domingo, 27 de abril de 2014

“A Coluna Prestes” – Nelson Werneck Sodré

Resenha Livro # 114“A Coluna Prestes – Nelson Werneck Sodré” – Ed. Círculo Do Livro




O militar, historiador, crítico literário e marxista Nelson Werneck Sodré nasceu em 1911 na cidade do Rio de Janeiro. Dirigiu o importante ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros – nos anos do governo JK. Aquele centro de estudos seria um importante núcleo de reflexão e pesquisa tendo como base uma perspectiva nacionalista, ou, voltada aos interesses do desenvolvimento nacional. Sodré escreveu muitos livros. Os mais conhecidos são provavelmente “História Militar do Brasil” (editado pela Expressão Popular, mais recentemente), o “História da Imprensa no Brasil” (importante pelo seu pioneirismo no tema) e o seu “O que se deve ler para conhecer o Brasil”.

Nesta obra, Sodré faz uma breve síntese das linhas mestras do movimento tenentista e especificamente da Coluna Prestes – dentro dos depoimentos, é unânime a opinião segundo a qual Luiz Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, teria se projetado como figura de maior expressão.

Importante fazer uma consideração preliminar, aqui. Luiz Carlos Prestes é comumente conhecido e lembrado como o secretário geral do Partido Comunista Brasileiro por mais de duas décadas. Se na maior parte de sua vida política adulta, Prestes esteve nas fileiras do comunismo, no período do tenentismo, Prestes era um jovem oficial nacionalista sem conhecimento algum das ideias socialistas. Ele próprio incorporava e expressava o conteúdo de classe daquele movimento, qual seja, um movimento pequeno burguês baseado na baixa-oficialidade e em elementos urbanos do Brasil do início dos anos de XX.

Todavia, mesmo sem uma formação marxista consolidada, a liderança militar de Prestes seria decisiva, senão para a vitória plena do movimento tenentista (que lutava pela queda do presidente Bernardes), ao menos pela sua não derrota pelas forças oficiais, numericamente muito inferiores. Prestes adotava em sua guerrilha uma guerra de movimento e assim percorreram a assombrosa distância de 25 mil quilômetros por todo interior do Brasil.

Prestes, como já dito, tomaria contato com a literatura socialista e marxista no exílio. Mas a própria experiência da Coluna o sensibilizaria de forma a levá-lo ao socialismo. Saindo dos meios urbanos do estado do Rio Grande e conhecendo a extrema penúria e miséria do interior brasileiro, dos campos de Goiás, ao Norte de Minas e no sertão nordestino, os rebeldes se deparavam com a mais absoluta miséria associada ao poder absoluto dos donos de terra. É relatada história de famílias tão pobres que apenas alguns podem receber visitas por falta de roupas. Certamente, esta experiência iria marcar Prestes, em que pese ter sido ele, ao final do tenentismo, quase que uma voz dissidente. O fato é que a maior parte dos Tenentes (contra a opinião de Prestes) de união à Aliança Liberal e apoio a revolução de 1930 que levaria Getúlio Vargas ao poder. Em certa medida, o fim da República Velha e a ascensão de Vargas expressava a participação de novos setores da burguesia nacional no governo e, do ponto de vista histórico, implicou num importante processo de modernização produtiva, em particular com o desenvolvimento das indústrias de base, a criação da legislação trabalhistas e outras iniciativas que poderiam – se comparadas à realidade da República Velha – ser consideradas modernizadoras. Mas que certamente estariam, tais medidas, ainda distantes de sanar o maior flagelo que ainda hoje é o traço distintivo da sociedade brasileira – a desigualdade social.

A Coluna Prestes nos interesse hoje como uma experiência de luta revolucionária que não logrou ganhar um contorno de revolução na medida em que não pôde ou não foi capaz de trazer atrás de si as massas, os camponeses e os trabalhadores, estes ainda em fase muito embrionária naqueles anos de 1922 a 1927. De toda forma, tal história nos serve também como um exemplo de como as forças armadas no Brasil nem sempre estiveram do lado da reação (como em 1964), havendo, também aqui, uma memória de luta que precisa ser preservada.

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