segunda-feira, 1 de setembro de 2014

“O Sentido Social da Revolução Praieira” – Amaro Quintas



“O Sentido Social da Revolução Praieira” – Amaro Quintas
 
 
Resenha Livro #122 “O Sentido Social da Revolução Praieira” – Amaro Quintas – Ed. Civilização Brasileira

A revolução praieira foi uma revolta ocorrida na então província de Pernambuco no fatídico ano de 1848, data de importância histórica mundial. Na França, um movimento revolucionário derrubaria a monarquia absolutista e instauraria o regime republicano, fato político de decisiva importância/influência no movimento pernambucano e no mundo.

Num nível mais geral, os movimentos de meados do século XIX devem ser analisados como movimentos liberais, nacionalistas e em certa medida socialistas – inicialmente marcados pelo socialismo utópico francês e partir da segunda metade do séc. XIX pelo socialismo científico de Marx e Engels.

Como se sabe, quando se faz um resgate da história das ideias políticas do Brasil, constata-se a forte presença, no séc. XIX, das correntes políticas francesas a marcarem o pensamento e a ação política nas diversas revoltas que ocorreram entre a regência, o 1º e o 2º Reinados. Não há certamente uma recepção fiel e generalizada daquelas ideias republicanas e socialistas derivadas de filósofos franceses como Rousseau e Fourier – e não poderia ser diferente, desde que o universo intelectual do séc. XIX no Brasil era bastante reduzido diante da existência de apenas duas universidades ciências humanas significativas (São Paulo e Recife), da dificuldade elementar quanto ao acesso e tradução de obras desde fora, da ausência de público leitor e de uma cultura neste sentido (editoras, jornais com repercussão nacional, etc.).  

Ainda assim, quando lemos o relato de Amaro Quintas e descobrimos alguns protagonistas da Revolução Praieira, particularmente aqueles que estavam em suas trincheiras intelectuais, como o mulato Antônio Pedro de Figueiredo (descoberto por Gylberto Freire), reconhecemos como, para além das armas, as penas cumpriram um papel fundamental naquela mobilização.

Não se tratava de mero descontentamento político, que teve como estopim a destituição por D. Pedro II do gabinete liberal de Chicorro da Gama com a ascenção do partido conservador: a Praieira foi antes de tudo um movimento social. Este é um ponto que perpassa todos os ensaios de Amaro Quintas e que revela a importância do estudo das fontes ligadas aos pasquins e aos jornais da época, que vão descrever como aquele movimento antes de ser uma revolta política, era antes de tudo uma explosão social relacionada ao descontentamento com as contradições do escravismo que eram então mais bem observadas pelos setores médios (liberais) que viam as desigualdades consoante as linhas teóricas socialistas em voga, além do republicanismo já consignado.

É o velho embate entre progressistas e conservadores, desta vez levado às vias de fato: dentro do partido praieiro, havendo setores mais moderados e setores mais radicalizados, mas sempre reduzidos ao que se poderia colocar como uma “cidadania reduzida” (José Murilo de Carvalho), qual seja, trabalhadores livres da cidade, excluídas as massas de trabalhadores negras escravas. Nesta perspectiva, havia limites naquele movimento que era igualitarista na medida do igualitarismo dos jaboninos da revolução francesa e da sua consequente tradição socialista utópica.

Denunciávam o latifundio como fonte da desigualdade e opressão. Faziam uma forte crítica ao domínio do comércio pelos estrangeiros e em particular pelos portugueses, e no seu lugar a nacionalização do comércio, havendo naquele movimento, um forte nacionalismo que também remete aos movimentos da esquerda democrática subsequentes. Defendiam reformas políticas: o fim do poder moderador; voto livre e universal; liberdade de imprensa e nova constituição, além do já mencionado regime republicano.

Pode-se dizer que a Revolução Praieira foi uma expressão de uma luta popular que opôs de um lado os setores médios e pobres (pequenos arrendatários, boiadeiros, mascates e negros libertos) que eram os Praieiros e os setores da grande oligarquia de Pernambuco, de outro associados, especificamente, aos nomes de duas ou três Famílias e associados menores que contralavam politicamente a província desde os tempos coloniais. Representava nestes termos uma luta entre progressistas que apontavam para mudanças como a republica, o voto universal e reformas políticas que seriam introduzidas no Brasil muitos anos depois e os setores conservadores e reacionários que esmagaram o levante dois anos depois de seu início, em 1950.

Não podemos esquecer a Revolução Praieira. É mais um dos muitos exemplos da história brasileira que desmentem certo senso comum segundo o qual o “brasileiro é apaziguado” e portanto jamais estará disposto a pegar em armas e morrer por uma revolução. As diversas revoltas que sacudiram o Brasil no séc. XIX precisam ser recontadas principalmente para uma nova juventude que se dispõe a revolucionar o Brasil, como foi visto em Junho de 2013 – religar o passado de lutas e um futuro comunista.  




 General Abreu e Lima – Pernambucano,combateu com a patente de capitão no exército de Bolívar pela independência da Venezuela e Colômbia. De volta ao Brasil, teria participado da Revolução da Praieira.

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