Resenha livro#113 “Fundamentos do
Leninismo” – Joseph Stálin – Global Editora – Coleção Bases 33
Este Fundamentos do Leninismo
pretende ser um manual didático e objetivo com as linhas mestras do leninismo,
ou a especificidade do pensamento de Lênin, a sua contribuição original dentro
do marxismo.
Desde o início, alerta Stálin: “o
tema é vasto. Para esgotá-lo, seria necessário dedicar-lhe um livro inteiro. Ou
melhor, toda uma série de livros. Por isso, naturalmente, as minhas
conferências não podem ser consideradas como uma exposição completa do
leninismo. Poderão ser apenas, na melhor das hipóteses, um resumo sucinto dos
fundamentos do leninismo”. (Pg. 5)
No que se refere às raízes
históricas do Leninismo, destaca-se a particularidade do movimento russo surgir
no contexto da fase imperialista do capitalismo, sendo, aliás, o imperialismo
tema de estudo específico de Lênin em “Imperialismo, fase superior do
Capitalismo” de 1917. Contexto de
onipotência dos trustes e dos consórcios monopolistas e, importante, das
guerras imperialistas. Outro aspecto particular daquele período, evidenciado
por Stálin, é “a contradição entre um punhado de nações “civilizadas”
dominadoras e milhões de homens dos povos colonizados e dependentes no mundo.
Este novo rearranjo das nações apresentaria como resultado algo não previsto
por Marx e Engels. Os pais do marxismo previam a eclosão do processo
revolucionário dentro dos países mais avançados, nas nações onde as forças
produtivas tivessem engendrado uma classe operária mais organizada e
supostamente capaz de fazer frente ao capital. Mas, diante do re-arranjo
decorrente da fase monopolista do capitalismo, a revolução viria a estourar
dentro do elo mais frágil da cadeia, na Rússia, onde o rápido desenvolvimento
do capitalismo combinado com a co-existência de antigas relações feudais de
produção engendraram uma burguesia débil e concentraram um proletariado por um
lado menos maduro que o inglês ou alemão, por outro menos contaminado pela
aristocracia operária e oportunistas que conformavam a social democracia e a II
Internacional.
O estudo do leninismo de Stálin
prossegue abordando os temas do método e da teoria. Ambos são, em Lênin,
derivados daquele contexto histórico do imperialismo e de luta política contra
o reformismo da II Internacional. Há ademais uma crítica específica de Lênin ao
espontenísmo, mais uma vez reforçando a importância da teoria (“sem teoria
revolucionária não há prática revolucionária) – a crítica ao espontaneísmo está
presente na teoria do partido em “O que Fazer” (1902) e no Esquerdismo (1920).
Critica-se mesmo a tendência dos militantes ocupados em trabalhos práticos para
prescindir da teoria o que, ressalta Stálin, vai contra todo espírito do
leninismo. Importante destacar finalmente as interfaces entre o oportunismo e a
negação da teoria revolucionária:
“A ‘teoria’ da espontaneidade é a
teoria do oportunismo, a teoria que consiste em prestar culto ao movimento
operário espontâneo, a teoria que nega de fato o papel dirigente da vanguarda
da classe operária, do partido da classe operária.
A teoria que consiste em prestar
culto à espontaneidade é uma teoria decididamente contrária ao caráter
revolucionário do movimento trabalhador; impede que este se oriente pelo
caminho da luta contra os fundamentos do capitalismo; luta para que este
movimento se oriente exclusivamente pela via das “possíveis” e “aceitáveis”
reivindicações para o capitalismo, advoga em absoluto “a linha da menor
resistência”; A teoria da espontaneidade é a ideologia do trade unismo”.
