“O Sentido Social da Revolução Praieira” – Amaro Quintas
Resenha Livro #122 “O Sentido
Social da Revolução Praieira” – Amaro Quintas – Ed. Civilização Brasileira
A revolução praieira foi uma
revolta ocorrida na então província de Pernambuco no fatídico ano de 1848, data
de importância histórica mundial. Na França, um movimento revolucionário
derrubaria a monarquia absolutista e instauraria o regime republicano, fato
político de decisiva importância/influência no movimento pernambucano e no
mundo.
Num nível mais geral, os
movimentos de meados do século XIX devem ser analisados como movimentos
liberais, nacionalistas e em certa medida socialistas – inicialmente marcados
pelo socialismo utópico francês e partir da segunda metade do séc. XIX pelo
socialismo científico de Marx e Engels.
Como se sabe, quando se faz
um resgate da história das ideias políticas do Brasil, constata-se a forte
presença, no séc. XIX, das correntes políticas francesas a marcarem o
pensamento e a ação política nas diversas revoltas que ocorreram entre a
regência, o 1º e o 2º Reinados. Não há certamente uma recepção fiel e
generalizada daquelas ideias republicanas e socialistas derivadas de filósofos
franceses como Rousseau e Fourier – e não poderia ser diferente, desde que o
universo intelectual do séc. XIX no Brasil era bastante reduzido diante da
existência de apenas duas universidades ciências humanas significativas (São
Paulo e Recife), da dificuldade elementar quanto ao acesso e tradução de obras
desde fora, da ausência de público leitor e de uma cultura neste sentido
(editoras, jornais com repercussão nacional, etc.).
Ainda assim, quando lemos o
relato de Amaro Quintas e descobrimos alguns protagonistas da Revolução
Praieira, particularmente aqueles que estavam em suas trincheiras intelectuais,
como o mulato Antônio Pedro de Figueiredo (descoberto por Gylberto Freire),
reconhecemos como, para além das armas, as penas cumpriram um papel fundamental
naquela mobilização.
Não se tratava de mero descontentamento
político, que teve como estopim a destituição por D. Pedro II do gabinete
liberal de Chicorro
da Gama com a ascenção do partido conservador: a Praieira foi antes de tudo um
movimento social. Este é um ponto que perpassa todos os ensaios de Amaro
Quintas e que revela a importância do estudo das fontes ligadas aos pasquins e
aos jornais da época, que vão descrever como aquele movimento antes de ser uma
revolta política, era antes de tudo uma explosão social relacionada ao
descontentamento com as contradições do escravismo que eram então mais bem observadas
pelos setores médios (liberais) que viam as desigualdades consoante as linhas
teóricas socialistas em voga, além do republicanismo já consignado.
É o velho embate entre progressistas e conservadores, desta vez levado às
vias de fato: dentro do partido praieiro, havendo setores mais moderados e
setores mais radicalizados, mas sempre reduzidos ao que se poderia colocar como
uma “cidadania reduzida” (José Murilo de Carvalho), qual seja, trabalhadores
livres da cidade, excluídas as massas de trabalhadores negras escravas. Nesta
perspectiva, havia limites naquele movimento que era igualitarista na medida do
igualitarismo dos jaboninos da revolução francesa e da sua consequente tradição
socialista utópica.
Denunciávam o latifundio como fonte da desigualdade e opressão. Faziam uma
forte crítica ao domínio do comércio pelos estrangeiros e em particular pelos
portugueses, e no seu lugar a nacionalização do comércio, havendo naquele
movimento, um forte nacionalismo que também remete aos movimentos da esquerda
democrática subsequentes. Defendiam reformas políticas: o fim do poder
moderador; voto livre e universal; liberdade de imprensa e nova constituição,
além do já mencionado regime republicano.
Pode-se dizer que a Revolução Praieira foi uma expressão de uma luta
popular que opôs de um lado os setores médios e pobres (pequenos arrendatários,
boiadeiros, mascates e negros libertos) que eram os Praieiros e os setores da
grande oligarquia de Pernambuco, de outro associados, especificamente, aos
nomes de duas ou três Famílias e associados menores que contralavam
politicamente a província desde os tempos coloniais. Representava nestes termos
uma luta entre progressistas que apontavam para mudanças como a republica, o
voto universal e reformas políticas que seriam introduzidas no Brasil muitos
anos depois e os setores conservadores e reacionários que esmagaram o levante
dois anos depois de seu início, em 1950.
Não podemos esquecer a Revolução Praieira. É mais um dos muitos exemplos da
história brasileira que desmentem certo senso comum segundo o qual o “brasileiro
é apaziguado” e portanto jamais estará disposto a pegar em armas e morrer por
uma revolução. As diversas revoltas que sacudiram o Brasil no séc. XIX precisam
ser recontadas principalmente para uma nova juventude que se dispõe a
revolucionar o Brasil, como foi visto em Junho de 2013 – religar o passado de
lutas e um futuro comunista.
General Abreu e Lima – Pernambucano,combateu
com a patente de capitão no exército de Bolívar pela independência da Venezuela
e Colômbia. De volta ao Brasil, teria participado da Revolução da Praieira.
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