Resenha Livro #130 - “Do Socialismo
Utópico ao Socialismo Científico” – Friedrich Engels – Coleção Teoria –
Editorial Estampa Lisboa
“Do
Socialismo Utópico ao Socialismo Científico” corresponde a um folheto retirado
de um livro maior, mais extenso, de F. Engels, grande parceiro intelectual e
militante de Karl Marx, denominado “O Anti Dühring”.
Talvez muitos
pensem que o socialismo, a concepção política do socialismo tenha surgido a
partir das ideias políticas de Karl Marx e Engels, principalmente a partir do
Manifesto Comunista de 1848. Na verdade, já a partir da revolução francesa
foi-se desenvolvendo ideias de reformas sociais que assinalaram a concepção de socialismo, isso especialmente na França
e na Alemanha.
Dr.
Eugen Dühring, esclarece Engels no prefácio da edição inglesa da brochura “Do Socialismo”,
foi professor da Universidade de Berlin, “(que)
anunciou de súbito e com bastante alarido a sua conversão ao socialismo e
apresentou-se ao público alemão com uma teoria socialista minuciosamente
elaborada, e um plano completo e prático para a reorganização da sociedade.
Lançou-se, naturalmente, contra os seus predecessores, distinguiu em especial
Marx, sobre quem derramou a sua cólera”.
Ou
seja, “O Anti-Dühring” é uma longa resposta ao polemista professor alemão,
levando-se em consideração o próprio papel de Engels após a morte de Marx como
divulgador de suas ideias bem como executando a tarefa de esclarecer distorções
do pensamento marxiano.
Engels nestes
três capítulos discute a evolução histórica do socialismo utópico ao socialismo
científico no séc. XIX e desde já fica assinalado algo que remete a algo caro
da teoria marxista, o materialismo histórico, o fato das ideias serem sempre
uma projeção das condições materiais e nunca o contrário. Dito isso, o que se
observa é que a o utopia dos socialistas como Saint-Simon e outros corresponde
justamente ao não desenvolvimento completo das próprias contradições do
capitalismo, dos antagonismos de classe, do desenvolvimento das forças produtiva - o socialismo utópico é reflexo de uma etapa ainda embrionária do desenvolvimento da classe operária bem como do próprio capitalismo.
Os socialistas
utópicos franceses sintomaticamente vivenciaram um período histórico de
transição, onde a revolução industrial ainda não era uma realidade conclusa e
desta maneira eles só podiam ver o fenômeno do capitalismo e sua evolução
histórica parcialmente – logo a resposta/solução para os dilemas dos embrionários
conflitos de classe também eram parciais. Os socialistas utópicos projetavam
uma sociedade a partir de uma concepção individual. Nascia ali o cooperativismo e havia experimentações
que não logravam êxito.
De toda forma,
esta correspondência dentre uma gradual evolução do pensamento socialista e o
desenvolvimento do capitalismo também se refere, analisa Engels, à ascensão da
burguesia como nova classe dominante: por isso seu ponto de partida da análise
é a Revolução Francesa (1789) e de certa maneira o seu “fracasso” em
equacionar a questão social, as visíveis contradições entre suas palavras de
ordem igualitárias e a realidade dura dos primeiros centros industriais
europeus de meados do XIX repleto de trabalho infantil e feminino, enormes exércitos
de reservas, crises econômicas cíclicas, miséria e pobreza, provocou muitos a
pensar e discutir soluções para a questão social.
Esta é
basicamente a origem do socialismo, como dito, inicialmente numa linha utópica.
O
termo utópico deriva dos marxistas, ou seja, é em Marx e por meio do marxismo
que se chega à conclusão de que aqueles socialistas eram utópicos.(u + topos = não lugar, lugar que não existe).
É importante frisar que o utópico não diz respeito por exemplo à falta de pragmatismo e
objetividade de um Robert Owen, em que aparentemente temos o exato oposto de um
“utópico”, especialmente na primeira fase de seus experimentos. Os socialistas
utópicos buscavam como Owen criar sociedades igualitárias modelos e havia toda
uma engenharia social e técnica que deu especificamente a este industrial inglês
num primeiro momento bastante credibilidade entre os capitalistas e até mesmo a
nobreza inglesa. Diz, porém, Engels, “Contudo,
a partir do momento em que (Owen) formulou suas teorias comunistas tudo mudou.
Existiam três obstáculos, segundo Owen, que lhe impediam o caminho da reforma
social: a propriedade privada, a religião e a forma atual do casamento. Não
ignorava o que lhe estava reservado se os atacasse. Seria por todos expulso da
sociedade oficial e perderia a sua posição social”.
Via de regra,
os socialistas utópicos não falam em Revolução, mas pensam na implantação de
uma sociedade igualitária de forma pacífica e gradual, sendo possível produzir experiências
igualitárias de tipo laboratoriais como as fábricas de Owen. Estas de qualquer
forma foram importantes na história como referência e forma de conquista de
direitos trabalhistas na Inglaterra – Owen concedia educação plena aos filhos
dos seus empregados e consta que nos períodos de crise era o único que mandava
os empregados para casa e eles ainda continuavam recebendo salário.
Será pois a
partir da evolução das forças produtivas, do desenvolvimento e generalização da
revolução industrial, do alargamento da classe proletárias e com ela o conflito
entre as forças produtivas (trabalhadores e meios de produção) e o regime de
produção (apropriação privada dos meios de produção, capitalismo) que
engendrará as bases econômicas para o pensamento do socialismo científico. Neste
momento evidencia-se por exemplo os antagonismos de classe e o sujeito
revolucionário corporifica-se (enquanto, como vimos no socialismo utópico,
existe uma colaboração de classes do tipo filantrópica como plano para redução
das desigualdades).
Karl Marx e Engels são os fundadores do socialismo científico, como se sabe. Encerraremos a resenha com uma passagem em que se expressa como o elemento científico está realmente presente, não só em palavras, mas enquanto projeto político, o que parece, neste tempos de hegemonia pós-moderna, algo perdido no marxismo.
Karl Marx e Engels são os fundadores do socialismo científico, como se sabe. Encerraremos a resenha com uma passagem em que se expressa como o elemento científico está realmente presente, não só em palavras, mas enquanto projeto político, o que parece, neste tempos de hegemonia pós-moderna, algo perdido no marxismo.
Ela representa
já o que o socialismo científico busca, qual o seu escopo: uma organização não
mais anárquica na produção e o fim da sociedade cingida em classes sociais. É preciso resgatar esta bandeira que Engels
apresenta, não como Utopia, mas como uma necessidade urgente, diante dos riscos
que o capitalismo representa para o futuro.
“As forças
ativas da sociedade, enquanto não as conhecemos e não as dominamos, atuam como
as forças da natureza: de modo cego, violento e destruidor. Mas uma vez
conhecidas, logo que se saiba compreender a sua ação, suas tendências e
efeitos, está em nosso poder submetê-las cada vez mais à nossa vontade, e
através delas, atingir os nossos fins. É o que ocorre, em especial, com as
gigantescas forças modernas da produção. Enquanto houve resistência obstinada à
compreensão do seu caráter – e a essa compreensão opõem-se tenazmente o modo de
produção capitalista e os seus defensores – essas forças atuarão, apesar de
tudo, contra nós, como expusemos minuciosamente. Mas uma vez apreendidas na sua
natureza, essas forças converter-se-ão de senhoras demoníacas que eram, em
servas submissas. É a mesma diferença que existe entre o poder maléfico da
eletricidade nos relâmpagos e o pode benéfico da força elétrica dominada no
telégrafo e no arco elétrico; a diferença entre o fogo destruidor e o fogo
posto a serviço do homem. “ Friedrich Engels
Livro 2º
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