Resenha Livro #112 “Revolução Russa: história, política e
literatura” – José Carlos Mariátegui – (Org. Luiz Bernardo Pericás) – Ed.
Expressão Popular
O escritor, crítico literário, jornalista e marxista peruano
José Carlos Mariátegui não é muito conhecido pelo público Brasileiro. Por aqui,
teve uma seleção de textos sobre o fascismo italiano publicado pela editora
Alameda, e teve o seu clássico “Sete Ensaios de Interpretação da Realidade
Peruana” e este “Revolução Russa”, ambos publicados pela Ed. Expressão Popular.
Mariátegui deve ser reconhecido como um expoente original do
pensamento marxista latino-americano. No seu caso particular, há de se destacar
o fato de ter sido auto- didata: não passou pelos bancos da universidade e
aprendeu por conta as línguas estrangeiras, o italiano e o francês, a partir
dos quais iria tomar contato com as principais fontes para a redação dos
artigos desta “Revolução Russa”.
No caso dos escritos de Mariátegui sobre o fascismo na
Itália temos o privilégio de acompanhar o relato crítico e minucioso da
conjuntura política italiana nos anos de ascensão do fascismo, as movimentações
(e os erros cometidos) pelo partido comunista e, importante, observamos como
Mariátegui na verdade subestima o perigo fascista. Ainda que o subestime, sua análise
e seu depoimento servem como valiosas fontes históricas. De qualquer forma, o
fato é que o jornalista faz um relato presencial da conjuntura política da
Itália dos anos de 1920.
Com “A Revolução Russa” ocorre fenômeno distinto. Mariátegui nunca esteve na Rússia. Os seus
artigos sobre a Rússia (selecionados pelo historiador Luiz Bernardo Pericás)
foram escritos com base em relatos de agências de notícias, jornalistas e
viajantes, tanto simpáticos quanto adversários do regime socialista. Por se
tratar de reportagens de segunda mão, certamente, não encontraremos aqui
descrições tão minuciosas e aprofundadas acerca da realidade da revolução russa
entre 1920-30. São textos jornalísticos, em geral curtos, mas que têm o seu o
interesse histórico na medida em que revelam um pouco dos embates de ideias que
envolviam o problema da existência da URSS e em particular algumas de suas
implicações na diplomacia.
José Carlos Mariátegui escreve fazendo contraponto às vozes
dominantes das agências de notícias americanas e francesas que corroboram com
uma série de mitos acerca da revolução dentro de um embate que envolvia
diretamente os interesses inter-imperialistas. Este contraponto ainda hoje se
justifica e torna a leitura dos artigos de Mariátegui sobre a URSS ainda
necessários. Os temas vão da nova literatura realista da revolução, da poesia e
da participação da mulher na política à nova lógica diplomática revolucionária pautada pela
extinção dos segredos de diplomacia e pelo desarmamento radical, pela disputa japonesa
e americana pela Manchúria e pelos os interesses soviéticos na região, o cinema, o
teatro, a revolução sexual na URRS, etc. Justamente por trazer uma perspectiva mais “jornalística”
os temas dos artigos incidem bastante sobre o que poderíamos chamar de “história
do cotidiano”, qual seja, relatos da vida social na URSS diante do novo
contexto da revolução, uma temática que despertava o interesse de muitos e
implicava numa volumosa produção de relatos, ora mais ou menos fieis à realidade.
Em que pese a ausência de um esforço de aprofundamento
teórico – totalmente incompatível com o gênero jornalístico – os artigos de
Mariátegui ainda são uma fonte preciosa de informação acerca da história social
dos primeiros anos da URSS. A Ed. Expressão Popular faz uma grande contribuição
à militância comunista brasileira publicando estes artigos de Mariátegui.
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