sábado, 19 de abril de 2014

“Revolução Russa: história, política e literatura” – José Carlos Mariátegui


Resenha Livro #112 “Revolução Russa: história, política e literatura” – José Carlos Mariátegui – (Org. Luiz Bernardo Pericás) – Ed. Expressão Popular




O escritor, crítico literário, jornalista e marxista peruano José Carlos Mariátegui não é muito conhecido pelo público Brasileiro. Por aqui, teve uma seleção de textos sobre o fascismo italiano publicado pela editora Alameda, e teve o seu clássico “Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana” e este “Revolução Russa”, ambos publicados pela Ed. Expressão Popular.

Mariátegui deve ser reconhecido como um expoente original do pensamento marxista latino-americano. No seu caso particular, há de se destacar o fato de ter sido auto- didata: não passou pelos bancos da universidade e aprendeu por conta as línguas estrangeiras, o italiano e o francês, a partir dos quais iria tomar contato com as principais fontes para a redação dos artigos desta “Revolução Russa”.

No caso dos escritos de Mariátegui sobre o fascismo na Itália temos o privilégio de acompanhar o relato crítico e minucioso da conjuntura política italiana nos anos de ascensão do fascismo, as movimentações (e os erros cometidos) pelo partido comunista e, importante, observamos como Mariátegui na verdade subestima o perigo fascista. Ainda que o subestime, sua análise e seu depoimento servem como valiosas fontes históricas. De qualquer forma, o fato é que o jornalista faz um relato presencial da conjuntura política da Itália dos anos de 1920.

Com “A Revolução Russa” ocorre fenômeno distinto.  Mariátegui nunca esteve na Rússia. Os seus artigos sobre a Rússia (selecionados pelo historiador Luiz Bernardo Pericás) foram escritos com base em relatos de agências de notícias, jornalistas e viajantes, tanto simpáticos quanto adversários do regime socialista. Por se tratar de reportagens de segunda mão, certamente, não encontraremos aqui descrições tão minuciosas e aprofundadas acerca da realidade da revolução russa entre 1920-30. São textos jornalísticos, em geral curtos, mas que têm o seu o interesse histórico na medida em que revelam um pouco dos embates de ideias que envolviam o problema da existência da URSS e em particular algumas de suas implicações na diplomacia.

José Carlos Mariátegui escreve fazendo contraponto às vozes dominantes das agências de notícias americanas e francesas que corroboram com uma série de mitos acerca da revolução dentro de um embate que envolvia diretamente os interesses inter-imperialistas. Este contraponto ainda hoje se justifica e torna a leitura dos artigos de Mariátegui sobre a URSS ainda necessários. Os temas vão da  nova literatura realista da revolução, da poesia e da participação da mulher na política à nova lógica diplomática revolucionária pautada pela extinção dos segredos de diplomacia e pelo desarmamento radical, pela disputa japonesa e americana pela Manchúria e pelos os interesses soviéticos na região, o cinema, o teatro, a revolução sexual na URRS, etc. Justamente por trazer uma perspectiva mais “jornalística” os temas dos artigos incidem bastante sobre o que poderíamos chamar de “história do cotidiano”, qual seja, relatos da vida social na URSS diante do novo contexto da revolução, uma temática que despertava o interesse de muitos e implicava numa volumosa produção de relatos, ora mais ou menos fieis à realidade.

Em que pese a ausência de um esforço de aprofundamento teórico – totalmente incompatível com o gênero jornalístico – os artigos de Mariátegui ainda são uma fonte preciosa de informação acerca da história social dos primeiros anos da URSS. A Ed. Expressão Popular faz uma grande contribuição à militância comunista brasileira publicando estes artigos de Mariátegui.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário