Resenha livro #111 “Fidel –
A Estratégia Política da Vitória” – Marta Hernecker – Ed. Expressão Popular
Conforme indica a própria autora em sua introdução, esta
narrativa da revolução cubana de 1959 preza pela clareza, pela objetividade e
pela acessibilidade. Seu objetivo é dialogar com a juventude e introduzi-la sempre
de forma didática a um capítulo da vasta história das lutas de resistência no
continente americano, no caso, à história de um primeiro movimento guerrilheiro
vitorioso na américa latina que iria reivindicar para si, após a vitória da
revolução, a perspectiva socialista.
Mas a trajetória da vitória do movimento 26 de Julho e de sua principal liderança, Fidel Castro, remonta a pelo menos 10 anos antes de 1959. Na Cuba dos anos 50 o partido mais próximo do marxismo era o Partido Socialista. Fidel, por outro lado, militava, desde a faculdade de Direito, no Partido Ortodoxo. Tratava-se de uma agremiação mais associada aos setores da pequeno-burguesia nacionalista: lutavam pela moralização da política e contra a espoliação econômica estrangeira.
Um momento decisivo na história de Cuba ocorre em 10.03.1952 quando Batista dá um Golpe Militar e instala uma ditadura. Haveria aqui uma exigência de mudança drástica na linha política dos partidos de oposição. Tratava-se de uma ditadura do tipo militar, corrupta e que, ao longo do tempo, foi mostrando-se profundamente antipopular. Diante das perseguições políticas aos opositores, um setor do partido ortodoxo liderados por Fidel e por militantes jovens egressos em boa parte da universidade, partem para o enfrentamento com armas contra o regime.
E assim, em 26 de Julho de 1953, Fidel Castro e cerca de 150 homens tentam tomar de assalto o quartel general de Moncada em Santiago de Cuba. O objetivo dos revolucionários era o de tomar as armas para iniciar a luta armada contra Batista.
O assalto a Moncada não foi bem sucedido: a maioria dos guerrilheiros morreram e os restantes (entre eles, Fidel) foi preso. É em decorrência desta prisão que Fidel, advogado, redigirá o seu famoso “A História Me Absolvirá”, a sua defesa perante o tribunal de batista e que, conforme o gênio político de Fidel, deveria ser uma plataforma política do movimento, tirando proveito da publicidade do processo contra os guerrilheiros de Moncada para impulsionar uma crítica ao regime.
Será no exílio no México que Fidel conhecerá o argentino Che, com quem retornará à Cuba embarcando no Granma para, após um longa guerra de guerrilha camponesa, associada à importante agitação política a partir da Rádio Rebelde de Sierra Maestra, farão triunfar a revolução cubana em 1º de Janeiro de 1959, culminando na fuga de Batista de Cuba e na instalação de um governo revolucionário que ainda hoje, 55 anos depois, ainda resiste ao embargo imperialista, à propaganda anticomunista e às mentiras dos trotskystas que estão do lado dos gusanos de Miami, como, no Brasil, os indivíduos ligados à Lit-QI.
“A Estratégia Política da Vitória” expressa alguns elementos, destacados pela autora, que foram decisivos para a vitória da revolução cubana, ganhando evidência a clareza política de seu mais importante dirigente político, Fidel Castro.
Diz Marta:
“No que Fidel nunca cedeu foi nas questões de fundo, as únicas que podiam estancar o desenvolvimento do processo revolucionário, e que eram: a não aceitação da ingerência estrangeira, o repúdio ao golpe militar e a negativa de formar uma frente que excluísse alguma força representativa de algum setor do povo”.
Interessante comparar aqui alguns desvios de nossa esquerda naqueles mesmos anos e a política levada à cabo pelo movimento 26 de Julho no que tange ao problema da burguesia nacional.
Fidel nunca rejeitou
entabulações e acordos com partidos burgueses de oposição à Batista, com a
condição de não romper com aqueles princípios elencados acima. Mas o que há de
mais importante a se diferenciar aqui parece ser as ilusões em torno da efetiva
disposição de luta de supostos setores burgueses nacionalistas em contraposição
ao imperialismo: a esquerda brasileira cheias de ilusões em torno das reformas
de base de um Jango e a os guerrilheiros cubanos não permitindo que sua luta
fosse desvirtuada por qualquer caudilho burguês.
Esta ilusão parecia estar menos presente no imaginário dos guerrilheiros do 26 de Julho, e, curiosamente, menos presente até do que junto aos comunistas do Partido Socialista Cubano. Outra diferença decisiva estaria relacionada com o saber fazer política: os guerrilheiros do 26 de Julho apenas se dispuseram a abrir diálogo com lideranças e partidos burgueses quando o movimento revolucionário já era uma realidade, e mais importante, já estava em vias de ser a direção do processo revolucionário: apenas quando a derrota de Batista era inevitável, foram os partidos burgueses obrigados a negociar com Fidel e nestas condições não poderiam impor suas condições antipopulares e antinacionais.
A estratégia da vitória
é um livro que merece ser lido com atenção, de forma a fazer com que a bela
revolução cubana permaneça viva, de alguma forma, contribuindo, com as lições
de seus êxitos e impasses, para continuarmos avançando em direção ao comunismo:
seguindo uma trilha pela qual passaram os guerrilheiros do 26 de Julho.
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