quinta-feira, 25 de agosto de 2016

“História de Roma” – Pierre Grimal

“História de Roma” – Pierre Grimal



Resenha Livro - 234 - “História de Roma” – Pierre Grimal – Editora Unesp

Pierre Grimal (1912-1996) foi professor de literatura latina da Universidade de Paris IV – Sorbonne e membro da École Françoise de Rome. Neste trabalho, desenvolve uma leitura panorâmica das três fases políticas da história de Roma: monarquia, república e império.

Ao tratar da história de Roma, o historiador de imediato se depara com dificuldades quanto ao problema das fontes históricas. Ao contrário da história contemporânea ou mesmo da história moderna donde abundam fontes primárias como documentos gráficos (relatórios estatais, depoimentos de personagens do respectivo tempo histórico, gravuras e fotografias, etc.), a história da antiguidade carece das fontes primárias. Para tratar da história de Roma, o historiador deverá servir-se amplamente da arqueologia, das tradições e da história oral reproduzida através de gerações: afinal, o início da cidade romana remonta aos 700 a.C, o que dá margem a muitas interfaces entre história e mito.

Dentre os registros escritos daquela época, muito pouco sobreviveu, destacando-se as obras do maior filósofo romano, Sêneca, e, provavelmente, seu maior literato, Lúcio Apuleio.
Origens

Tal interface entre história e mito está presente na origem legendária de Roma, na sua fundação e na conformação de seu primeiro reinado sob o Rei Rômulo.

“Rômulo e Remo eram de origem real, filhos da sobrinha do rei de Alba. Ela os tivera, contava-se, do próprio deus Marte, mas o rei, temendo que essas crianças viessem a destroná-lo um dia, decidiu abandoná-los no rio, persuadido de que o frio, a falta de cuidado, a correnteza não tardariam a desembaraçá-lo desses dois sobrinhos- neto preocupantes. Mas o rei não contara com a vontade dos deuses. O berço flutuante encalhou na margem, a seco; uma loba, o animal de Marte, deitou-se perto dos bebês, deu-lhes calor e leite. Por fim, eles foram recolhidos por Fáustulo, que os levou para sua cabana. Lá, tratou-os como seus próprios filhos e depois, como suspeitava da origem deles, acabou por lhes revelar o segredo de seu nascimento.

Rômulo e Remo, uma vez crescidos e vigorosos, destronam o tio- avô e, no lugar dele, puseram o avô; em seguida, voltaram ao país onde haviam passado a infância para criar um reino. Decidiram fundar, no Palatino, uma cidade a que chamariam Roma”.

Em que pese as dúvidas sobre o que é lenda e o que é história, ao que tudo indica, Rômulo é considerado o fundador da cidade. Para reinar sozinho, matou o irmão. E com o fito de povoar a cidade, toma uma iniciativa sagaz: faz de Roma uma espécie de asilo contra proscritos, fugitivos da lei de outras paragens em decorrências de crimes e dívidas, que se viriam a salvo e protegidos na nova cidade. E para angariar mulheres, promove um evento esportivo na cidade e convida os etruscos, povo situado ao norte do Palatino, aproveitando o momento certo para raptar as mulheres, filhas e esposas, dos estrangeiros.

Sabe-se como já dito que o delineamento político de Roma segue a monarquia, república e império. Logo na fase monárquica desenvolve-se o instituto do Senado que nada mais é do que um conselho formado pelos pais de família mais respeitados pela comunidade. O Senado tem força expressiva na monarquia e ainda maior na República, quando o poder é dividido entre dois cônsules, mas perde expressão na fase Imperial, com a centralização do poder na figura do Imperador – mas o que há de comum nas três fases é uma certa justificação religiosa ou mítica do poder.

Quanto à religião, os Romanos pela maior parte do tempo cultivavam um politeísmo pagão e com o desenvolvimento do cristianismo, perseguiram duramente tal religião. As atividades cristãs e sua visão social de mundo estavam em contradição direta com o poder.

“Mas a religião cristã nascente era mais exigente do que uma crença filosófica ou mesmo do que as práticas das outras religiões orientais; ela acarretava a aceitação total de um gênero de vida que marcava o cristão e fazia dele um ser à parte na “comunidade” romana. Um cristão não podia fazer sacrifícios aos deus nacionais. Também não podia, ao que parece, prestar juramento ao Imperador nas formas habituais. Ademais, em meio a calúnias, os cristão foram acusados de se reunirem secretamente à noite e se entregarem a práticas abomináveis, de matar crianças para interrogar suas entranhas; também foram acusados de serem “inimigos do gênero humano”, porque repetiam que “seu reino não era deste mundo”, e que seu Deus só triunfaria no dia em que, voltando em toda sua glória, Ele destruísse o mundo para dar lugar ao reino da Justiça – onde só os cristãos teriam lugar.

Por todas estas razões, os magistrados, os juízes, mesmo o imperador vieram a considerar cristãos como criminosos de direito comum, conspiradores malfazejos, dos quais era preciso purgar a terra”.

Em que pese as mortes de cristãos impostas pelos magistrados e imperadores, a religião se desenvolveu ao ponto de, quase ao término do Império, ser tornada religião oficial de Roma no Séc. IV por Constantino.

A expansão territorial de Roma foi gradual mas com uma certa continuidade – em 509 a.C há o término de sua fase Monárquica e apenas em 227 a.C Roma conquistaria toda a Península Itálica.

Seria com as Guerras Púnicas envolvendo Roma e Cártago, com os embates junto aos Gauleses e com o desenvolvimento do império que daria ao Império sua máxima expansão, no tempo de Octávio Augusto (27 a.C – 14 d.C) e Trajano (98 d.C – 117 d.C), num amplo território que envolve no oriente Mesopotâmia, península Arábica, Egito/ Alexandria, todo litoral africano do Mar mediterrâneo e na Europa, desde Portugal e Espanha, Gália (França), Britânia (parcela da Inglaterra) até a Grécia.

O amplo território também corroboraria para o fim do Império, segundo o historiador Pierre Grimal. Num vasto Império com uma centralização excessiva do poder, passou a ser comum cada comandante de exército se declarar imperador e marchar para Roma. Desde tempos longínquos, as pressões das fronteiras pelos povos bárbaros se acentuavam, “e os imperadores temporários esgotavam-se lutando contra esses inimigos que renasciam incessantemente”. Observava-se ainda uma certa decadência ao fim do império (séc. IV) de um espírito romano que não mais compartilha de um mesmo ideal e crenças políticas. Todos estes elementos fomentam a queda da cidade.

E por que estudar a história de Roma hoje? O modo de produção predominante naquela sociedade é o escravista. De outro lado, sob estas bases, toda uma civilização desenvolveu-se, com importantes repercussões no âmbito militar, na engenharia, no urbanismo, nas artes, na religião, no direito ou mesmo nos esportes. De outro lado, um Império vasto e supostamente indestrutível ruiu diante especialmente de disputas políticas internas e de uma decadência de sua própria civilização. São, diante destes pontos, muitas as lições para se refletir e extrair. Este pequeno ensaio de Pierre Grimal pode ser uma pequena introdução para eventuais aprofundamentos neste amplo campo do conhecimento da história antiga.    Sêneca - O principal filósofo romano





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