terça-feira, 30 de julho de 2013

“Maurício Tragtenberg: Uma Vida para as Ciências Humanas” – Vários Autores


Resenha Livro # 66 “Maurício Tragtenberg: uma vida para as Ciências Humanas”. (Org. Doris Accioly e Sônia Marrach). Ed. Unesp
 
 

 

Por ocasião da morte do professor universitário e militante Maurício Tragtenberg, foram realizados diversos seminários homenageando a vida e o legado teórico do autor. O professor deu aulas na PUC-SP, na Faculdade de Educação da Unicamp, na Faculdade de Filosofia da Unesp de Marília e na Fundação Getúlio Vargas. Ainda assim, é desconhecido por muitos, apesar de ter contribuído no âmbito das ciências humanas com uma particular e interessante crítica à burocracia, particularmente no que se refere às suas manifestações no âmbito das escolas e universidades.

 

Contrapôs a lógica das grades de disciplinas (e a expressão “grades” passa a ser sintomática ao remeter à ideia de prisão), ao conhecimento destinado à ao passivo respeitar das normas e de um saber burocrático voltado às exigências do mercado e das empresas modernas, pautando, em oposição, um novo tipo de relação não autoritário nas escolas e universidades, marcado pela horizontalidade, pelo encerramento da competitividade, pelo fim dos exames e provas que apenas legitimam o poder do professor e pela total abertura do espaço à comunidade. Pensou em síntese num novo modelo de educação auto-gestionário em que os estudantes são levados a discutir e aprender assuntos de seu interesse, instigando a curiosidade espontânea e a construção de saber coletivo, sem hierarquias.

 

Não foi só no âmbito das escolas que Tragtenberg dedicou-se ao estudo da burocracia. Analisou a lógica das práticas serializadas no âmbito das empresas por meio de uma crítica politizadora dos modelos de produção fordista, taylorista e toyotista. Conseguiu observar talvez antes do que a maior parte da sociologia do trabalho como particularmente os novos modelos de administração pautados pela criação de responsabilidades aos trabalhadores, por meio de um discurso de “pertencimento” do trabalhador à fábrica, implicava não em uma “democratização” das relações de mando nas empresas mas na garantia de que os trabalhadores passassem a cada vez mais enxergar seu trabalho como o fim de sua vida, influenciando-os a trabalharem no limite de maneira a atender suas novas responsabilidades e não desapontar o restante da equipe: encerram-se assim cada vez mais os limites entre o espaço do trabalho e o espaço doméstico, do lazer e do descanso, diminuindo em importância o segundo em detrimento do primeiro.

 

No que se refere aos pressupostos teórico-metodológicos, pode-se dizer que os autores que mais influenciam Tragtenberg são Karl Marx e Max Weber. Nas palavras de um dos articulistas dos ensaios, o autor analisou criticamente a estrutura e o modo de produção capitalista desde a orientação marxista e interpretou a super-estrutura, as entidades políticas, as instituições educacionais e as  empresas a partir da concepção de burocracia em Weber.

 

O livro corresponde a uma série de artigos de professores e militantes de movimentos sociais que conviveram, aprenderam e se apropriaram dos saberes produzidos por Tragtenberg. Há tanto elementos acerca de sua trajetória de vida pessoal até análises mais detalhadas de sua intervenção na academia e no debate no espaço público. Certamente, a alcunha de “intelectual heterodoxo” veio bem a calhar a este pensador proveniente do sul do país, de origem judaica e que passou a maior parte de sua vida trabalhando e militando no estado de São Paulo.

 

Quando jovem Maurício Tragtenberg já devorava os livros: diz-se que lia de 9 a 10 horas por dia na biblioteca Mário de Andrade em São Paulo. Aos domingos, costumava visitar os Abramos, participava de debates junto àquela família repleta de intelectuais, bem como tinha acesso à livros e orientações de leitura. Também na juventude conheceu Antônio Cândido que, impressionado com o repertório cultural daquele jovem que sequer tinha feito o secundário, descobriu uma forma de fazer com que Tragtenberg entrasse na universidade mesmo sem a escolaridade formal. Era possível, para entrar na universidade, apresentar uma tese a ser apresentada por banca examinadora. E assim Tragtenberg entrou na USP, primeiro no curso de Ciências Sociais, e depois se transferindo e formando-se em História.

 

Como militante, sua intervenção mais importante provavelmente se deu com a coluna “No Batente” escrita no jornal Notícias Populares. Tratava-se de um jornal popular, muito lido pelos operários e por meio dele Tragtenberg pautava seus textos a partir de recomendações dos próprios operários e seus respectivas denúncias de más condições de trabalho. Como crítico da burocracia também no âmbito sindical, procurava deixar claro que o espaço do “Batente” era destinado aos problemas do operário comum, sem pretensão de representar ou defender interesses particulares de partidos políticos e sindicatos.

 

A vivência político-partidária de Tragtenberg também foi curta. Foi durante pouco tempo membro do PCB e foi expulso deste partido. Revela-nos em uma de suas colunas do “Batente” que dentre os estatutos do partidão havia o “infame” parágrafo 13 que proibia os militantes da organização de ter contato com as obras de León Trótsky e outros “traidores do socialismo”. Chegou a militar junto do conhecido introdutor do trotskysmo no Brasil, o jornalista Hermínio Sacchetta e seu PSR (Partido Socialista Revolucionário). Posteriormente, acrescentaria às suas influências teóricas o anarquismo, rompendo com a concepção de partido e organização política de Lênin.

 

Neste aspecto, a falta de rigor teórico-metodológico combinado com uma interpretação injusta do Lênin  (confundindo talvez o autor e os leninismos) fizeram com que em 1986 Tragtenberg fizesse a seguinte intervenção:

 

“A concepção leninista do partido enquanto minoria organizada que deva dirigir uma maioria informe, o proletariado, leva o trabalhador a regredir em seu nível de consciência social e política. O trabalhador é deseducado pelo oportunismo do partido, pelo seu desprezo às ideias, e submetido a um processo que o torna capaz de uma ação autônoma e coletiva. A classe operária perde a confiança na sua própria capacidade de luta, organização e compreensão do processo social, transferindo-a ao partido”.

 

Apenas nesta parágrafo, encontramos diversos problemas de interpretação que, recordando-nos do vasto repertório cultural de Targtenberg, faz-nos crer ser esta uma crítica injusta. O autor confude leninismo com blanquismo, como se o primeiro fosse uma corrente substitucionista em que o partido atuasse como sujeito revolucionário em detrimento da classe. Ocorre que em Lênin reiteradamente há a advertência de que o partido ravolucionário deve sim ser a direção de um processo de mobilização de caráter revolucionário sem contudo abrir mão de uma ligação orgânica com os trabalhadores e as massas. Não é verdade que a concepção leninista de partido leve o operário à regredir seu nível de consciência. Até por que o que faz aumentar o nível de consciência dos trabalhadores é a luta e a formação política, dois elementos que não são incompatíveis mais essenciais na vida do partido político. Ademais, Tragtenberg parece esquecer de que o senso comum e as formas serializadas da consciência operária nos momentos de refluxo não raro encaminham os trabalhadores a reproduzir acriticamente as ideias, valores e interesses da classe dominante por meio dos esquemas de reprodução da ideologia: romper com o senso comum para avançar a consciência de classe também é uma tarefa do partido revolucionário e tal problema não será resolvido por métodos “espontâneos” e muito menos artesanais.

 

Finalmente, não é verdade que a existência do partido revolucionário faça com que a classe operária perca a confiança em si própria. Mais uma vez, vale o questionamente: o que leva a classe operária a ser confiante e lutar sem medo contra a classe exploradora? A convicção da possibilidade da vitória bem como as vitórias pontuais que provam na prática a validade da organização para arrancar direitos das classes dominantes. O partido é um instrumento da luta de classes e foi decisivo para a vitória de diversos movimentos revolucionários que verdadeiramente aumentaram a confiança dos trabalhadores, desde os bolcheviques até o movimento 26 de Julho em Cuba.

 

É óbvio que ao longo do séc. XX foi possível observar toda sorte de degeneração ou deformação de organizações que diziam ser porta-vozes dos interesses do trabalhadores. A tragédia ou farsa do Partido dos Trabalhadores no Brasil é o exemplo mais próximo de nós. Entretanto, Tragtenberg é incapaz de oferecer qualquer alternativa segura de organização que garante o maior acúmulo de forças para uma luta frontal contra a burguesia: para que como um punho unificado o proletariado consiga unificar toda a energia revolucionária para compear e derrotar a burguesia. Resvalando no webberianismo e seu conceito de “tipo-ideal”, Tragtenberg apenas aponta alguns elementos abstratos que em si nada garantem a não burocratização: “solidariedade”, “auto-gestão”, “horizontalidade” etc. No plano abastrato todos estes valores são não só legítimos como necessários, porém não são capazes de responder de forma eficaz o problema de como organizar a classe para derrotar o capital.

 

Portanto, ainda que se possa extrair elementos de sua crítica à burocracia para se pensar criticamente o partido e as formas de organização dos trabalhadores, ao afastar como princípio o método da organização partidária de Lênin, Tragtenberg desconstrói uma das tarefas mais preementes dos comunistas no mundo contemporâneo: a construção do partido revolucionário.         

quarta-feira, 24 de julho de 2013

“As Metamorfoses da Consciência de Classe” – Mauro Iasi


Resenha livro #65 “As Metamorfoses da consciência de classe: O PT entre a negação e o consentimento” – Mauro Iasi – Ed. Expressão Popular


Mauro Iasi é um importante intelectual orgânico da esquerda socialista brasileira. Doutor em sociologia pela USP, é dirigente do PCB, além de ter atuado como educador popular do NEP 13 de Maio, um grupo de formação de quadros políticos. Este livro, já em segunda edição pela Ed. Expressão Popular, corresponde à sua tese de doutorado. O tema da dissertação envolve o processo de tomada de consciência política, desde os seus momentos individuais, grupais e classistas. As metamorfoses da consciência envolvem um estudo que vai além de determinações causais exclusivas, como a posição social do indivíduo frente às relações de produção historicamente colocadas, a educação ou como fruto de uma suposta essência humana.

