O militar, historiador, crítico literário e marxista Nelson
Werneck Sodré nasceu em 1911 na cidade do Rio de Janeiro. Dirigiu o importante
ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros – nos anos do governo JK.
Aquele centro de estudos seria um importante núcleo de reflexão e pesquisa
tendo como base uma perspectiva nacionalista, ou, voltada aos interesses do
desenvolvimento nacional. Sodré escreveu muitos livros. Os mais conhecidos são
provavelmente “História Militar do Brasil” (editado pela Expressão Popular,
mais recentemente), o “História da Imprensa no Brasil” (importante pelo seu
pioneirismo no tema) e o seu “O que se deve ler para conhecer o Brasil”.
Nesta obra, Sodré faz uma breve síntese das linhas mestras
do movimento tenentista e especificamente da Coluna Prestes – dentro dos
depoimentos, é unânime a opinião segundo a qual Luiz Carlos Prestes, o “Cavaleiro
da Esperança”, teria se projetado como figura de maior expressão.
Importante fazer uma consideração preliminar, aqui. Luiz
Carlos Prestes é comumente conhecido e lembrado como o secretário geral do
Partido Comunista Brasileiro por mais de duas décadas. Se na maior parte de sua
vida política adulta, Prestes esteve nas fileiras do comunismo, no período do
tenentismo, Prestes era um jovem oficial nacionalista sem conhecimento algum
das ideias socialistas. Ele próprio incorporava e expressava o conteúdo de
classe daquele movimento, qual seja, um movimento pequeno burguês baseado na
baixa-oficialidade e em elementos urbanos do Brasil do início dos anos de XX.
Todavia, mesmo sem uma formação marxista consolidada, a
liderança militar de Prestes seria decisiva, senão para a vitória plena do
movimento tenentista (que lutava pela queda do presidente Bernardes), ao menos
pela sua não derrota pelas forças oficiais, numericamente muito inferiores.
Prestes adotava em sua guerrilha uma guerra de movimento e assim percorreram a
assombrosa distância de 25 mil quilômetros por todo interior do Brasil.
Prestes, como já dito, tomaria contato com a literatura
socialista e marxista no exílio. Mas a própria experiência da Coluna o
sensibilizaria de forma a levá-lo ao socialismo. Saindo dos meios urbanos do
estado do Rio Grande e conhecendo a extrema penúria e miséria do interior
brasileiro, dos campos de Goiás, ao Norte de Minas e no sertão nordestino, os
rebeldes se deparavam com a mais absoluta miséria associada ao poder absoluto
dos donos de terra. É relatada história de famílias tão pobres que apenas
alguns podem receber visitas por falta de roupas. Certamente, esta experiência
iria marcar Prestes, em que pese ter sido ele, ao final do tenentismo, quase
que uma voz dissidente. O fato é que a maior parte dos Tenentes (contra a opinião
de Prestes) de união à Aliança Liberal e apoio a revolução de 1930 que levaria
Getúlio Vargas ao poder. Em certa medida, o fim da República Velha e a ascensão
de Vargas expressava a participação de novos setores da burguesia nacional no
governo e, do ponto de vista histórico, implicou num importante processo de
modernização produtiva, em particular com o desenvolvimento das indústrias de
base, a criação da legislação trabalhistas e outras iniciativas que poderiam –
se comparadas à realidade da República Velha – ser consideradas modernizadoras.
Mas que certamente estariam, tais medidas, ainda distantes de sanar o maior
flagelo que ainda hoje é o traço distintivo da sociedade brasileira – a desigualdade
social.
A Coluna Prestes nos interesse hoje como uma experiência de
luta revolucionária que não logrou ganhar um contorno de revolução na medida em
que não pôde ou não foi capaz de trazer atrás de si as massas, os camponeses e
os trabalhadores, estes ainda em fase muito embrionária naqueles anos de 1922 a
1927. De toda forma, tal história nos serve também como um exemplo de como as
forças armadas no Brasil nem sempre estiveram do lado da reação (como em 1964),
havendo, também aqui, uma memória de luta que precisa ser preservada.
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