Dois capítulos merecem atenção
especial dos leitores brasileiros. São capítulos que apresentam contrapontos
importantes aos discursos trotskystas que costumam ser comuns nos manuais e
livros indicados pelos partidos e forças de “esquerda” trostkystas. Um é sobre
o camponês. Stálin destaca,fase a fase, o tipo de política e o tipo de relação
travada entre o proletariado e o camponês. Dentro do movimento russo, sempre
esteve fora de questão a necessidade de ganhar o camponês para a revolução, de
forma a torná-lo aliado numa luta para aniquilar o feudalismo no campo e, no
estado soviético, garantir a coletivização (tema que já escapa a temática do
manual). O outro tema é sobre a tal “Revolução Permanente”. Os trotskystas
arrogam-se no direito de dizer ser a tal revolução permanente uma obra pessoal
de León Trótsky. Falso! O conceito é de Marx e é utilizado de forma deturpada
por Trótsky para defender uma política esquerdista dentro da realidade russa.
Assim preleciona Stálin:
"Claro, mas poderão nos dizer porque é
que, nesse caso, Lênin combateu a ideia da "revolução permanente"
(ininterrupta)? Porque Lênin propunha "esgotar" toda capacidade
revolucionária
dos camponeses e utilizar até à última gota das suas energias revolucionárias
para a completa liquidação do czarismo, para passar à revolução proletária,
enquanto os partidários da "revolução permanente" não compreendiam o
importante papel dos camponeses na revolução russa, menosprezavam a força da
energia revolucionária dos camponeses, menosprezavam a força e capacidade do
proletariado russo para conduzir consigo até aos camponeses e, desse modo,
entorpeciam a obra de libertar os camponeses da influência da burguesia, a
tarefa de agrupar os camponeses em redor do proletariado. Porque Lênin propunha
coroar a tarefa da revolução com a passagem do poder ao proletariado, enquanto
os partidários da "revolução permanente" queriam começar diretamente
pela tomada do poder pelo proletariado, não entendendo que assim fechavam os
olhos a um pormenor, fruto da sobrevivência do regime da servidão e não tinham
sequer em consideração uma força tão importante como os camponeses russos, não
compreendendo que semelhante política só podia dificultar a tarefa de atrair os
camponeses para o lado do proletariado. Portanto, a luta de Lênin contra os
partidários da revolução "permanente" não girava em torno do problema
da sua continuidade, porque o próprio Lênin sustentava o ponto de vista da
revolução ininterrupta, mas em torno daqueles que menosprezavam o papel dos
camponeses." Pg. 39
Também importante ressaltar que o Stálin
coloca que Trotsky na verdade tirou o conceito da revolução permanente de MARX,
mas distorcendo-o inteiramente, não enquanto descreve a transformação da
revolução democrático-burguesa em revolução socialista, mas
quanto às questões democráticas e às questões nacionais, que em Trotsky surgem
na mera tomada do poder pelo proletariado, perdendo de vista a aliança com os
camponeses.
Ler Stálin, no Brasil pode ser um primeiro
passo de “purificação”. Aqui, quem militou nas fileiras da esquerda organizada
nos úlimos 10-15 anos, esteve o tempo todo suscetível e exposto às baboseiras
trotskystas. É tempo de reverter esta situação lamentável.
Paulo Henrique: a "noção" de RP está em Marx e Engels; o "conceito" está em Trotsky, como diz Löwy. Não é segredo nenhum. A distorção está em dizer que, para Trotsky, basta a "mera tomada do poder pelo proletariado" para se dar cabo das "questões democráticas e das questões nacionais" (!).
ResponderExcluirTão deletérias quanto as "baboseiras trotskystas" são as "baboseiras stalinistas" que, ao contrário do que você diz, sempre estiveram na "crista da onda" na esquerda brasileira recente (vide os grupos da reabertura, MR8, PCdoB etc.).
Por uma questão de justiça, espero que você faça a resenha da "Revolução Permanente" de Trotsky. É fácil de achar: a edição da Expressão Popular dá conta.
Eu já li e já escrevi a resenha da "Revolução Permanente" do Trotsky. Segue o link: http://laurocampos.org.br/2010/12/leon-trotsky-a-revolucao-permanente/
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