“O Socialismo e
a Guerra – A atitude do POSDR em relação à guerra” – V. I. Lênin
Resenha Livro - “O
Socialismo e a Guerra – A atitude do POSDR em relação à guerra” – Lênin –
Edições “Avante!” - Com base nas Obras Completas de V. I. Lênin, 5ª ed.
“O marxismo não
é pacifismo. É necessário lutar pela mais rápida cessação da guerra. Mas só com
o apelo à luta revolucionária a reivindicação de «paz» adquire um sentido
proletário. Sem uma série de revoluções a chamada paz democrática é uma utopia
filistina. O único verdadeiro programa de acção seria o programa marxista, que
dá às massas uma resposta completa e clara sobre aquilo que aconteceu, que
explica o que é o imperialismo e como combatê-lo, que declara abertamente que a
falência da II Internacional foi provocada pelo oportunismo, que apela
abertamente a edificar uma Internacional marxista sem e contra os oportunistas”
Já foi dito que
a guerra é a continuação da política por outros meios, a saber, pela violência.
A ideia, originalmente lançada por Clausewitz, é compartilhada por Lênin que,
neste escrito, desenvolve uma ampla explicação sobre as relações entre a guerra
mundial imperialista, então em curso, a capitulação de amplos setores da social
democracia europeia ante o conflito, com a votação no parlamento dos créditos
de guerra, e as tarefas do movimento.
O panfleto
igualmente aborda de forma justa o problema da guerra para o marxismo revolucionário:
a necessidade da mobilização ilegal nos países envolvidos na guerra,
denunciando-a e a estratégia de transformar a guerra imperialista em guerra
civil, desde a confraternização nas trincheiras de soldados de diferentes
nações até a luta contra o governo. É preciso destacar que era necessário muita
coragem para se desenvolver a atividade clandestina proposta pelos
revolucionários russos: fazer campanha contra a guerra no curso da guerra era
causa de pena de morte. Com isso, oportunistas e capitulacionistas se colocavam
contra a atividade ilegal.
“Numa guerra
reacionária a classe revolucionária não pode deixar de desejar a derrota do seu
próprio governo”. Este é o ponto central sobre o qual as forças revolucionárias
deveriam desenvolver sua atividade clandestina.
Este manifesto
de cerca de 50 páginas foi redigido entre julho e agosto de 1915, com a guerra
mundial imperialista já em curso portanto. Lênin encontrava-se então exilado mas
politicamente ativo – poucos meses depois em 5-8 de Setembro de 1915 os
revolucionários russos participariam da
conferência socialista internacional de Zimmerwald, por iniciativa de
socialistas italianos e suíços, evento que o próprio Lênin chamaria de primeiro
passo no desenvolvimento do movimento internacional contra a guerra.
A luta política
em curso dentro do movimento socialista internacional dizia respeito então à
capitulação dos principais partidos socialistas europeus ante sua burguesia. O
social-chauvinismo denunciado por Lênin envolve a mistificação junto aos
operários mais atrasados segundo a qual a defesa da pátria na presente guerra
seria a política correta, em que pese trata-se, concretamente, de uma guerra
inter-imperialista.
Num passado não
tão remoto a burguesia vivera seu ciclo de revoluções, desde 1789 com a
Revolução Francesa, até 1871, desde a Comuna de Paris. Tratava-se então da
etapa em que a burguesia desenvolve e expande o capitalismo em face do
absolutismo e do feudalismo. Realidade distinta da Guerra Mundial que é produto
da etapa imperialista do capitalismo, quando nada menos do que 6 potências
escravizam mais de 500 milhões de pessoas nas colônias.
Lênin já começa
o seu artigo, por sinal, estabelecendo uma distinção clara entre a posição dos marxistas
sobre a guerra e a posição de anarquistas e pacifistas. Vejamos:
“Os socialistas
sempre condenaram as guerras entre os povos como coisa bárbara e brutal. Mas a
nossa atitude em relação à guerra é fundamentalmente diferente da dos
pacifistas (partidários e pregadores da paz) burgueses e dos anarquistas.
Distinguimo-nos dos primeiros pelo facto de compreendermos a ligação inevitável
das guerras com a luta de classes no interior do país, de compreendermos a
impossibilidade de suprimir as guerras sem a supressão das classes e a
edificação do socialismo, e também pelo facto de reconhecermos inteiramente o
caráter legítimo, progressista e necessário das guerras civis, isto é, das
guerras da classe oprimida contra a classe opressora, dos escravos contra os
escravistas, dos camponeses servos contra os senhores feudais, dos operários
assalariados contra a burguesia”.
Fica claro que
tanto os defensores do social-chauvinismo e portanto da vitória do seu governo
imperialista em detrimento do outro; e os defensores da palavra de ordem “nem
vitória, nem derrota[1]”, adotam o mesmo ponto de
vista burguês. Mais uma vez, numa guerra reacionária, a classe revolucionária
não pode ter outro desejo senão a derrota do seu governo: o que parece abstrato
ao leitor efetivamente se materializa com a confraternização dos soldados no
front e nos desejos dos operários mais conscientes no sentido de transformar a
guerra imperialista em guerra civil. Na Rússia, a maioria do proletariado apoia
a fração dirigida por Lênin, contra os setores capitulacionistas e
liquidacionistas.
O oportunismo
perpetrado por Kautsky e Plekhanov dizem
respeito à fidelidade ao marxismo apenas em palavras e à submissão de fato da
social democracia à burguesia.
Na prática,
trata-se da guerra entre os opressores da maioria das nações do mundo, pelo
reforço e alargamento da opressão. Nestes termos, um aspecto interessante
suscitado nos últimos capítulos do panfleto diz respeito sobre a premência do
marxismo revolucionário romper, naquele contexto, com o social-chauvinismo.
Lênin já suscita a falência da II Internacional, diante do apoio da maioria dos
partidos às suas respectivas burguesias na guerra. A atuação conjunta do
marxismo revolucionário junto à social-democracia poderia engendrar confusão no
seio das fileiras operárias acerca da política correta a se seguir. Numa
situação dramática, a escolha da política correta assume consequências de longo
alcanc, mais do que decisivas. É como se
a situação dramática da guerra exigisse que os revolucionários traçassem no
chão uma linha definitiva de diferenciação entre a reforma e a revolução, a
salvaguarda do capitalismo e sua destruição.
Se a guerra é a
continuação da política pelos meios violentos, os critérios da guerra
progressista/justa e guerra reacionária/injusta são um ponto de partida para apuração
da linha a se seguir. Uma guerra de defesa à agressão imperialista como a que o
Japão perpetrou contra a China entre os anos 30-40 do século passado certamente
é uma guerra progressista e justa. Da mesma forma, uma agressão militar
neocolonial e imperialista norte-americana sobre governos democrático-populares
na américa latina devem ser justamente rechaçados. Não se trata portanto de uma
condenação hipotética e idealista da guerra, mas da sua interpretação sobre o
crivo da luta de classes dentro de um horizonte anticapitalista.
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