terça-feira, 22 de abril de 2014

“Fundamentos do Leninismo” – Joseph Stálin



Resenha livro#113 “Fundamentos do Leninismo” – Joseph Stálin – Global Editora – Coleção Bases 33

Este Fundamentos do Leninismo pretende ser um manual didático e objetivo com as linhas mestras do leninismo, ou a especificidade do pensamento de Lênin, a sua contribuição original dentro do marxismo.

Desde o início, alerta Stálin: “o tema é vasto. Para esgotá-lo, seria necessário dedicar-lhe um livro inteiro. Ou melhor, toda uma série de livros. Por isso, naturalmente, as minhas conferências não podem ser consideradas como uma exposição completa do leninismo. Poderão ser apenas, na melhor das hipóteses, um resumo sucinto dos fundamentos do leninismo”. (Pg. 5)

No que se refere às raízes históricas do Leninismo, destaca-se a particularidade do movimento russo surgir no contexto da fase imperialista do capitalismo, sendo, aliás, o imperialismo tema de estudo específico de Lênin em “Imperialismo, fase superior do Capitalismo” de 1917.  Contexto de onipotência dos trustes e dos consórcios monopolistas e, importante, das guerras imperialistas. Outro aspecto particular daquele período, evidenciado por Stálin, é “a contradição entre um punhado de nações “civilizadas” dominadoras e milhões de homens dos povos colonizados e dependentes no mundo. Este novo rearranjo das nações apresentaria como resultado algo não previsto por Marx e Engels. Os pais do marxismo previam a eclosão do processo revolucionário dentro dos países mais avançados, nas nações onde as forças produtivas tivessem engendrado uma classe operária mais organizada e supostamente capaz de fazer frente ao capital. Mas, diante do re-arranjo decorrente da fase monopolista do capitalismo, a revolução viria a estourar dentro do elo mais frágil da cadeia, na Rússia, onde o rápido desenvolvimento do capitalismo combinado com a co-existência de antigas relações feudais de produção engendraram uma burguesia débil e concentraram um proletariado por um lado menos maduro que o inglês ou alemão, por outro menos contaminado pela aristocracia operária e oportunistas que conformavam a social democracia e a II Internacional.

O estudo do leninismo de Stálin prossegue abordando os temas do método e da teoria. Ambos são, em Lênin, derivados daquele contexto histórico do imperialismo e de luta política contra o reformismo da II Internacional. Há ademais uma crítica específica de Lênin ao espontenísmo, mais uma vez reforçando a importância da teoria (“sem teoria revolucionária não há prática revolucionária) – a crítica ao espontaneísmo está presente na teoria do partido em “O que Fazer” (1902) e no Esquerdismo (1920). Critica-se mesmo a tendência dos militantes ocupados em trabalhos práticos para prescindir da teoria o que, ressalta Stálin, vai contra todo espírito do leninismo. Importante destacar finalmente as interfaces entre o oportunismo e a negação da teoria revolucionária:

“A ‘teoria’ da espontaneidade é a teoria do oportunismo, a teoria que consiste em prestar culto ao movimento operário espontâneo, a teoria que nega de fato o papel dirigente da vanguarda da classe operária, do partido da classe operária.

A teoria que consiste em prestar culto à espontaneidade é uma teoria decididamente contrária ao caráter revolucionário do movimento trabalhador; impede que este se oriente pelo caminho da luta contra os fundamentos do capitalismo; luta para que este movimento se oriente exclusivamente pela via das “possíveis” e “aceitáveis” reivindicações para o capitalismo, advoga em absoluto “a linha da menor resistência”; A teoria da espontaneidade é a ideologia do trade unismo”.