Consoante Marx, não é a consciência que determina o ser social. Ao contrário: é o ser social que determina a consciência. Dentro desta perspectiva, é possível ver como a consciência se reproduz inicialmente por meio de ações seriais objetivadas, espécie de ponto de partida da consciência, que expressa valores e ideias dominantes introjetados desde cedo nos indivíduos. A própria noção de indivíduo tem uma coloração ideológica já que, utilizando os termos de Iasi, expressa pessoas “encapsuladas” em seu mundo, alienadas desde o ponto de vista da sua relação com o trabalho e repercutindo a ideologia liberal segundo a qual a sociedade seria uma mera somatória de indivíduos. Por suposto, tal senso comum está inteiramente alinhado com a lógica de reprodução do capital: a liberdade na perspectiva liberal é a liberdade do mercado ou mais  especificamente uma liberdade contratual envolvendo de um lado uma classe que vive da venda da força de trabalho e de outro uma classe detentora dos meios de produção que compra a força de trabalho e dela extrai mais valia.

O interessante do estudo de Mauro Iasi é que, além do vasto repertório teórico envolvendo este tema particularmente complexo a partir da apropriação não só de Marx, mas de Sartre e Freud, o professor conta por um lado com sua experiência como educador popular e por outro com entrevistas de campo junto a militantes mais ou menos engajados do movimento social e do movimento sindical, para traçar um panorama amplo e profundo sobre como se dá as passagens ou metamorfoses da consciência, desde a percepção do mundo pelo senso comum (qual seja a reprodução ideológica de ideias da classe dominante disfarçadas de “interesses universais”), até um momento inicial de negação que parte de uma práxis que põe em movimento uma realidade inerte por um primeiro agrupamento: uma luta parcial e pontual que agrupe e rompa com o enclausuramento individualizante e conforma uma primeira transformação da consciência. Iasi cita como exemplo depoimentos da primeira aproximação de militantes com alguma luta mais específica, seja uma mobilização de trabalhadores numa fábrica, seja nos primeiros contatos com um movimento grevista, seja uma luta popular em alguma comunidade. Há aqui uma primeira negação da realidade que pode avançar para um questionamento totalizante das relações sociais inertes (negação da negação progressiva), ou pode retroceder em uma nova lógica de serialidade, quando as ações objetivadas implicam numa burocratização (negação da negação regressiva).

O estudo contem dois blocos essenciais. O primeiro corresponde justamente à análise sob diversas perspectivas do problema da consciência e suas transformações. O fio condutor ou o que parece ser a indagação mais essencial do autor é buscar compreender como se dá estas passagens de consciência, em particular no que se refere ao salto do momento grupal para o momento classista, ou da classe em si em direção à classe para si.

O segundo bloco seria uma análise de caso. Servindo-se do denso e poderoso arsenal teórico trabalhado na primeira parte do livro, Iasi passa a analisar a história trágica (ou melhor dizendo farsesca) do PT, de um partido derivado das lutas operárias a partir do fim dos anos 1970, que reivindica o socialismo e o anti-capitalismo, a um partido da ordem que, segundo a conclusão do autor, estaria hegemonizado pela política pequeno-burguesa, estando mesmo abaixo da social-democracia no que se referiria ao menos a algumas reformas que efetivamente “acumulassem forças” em direção ao socialismo. O método da análise do professor Iasi dá-se pela leitura crítica dos cadernos de resolução dos encontros e congressos partidários. Por meio destes documentos oficiais fica bastante evidente a transformação do partido “da negação ao consentimento”. O que antes era “anticapitalismo” transforma-se em “antineoliberalismo”. O que era “classe trabalhadora” transforma-se gradualmente em “povo” e depois em “cidadão”. Palavras como “ruptura” e mesmo “socialismo” vão desaparecendo, falando-se agora em “consenso”, “democracia”, “pluralismo” e “estado de direito”.

Como explicar esta transformação, este movimento regressivo também impactando e sendo impactado pela consciência da classe (interrogação). Desde já, Iasi afasta-se tanto da tese de Jacob Gorender para quem a classe trabalhadora – ao ter como horizonte a luta econômica – é ontologicamente reformista. Também se afasta da perspectiva trotskysta de “crise de direção” que basicamente responsabiliza os dirigentes petistas partindo do pressuposto de que a classe operária é ontologicamente revolucionária e sempre estaria à disposição para romper com os limites da ordem. Como se pôde analisar nos primeiros capítulos, a classe operária pode ser tanto reformista quanto revolucionária, consoante um complexo número de fatores objetivos e subjetivos. No caso do PT há de se destacar dentre outros elementos a derrota e extinção da URSS, colocando o socialismo na defensiva em todo mundo; a derrota eleitoral, particularmente a mais impactante que foi o embate com Collor, aumentando as pressões pela moderação no discurso e na prática política; a burocratização do partido e seu inchaço através da conquista de postos no estado burguês, tendo como contrapartida a gradual assimilação do partido à ordem e seu afastamento da classe. A própria independência de classe vinha sendo gradualmente mitigada: inicialmente o PT dizia ser o partido da classe trabalhadora não admitindo em seu seio a burguesia, seja ela a rentista ou não. Gradualmente, o leque de alianças vai se ampliando, particularmente frente às pressões eleitorais, passando a incorporar setores da burguesia até diluir completamente qualquer resquício de classismo, o que estaria expresso em 2002 na “Carta ao Povo Brasileiro”, também conhecida como “Carta aos Banqueiros”, asseverando que o governo Lula manteria (como de fato manteve) a ortodoxia econômica do governo FHC.

Justamente por escapar de explicações reducionistas, a tese de Mauro Iasi é mais uma boa ferramenta para se analisar o ciclo histórico do PT, bem como cortejá-lo com as metamorfoses da consciência da classe trabalhadora no país. Estaria toda a esquerda e todos os seus partidos condenados à burocratização e o retorno à serialidade, conforme o tese existencialista (interrogação). Não, diz o autor e para concluir, Mauro Iasi cita Gramsci acerca da importância da intransigência política como forma de evitar as deformações. Não se trata de um circulo eterno da negação ao consentimento, da luta ao amoldamento à ordem, mas de um movimento em espiral em que as transformações elevam as condições de organizar e lutar da classe sob outro patamar, com avanços e retrocessos para a classe.


É possível distinguir dois tipos de marxismos. Um é o marxismo acadêmico, que possui pouca ou nenhuma confiança na classe trabalhadora e por isso prefere observar os processos à distância, não sem alguma arrogância de quem julga entender algo sobre a classe sem sequer conhece-la presencialmente e no cotidiano. Mauro Iasi não é este tipo de “marxista”: ele é um marxista militante e que portanto procura não só compreender os processos e fenômenos, mas atuar sob eles, além de persistir acreditando na possibilidade do socialismo e do comunismo. 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

“Lênin” - György Lukács


Resenha Livro #64 “Lênin – um estudo sobre a unidade de seu pensamento” - György Lukács Ed. Boitempo



Este ensaio foi escrito em 1924, um ano após a publicação da mais conhecida obra do filósofo marxista húngado, “História e Consciência de Classe”. Lukács nasceu em 1885 em Budapeste na Hungria. Doutorou-se em Direito e Filosofia pela Universidade de Budapeste. Em 1918, influenciado por Béla Kun, líder comunista que governou brevemente a Húngria em 1919, Lukács aderiu ao partido comunista. Viveu durante 15 anos em Moscou (1930-1945), onde trabalhou como pesquisador no Instituto-Marx-Engels-Lênin[i]. De volta à Hungria, Lukács deu aulas como professor universitário e faleceu em 1971.

Este pequeno ensaio intitulado “Lênin – um estudo sobre a unidade de seu pensamento”, veio a ser escrito por ocasião da morte do dirigente revolucionário russo. Não se trata de um biografia de Lênin, nem tampouco análise crítica de todas as questões teóricas decorrentes dos escritos e da intervenção do dirigente marxista da antiga URSS. Há, no livro, um pouco dos dois, ainda que se predomine informações sobre as ideias de Lênin (e não sobre sua vida) numa busca de uma síntese que conforme uma unidade do pensamento de Lênin por toda sua vida. Certamente, as descobertas, a percepção da realidade e o seu resultado em políticas aplicadas à realidade concreta, todas estas questões vão sempre dialogar de alguma forma com circunstâncias específicas da vida de Lênin – assim tanto a vida pessoal quanto a contribuição teórica aparecem também como parte da “unidade” enunciada no título do trabalho de Lukács.

Tem-se dividido a obra de Lukács entre sua fase jovem e sua fase madura (algo que também ocorreu com as obras de Karl Marx). Dentre as diferenças entre o jovem e velho Lukács, fala-se em primeiro lugar numa mudança de estilo. “Lênin” foi escrito em 1924, correspondendo a fase do “jovem” Lukács. Quanto ao estilo diz-se que os textos da juventude possuem uma narrativa mais contagiante enquanto os escritos da velhice costumavam ser ditados e eram, talvez por isso, mais sóbrios e mesmo mais fatigante. De certo, o texto de Lukács é impecável em “Lênin”. É complexo ser simples sem ser simplista, ou seja, é necessário bastante conhecimento acerca de determinado assunto, em si complexo, para que haja a capacidade de se transmitir ideias acerca do assunto profundo de forma didática.

 Mesmo num ensaio de 120 páginas, Lukács consegue aprofundar o pensamento leninista, entre outros, acerca do: (i) protagonismo e centralidade do proletariado como classe dirigente, discorrendo sobre a composição das classes sociais na Rússia revolucionária e a perspectiva leniniana de articular alianças junto ao campesinato (predominante da Rússia pré-revolucionária e classe social com fortes pressões burguesas) bem como todas as demais classes esmagadas e oprimidas pelo czarismo e pelo rápido desenvolvimento capitalista na Rússia, a partir do início do séc. XX;  (ii) a necessidade do partido dirigente como ponto de apoio independente dos trabalhadores capaz de criar uma consciência de classe e garantir a autonomia de seus interesses; (iii) conforme Lênin, a questão da disciplina partidária. Ainda nesta oposição entre jovem e velho Lukács, há de se falar em distintas percepções acerca da questão do cotidiano, da análise e do sentido atribuído à cotidianidade: no jovem Lênin, predomina a ideia desde ser um momento de alienação enquanto no velho Lukács a temática é retomada buscando extrair o que há de real na reiteração de práticas e condutas dos homens na história.   

A questão do Partido Revolucionário

Assim como Lênin, Lukács partilhava da ideia de que a conjuntura histórica vivida pela Europa ao decorrer do início do séc. XX era uma conjuntura de crises, guerras e revoluções. Este último elemento, a Revolução e a conjuntura potencialmente revolucionária, agigantava as tarefas do partido revolucionário e revitalizava o pensamento de Lênin.

“Mas o modo como o proletariado reage a uma situação é algo que depende em grande parte da clareza e da energia que o partido é capaz de empregar na consecução de seus objetivos de classe. Desse modo, o velho problema – se a revolução pode ser “feita” ou não – ganha um significado inteiramente novo na época histórica da revolução. E com essa mudança de significado das questões organizacionais para o partido e para a totalidade do proletariado. Na base do antigo problema do “fazer” da revolução reside uma separação rígida, não dialética, entre a necessidade do curso histórico e a atividade do partido agente. Se o “fazer” da revolução significa sua criação mágica a partir do nada, isto tem de ser absolutamente negado. A atividade do partido na era da revolução significa algo fundamentalmente diferente. Se o caráter essencial da época é revolucionário, uma situação revolucionária aguda pode se apresentar a qualquer momento. O momento e as circunstâncias de seu surgimento dificilmente podem ser previstos com exatidão. Mas é possível prever tanto aquelas tendências que conduzem a ela quanto as linhas fundamentais da ação correta a ser implementada quando se seu surgimento. A atividade do partida funda-se nesse conhecimento histórico. O partido tem de preparar a revolução.    

Quer dizer, ele tem, por um lado, de procurar atuar (por meio da influência sobre a ação do proletariado e também das outras camadas exploradas) para a aceleração   do processo de amadurecimento dessas tendências revolucionárias; por outro lado, no entanto, ele tem de preparar o proletariado ideológica, tática, material e organizacionalmente para a ação necessária na situação revolucionária aguda”. (...) “Essa adequação à vida da totalidade é impossível sem a mais rígida disciplina no partido. Se o partido não é capaz de adequar momentaneamente seu conhecimento à situação sempre cambiante, chega toda vez depois dos acontecimentos, converte-se de dirigente à dirigido, perde o contato com as massas, desorganiza-se. A consequência disso é que a organização tem sempre de funcionar com a mais extrema austeridade e rigidez a fim de transformar essa adequação em ação tão logo seja necessário. Ao mesmo tempo, porém, isso significa que essa exigência de adequabilidade também tem de ser aplicada a todo instante na própria organização”.

Por meio deste trecho é possível verificar em primeiro lugar que as tarefas ou a finalidade do partido revolucionário vai depender da conjuntura histórica: Lênin e Lukács teorizam o partido desde um ponto de vista segundo o qual a Europa e o mundo passavam por uma fase potencialmente revolucionária.

O mesmo pode ser dito com relação à forma do partido: esta ainda mais irá depender não só das circunstâncias históricas gerais, mas da própria situação política: sob a repressão policial constante decorrente da dominação czarista, Lênin pensou numa forma partidária altamente centralizada, formada ao máximo possível por revolucionários profissionais e especializados, com divisão de tarefas conforme a aptidão, trabalhos clandestinos mesclados com atuação pela legalidade. E, junto à centralização organizativa, o partido deve atingir o maior raio de incidência possível sobre a classe operária e os demais setores explorados. Quanto à finalidade partidária, podemos dizer que a mesma diz respeito a “preparar” a classe para a luta e para revolução, esta última sendo considerada fenômeno histórico. Ou seja, algo que não pode ser “agendado” por uma organização de revolucionários militantes e profissionais. O que é possível é buscar analisar as linhas gerais do desenvolvimento histórico e preparar ao máximo a classe para o embate decisivo junto contra a classe dominante.




[i] Na brochura da edição da Boitempo, há uma foto do Instituto, bem como outras imagens pouco conhecidas de Lênin.

terça-feira, 9 de julho de 2013

“A Viagem” – Graciliano Ramos


Resenha livro #63 “Viagem”. Graciliano Ramos. Ed. Livraria Martins
 
 

Acredita-se que “inteligência” é uma palavra latina. A etimologia expressa “capacidade de compreender” (intellectus) ou mais especificamente “intus legere actionem”, que significa “ler dentro da ação”. Poderíamos em síntese conceituar inteligência como a capacidade de entender e interpretar o mundo, incluindo a capacidade de ler e interpretar as entrelinhas da realidade. Diferente conceituação do senso comum segundo o qual inteligente é aquele com maior repertório cultural: certamente a quantidade de livros lidos ou filmes assistidos amplia as possibilidades de melhor interpretar a realidade, mas desde a noção originária de inteligência, pensamos ser esta uma capacidade que envolve não só memória e lógica, mas sensibilidade ou, até, intuição. Compreendendo a intelgência como sensibilidade associada à capacidade de interpretação do mundo, das pessoas e das coisas, certamente Graciliano Ramos foi dos mais destacados e “inteligentes” autores brasileiros.

Nascido em Alagoas, foi jornalista, membro do PCB por alguns anos, prefeito da pequena cidade de Palmeira dos Índios, além de romancista e contista. Graciliano teve a felicidade rara de ser um autor reconhecido em vida: em “Viagem” ele é introduzido como membro da Academia Brasileira de Escritores. Seus mais importantes romances são “Caetés”, “São Bernardo”, “Angústia” e “Vida Secas”. Além de ficção, escreveu relato de sua passagem na prisão durante o Estado Novo em dois volumes de “Memórias do Cárcere”. Redigiu um relato de sua infância em “Infância”, e escreveu “Viagem”, que corresponde a um memorial artístico de sua visita à Tcheco-Eslovaquia, Rússia (então URSS) e Ucrânia (então, parte da URSS).

A “Viagem” não pode ser considerada uma reportagem ou qualquer forma de relato objetivo da viagem. Não há a citação das estatísticas e números que certamente foram relatados aos visitantes pelos guias turísticos. Tampouco “Viagem”  propõe-se a ser uma análise crítica do regime soviético, da sua sociedade, da sua economia ou da sua cultura. Podemos dizer que a obra corresponde a um memorial com os fatos mais marcantes do ponto de vista pessoal do autor, fatos narrados de forma ora objetiva ora lírica. Nem sempre aatenção de Graciliano está focada nas questões políticas, candentes num contexto de guerra ideológica (Guerra Fria). Vale ponderar que Graciliano goze em algumas passagens da “má fama soviética” repercutida pelo ocidente capitalista, confrontando a propaganda enganosa com os fatos observados: o funcionamento regular de Kolkhoz (cooperativa agrícola) que oferece diversos serviços educacionais e recreativos aos trabalhadores; o alto índice de leitores revelado pela alta vendagem de livros, quando comparada com o brasil; a preocupação com a preservação do passado e respeito perceptível na consevração de castelos medievais. Entretanto, o livro não tem como eixo contrabalancear a propaganda negativa feita pelo o ocidente à realidade positiva do oriente – o que é feito por Caio Prado Jr. Em seu “O Mundo do Socialismo” (Ler mais em: http://esperandopaulo.blogspot.com.br/2010/11/o-mundo-do-socialismo-caio-prado-jr.html)

Graciliano também destaca impressões pessoais com relação as pessoas consideradas individualmente, se assemelhando à descrição de personagens de seus romances – considerava as russas de uma beleza particular e, atento ao seu olhar de romancista, anotou detalhes dos mais reveladores sobre roupas, posturas e olhares. Por meio da sensibilidade artística soube interpretar a excessiva amabilidade dos guias que os orientava como algo meio forçado e não espontâneo. Da mesma forma, tomou nota de algumas situações esquisitas, como a de um fumante que insistiu (mesmo após negativa) que o escritor aceitasse seu cigarro.

 De toda forma, Graciliano Ramos certamente se sentia muito diferente daquelas pessoas. Em certos momentos soa mesmo como se colocasse numa posição de inferioridade, particularmente quando tomou conta da alta tiragem de livros vendidos e do grande público leitor daquele país. Parece-nos ser um traço da própria personalidade daquele alagoano franzino, magro, fisicamente nada atraente: esta auto-negação ganharia expressão poética mais importante no, na nossa modesta opinião, seu maior livro, “Angústia” Em síntese, este belo memorial de viagem pode interessar tanto aqueles que apreciam o modo como Graciliano Ramos escreve (neste relato de viagem, seu estilo literário é o mesmo dos seus romances), quanto os que desejam conhecer alguns aspectos da vida na URSS sob o olhar de um dos mais “inteligentes” autores da história do país.  

sábado, 6 de julho de 2013

“Teoria da Organização Política V.I” Ademar Bogo (org)


Resenha Livro #62 “Teoria da Organização Política V. I – Engels, Marx, Lênin, Rosa e Mao”. Ed. Expressão Popular



Esta compilação de textos tem como denominador comum o problema da organização da classe trabalhadora bem como da coordenação das lutas pela emancipação do trabalho em relação ao capital. Neste primeiro volume, temos artigos de autores “clássicos” da tradição marxista: o material é muito bom para aqueles que desejam aproximar-se da leitura direta dos textos originais destes autores fundamentais, sendo possível destacar similitudes e algumas diferenças pontuais quanto à questão da relação entre o partido revolucionário e as massas, a oposição entre os métodos “artesanais” de organização em contraponto às exigências da história de se profissionalizar a luta revolucionária, sem se deixa levar pelo espontaneísmo ou rebaixar o horizonte estratégico em detrimento do baixo nível de consciência política das massas.

Certamente, as polêmicas e os aspectos de divergência dentre os clássicos pode ser um bom ponto de partida para se apurar alguns dilemas que ainda estão candentes no movimento dos trabalhadores do mundo contemporâneo. Tais divergências enriquecem nossa compreensão inclusive das particularidades das lutas em determinados lugares e momentos históricos, sendo, pois, reflexo do grau de desenvolvimento das forças produtivas e da conformação das classes sociais em cada país. Tais ingredientes são fundamentais para se compreender por que cada autor segue tal ou qual linha política.

Assim, Mao, enfrentando uma situação de revolução permanente contra os nacionalistas e contra os invasores japoneses, reivindica a necessidade dos comunistas chineses travarem uma luta para angariar ao máximo o apoio popular (o que seria determinante para a conflagração da Grande Marcha que levaria os comunistas chineses ao poder). Para aproxima-se das massas, os comunistas devem abandonar o sectarismo (que na acepção maoista tem um sentido um pouco diferente do que conhecemos, significando a predominância dos interesses do particular em detrimento dos interesses da coletividade, bem como a não aceitação da própria forma de organização partidária, das ordens superiores, do centralismo democrático, etc).

Mao, igualmente, deparando-se com um país em que raros eram os intelectuais com formação marxista-leninista, critica duramente o dogmatismo: a formação teórica sem ligação com uma prática política. Frente às vicissitudes da revolução chinesa, a luta contra o dogmatismo em Mao implica (ainda que ele não use o termo) na luta contra a “burocratização”. Aqueles que teorizam sem aplicar as referências teórico-metodológicas do marxismo-leninismo à realidade chinesa tão pouco contribuem (ou contribuem menos!) do que trabalhadores e camponeses cujo conhecimento dá-se exclusivamente pela experiência sensorial. Tanto a prática desprovida da teoria quanto a teoria desprovida da prática são perniciosas: entretanto o dogmatismo pode ser ainda mais grave por criar em alguns indivíduos a falsa sensação de ser detentor exclusivo do saber justo revolucionário, se credenciando para assumir a responsabilidade política pela direção dos comitês locais sem o reconhecimento da importância do saber prático e implicando em autoritarismo.

Dentre os textos selecionados, poderíamos destacar que a principal oposição quanto às tarefas da organização política dá-se entre Rosa Luxemburgo e Lênin. Ainda que no texto de Rosa “Greve de Massas, Partido e Sindicatos”, a revolucionária alemã dedique-se ao estudo das greves de massas do início do séc. XX na Rússia, chegando à conclusão da universalidade da greve geral como momento da luta revolucionária, é possível, a partir de algumas nuanças, notar algumas diferenças entre a concepção de Rosa e Lênin.

Lênin dedica alguns de seus escritos à necessidade da conformação de uma estrutura profissional de militantes revolucionários por toda a Rússia: chega a ser impressionante como o revolucionário russo consegue conceber uma enorme e complexa estrutura partidária, detalhando as especializações de tarefas de agitação, propaganda, imprensa e trabalho partidários clandestinos por meio do melhor aproveitamento possível do material humano disponível aos socialdemocratas russos. Lênin não titubeava em criticar duramente o falso democratismo de setores que se opõe ao seu modelo centralizado de partido, com uma cúpula dirigente reduzida a um número baixo dos militantes mais capazes: certamente para um leitor que naturalizou as normas da democracia burguesa e alguns de seus princípios formais, como o da transparência e do controle democrático, as teses partidárias de Lênin podem parecer autoritárias. Mas aqui não há espaço para idealismos e foi com esta clareza que Lênin levou os bolcheviques à vitória: a Rússia ainda estava sob o jugo do czrismo, as atividades políticas implicavam constantemente em prisões e fechamento de jornais, fatos estes que exigiam uma organização clandestina, centralizada, cujos militantes orgânicos fossem os mais destacados entre a classe, de forma a se especializar nas tarefas em que tinham mais talento. Mesmo a alteração dos cargos de direção encontra óbice em Lênin. Enquanto um anarquista poderia entender a perpetuação de dirigentes à frente do partido como sinal de burocratização e degeneração, Lênin aponta que, àquela conjuntura de lutas revolucionárias, mais importante do que o método “democrático” é a confiança da classe em seus líderes, confiança que, de todo modo, vai sendo colocada à prova conforme a capacidade da direção dar uma orientação justa ao movimento.

