terça-feira, 6 de janeiro de 2015

“O Trabalho no Espaço da Fábrica: um estudo da General Motors em São José dos Campos (SP)” – Gilberto Cunha Franca

“O Trabalho no Espaço da Fábrica: um estudo da General Motors em São José dos Campos (SP)” – Gilberto Cunha Franca 



Resenha Livro 145- “O Trabalho no Espaço da Fábrica: um estudo da General Motors em São José dos Campos (SP)” – Gilberto Cunha Franca – Ed. Expressão Popular

Esta pesquisa do geógrafo Gilberto Cunha Franca trata da nova conformação do mundo do trabalho, da sua disposição no espaço, da sua organização produtiva, dos novos papeis a que os trabalhadores são chamados a desempenhar, bem como a nova conformação do movimento sindical, tendo como ponto de partida o estudo da General Motors e especificamente a sua planta na cidade de São José dos Campos-SP. 

Quando se fala em nova conformação do mundo do trabalho, tem-se em mente as mudanças gerais a que os sociólogos se referem como “reestruturação produtiva” que em nível mundial tem início a partir dos anos de 1970. Significa entre outras coisas a superação do modelo fordista de produção, a desregulamentação do trabalho e a emergência política do neoliberalismo. 

O fordismo correspondia à forma de produção de mercadorias padronizada e em série que com o tempo influiria na regulação das relações laborais e de consumo: diante das inovações tecnológicas, há o desmantelamento das antigas manufaturas e a concentração dos meios de produção num dado espaço, com as máquinas comandando o ritmo de trabalho  e a ação humana correspondendo à uma ação auxiliar e subordinada ao ritmo febril da linha de produção.  

Diante do avanço das técnicas de produção, haveria novas mudanças na morfologia do trabalho, com a superação do modelo fordista em detrimento de um novo arranjo produtivo que reduzisse custos, otimizasse o valor da força de trabalho e diminuísse o tempo gasto inutilmente dentro da jornada de trabalho. O desenvolvimento do meio informacional dentro da produção resulta na maior automação do trabalho: dentro da indústria automobilística, é a robótica, utilizada na estamparia e outros serviços prestados com rapidez e precisão, liberando os operários para realização de outras tarefas ou mesmo fechando postos de trabalho (e reduzindo custos de produção). 

Outra característica da nova morfologia do trabalho decorrente da reestruturação produtiva é a gestão “just in time”, em que as tecnologias da informação foram imprescindíveis. A ideia é a de fornecer os equipamentos para montagem e produzir as mercadorias conforme a demanda: pode-se comparar tal modelo à ideia de um supermercado. Conforme as prateleiras vão se esvaziando com a compra dos produtos pelos consumidores, vão sendo paulatinamente restituídas – ideia de “coesão e condensação” das atividades e do espaço de trabalho direto para se evitar qualquer desperdício e redução do tempo de produção. 

Os estudos do geógrafo sobre a nova morfologia do trabalho seguem abordando o trabalho polivalente e o trabalho em grupo, ambos também decorrentes da reestruturação produtiva e implantados no último período nas montadoras da GM. 

Se no modelo fordista, vem-nos à mente a imagem do personagem de “Tempos Modernos” de Charles Chaplin em que um operário executa uma única operação ao longo de toda a sua jornada de forma extenuante, repetitiva e alienante, no toyotismo e com a automoção, os operários são requisitados novamente (como no período anterior ao fordismo, no período pré-industrial) a executar diversas e distintas tarefas, em especial aquelas de manutenção das máquinas e controle de qualidade das peças. 

Agora o operário realiza uma série  de operações parciais simples, baseando-se eventualmente na rotação de tarefas e alocação flexível dos postos de trabalho, uma estratégia das chefias para evitar o cansaço e o desânimo dos operários. Na prática, o trabalho polivalente significa uma jornada de trabalho mais puxada, maior esforço físico e mental do trabalhador. 

Como se pode ir observando, as transformações técnicas da reestruturação produtiva foram grosso modo engendrando condições de vida e de trabalho mais difíceis para os trabalhadores. E de fato, tal fenômeno coincide com outros processos históricos claramente desfavoráveis aos trabalhadores como o aumento das terceirizações e dos contratos temporários de trabalhos, flexibilização das leis laborais, hegemonia de políticas econômicas neoliberais e posicionamento defensivo ou francamente desfavorável aos trabalhadores pelas lideranças sindicais até pela fragmentação e enfraquecimento da própria representação classista, por exemplo, com a terceirização. 

Identificar as origens e as razões desta situação desfavorável é um passo importante que deverá ser dado pela geografia e sociologia do trabalho. Daí a importância de pesquisas como esta de Cunha Franca. 

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