domingo, 5 de setembro de 2021

O Amor de Soldado: A vida de Castro Alves por Jorge Amado

 O Amor de Soldado: A vida de Castro Alves por Jorge Amado

 






“Necessitamos da vossa ajuda. Não é fácil prender nos limites de um palco a vida de Castro Alves que se processou sempre na praça pública, à frente da multidão. Ele não agiu como a maioria dos poetas que se tranca nos gabinetes de trabalho à espera de inspiração. Não foi apenas um poeta da Liberdade, foi também um militante da Liberdade. Seu lugar era à frente do povo. Sua arte, ele a colocou a serviço da Pátria e da humanidade”. (Jorge Amado – “Amor de Soldado”).

 

Quando Castro Alves faleceu de tuberculose, em 6 de junho de 1871, o poeta baiano tinha apenas 24 anos de idade.

 

Foi mais um dos grandes escritores do nosso romantismo literário que viria a falecer ainda muito jovem. Contudo, no curto tempo de vida, teve uma ampla atuação política e artística: junto com Rui Barbosa, foi criador da primeira sociedade abolicionista de Recife, foi poeta, orador e militante das causas do abolicionismo, da república e da liberdade.

 

Adveio de uma família rica e tradicional do interior da Bahia. Estudou  Direito na Faculdade de Direito de Recife, onde travou relações com Tobias Barreto, e viria a concluir os estudos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em São Paulo.

 

Foi no Recife que conheceria o grande amor da sua vida, a atriz portuguesa Eugênia Infante de Câmara, dez anos mais velha do que o nosso escritor. Contudo, como bem retratado nesta peça de teatro escrita por Jorge Amado em homenagem ao poeta condoreiro, a grande musa dos seus versos e a grande inspiração da vida do artista era a liberdade:

 

“EUGÊNIA –Sim, nenhuma mulher é digna da tua vida. Nasceste para um destino maior e qualquer mulher que tentasse dominar o seu coração te mataria. Um dia mo disseram e minha desgraça foi não ter acreditado naquelas palavras tão verdadeiras...As mulheres para ti só podiam valer como alegria ocasional, só podiam estar perto de ti como escravas da tua vida, jamais como senhoras do teu coração... Teu coração sempre pertenceu a outra, Castro...(pausa) Teu coração sempre foi da liberdade”.

 

A peça “O Amor de Soldado” foi escrita em 1944, instantes antes da vitória definitiva da democracia sobre o fascismo na guerra. Os impactos da vitória dos aliados na II Guerra Mundial fariam com que o PCB, já sob o governo Dutra, elegessem uma bancada comunista na assembleia constituinte da qual fazia parte além de Jorge Amado, Carlos Marighella, Luís Carlos Prestes, Gregório Bezerra, João Amazonas, entre outros.

 

Tempos em que a esquerda brasileira era nacionalista, lutava efetivamente pela soberania nacional, pela defesa dos recursos naturais do país e não se deixava convencer por ideologias derivadas do imperialismo, como os comunistas identitários da esquerda brasileira, com poucas exceções.

 

Os paralelos entre a luta pela abolição e pela república em Castro Alves e a luta pela democracia pelos comunistas de 1945 se encontram no denominador comum: a luta pela liberdade.  

 

A peça teatral começa justamente com esta afirmativa: “um sopro de liberdade atravessa o mundo”. O Brasil das jornadas abolicionistas e o mundo após a II Mundial.

 

A solução de continuidade entre as lutas dos abolicionistas e dos republicanos do XIX e dos comunistas e nacionalistas do século XX fica bem evidente em toda a trama.

 

Instantes antes de retornar à Bahia, onde viria a morrer, Castro Alves assim se despediria de Eugênia:

 

”CASTRO ALVES: Não, não verei nada disso. Mas adivinho tudo isso...E quero ajudar até o meu último instante a que esses sonhos se transformem em realidade. Eu vejo, Eugênia, em minhas noites solitárias, o mundo que os homens construirão. Custará sangue e vidas, a minha e a de muitos outros. Talvez de milhares e milhões. Mas será o mundo livre e então a vida será perene alegria e perene beleza. Não mais escravos de nenhuma espécie. Não mais humilhados, não mais miseráveis. A terra será de todos e os frutos das árvores a todos pertencerão. As máquinas trabalharão para todos os homens, os livros estarão em todas as mãos, a liberdade será bem de toda a gente, o trabalho uma alegria cotidiana. O mundo será uma festa e então o amor poderá crescer em todos os corações”.

 

 

 

Resenha Livro – “O Amor de Soldado” – Jorge Amado – Ed. Record.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário