domingo, 22 de abril de 2012

Palestra - Alex Callinicos - Marxism Festival

Palestra #3 – Alex Callinicos


Esta palestra foi proferida durante a edição de 2009 do “Marxism Festival”. Este evento reúne intelectuais e ativistas de todo o mundo para dialogar e debater as pautas mais importantes da agenda da esquerda anticapitalista, socialista e revolucionária. Esta palestra teve como tema “O Que Significa Ser Um Revolucionário Hoje”. A mesa é composta por Callinicos e o famoso filósofo esloveno Slavoj Zizec.

Alex Callinicos é dirigente do Socialist Workers Party (SWP), principal partido anticapitalista da Inglaterra.

Seguem alguns destaques da intervenção de Callinicos. O objetivo desta resenha é contribuir com aqueles que não dominam a língua inglesa e desejem conhecer as teses de Callinicos. Outrossim, não se trata de uma tradução do debete, mas de alguns destaques pessoais que podem eventualmente ser objeto de debates e controvérsias quanto à tradução e/ou interpretação do que é dito.

O link do debate é: http://www.youtube.com/watch?v=qDJEwfTOGcI

1- Pensar sobre o que significa ser um revolucionário hoje deve partir da análise do capitalismo hoje, destacando em particular o fato de o capitalismo passar por sua maior crise desde 1929. (O vídeo data de dois de Julho de 2009. A crise em questão é aquela iniciada no ano de 2008).

2- A natureza desta crise é uma combinação da super- acumulação e financeirização da economia. É uma crise que tem a ver com a própria natureza do capitalismo. O que a torna particularmente perigosa é o fato de que aqueles que lidam com a crise diretamente (economistas, jornalistas econômicos e políticos burgueses) não apresentarem saídas fora do espectro do capitalismo, estimulando a criação de novas bolhas especulativas e retro- alimentando a própria crise. Por ser uma crise do tipo de super- acumulação, o incremento da financeirização da economia não resolve, mas agrava o problema.

3- Enquanto isso, os economistas marxistas já vinham destacando as contradições da lógica da super acumulação e os riscos de uma crise de grandes proporções no capitalismo a partir de sua própria lógica interna de funcionamento. Estes pensadores marxistas podem ser reivindicados, pois suas previsões se mostraram empiricamente corretas.

4- Esta “satisfação” dos marxistas por terem acertado o prognóstico da crise com anos de antecedência não pode ser superdimensionada. O paradoxo da situação é que, apesar da crise ser hoje uma realidade, os movimentos anti- capitalistas em todo o mundo encontram-se fracos e desorganizados. Existe um enorme vácuo entre as análises marxistas da economia e nossa capacidade de operar em termos práticos, apresentar alternativas políticas e organizativas à crise capitalista.

5- Slavoj Zizec é uma importante fonte para aqueles que estão em busca de saídas políticas. Em particular, Callinicos destaca sua contribuição acerca de Lênin, organizando uma conferência sobre o revolucionário russo, além da publicação de um livro acerca de Lênin. (Publicado no Brasil pela Boitempo - "Lênin - Às Portas da Revolução").

6- Marx na obra "Ideologia Alemã" diz ser o comunismo não uma mera ideia, mas o movimento real em direção à abolição do sistema vigente. Esta ideia é hoje bastante atual: é necessário pensar menos o comunismo teoricamente e mais como um movimento político real.

7- Gramsci vivencia um período histórico parecido com o nosso e pode ser uma importante fonte para os marxistas de hoje. Ele analisa a partir da prisão o capitalismo passando por sua 1ª Grande Crise (Crise que se inicia em 1929). Assim, seus cadernos do cárcere apontam temas como a economia global e as bases para uma intervenção política dos marxistas frente à uma situação de crise.

8- Uma análise marxista sobre a crise econômica passa por observar as oportunidades criadas, os espaços criados pela crise para agitar e intervir politicamente, tirando proveito das "brechas" abertas pelos momentos de crise. Esta lição de Gramsci pode ser aproveitada para o momento presente.

9- O marxismo é uma teoria que aborda as contradições, os conflitos são parte essencial da filosofia da práxis (forma como Gramsci chama o marxismo), tornando atual o projeto revolucionário, que não é a simples e pacífica tomada de poder pelas classes subalternas, mas a expressão de um movimento ele-próprio eivado de contradições.

10- O marxismo não é apenas um meio de apontar as contradições da ideologia dominante, mas um meio de criticar as próprias ilusões criadas por dentro dos movimentos populares e dos trabalhadores. É por meio do marxismo, por exemplo, que se pode estabelecer a crítica radical que interprete, por exemplo, a adesão de parcelas importantes do proletariado e do povo alemão e italiano ao nazi-fascismo.

11- A esquerda pode iludir-se e isso costuma ocorrer com maior frequência nos momentos de refluxo. A criação de ilusões não só pelas classes dominante mas pelas classes populares devem ser objeto da crítica marxista.

12- A filosofia da práxis em Gramsci igualmente diz ser o momento em que as classes populares aprendam a arte e governar.Não no sentido da "pequena política" parlamentar, mas no sentido da "grande política" (Gramsci), considerando o poder político para além da mera lógica parlamentar. Neste ponto, Callinicos busca se diferenciar de autores (como Tony Negri) que afirmam “mudar o mundo sem a tomada do poder”. Até por ser dirigente de um partido político, Callinicos não poderia concordar com esta tese.

13- Ainda que o centro determinante do capitalismo seja as relações de produção (portanto, o centro do capitalismo é sua esfera econômica), as contradições econômicas encontram-se condensadas nos aparelhos políticos, no Estado. Assim, os socialistas devem direcionar suas forças contra o estado e não simplesmente ignorar a questão do poder político.

14- A necessidade da luta a longo prazo pelo poder é parte do que "é ser um revolucionário hoje". A organização política também se torna importante, apesar da atual desconfiança com relação aos partidos políticos. Um dos desafios dos revolucionários de hoje é reivindicar a organização partidária, levando-se em consideração a tarefa de organizar para contra-atacar as forças dominantes, organizar para desenvolver consciência política dos trabalhadores e do povo, organizar para a tomada do poder político e educar politicamente as classes dominadas, etc.

15- A experiência do NPA (Novo Partido Anti-capitalista) na França revela a tentativa tanto de manter a ideia da necessidade de se construir partidos revolucionários, quanto da tentativa de fazê-lo sob uma “nova forma” (daí a expressão “novo partido"). Esta nova forma a ser criada é um dos desafios dos revolucionários de hoje.

16- Lukács diz que o intermediário necessário entre teoria e prática políticas é promovida pela organização política. E a organização política dá-se por meio do partido político em Callinicos.

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