quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

“Questões Políticas” – J. Stálin

“Questões Políticas” – J. Stálin 



Resenha Livro # 155– “Questões Políticas” – J. Stálin – Aldeia Global Editora Coleção Fundamentos 11

Poucos personagens históricos foram igualmente estigmatizados negativamente tanto pela direita quanto por uma certa “esquerda” quanto Joseph Stálin. Pouco importa fatos políticos incontroversos como a intervenção política decisiva do Exército Vermelho na II Guerra Mundial desde Stalingrado, do cerco de Leningrado e da batalha de Kurski, até a retomada de Berlim em favor das forças aliadas, ou mesmo o espetacular desenvolvimento das forças produtivas e da indústria desde os planos quinquenais que assombrou os mais céticos críticos do ocidente. Fatos incontroversos que só podem ser "desmentidos" por aqueles que agora tentam apagar a história ou caluniar Stálin como sanguinário assassino. 

O que gostaríamos de chamar atenção aqui é que o “consenso” entre liberais, conservadores e esquerda democrática/trotskista quanto ao esforço em demonizar Stálin e o "stalinismo" revela certamente alguma intencionalidade oculta. Apagar um legado de um fio condutor da tradição do marxismo que, interrompido no âmbito da II Internacional, encontraria em Lênin e na experiência da revolução russa a expressão de uma nova dinâmica ainda inconclusa. A sua expressão revolucionária e a sua inimiga mais encarniçada ainda hoje do fascismo e do capitalismo. 

Stálin certamente não esteve à altura de Lênin como um teórico da revolução. Mesmo porque sua trajetória de vida foi inteiramente diversa. 

Enquanto Vladimir Ilich Lênin foi filho de Professor e Diretor de Ensino e estudante universitário de Direito em Kazan, Stálin foi um simples filho de sapateiro na Georgia, tendo estudado num seminário até ser expulso antes de concluir os estudos por suas atividades políticas. Stálin passou a maior parte de sua vida como militante/ativista, o que incluía atuar em ações que envolviam agitar manifestações, greves, assaltos a bancos e arrecadar fundos para camaradas no exílio enquanto Lênin, desde o exílio, dedicava-se ao partido redigindo trabalhos para publicações e estudos sobre a realidade russa.  

Isso não significa, porém, que a contribuição teórica de Stálin deixe de ser relevante. Pelo contrário, ela preza pela objetividade e, ao estudá-la, vamos observando como muito do que é reiterado acerca do dirigente georgiano, infelizmente pela própria “esquerda”, são calúnias destinadas a desconsiderá-lo como interlocutor para as discussões sobre os desafios atuais da luta pelo socialismo/comunismo. 

A começar sempre pela má vontade em se entender a tese acerca da ideia do “socialismo num só país”. 

Certamente apenas alguém com muita pouca boa vontade diante de Stálin (e ainda assim alguém dotado de uma ingenuidade que beira a má-fé) realmente acreditaria que o dirigente do partido bolchevique após morte de Lênin (1924) até sua morte 1954 defenderia algo como a criação de um estado socialista autônomo, fechado, exclusivo e dentro das fronteiras nacionais da URRS! Nunca foi essa a concepção do socialismo num só país de Stálin e nem esta seria a forma marxista-leninista de encarar o fenômeno socialista que, em Stálin, remete sim ao internacionalismo. 

A diferença aqui reside em como garantir a sobrevivência em condições adversas de um estado isolado e especialmente na ideia de que esta sobrevivência ajudaria a fazer fortalecer a luta do socialismo em nível mundial conquanto os partidários da revolução permanente demonstravam na prática (e os arroubos de Leon Trótsky em Brest Litovisk foram a maior prova desta política) que rifar a revolução russa ou colocá-la em risco em nome de uma hipotética revolução na Alemanha, no Ocidente ou em qualquer parte, em sinal de “internacionalismo". 

Assim afirma Stálin, consoante Lênin: 

“Lênin nunca considerou a República Soviética um escalão indispensável para reforçar o movimento como um fim em si. Considerou-a sempre como um escalão indispensável para reforçar o movimento revolucionário nos países do Ocidente e do Oriente, um escalão indispensável para facilitar o triunfo dos trabalhadores do mundo sobre o capital. Lênin sabia que tal concepção é a única acertada, não apenas do ponto de vista da manutenção da República dos Sovietes. Lênin sabia que só assim se pode inflamar o coração dos trabalhadores de todo o mundo rumo às batalhas decisivas pela sua libertação. (...) Portanto, ele não se cansava de entusiasmar e fortalecer a união dos trabalhadores de todo o mundo: a Internacional”. 

“Lênin tem razão quando afirma que o movimento nacional dos países oprimidos não se deve valorizar do ponto de vista da democracia formal mas do ponto de vista dos resultados práticos dentro do balanço geral da luta contra o imperialismo, quer dizer, não deve abordar-se “isoladamente” mas numa escala “mundial”. 

Como se sabe, dentro do partido, Stálin estudou e produziu um livro específico sobre o tema das nacionalidades. Foi comissário das nacionalidades. E se o leninismo vem a ser a expressão do marxismo revolucionário na fase imperialista do capitalismo, deve-se ter em vista que justamente a questão nacional ganharia novos contornos àquela conjuntura. 

Até a II Internacional, o problema nacional era visto desde um ponto meramente formal ou jurídico falando-se apenas em “direito de autonomia” ou “autodeterminação dos povos”. A questão ganhou maior complexidade na medida em que o imperialismo resultou na dominação política e econômica de um punhado de nações sobre vastas parcelas de povos oprimidos na Ásia, África e América Latina. Isso tem algumas implicações: o proletariado dos países exploradores passa a ter responsabilidades de lutar contra a espoliação de sua burguesia contra os países oprimidos. Já a luta dos países oprimidos deve ter como norte derrotar o imperialismo e fortalecer o movimento proletário.

Esta nova particularidade inclusive criou as condições para a 1ª revolução proletária estourar dentro do elo mais fraco da cadeia imperialista, qual seja, a Rússia. 

Diz Stálin acerca destas particularidades:

“Como explicar este fenômeno peculiar da revolução russa, que não encontra precedentes na história das revoluções burguesas ocidentais? Onde reside a origem de tal singularidade?
Explica-se pelo fato de na Rússia a revolução burguesa se ter desenvolvido sob as condições de uma luta de classes mais desenvolvida que no Ocidente, pelo fato de o proletariado russo ter conseguido já então converter-se numa força política independente, enquanto a burguesia liberal , assustada pelo espírito revolucionário do proletariado , perder toda a aparência de revolucionária (sobretudo depois dos ensinamentos de 1905) e se aliar ao czar e aos proprietários rurais contra a revolução, contra os trabalhadores e contra os camponeses”. 

Dentre as peculiaridades da situação russa que criaram uma situação explosiva e favorável ao desfecho revolucionário, Stálin cita outrossim a grande concentração da indústria russa nas vésperas da revolução, com 54% dos operários russos trabalhando em empresas com mais de 500 operários (tal concentração certamente favorecia a agitação política); as escandalosas formas de exploração do trabalho associadas ao retrógrado regime político e policial do czarismo que despertavam o ódio dessa massa trabalhadora; a debilidade política da burguesia russa que como dito após 1905 se convertera numa força contra-revolucionária; a continuação da guerra imperialista que engendrou uma crise revolucionária. 

Nesta pequena brochura de 100 páginas, de forma sintética e objetiva, Stálin, partindo de citações de Lênin e de dados objetivos da história recente do movimento russo explica as questões políticas fundamentais do leninismo: o método, a teoria, a ditadura do proletariado, o Partido e mesmo o que Lênin chama de “Estilo de Trabalho”, uma combinação do pragmatismo norte-americano e o espírito revolucionário russo. 

Um bom destaque vale ser dado às páginas referentes ao problema camponês em que em poucos parágrafos Stálin explica como a dita “Teoria da Revolução Permanente” de Trótsky é na verdade uma leitura desvirtuada de uma tese de Marx que, aplicada à situação russa, engendra no rompimento da aliança com os camponeses. Ou seja a “Revolução Permanente” desvirtuada começa pela tarefa de tomar o poder imediatamente pelo proletariado enquanto Lênin assegurava esgotar toda a capacidade revolucionária dos camponeses e utilizar até a última gota das suas energias revolucionárias para completa liquidação do czarismo. 

Como dizíamos no inicio desta resenha, existe um bloqueio de todas as frentes contra a figura, o legado e as ideias de Stálin e se quisermos mesmo de Lênin, que, ainda que  eventualmente reconhecido como grande dirigente dentro dos círculos de esquerda, não é por exemplo devidamente estudados nos cursos de ciências humanas nas universidades. Com Stálin o bloqueio ainda é maior e mesmo editoras de esquerda ainda hesitam em publicar as suas obras. Por outro lado, um número cada vez maior de interessados pelo tema já dão sinais claros de que este bloqueio precisa e será quebrado. A começar pelos círculos de esquerda, discutindo junto aos setores adversários ou mesmo inimigos do marxismo-leninismo qual foi a verdade histórica dita e efetivamente ocorrida na URSS ao longo do séc. XX. 

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