Dois capítulos merecem atenção especial dos leitores brasileiros. São capítulos que apresentam contrapontos importantes aos discursos trotskystas que costumam ser comuns nos manuais e livros indicados pelos partidos e forças de “esquerda” trostkystas. Um é sobre o camponês. Stálin destaca,fase a fase, o tipo de política e o tipo de relação travada entre o proletariado e o camponês. Dentro do movimento russo, sempre esteve fora de questão a necessidade de ganhar o camponês para a revolução, de forma a torná-lo aliado numa luta para aniquilar o feudalismo no campo e, no estado soviético, garantir a coletivização (tema que já escapa a temática do manual). O outro tema é sobre a tal “Revolução Permanente”. Os trotskystas arrogam-se no direito de dizer ser a tal revolução permanente uma obra pessoal de León Trótsky. Falso! O conceito é de Marx e é utilizado de forma deturpada por Trótsky para defender uma política esquerdista dentro da realidade russa. Assim preleciona Stálin:

"Claro, mas poderão nos dizer porque é que, nesse caso, Lênin combateu a ideia da "revolução permanente" (ininterrupta)? Porque Lênin propunha "esgotar" toda capacidade revolucionária dos camponeses e utilizar até à última gota das suas energias revolucionárias para a completa liquidação do czarismo, para passar à revolução proletária, enquanto os partidários da "revolução permanente" não compreendiam o importante papel dos camponeses na revolução russa, menosprezavam a força da energia revolucionária dos camponeses, menosprezavam a força e capacidade do proletariado russo para conduzir consigo até aos camponeses e, desse modo, entorpeciam a obra de libertar os camponeses da influência da burguesia, a tarefa de agrupar os camponeses em redor do proletariado. Porque Lênin propunha coroar a tarefa da revolução com a passagem do poder ao proletariado, enquanto os partidários da "revolução permanente" queriam começar diretamente pela tomada do poder pelo proletariado, não entendendo que assim fechavam os olhos a um pormenor, fruto da sobrevivência do regime da servidão e não tinham sequer em consideração uma força tão importante como os camponeses russos, não compreendendo que semelhante política só podia dificultar a tarefa de atrair os camponeses para o lado do proletariado. Portanto, a luta de Lênin contra os partidários da revolução "permanente" não girava em torno do problema da sua continuidade, porque o próprio Lênin sustentava o ponto de vista da revolução ininterrupta, mas em torno daqueles que menosprezavam o papel dos camponeses." Pg. 39

Também importante ressaltar que o Stálin coloca que Trotsky na verdade tirou o conceito da revolução permanente de MARX, mas distorcendo-o inteiramente, não enquanto descreve a transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista, mas quanto às questões democráticas e às questões nacionais, que em Trotsky surgem na mera tomada do poder pelo proletariado, perdendo de vista a aliança com os camponeses.

Ler Stálin, no Brasil pode ser um primeiro passo de “purificação”. Aqui, quem militou nas fileiras da esquerda organizada nos úlimos 10-15 anos, esteve o tempo todo suscetível e exposto às baboseiras trotskystas. É tempo de reverter esta situação lamentável.  

2 comentários:

  1. Paulo Henrique: a "noção" de RP está em Marx e Engels; o "conceito" está em Trotsky, como diz Löwy. Não é segredo nenhum. A distorção está em dizer que, para Trotsky, basta a "mera tomada do poder pelo proletariado" para se dar cabo das "questões democráticas e das questões nacionais" (!).

    Tão deletérias quanto as "baboseiras trotskystas" são as "baboseiras stalinistas" que, ao contrário do que você diz, sempre estiveram na "crista da onda" na esquerda brasileira recente (vide os grupos da reabertura, MR8, PCdoB etc.).

    Por uma questão de justiça, espero que você faça a resenha da "Revolução Permanente" de Trotsky. É fácil de achar: a edição da Expressão Popular dá conta.

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  2. Eu já li e já escrevi a resenha da "Revolução Permanente" do Trotsky. Segue o link: http://laurocampos.org.br/2010/12/leon-trotsky-a-revolucao-permanente/

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