quinta-feira, 26 de março de 2015

“A Falência da II Internacional” – V. I. Lênin

“A Falência da II Internacional” – V. I. Lênin 



Resenha Livro #161 - “A Falência da II Internacional” – V. I. Lênin – Ed. Kairós – Série Materialismo Histórico


Este artigo foi redigido por Lênin no ano de 1915, ou seja um ano após o início da I Guerra Mundial e pouco depois do último Congresso da II Internacional, o ocorrido em Bâle na Suíça em 1912. 

O que está em discussão é a política dos partidos social-democratas pelo mundo diante do militarismo e do perigo de guerra, sendo certo que a o conflito, segundo a linha revolucionária esposada por Lênin e seus companheiros, tratava-se de uma guerra imperialista, de caráter espoliador e antiproletário. 

Lênin chama atenção para o fato de que este foi o entendimento do Congresso de Bâle em 1912 e todavia dois anos depois do encontro ratificar um documento consensual prontificando todo movimento proletário mundial a declarar “guerra à guerra” em solidariedade aos povos trabalhadores, a maior parte dos partidos social-democratas (os de maiores peso, como os partidos alemão e francês ) capitularem ao social-chauvinismo (ou ao oportunismo, expressão sinônima) e passarem a defender a participação dos respectivos trabalhadores em seus exércitos nacionais, bem como aprovando dentro do parlamento créditos de guerra. 

É nesse sentido que  Lênin considera a falência definitiva da II Internacional o momento do início da I Guerra:

“Para formular a questão de maneira científica, isto é, da perspectiva das relações entre classes da sociedade contemporânea, devemos dizer que a maioria dos partidos social democratas, tendo à frente em primeiro lugar, o maior e o mais influente dos partidos da II Internacional, o partido alemão, perfilou-se ao lado do seu Estado-maior, do governo da sua burguesia, contra o proletariado. Eis aí um acontecimento de alcance histórico de alcance mundial (...)”. 

Nesse sentido, a falência da II Internacional fecha um ciclo dentro da trajetória do movimento operário marcado pela coexistência entre as correntes reformistas e revolucionárias, inviável dentro do novo contexto imperialista do capitalismo em que os elementos da aristocracia operária e pequenos burgueses atuam dentro do movimento operário contra os interesses dos trabalhadores. Daí a conclusão de Lênin:

“A época imperialista não pode tolerar a coexistência, num mesmo partido, de homens de vanguarda do proletariado revolucionário e da aristocracia semi-burguesa da classe operária que se regozijam com migalhas de privilégios que a situação de ‘grande potência’ confere à sua nação. A velha teoria que apresentava o oportunismo como uma “nuança” específica no seio de um partido único, alheio aos extremos, é hoje, a pior das mistificações. O oportunismo aberto repugna as massas operárias (...)”.

Vale pontuar aqui: trata-se de uma vedação à coexistência dentro de um mesmo partido o que se observa fielmente no modelo do partido bolchevique. Esta tese não invalida alianças deste partido com outros setores sociais em determinadas circunstâncias históricas, como o prova exaustivamente eventos da Revolução Russa, a começar pela aliança operário-camponesa. 

Mas voltando aos oportunistas da II Internacional. Se pensarmos nos malabarismos teóricos dos dirigentes da social-democracia alemã para justificar sua política de capitulação que vão até ao cúmulo do “se nos posicionarmos contra a guerra, seremos presos pelos governos!”, este argumento bem ilustra a diferença entre o marxista e o oportunista. Pois o marxista revolucionário estaria sim disposto a ser um preso político a defender suas ideias justas antes de salvar a sua pele. O mesmo pode-se dizer dos malabarismos teóricos de Kautsky e sua tese de “Ultraimperialismo” que busca diluir a vigência dos traços elementares do conflito corrente, às benesses que a Guerra traz aos capitalistas como um todo em detrimento da classe trabalhadora mundial,  com pilhagens, empréstimos, domínios de mercado, conquistas de recursos e matérias primas, e vantagens políticas da burguesia dividindo e corrompendo o proletariado. 

Estamos com Lênin quando afirmamos que o capitalismo persiste em sua fase imperialista, marcado por suas crises, monopólios, guerras e revoluções. Nesta perspectiva, a falência da II Internacional tem como ensinamento a clara delimitação necessária (no que diz respeito à organização partidária) entre revolucionários e reformistas. 

Quanto aos revolucionários, Lênin indica uma forma de se sinalizar uma crise que aponte para ruptura:

“Para um marxista, não há dúvida de que a revolução é impossível sem uma situação revolucionária, mas nem toda situação revolucionária conduz à revolução. Quais são, de maneira geral, os indícios de uma situação revolucionária?

1- Impossibilidade para as classes dominantes manterem sua dominação de forma inalterada; crise da “cúpula”, crise da política dominante, o que cria uma fissura através da qual o descontentamento e a indignação das classes oprimidas abrem caminho. Para que a revolução estoure não basta normalmente que a base não queira mais viver como outrora mas é necessário ainda que a “cúpula não o possa mais”;

2- Agravamento, além do comum, da miséria e da angústia das classes oprimidas; 

3- Desenvolvimento acentuado, em virtude das razões indicadas acima, da atividade das massas, que se deixam em período pacíficos, saquear tranquilamente, mas que em período agitados são empurradas tanto pela crise em seu conjunto como pela própria cúpula, para uma ação histórica independente”.          

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