segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Cinco Teses Filosóficas – Mao Tsé Tung


Cinco Teses Filosóficas – Mao Tsé Tung



Resenha Livro - Cinco Teses Filosóficas – Mao Tsé Tung – Edições Nova Cultura

O selo Edições Nova Cultura foi criado em julho de 2015 por iniciativa de militantes da União Reconstrução Comunista. A editora vem publicando e divulgando obras do marxismo-leninismo até então negligenciadas pelas nossas editoras de esquerda, que de certo são refratárias em publicar obras de Stálin, Ludo Martens e mesmo Mao Tsé Tung.

O selo atende a um conjunto cada vez maior de pessoas interessadas em se aprofundar no estudo das ideias de Marx, Engels, Lênin e Stálin.

A prática é o critério da verdade. O fato é que as teses revisionistas e trotskystas, tão em vogas dentre a esquerda exatamente no momento das derrotas históricas do socialismo, vêm sendo paulatinamente afastadas. A própria realidade se encarrega em demonstrar, por um lado, que o fim da URSS não implicou no fim do horizonte socialista. Por outro lado, os fatos demonstram como revisionismo, trotskysmo e imperialismo atuam em conjunto, se unificam no combate ao marxismo-leninismo, sob o epíteto de combate ao “stalinismo”, implicando na articulação contra estados operários e governos nacionalistas em oposição ao imperialismo, seja em Cuba, seja na Venezuela, seja mais recentemente diante dos eventos em Hong Kong.

Por outro lado um conjunto cada vez mais amplo de pessoas estão interessadas e abertas a conhecer a história do socialismo no século XX para além das narrativas do imperialismo e seus prepostos na esquerda. Compreender a luta política dentro da União Soviética e as razões de fundo das chamadas depurações e sua relação com o preparo da nação para a guerra imperialista que se aproximava. Compreender a tática da ditadura democrática dos operários e camponeses formulada por Lênin e seguida igualmente na China, envolvendo a ditadura sobre os antigos exploradores e o centralismo democrático no seio do povo. Qual seja, a unidade entre liberdade e disciplina. Compreender as diferenças de método que residem em diferentes soluções ante as contradições entre o povo e seus inimigos  de classe e as contradições no contexto da construção do socialismo ante os conflitos no seio do povo. Trata-se de problemas formulados por toda uma gama de pensadores e dirigentes envolvidos diretamente na construção do socialismo, e não na “crítica” perpetrada pelos papagaios de esquerda do capital.

São preocupações também oriundas da experiência revolucionária chinesa que tornam a leitura destas teses filosóficas ainda mais importante e atual.

Estas cinco teses filosóficas correspondem a diferentes intervenções de Mao Tsé Tung acerca do problema do conhecimento dentro da perspectiva marxista e da aplicação prática. Sobre a contradição e sobre a prática foram escritos respectivamente em julho e agosto de 1937, correspondendo a conferências realizadas na Academia Militar e Política Antijaponesa. Estamos num contexto em que o Partido Comunista Chinês propugna a formação da frente única nacional em aliança com o Koumitang para a luta de libertação nacional contra o inimigo Japonês. Esta guerra duraria até 1945 com a derrota do Japão – o partido comunista sai fortalecido do conflito mobilizando seu exército a escala de milhões e levando adiante a última etapa da luta revolucionária da China culminando na vitória dos comunistas em outubro de 1949. As demais teses filosóficas envolvem o período da construção do socialismo na China quando as contradições, a prática social e os métodos para resolução dos problemas mudam qualitativamente – “Sobre o tratamento correto das contradições no seio do Povo” e “Sobre o trabalho de propaganda” são de 1957 enquanto “De onde vem as ideias corretas” data de 1963.

Da Prática e da Contradição.

O problema que os dois ensaios iniciais tratam é o da teoria do conhecimento dentro do marxismo. Nesta perspectiva, o conhecimento do homem depende essencialmente da atividade de produção material, durante a qual o homem compreende progressivamente os fenômenos da natureza, as suas propriedades e suas leis.

“A teoria materialista-dialética do conhecimento coloca a prática em primeiro lugar, sustentando que o conhecimento humano não pode estar, em nenhum grau, desligado da prática, e rejeitando todas as teorias erradas que negam a importância da prática. Lênin dizia que a ‘prática é superior ao conhecimento (teórico), pois esta possui não apenas a dignidade do geral, mas também a do real imediato”.

Num primeiro momento ou etapa do conhecimento o homem percebe a realidade através das sensações, assimilando os efeitos exteriores do fenômeno. Num segundo momento, o homem extrai do conhecimento fenomênico as ideias, leis e teorias, passando do exterior à essência. Pode-se falar de um conhecimento sensível e, posteriormente, de um conhecimento lógico. Contudo, os dois modos de conhecer também devem estar enfeixados pela prática: o conhecimento sensível e o conhecimento racional diferem pelo seu caráter mas estão unidos pela prática. “A nossa prática testemunha que os fenômenos de que temos uma percepção sensível, não podem ser imediatamente compreendidos por nós e só os fenômenos compreendidos podem ser sentidos de uma maneira mais profunda”.

