Resenha Livro #100 - “O Marxismo e os Sindicatos – Marx, Engels, Lênin e
Trótsky” – Paulo Aguena (Org.) – Ed. Sundermann
A proposta desta compilação de
textos marxistas é abordar o problema da organização dos trabalhadores em suas
lutas econômicas (sindicais) e políticas (partidárias e revolucionárias), a
partir da seleção de textos clássicos sobre sindicatos.
A iniciativa desta edição visou
contemplar as discussões teóricas e práticas engendradas pelo movimento de
reorganização sindical no Brasil aberto pelo surgimento da Conlutas (hoje, “CSP-Conlutas”),
entidade sindical fundada em 2006.
Os textos estão subdivididos em
três partes. A 1ª parte abrange textos de Marx e Engels, de resoluções da I Internacional
e artigos redigidos por Engels,
publicados no periódico Labour Standard. A 2ª parte contém a
contribuição de Lênin e da III Internacional. Há trechos de trabalhos famosos
de Lênin como “O Que Fazer” em que o revolucionário Russo aponta os limites da
consciência espontânea dos operários, sendo necessário um movimento exterior ao
movimento proletário que lhe dê uma consciência política revolucionária a
partir do marxismo; há também o famoso capítulo do “Esquerdismo, Doença
Infantil do Comunismo”, em que Lênin polemiza com os anarquistas acerca da
intervenção dos revolucionários nos sindicatos reacionários.
Esta temática da luta do
movimento operário dentro de sindicatos cooptados pela burocracia sindical e
pela aristocracia operária será uma preocupação constante nas análises de
Trótsky sobre os sindicatos. Aqui, textos como “Os erros de princípio do
sindicalismo” e “A questão da unidade sindical” retomam o problema já abordado
por Lênin sobre a atuação dos comunistas nos sindicatos reacionários. E Trótsky
segue a mesma orientação política leninista: não se deve abandonar o trabalho
de base nos sindicatos reacionários, sob a pena de deixar a massa dos
trabalhadores sob a influência e direção dos líderes reformistas e
conciliadores. Os comunistas não se devem abalar por todas as manobras que a
burocracia sindical impõe: devem ser os mais consequentes defensores da unidade
sindical, não a entendendo como fenômeno formal, mas como a efetiva coalização
das massas trabalhadoras desde as lutas pontuais por melhores salários e
condições de trabalho, buscando transformar as lutas econômicas em luta
política pela tomada de poder pelo proletariado.
Trótsky bem assinala que são
justamente os oportunistas/reformistas que mais temem uma unidade sindical, em
especial quando esta possa implicar em mobilização que vá além dos estritos
limites sindicais.
Para manter os comunistas afastados
dos sindicatos, a burocracia utiliza-se de expulsões e perseguições aos
comunistas, de forma que passa a ser mais uma vez recomendável, mesmo em
sociedades democráticas, o trabalho clandestino nos sindicatos oficiais. A
consigna da independência sindical é justificadamente analisada sob formas
diferentes em Trótsky e Lênin. Justificadamente, pois os momentos históricos e as
situações político-sociais são distintas. Já sob o estado operário,
justifica-se a intervenção do sindicato como instrumento que já mobiliza massas
de trabalhadores: este precioso instrumento deve se articular junto ao estado
proletário, de forma a contribuir na direção da produção, na aferição da
produtividade e na propaganda e agitação política nas fábricas. Já em Trótsky,
há atenção para as relações entre o desenvolvimento dos monopólios capitalistas
e as novas funções do sindicato. Em especial nos regimes fascistas, os
sindicatos também aparecem como entidades ligadas ao estado – a diferença é que
se trata aqui de estados capitalistas e imperialistas, sendo a estatização dos
sindicatos o esforço de desmobilização dos trabalhadores, o seu controle
policial e burocrático imposto pela classe capitalista por meio de seus
intermediários. Aqui a luta pela independência dos sindicatos em relação ao
estado assume um caráter progressivo. Em Lênin, na situação criada pela
revolução russa, a independência é regressiva.
É interessante tentar extrair
desta compilação de textos as linhas-mestras, os elementos em comum nas
análises que perpassam as orientações políticas da I, II e III Internacionais,
sobre o problema sindical. A necessidade de não reduzir a luta sindical aos
limites estritamente econômicos é uma preocupação que perpassa todos os
autores. Em Marx e Engels, fala-se de uma luta que faça com que as mobilizações
mais ou menos espontâneas por melhores salários se transforme numa luta contra
o regime assalariado e pelo controle operário sobre a produção. Lênin e Trótsky
vão ambos retomar esta consigna, fazendo a devida mediação com as situações
concretas do movimento operário.
Outra questão que perpassa os
autores em distintas épocas refere-se ao problema da organização sindical. Marx
e Engels chamam a atenção para o elemento extremamente progressivo de unidade
forjada nas lutas sindicais entre os proletários de forma espontânea. A regra
comum sob o capitalismo é o da livre venda da força de trabalho no mercado,
fazendo com que, via de regra, o operário lute com o outro pelo emprego e pela
sobrevivência. Pois é nos movimentos de resistência que esta competição
transforma-se em solidariedade.
Posteriormente, Lênin e Trótsky
desenvolvem o problema já em termos concretos de organização dentro do
movimento sindical: conforme o problema ia se colocando de forma prática, Lênin
e Trótsky são obrigados a desenvolver melhor o problema da organização.
Entende-se o sindicato como a entidade
voltada ao trabalho e contato direto com as massas proletárias. Nesse
sentido, os comunistas não devem ter uma postura sectária, nem podem, mesmo sob
o estado operário (e assim ocorreu na URRS), exigir dos filiados aos sindicatos
adesão ideológica ao comunismo. O que deve haver é a organização dos comunistas
por meio de seu partido dentro dos sindicatos, de forma a buscar atrair aquelas
massas operárias para o campo revolucionário, fazer avançar a consciência
justamente a partir do núcleo mais consciente do proletariado, a vanguarda
organizada no partido comunista. A unidade deve ser buscada a todo custo – e Trótsky
trabalhará com esta verdade a partir da experiência do movimento sindicalista francês,
recomendando a união entre CGT (Reformista) e CGTU (Revolucionária).
A leitura desta compilação de
textos é um bom ponto de partida para iniciar um debate não só teórico, mas
prático, sobre os desafios do movimento sindical no Brasil e no Mundo. Longe de
oferecer “fórmula pronta”, a teoria é um “guia para ação”, sendo necessário
conhecer todo este vasto passado histórico do movimento operário e sindical, de
maneira a identificar os limites e possibilidades oferecidos pela nossa
conjuntura ao trabalho sindical revolucionário.
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