, mesmo
nos momentos em que foi relegado às sombras, credenciam-no como um personagem
de alto relevo da história contemporânea e do movimento comunista em particular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário