“A Organização do Trabalho no Século XX: Taylorismo, Fordismo e Toyotismo” – Geraldo Augusto Pinto
Resenha Livro 181- “A Organização do Trabalho no Século XX: Taylorismo, Fordismo e Toyotismo” – Geraldo Augusto Pinto – Ed. Expressão Popular
A centralidade do trabalho , seja como elemento que identifica e particulariza o ser humano frente às demais espécies animais , seja como elemento constitutivo da sociedade tal como ela se organiza, desde os tempos da escravidão, servidão até o trabalho assalariado, ou seja, a importância do tema do trabalho em si justificaria pesquisas e análises em torno de suas mais diversas facetas. Outrossim, ainda que seja bastante evidente que tal centralidade nas sociedades contemporâneas em nada foi abalada pela assim denominada reestruturação produtiva capitalista que implicou em transformações na organização da produção, com a crise do regime fordista, a descentralização da produção e mesmo o desemprego estrutural com o fechamento dos postos de trabalho, todos estes fenômenos não retiraram da ordem do dia a importância do trabalho.
Na verdade, observa-se isso sim uma maior superexploração do trabalho, com jornadas flexíveis, maior informalidade e novas exigências multifuncionais aos novos trabalhadores dentro do novo padrão de acumulação flexível e as formas de organização do trabalho que se baseiam direta ou indiretamente no modelo toyotista – tal constatação em não mitiga/diminui a centralidade do trabalho bem como nos autorizaria a dizer “adeus ao trabalho”, como querem alguns sociólogos – mas mudam apenas a forma como ele (trabalho) se organiza, se manifesta, a consciência dos trabalhadores, os sindicatos, etc.
É neste contexto que obras bastante pedagógicas como a de Geraldo Augusto Pinto ganham relevância. Elas têm o condão de, diante das vozes que reiteram a cantilena neoliberal do fim do trabalho, dar uma solução de continuidade ou um sentido ao trabalho, aqui, no processo de organização da produção, com, importante frisar, seus impactos dentro do contexto operário. Partindo de uma análise geral das três grandes fases de transformação na organização, constatamos uma lógica geral pela qual os capitalistas perseguem um maior domínio no controle e na previsão da produção bem como dos resultados econômicos– em contraponto à menor margem de controle sobre a execução das tarefas pelos trabalhadores bem como o maior grau de exploração e opressão dentro das jornadas de trabalho:
“Como se vê, a imprevisibilidade de mensuração da mais-valia, ou seja, o fato de que não é dado às empresas saberem de antemão qual é a taxa de rendimento exata que lhe trará cada trabalhador individualmente, sempre foi o centro de toda a problemática da organização capitalista do trabalho.
Frente à cada forma de organização e controle implementada pelo empresariado, desenvolvem-se resistências individuais ou coletivas por parte dos trabalhadores, como por exemplo as contestações aos sistemas calcados nos princípios tayloristas levados a cabo por amplos setores da luta sindical. A necessidade permanente de quebrar estas resistências obrigou o empresariado a estudar sempre novas estratégias que lograssem obter maior controle sobre os trabalhadores, através de mecanismos que têm variado entre a coerção e o consentimento”.
Ainda que as diferentes formas de organização do trabalho cumprissem esta função de controle sobre a força de trabalho, originalmente, ainda no século XIX, com Taylor, as primeiras pesquisas referentes ao tema se diziam “científicas” e tinham como escopo aumentar a produção. Frederick Taylor (1856-1915) foi um norte americano de família abastada que abandonou os estudos para se empregar numa empresa metalúrgica, quando pôde fazer observações pessoais de falhas no processo de produção. Seu ponto de partida metodológico era dinamizar o aproveitamento do tempo a partir do pré-estabelecimento de tarefas a serem executadas por cada trabalhador.
Assim comenta Geraldo Augusto Pinto sobre Taylor:
“Refletindo sobre como acabar com a proteção do tempo de trabalho, chegou à conclusão de que se subdividisse ao extremo diferentes atividades em tarefas tão simples quanto esboços de gestos, passando então a medir a duração de cada movimento com um cronômetro, o resultado seria a determinação de um tempo “real” gasto para se realizar cada operação”.
As gerências sabendo qual seria este tempo ideal, poderiam então cobrar um resultado palpável de seus trabalhadores. Nem muito a ponto de prejudicar os trabalhadores e coloca-los de licença médica e nem pouco e manter a produtividade baixa.
O estudo de Taylor “Princípios de administração científica” refere-se ao contexto histórico do fim do século XIX e início do século XX, com a divisão do trabalho no interior da fábrica já desenvolvida a partir da introdução de máquinas. Outro ponto importante é que dentro dos princípios de Taylor, as gerências passam a ganhar maior importância dentro das fábricas – Taylor crítica tendências anteriores que esperavam do trabalhador a iniciativa ao trabalho. Uma rígida divisão social do trabalho é o do que se trata bem como uma vertical relação de poder.
O Sistema Ford pode ser entendido como um passo adiante ao taylorismo. Henry Ford foi um bem sucedido empresário norte-americano que agregou à teoria da organização do trabalho aspectos de suas plantas automotivas. Mais talvez do que uma contribuição técnica, Ford e o fordismo são sinônimos de uma sociedade de consumo de massas:
“Cumpre esclarecer, entretanto, que sua principal genialidade consistiu, sobretudo, em ter imaginado a possibilidade de incutir nos seus contemporâneos a postura de consumidores de massa de produtos padronizados.
Contrapondo-se aos industriais do ramo automobilístico da época, seu maior objetivo foi a produção de tantas unidades de veículos quanto fosse possível, tornando-os um objeto de consumo das massas”. (Pg. 34)
É de se constatar intuitivamente que um modelo baseado na simples produção em massa, diante dos ciclos de crescimento e crise econômica típicos do capitalismo, não poderia perdurar ao longo do tempo. Com a crise do petróleo de 1973, as sucessivas desvalorizações do Dólar entre 1978 e 1985, a produção em série e em larga escala, fundamentada em unidades produtivas altamente verticalizadas e concentradoras de grandes contingentes de trabalhadores especializados típicas do modelo fordista significavam já nos anos 1970 um entrave ao desenvolvimento do capitalismo – daí o momento da reestruturação produtiva, com novas unidades produtivas organizadas em células e o modelo toyotista, desenvolvido nos anos 1950 no Japão do pós Guerra, não mais voltado à produção em massa, mas à produção conforme à demanda, com estoques zero, trabalhadores polivalentes e descentralização das funções, com novo layout da empresa, não mais como uma linha de montagem (como no padrão ford), mas na forma da letra U.
O que nos interessa diante destas últimas transformações são seus impactos mais importantes junto aos trabalhadores e suas formas de organização. A reestruturação produtiva implicou pressões pela flexibilização (retirada) de direitos trabalhistas, intensificação e aumento das jornadas de trabalho, precarização e aumento da subcontratação, aumento do desemprego estrutural e crise de representação dos sindicatos. Esta crise de representação refere-se à própria diferenciação dos trabalhadores em grupos distintos (terceirizados e não terceirizados, formais e informais, por ex.), fragmentando e dividindo a classe. O aumento do desemprego e a informalidade também é um elemento importante como pressão externa que dificulta a mobilização e a luta sindical.
Diante destes desafios, compreender as mudanças e o sentido que orienta a organização do trabalho imposta pelos capitalistas envolve apreender elementos importantes da realidade da classe trabalhadora. Para aqueles que se colocam como partícipes do projeto de transformação socialista junto à classe, tal estudo precisa ser disseminado. Daí a importância de estudos didáticos como este oferecido pela editora Expressão Popular.
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