A
Revolução Chinesa possui uma peculiaridade histórica que a diferencia de muitas revoluções da história contemporânea: a sua longa duração. Enquanto a Revolução
Russa perdura de fevereiro a outubro de 1917, decorrendo da caída do regime
absolutista à tomada do poder pelos comunistas, a Revolução
Chinesa correspondeu a uma longa luta que durou décadas, podendo ser dividida
em diferentes momentos/fases.
A
primeira fase nacionalista corresponde à derrubada da dinastia Manchu e à
proclamação da república em 1911. Neste momento, a ação revolucionária é dirigida
pelo partido nacionalista Koumintang e
seu líder Sun Yan Set.
A
Revolução Russa de 1917 influenciou os chineses e estes fundaram o seu
respectivo partido comunista, tendo como um de seus fundadores Mao Tse Tung.
O
período que vai de 1924 a 1927 é marcado pela cooperação entre o partido
nacionalista e o partido comunista. Com a morte de Sun Yan Set ascende no
partido nacionalista uma ala direitista representada pela figura de Chiang Kai-shek e em abril de 1927 o mesmo
ordena o massacre de comunistas em Xangai e outras cidades com o intuito de
conter a influência do PCC. “O PCC dessa forma fazia guerra civil com a
burguesia contra os senhores de guerra (1924-1927) ou contra os latifundiários
e a burguesia compradora (1927-1936) com apoio da pequena burguesia urbana e do
campesinato”. (p. 12 João Ricardo Moderno)
Diante do massacre de 300 comunistas e do rompimento entre os partidos, em
agosto de 1927 forma-se o Exército Vermelho Chinês. O período entre 1936-1945 é
marcado pela invasão japonesa – e os textos do volume são justamente deste
momento. Trata-se de uma situação em que o PCC se unia a todas as classes
contra o inimigo imperialista diante da guerra de resistência. Apenas com o fim
da guerra imperialista ao término da Segunda Guerra Mundial pode-se vislumbrar
a conclusão daquela longa revolução, com a etapa propriamente comunista em 1946-1949.
Após a derrota do Japão na II Guerra Mundial, Chiang Kai-shek, com o apoio
bélico dos Estados Unidos, lançaram uma ofensiva contra os comunistas,
reiniciando, então, o conflito armado. A luta perdurou de 1946 até outubro de
1949, com a vitória dos vermelhos, quando foi proclamada a República Popular da
China.
“Sobre a Contradição” (agosto de 1937) e “Sobre a Prática” (Julho de 1937) foram apresentados na forma de
conferências na Escola Militar e Política Anti-japonesa de Yenan. São
basicamente duas palestras sobre filosofia marxista ou, nas palavras de Mao,
marxista-leninista.
A contradição é a base filosófica da tradição marxista, em contraponto à
escola metafísica.
“A metafísica, ou o
evolucionismo vulgar, considera todas as coisas do mundo como isoladas, em
estado de repouso, unilateralmente. Uma tal concepção de mundo nos leva a olhar
todas as coisas, todos os fenômenos do mundo, suas formas e categorias como
isoladas eternamente umas das outras, sempre imutáveis”.
Já o ponto de vista reivindicado pelos marxistas, o da contradição, percebe
as coisas e os fenômenos sempre eivados pelas suas contradições internas.
“A universalidade ou o caráter absoluto
da contradição tem uma dupla
significação: a primeira, é que as contradições existem no processo de
desenvolvimento de toda coisa e de todo fenômeno; a segunda, que, no processo
de desenvolvimento de cada coisa, o
movimento contraditório existe do início ao fim”.
Trata-se aqui portanto de duas perspectivas distintas de mundo. Desde o
ponto de vista dialético, busca ver o mundo pelo prisma das suas relações
processuais, que engendram contradições internas provocando uma
dinâmica/movimento que deve ser estudada nunca desde um ponto de vista
unilateral, mas sempre levando em consideração as antinomias, os opostos e
mesmo aquilo que dá “identidade” aos opostos: por exemplo, para existir a vida,
existe a morte, o belo, o feio, etc. Quando se trata de analisar a história e a
sociedade tal ponto de vista terá como prioridade os conflitos sociais
decorrentes da luta de classes.
O terceiro e último texto é “Intervenção
aos Debates sobre Arte e Literatura”, em que Mao discute quais são as
principais finalidades da literatura revolucionária, que para ele é a
popularização das ideias e a elevação do nível das massas. Mao discute o caráter de
classe dos autores, no caso para qual classe social e outros setores a arte deve estar voltada,
no caso para o proletariado, os camponeses e soldados, e quais são os critérios
para aferir a qualidade da arte: a intenção do artista e os resultados práticos
de sua arte.
De forma geral, é possível observar uma simplicidade na forma de se
comunicar por parte de Mao Tse Tung que não se confunde com superficialidade. O
grande dirigente da revolução chinesa tem consciência de que sua intervenção
deverá servir de guia para muitos líderes do partido eventualmente analfabetos,
simples e rústicos e por isso consegue tratar de temas bastante complexos como
filosofia marxista e crítica literária sempre de forma acessível.
O estudo de seu pensamento engrandece aqueles que buscam conhecimentos não
só sobre o problema da revolução na China mas sobre a teoria marxista como um
todo.
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