Rosa Luxemburgo vivia um contexto completamente distinto. O partido social democrata alemão e os sindicatos que se alinhavam à social democracia ultrapassava 1 milhão e meio de pessoas. A Alemanha vivia sob a vigência de um estado constitucional e os comunistas detinham 110 cadeiras no parlamento alemão. Por suposto, esta relação radicalmente distinta quanto à institucionalidade implicava em problemas novos, distintos da Rússia. Enquanto no Oriente, a luta dos comunistas era contra a infiltração de policiais nas reuniões secretas, prisões e deportações, no Ocidente ganha espaço o revisionismo e a expectativa de que, por meio da ação parlamentar e institucional, seria possível alcançar o socialismo, sem revolução.

Quanto à esta ilusão, Rosa demonstra como os direitos “políticos” dos alemães não implicaram em garantias sociais tão sólidas à classe trabalhadora alemã. Demonstra como certas categorias de trabalhadores na Alemanha trabalhavam tanto quanto ou mais e ganhavam tanto quanto ou menos do que os trabalhadores Russos – e para isso Rosa chama a atenção para o enorme volume de greves econômicas que ocorreram antes das jornadas de luta de Janeiro de 1905 e como estas lutas conseguiram arrancar direitos importantes aos trabalhadores russos.

Agora, é sim possível encontrar algumas nuanças ou pontos divergentes nos textos de Rosa e Lênin. Ainda que nos textos Lênin não aborde especificamente o problema da greve geral, sua análise busca demarcar politicamente com relação aos setores populistas e espontaneístas que chegam ao ponto de querer rebaixar o horizonte estratégico da luta contra o capitalismo em função do horizonte político vislumbrado pelo trabalhador comum – o método artesanal de trabalho político e organização combinar-se-ia com a política do economicismo, que separa a luta econômica da luta política e em última análise deixa esta última ou para segundo plano ou a suprime para um futuro infinito.

Rosa aqui concorda com Lênin e ataca duramente quem não consegue perceber as diversas interações possíveis entre a luta política e econômica conforme a evolução do processo histórico. Entretanto, Rosa aponta para o fato de mesmo a organização mais revolucionária e disciplinada, ser incapaz, por ela própria e exclusivamente com as suas próprias forças, de  impulsionar uma greve geral revolucionária. Estas são produtos de uma determinada conjuntura histórica, são fenômenos históricos também regidos por múltiplo fatores de ordem objetiva e subjetiva e não podem ser estabelecidas por meio de um calendário de lutas definido no comitê central de um partido político.

Para Rosa, a equação parece estar invertida, se comparada a Lênin. Em Lênin tem-se a sensação de que a organização define a luta enquanto em Rosa tem-se a sensação de que a luta define a organização. Entretanto, nem Lênin e muito menos Rosa eram “blanquistas” ou “subsitucionistas”, defendendo a ação de uma minoria esclarecida organizada em partido dissociada da classe, com o objetivo da tomada do poder pela minoria e não pela classe.

O que se pode dizer é que, dadas as condições e particularidades históricas da Rússia e da Alemanha, Rosa destaca mais a importância da luta direta como meio de educação política enquanto Lênin destaca a importância do preparo e da educação política para a vitória da luta.

A guiza de conclusão, vamos citar uma passagem do artigo de Rosa sobre o papel da socialdemocracia. Trata-se de uma síntese poderosa e atual para se pensar a atualidade da percepção dos “clássicos” no que se refere à luta pelo socialismo.

“Aqui, a organização não fornece tropas para a luta, mas é a luta que fornece efetivos para a organização. Isso se aplica, em um grau muito maior, obviamente, à mobilização política direta de massas do que à luta parlamentar. Se os socialdemocratas, enquanto núcleo organizado da classe operária, são a vanguarda mais importante do conjunto dos operários, e se a clareza política, a força e a unidade do movimento operário surgem de tal organização, não se pode conceber a mobilização de classes do proletariado como mobilização da minoria organizada. Toda grande luta de classes deve se basear no apoio e na colaboração das mais amplas massas. Uma estratégia para a luta de classes que não conte com esse apoio, que tenha  por base uma manifestação realizada por um pequeno setor bem capacitado do proletariado, está destinada a terminar em um miserável fracasso”.