Mao Tsé Tung – Textos Diversos
Resenha – Textos Diversos – Mao Tsé Tung –
Marxists Internet Archive – Seção em Português
“A interpretação das palavras “para breve”,
na expressão “torna possível, para breve, a verificação dum auge revolucionário”,
constitui frequentemente um problema para muitos camaradas. Os marxistas não
são oráculos. Quando eles falam do desenvolvimento e das modificações que
intervirão no futuro, devem e podem indicar unicamente a direção geral, não
devendo nem podendo determinar, mecanicamente, o dia ou a hora. Contudo, a
minha afirmação segundo a qual na China se “torna possível, para breve, a verificação
dum auge revolucionário” não é de modo algum uma frase vazia, no gênero das
formulações apresentadas por outros: “é possível que intervenha um auge
revolucionário”, as quais não expressam em coisa alguma a aspiração à ação e
apresentam o auge revolucionário como qualquer coisa de ilusório, de
inacessível. O auge revolucionário é como um navio no mar, do qual o cimo dos
mastros já é visível à distância, para as pessoas que se encontram à beira da
praia; é semelhante ao sol da madrugada que, levantando-se radioso a Oriente,
pode ser visto de longe pelas pessoas que se encontram no topo das montanhas;
é, enfim, semelhante à criança que já se agita no seio materno e há-de ver em
breve o dia”
Em que pese Mao Tsé Tung ter sido de o
maior expoente da revolução chinesa, ao se analisar sua trajetória como
militante e dirigente do Partido Comunista Chinês, verifica-se que não foram
poucos os momentos em que seus posicionamentos eram minoritários. Tanto é
verdade que logo após a morte de Mao no ano de 1976, rapidamente uma série de
correligionários do dirigente foram rapidamente afastados do partido. Em que
pese uma certa propaganda anti-comunista que procura retratar a China da
revolução como um sistema totalitário e fechado, o fato é que o PCC, fundado em
1921, teve sua trajetória marcada por lutas políticas que vão se desenvolvendo
conforme a própria dinâmica dos acontecimentos: desde 1921 quando da fundação
do partido, seu programa inicial reivindicava a centralidade do minoritário
proletariado Chinês como classe mais progressista e protagonista da revolução.
Contudo, no terceiro congresso já há uma importante mudança de orientação: sob
influência da URSS, a estratégica do partido envolve a revolução
democrático-burguesa em detrimento da revolução socialista, desde que estavam
presentes resquícios de herança feudal nas relações do campo que precisavam ser
aniquiladas em nome do progresso.
Um texto obrigatório para se compreender a
composição de classes na China pré-revolução e a posição dos comunistas é o
artigo “Análise das Classes na Sociedade Chinesa” redigido por Mao em março de
1926. Desde lá verifica-se que o inimigo principal da luta popular na China,
país economicamente atrasado e semi colonial, é a classe dos senhores de terras
e a burguesia compradora, vassalos perfeitos da burguesia internacional. Há,
ademais, um elemento bastante peculiar da China que irá determinar o caráter da
luta revolucionário naquele país. A China é país que está desde tempos remotos sob
a intervenção não de um, mas de vários imperialismos, como o japonês, o inglês
e o norte-americano. As frações diferentes das classes dominantes chinesas são
mais ou menos associadas a estes imperialismos. As classes dominantes estão
assim em guerra (militar) permanente e são incapazes de se estabelecer como um
poder único.
São nos momentos de divisão interna no
terreno da burguesia que a revolução popular chinesa deveria avançar. Outrossim,
era preciso explorar os flancos abertos pelo inimigo mesmo através da frente
única. Com a guerra contra a invasão militar da China pelo Japão, os comunistas
fizeram um chamado pela unidade junto ao Koumitang, partido ligado à burguesia
e aos imperialismos da Inglaterra e EUA e que, pelas circunstâncias, foram
praticamente obrigados a se somar no terreno de batalhas. Mas a verdade é que
foi o exército comunista o que mais arcou com vidas e custos na guerra pela
pátria, o que fez com que o movimento comunista saísse extremamente fortalecido
com a derrota do Japão em 1945, culminando na vitória da Revolução Chinesa em 1949.
Ainda com relação às classes sociais, Mao coloca
justamente que o incipiente proletariado chinês é a classe social mais
progressista da China. A revolução democrático burguesa na China só é possível
sob a direção do proletariado. Em que
pese a maioria camponesa da população a vitória depende da direção do
proletariado urbano. Até o lumpesinato, segundo Mao tse Tung, se organizado e
dirigido pelo proletariado, cumprirá um papel revolucionário. .
Poderíamos apenas para fins didáticos
suscitar três grandes temas quanto à produção teórica de Mao Tsé Tung. Os temas
da política e da guerra, que na verdade estão inteiramente indissociados, desde
que para Mao, seguindo Von Clausewitz e
Lênin, a guerra nada mais é do que o exercício da política por outros meios,
pelos meios da violência e do derrubamento de sangue.
Lênin partiu desta premissa, da análise do
fenômeno da guerra sob o crivo da luta de classes e da necessidade de se
converter a guerra imperialista reacionária em guerra civil revolucionária,
para denunciar a I Guerra e a capitulação da II Internacional. Mao aborda de
maneira mais sistemática o problema da guerra desde o artigo “Sobre a Guerra
Prolongada” escrito em maio de 1938, alguns meses após o início da Guerra da
China contra o invasor Japonês.
Mao Tsé Tung prevê corretamente dois pontos
da guerra: o seu caráter de guerra prolongada e a inequívoca vitória dos chineses.
A vitória se explica por critérios políticos e finalísticos. A guerra em si não
é ruim nem boa. Existem guerras justas e guerras injustas. As guerras justas
são progressistas. As guerras injustas são reacionárias. A guerra perpetrada
pelo Japão é uma guerra de rapina, uma intervenção imperialista. Mao lembra que
naquele contexto a existência da URSS ajudaria a se criar uma consciência
internacional que seria também um dos elementos decisivos da derrota do Japão e
do fascismo. A existência da União Soviética encoraja particularmente a China
na sua guerra de resistência. A mobilização do povo e proletariado japonês diante
da guerra imperialista também conspira a favor da China. A Guerra Nacional
chinesa, por seu lado, é uma guerra justa. É uma guerra progressista porém será
necessariamente uma Guerra Prolongada, de modo que Mao se opõe a dos equívocos
igualmente perniciosos – a tese dos derrotistas capitulacionistas do Japão e a teoria
da vitória rápida.
No contexto da guerra a China é um país
militarmente fraco. Contudo, tem vasto território e ampla população. Os
comunistas pregam novas relações dentro do exército: uma maior unidade entre
oficiais e os soldados rasos, bem como a mais íntima unidade entre o exército e
o povo constituindo verdadeiros exércitos de massas, com efetivos na casa de
milhões. Inverter a punição pela educação. Garantir como meios complementares o
centralismo democrático.
Mao defende até mesmo uma política de
clemência com relação aos prisioneiros de guerra – enquanto os japoneses e o
Koumitang praticavam todo tipo de barbaridade, os comunistas buscavam até o
convencimento de soldados japoneses rendidos para integrarem-se em brigadas
internacionalistas contra o inimigo imperialista. Demonstrando assim a
coincidência de interesses do povo Chinês e do povo Japonês.
A guerra contra o Japão duraria até 1945.
Poucos anos depois a Revolução Chinesa triunfaria, dando espaço a uma série de
novas questões a serem suscitadas: a mais conhecida delas, a denominada
Revolução Cultural.
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