De outro giro, o conhecimento dos fenômenos exige da prática na medida em que o conhecimento é indissociável da vivência. Durante a idade média, no feudalismo, não poderia ter sido formulada teoria ou leis relativas ao modo de produção capitalista. O marxismo neste ponto só poderia ser o produto de um contexto de desenvolvimento máximo das forças produtivas, possibilitando a crítica da economia política realizada por Marx. A verdade da teoria apenas pode ser determinada pelo seu resultado prático, pela sua verificação prática na realidade. Assim, dentro do materialismo dialético poderíamos formular o esquema: sensação < experiência direta < participação pessoal na prática. Ou, ainda mais sucintamente: experiência / teoria / prática.  

Neste aspecto, a conhecida tese de Marx segundo a qual os filósofos até então se limitaram a interpretar o mundo, devendo agora darem o passo adiante no sentido de transformá-lo significa também um avanço no sentido do conhecer atuando sobre o mundo.

Ademais, Mao critica os dogmáticos e “sabe-tudos” que ignoram a prática e se contentam com o conhecimento enciclopédico. Para se conhecer diretamente um fenômeno é indispensável participar em pessoa na luta prática que visa modificar a realidade. Em outra intervenção, Mao Tse Tung recomenda que os intelectuais não só se ateiam aos livros mas que se liguem o máximo que puderem às massas, convivendo o quanto puderam com operários e camponeses, vivendo com eles, trabalhando com eles, etc. Mao igualmente chama a atenção para o fato do conhecimento ser uma questão de ciência, não se admitindo a desonestidade e a presunção, mas a modéstia e a honestidade.  

Enquanto a prática corresponde a um meio de acesso ao conhecimento, a contradição não diz respeito tanto ao agir, mas ao ser: a lei da contradição é a lei fundamental da dialética materialista, correspondendo ao estudo da contradição na própria essência dos fenômenos. A dialética se opõe à metafísica. O modo de pensar metafísico é próprio da concepção idealista de mundo e do ponto de vista de classe envolve a perspectiva da burguesia em sua condição de classe dominante e reacionária: num período mais recente esta perspectiva deu razão também ao evolucionismo vulgar.

A metafísica considera todos os fenômenos do mundo isolados e em estado de repouso. Considera os fenômenos de maneira unilateral e quando reconhecem mudanças, elas são apenas quantitativas e não qualitativas. Os metafísicos também sustentam que os diferentes fenômenos do mundo permanecem imutáveis desde o começo da sua existência. “Segundo eles (metafísicos) tudo o que caracteriza a sociedade capitalista, ou seja, a exploração, a concorrência, o individualismo, etc., encontra-se igualmente na sociedade escravagista da antiguidade, inclusive na própria sociedade primitiva, e há de continuar a existir de modo eterno, imutável”.

Em sentido contrário, o materialismo dialético entende que os fenômenos em seu desenvolvimento têm movimento próprio, necessário, interno, encontrando-se cada fenômeno, no seu movimento, em ligação e interação com outros fenômenos – e mais precisamente, o movimento interno reside no contraditório no interior dos próprios fenômenos.

É preciso chamar atenção para o fato de que no materialismo-dialético todo o fenômeno ser eivado de contradição: na contradição o universal existe no particular. Na matemática há a contradição do mais e do menos, de modo que esta ciência (matemática) se ocupa de uma contradição particular. Na química há o polo negativo e o polo positivo dos átomos. Na física mecânica há o movimento e o repouso. Seja como for, no materialismo dialético a mudança não reside apenas em causas externas, como coloca a metafísica e o materialismo mecanicista. As contradições inerentes e internas aos fenômenos com suas especificidades engendram a mudança: do ovo sob o efeito do calor nascerá o pinto. Contudo, o calor sobre uma pedra não produzirá o pinto. A mudança não é apenas quantitativa, mas qualitativa.

Na perspectiva da dialética não se verifica exatamente uma lógica binária, mas uma luta de contrários dentro de uma mesma unidade, o que se verifica nos fenômenos da natureza e da sociedade. O próprio conhecimento corresponde a luta entre velhas verdades e novas concepções que virão a substituir-lhes: frequentemente, a verdade nasce de forma minoritária, avança e prevalece sobre as velhas formas e posteriormente é derrogada por novos avanços no conhecimento. Neste aspecto, o conhecimento não segue de forma linear, mas de forma espiral, dentro da lógica de universalidade e especificidade da contradição, da unidade entre contrários, da luta entre opostos. As contradições da China no contexto da revolução, no contexto da guerra contra o Japão e no contexto da construção do socialismo mudam dramaticamente e de forma qualitativa. A contradição entre proletariado e burguesia é resolvida na revolução pelo antagonismo, uma faceta específica e temporária da contradição. A contradição entre proletariado e campesinato na construção do socialismo não é antagônica sendo resolvida pelos planos quinquenais e pela consolidação das cooperativas no campo.     

As últimas três teses filosóficas do livro correspondem à aplicação prática do materialismo dialético às questões concretas colocadas pelo problema da construção do socialismo na China. A editora Expressão Popular lançou apenas “Sobre a Contradição e a Dialética” sendo oportuna a leitura das demais obras em que o dirigente chinês aplica de forma mais detalhada o método do materialismo dialético aos problemas suscitados pela revolução chinesa.       

2 comentários:

  1. Como pode haver derrotas históricas, se a prática das ideologias socialistas e comunistas nunca foram entendidas, compreendidas e ou sentidas (Sentimentos) para serem com suas particularidades "lato senso", implementadas?...

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  2. ... Democratas, Republicanos, havendo os mesmos objetivos e ideais, qualquer forma de governo e ou ideologias politico/econômico, serve!

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