Resenha Livro #83 “A
Vida de Lênin” – Volume 1 – Louis Fischer – Ed. Civilização Brasileira
Tivemos oportunidade de resenhar o segundo volume
desta obra biográfica de Lênin redigida pelo historiador e jornalista
norte-americano Louis Fischer (Ver aqui: http://esperandopaulo.blogspot.com.br/2013/01/a-vida-de-lenin-louis-fischer.html)
O primeiro volume contempla na verdade a maior parte
da vida de Vladimir Ilyitch Uliánov, nome verdadeiro do dirigente bolchevique,
sendo “Lênin” um pseudômino. O primeiro tombo vai da infância de Lênin na
província de Simbirsk, onde nasceu em 1970, seguindo pela juventude, a Universidade
de Direito em Kazan, os primeiros envolvimentos com política, a morte de seu
irmão mais velho Alexandre Uliánov. Fato importante na vida de Lênin foi a
morte deste irmão, preso e enforcado pelo regime czarista após uma tentativa de
assassinato do Czar Alexandre III. A. Uliánov fazia parte do movimento
populista “Vontade do Povo”. A tática política dos populistas era, no início, o
terrorismo individual: buscavam matar o czar e outros detentores do poder,
implicando, quando obtinham sucesso, na mera troca de postos acompanhadas de
uma repressão brutal. Já à época da morte do irmão, Lênin via a ineficácia dos
métodos dos populistas. Posteriormente, estes também abandonariam os métodos
terroristas, ainda que o próprio Lênin, quando chefe de estado, seria ele
próprio vítima de uma bala não fatal dada por uma militante do grupo Socialista
Revolucionário da direita.
O livro de Louis Fischer seguirá, pois, abordando os
anos de Lênin no exílio na Sibéria e posteriormente na Europa. Em seu primeiro
exílio no oriente russo, casou-se com sua companheira por toda vida, e também
ativista política, Krupskaia. Lênin viveu em Genebra, na França, passou tempos
na Finlândia e de lá voltou para São Petersburgo em abril de 1917 para dirigir
pessoalmente a revolução.
A revolução russa didaticamente costuma ser dividida
em dois momentos, fevereiro e outubro de 1917. O primeiro seria o momento “democrático-burguês”.
O segundo momento seria o propriamente socialista.
Poderíamos acrescentar um período anterior, 1905-06,
quando a Rússia passou por um levante generalizado, greves e lutas camponesas,
após o chamado domingo Sangrento. Este evento marcante da história Russa foi massacre
perpetrado pelas tropas do Czar contra uma manifestação pacífica liderada por
um Padre que peticionava o chefe de estado para promover algumas reformas sociais.
O resultado da repressão brutal (com milhares de mortos) foi a revolução russa de 1905. Foi neste
levante que houve a rebelião de marinheiros do Encouraçado Potekim, que viria a
ser tema de filme do mais eminente cineasta soviético, Sergei Eisenstein. Já em
1905 foram criados os primeiros Soviets, órgãos político-administrativos de
participação política, que seriam mais uma vez impulsionado na revolução
subsequente. 1905 é chamado por Lênin de “ensaio geral da revolução”.
Já os dois momentos marcantes da evolução política
russa são fevereiro de 1917, com um novo levante que derruba o czar e instaura um
governo democrático-burguês tendo como principal expoente político Kerensky e posteriormente a revolução bolchevique. Importante
elemento constitutivo da eclosão da revolução russa é o problema da paz no
âmbito da 1ª Mundial. Iniciada em 1914, a primeira guerra contava com a Entente de um lado (França, Inglaterra, Itália e Rússia, e posteriormente os EUA) e
de outro aliança da Alemanha com o Império Austro-Húngaro. Em 1917 o
descontentamento popular contra a guerra estava generalizado. Tropas inteiras
abandonavam seus postos. Com a revolução, a terra passava a ser distribuída
entre os camponeses pobres e estes, constituindo a maioria do exército,
abandonavam seus postos para aproveitar a partilha.
A Paz com a Alemanha – Brest-Litovsky
Um dos capítulos mais interessantes (e contagiantes,
dada a bela narrativa de Fischer) refere-se às negociações de Paz realizadas
pelo governo bolchevique, recém-instalado no poder, e os alemães. Há um
capítulo inteiro dedicado ao importante (e polêmico) acordo Brest-Litovski, uma
paz em separado entre a Rússia e a Alemanha, com condições extremamente
adversas ao novo poder bolchevique.
É importante ressaltar que o historiador
norte-americano é muito criterioso com as fontes de pesquisa. Ademais, por ter
sido um estudioso de um período também por ele vivenciado, enriquece seu relato
com muitos documentos da época, e é especialmente profundo quando se refere a
personagens reais com quem teve a oportunidade de comunicar-se pessoalmente. É
o caso do genial Radek, agitador bolchevista na Alemanha. Sobre a paz de
Brest-Litov, Lênin revelou aqui duas qualidades que lhe são particulares e
marcantes: sua capacidade de ver os problemas a longo prazo e a sua lealdade
política. É certo que Lênin desde o começo e contra todos, defendeu a política
acertada de uma paz a todo custo com a Alemanha. Lênin foi o que melhor pôde
evidenciar o extremo cansaço do povo e em especial dos camponeses com a guerra.
Sua lealdade política se expressa nas primeiras votações no comitê central em
que sua posição foi derrotada. Lênin, mesmo numa questão tão decisiva e que
remetia diretamente à sobrevivência da revolução russa, não foi desleal e deixou-se
centralizar pelo partido, quando derrotado – além da lealdade, observa-se a
coerência já que Lênin ele-próprio havia teorizado a forma de organização dos
bolcheviques há mais de dez anos antes com o seu “O que Fazer”.
Louis Fischer fecha seu volume após o término da 1ª
Guerra mundial, tendo continuado a Guerra Civil na Rússia entre bolcheviques,
contra-revolucionários e tropas estrangeiras voltadas a esmagar o primeiro
estado operário que conseguia sobreviver aos poucos meses a mais do que a 1ª
tentativa naquele sentido, a Comuna de Paris de 1871. A leitura tanto do 1º quanto do 2º Volume da
biografia de Lênin de Louis Fischer é acima de tudo um vasto e profundo estudo
sobre a história da revolução russa, a história política da União Soviética,
história necessariamente imbricada na vida e na intervenção política de Lênin.
Uma conclusão definitiva da leitura é: sem Lênin, é muito provável que a
revolução tivesse sucumbido entre os anos de guerra civil (1917-1921). O que
salvou a Rússia foi a sua contagiante energia revolucionária, seu realismo e
sua disciplina pessoal.
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