quinta-feira, 12 de abril de 2012

Slavoj Zizec - Vídeo Palestra - Destaques

Resenha Palestra #1 - http://www.youtube.com/watch?v=_GD69Cc20rw

Trata-se de debate realizado no encontro “Marxism 2009” organizado pelo SWP (Socialist Workers Party) da Inglaterra. A mesa da qual Zizec participou teve como tema “O que significa ser um revolucionário hoje”. Seu interlocutor é Alex Callinicus, dirigente do SWP e do IST – International Socialist Tendency.

O objetivo deste texto é resgatar e destacar alguns tópicos da intervenção de Zizec. É bastante válido (para aqueles que falam Inglês) assistir ao vídeo antes de ler e discutir os destaques. Para quem não consegue entender inglês, estes destaques podem contribuir traduzindo algumas ideias do pensador esloveno.

12 destaques de ideias de Slavoj Zizec



1- A partir de Adorno, Zizec lembra que, quando estamos abordando filósofos verdadeiramente significativos, a pergunta que devemos fazer não é: o que o “grande filósofo” tem a contribuir para a análise dos dias presentes, mas o contrário: como o tempo presente apareceria aos olhos deste “grande filósofo”? E é a partir deste ponto de partida que Zizec propõe pensarmos o comunismo no século XXI: como a situação atual pode ser percebida a partir das ideias e das noções estabelecidas pelo comunismo?

2- A dialética do velho e do novo torna necessária a atualização da ideia do comunismo, fazendo contraponto àqueles que, a cada momento, inventam novos termos: sociedades de risco, sociedades pós- industriais, etc. Segundo Zizec, são estes autores, que estão a cada momento inventando novos conceitos para explicar a realidade, incapazes de perceber aquela dialética entre o velho e o novo, e consequentemente enxergar o que há de novo na época contemporânea.

3- O comunismo é uma ideia eterna não no sentido de ser aplicável mecanicamente a cada momento histórico, mas pelo fato do comunismo poder ser “reinventado” em cada situação da história – a noção de ideia universal e eterna do comunismo remete a Hegel e sua noção de universalidade. A universalidade do comunismo estaria em sua adaptabilidade a cada momento.

4- As lutas que surgem desde Esparta, passando pela idade média e modernidade remeteriam à capacidade do comunismo reinventar-se a cada conjuntura. Para mantermos o comunismo como uma ideia eterna, hoje, ele necessita manter suas ideias forças e, ao mesmo tempo, ser reinventando – dentre outras coisas Zizec chamará atenção para uma nova noção do conceito de proletariado ou “proletarização”.

5- Deve-se criticar algumas noções do socialismo do séc. XX – socialismo estatal, ilusões parlamentares da social democracia e mesmo a noção de conselhos e democracia direta. Tais noções devem ser reavaliadas criticamente, segundo Zizec, sempre considerando a exigência de “reinventar” o comunismo.

6- Ser um revolucionário hoje tem como marco inegociável entender as contradições sociais do mundo a partir do capitalismo – ou seja, a natureza das opressões de gênero, o racismo, a devastação do meio ambiente, etc., não podem ser entendidas como desvios reparáveis do capitalismo, problemas tecnológicos, políticas autoritárias ou não eficazes, mas como sintomas diretos do capitalismo em sua totalidade. Nesse sentido, ser um revolucionário para Zizec é ser um anti-capitalista.

7- Não é possível reformar o capitalismo de forma a garantir saúde e educação universais, tratamento humanitário aos imigrantes, pleno emprego, etc. As contradições do capitalismo não são desvios, erros a serem acertados por meio de reformas, mas realidades estruturalmente necessárias para a própria existência e perpetuação do capitalismo. Daí ser um marco central, para os revolucionários de hoje, lutar contra o capitalismo em sua totalidade. Não é possível atingir o sonho da universalidade capitalista sem os seus sintomas (Zizec aqui faz crítica direta a tese do pensador “relativamente progressista” norte-americano John D. Caputo).

8- É utópico o pensamento de John Caputo igualmente por estarmos nos aproximando de uma conjuntura revolucionária. Zizec chama atenção para um fato interessante: nas conjunturas revolucionárias, o pensamento pragmático (“step by step”) acaba se tornando o pensamento utópico. É utópico, numa conjuntura revolucionária, analisar e “resolver” de forma isolada e particular cada uma das diversas contradições que emergem nestas conjunturas. É a percepção totalizante e revolucionária a verdadeira percepção pragmática nos momentos de crise.

9- Os revolucionários devem participar das lutas pontuais contra o racismo, o machismo e a destruição do meio ambiente, contanto que não alimentem a ilusão de ser possível resolver tais problemas sem um confronto direto contra o capitalismo, sem uma mediação entre as lutas pontuais e uma luta geral de emancipação humana. Devemos inclusive denunciar a cumplicidade daqueles que lutam isoladamente contra as opressões, pelo meio ambiente, etc. – o capitalismo, mais uma vez, é uma totalidade, de maneira que as lutas dos “liberais” (no sentido de “progressistas”) pode significar um esforço de atenuar os sintomas da doença capitalista, contribuindo, outrossim, para a sua própria perpetuação.

10- Há o exemplo do Afeganistão. Houve um incremento do “fundamentalismo cultural” naquele país, não em função da religião ou cultura “naturalmente” opressiva dos muçulmanos. O aumento do fundamentalismo foi determinado centralmente pela inclusão deste país no sistema capitalista global. Zizec lembra de um passado em no Afeganistão havia uma esquerda secular e mais direitos civis. O colapso das organizações de esquerda contribuiu para a “fundamentalização” do Afeganistão. Fenômeno parecido ocorre no Kansas nos EUA: onde há derrotas da esquerda e esta perde espaço, ganha projeção o fundamentalismo ou mesmo o fascismo. (A tese é de Walter Benjamin: o fascismo é o resultado de uma revolução derrotada).

11- Hoje há condições de se radicalizar a noção marxista de proletariado ou de “proletarização”: trabalhadores e seres humanos terem reduzidas a sua substância de vida, sobrevivendo apenas e na medida da possibilidade de reproduzir sua própria prole. A proletarização da vida corresponde a noção hegeliana de “redução da subjetividade sem substância”. (Trata-se de uma tradução da passagem 13:00 do vídeo. Necessário verificar uma tradução melhor para o que Zizec entende por proletarização e sua definição hegeliana).

12- É necessário radicalizar a noção de proletarização a um nível existencial, para além do que Marx imaginou quando falou em proletariado. A crise ecológica nesse sentido significa fazer como que o homem seja impedido de ter acesso aos bens naturais mais elementares, ou a noção de propriedade intelectual que também retira do homem sua “substância simbólica”. Zizec fala portanto a radicalizar a noção de proletarização a um nível “apocalíptico”, desde que Marx não poderia ter sido capaz de prever tais eventos (propriedade intelectual, catástrofes ambientais, mapeamento e controle genético dos homens, etc.). Para Zizec, o reinventar do comunismo pode ter como ponto de partida esta nova dimensão do proletariado.

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