Resenha Livro #53 “A Guerra Civil na França” – Karl Marx
A Comuna de Paris foi a primeira experiência na história de
um governo operário, sob bases econômicas cooperativistas, sob os signos do
igualitarismo e do laicismo. Durou 72 dias: o governo operário na capital
francesa vai de 26 de março até 28 de maio de 1871. Desde a 1ª Intenacional
(Associação Internacional dos Trabalhadores), Marx atua em prol da Comuna de
Paris, objeto das maiores calúnias pelos jornalões burgueses europeus.
“Que é a Comuna, essa esfinge tão atordoante para o espírito
burguês”?, pergunta-se Marx em 1871, quando redige o folheto “Guerra Civil na
França”. O documento esclarece o leitor acerca dos acontecimentos de Paris sob
um ponto de vista não burguês, elucidando a luta de classes que
perpassa a guerra franco-prussiana e tem como principal vítima o proletariado francês.
Thieres, líder dos capituladores instalados em Versalhes,
estabelece uma paz com a Prússia cujos termos envolviam o esmagamento da Comuna
de Paris. Os traidores da republica social parisiense abandonaram
estrategicamente canhões e armas que serian utilizados pelas forças armadas
prussianas para atacar a Comuna. Por suposto aquela “esfinge” já era motivo de
temor por toda burguesia europeia e a capitulação francesa envolvia e perpassava
pelo massacre daquela experiência, denunciando o caráter classista daquela
luta.
A guerra franco-prussiana inicia-se em 1870: claramente, a França
subestimava de início o poderio militar prussiano. Na verdade as hostilidades
entre franceses e alemães remetem às guerras napoleônicas, cujo final foi o
exílio de Napoleão em Elba e a vitória da Santa Aliança, da reação monárquica
sobre a República. Após a ascensão de Napoleão III (sobrinho de Napoleão I), por
meio de um golpe de Estado, a França consolidaria o Segundo Império, cuja vida
seria breve e se encerraria com a derrota dos franceses na guerra
franco-prussiana.
A capitulação oficial de Paris foi conduzida por Thiers em
fevereiro de 1971. Entretanto, a população de Paris recusou-se a depor as armas.
Havia diferenças políticas entre a capital e as províncias. Durante a guerra,
as províncias francesas elegeram para a Assembleia Nacional Francesa deputados
monarquistas (os “Rurais”), bancada francamente
favorável à capitulação ante a Prússia. A população de Paris, no entanto,
opunha-se a essa política. Marx lembra que as províncias sofriam com a
desinformação provocada pela burguesia francesa, que impedia qualquer forma de
comunicação entre as províncias e a Comuna, além de todas as mentiras
reinteradas a respeito a república social de paris. Louis Thiers, político
experiente, sistematicamente ironizado por Marx, foi elevado à chefia do
gabinete conservador com a queda do Segundo Império. Tentou esmagar os
insurretos parisienses. Estes, porém, com o apoio da Guarda Nacional e de
combatentes que se recusavam a atirar em crianças e mulheres, derrotaram as
forças legalistas, obrigando os membros do governo a abandonar Paris e dirigir
sua política desde Versalhes. Segundo Marx, toda a escória da sociedade
parisiense, ou seja, sua parcela improdutiva, fugiu junto com a burguesia. A
partir da medida socialista de eliminação das forças armas e da polícia, e a constituição do
povo em armas, Marx comenta a redução total da criminalidade em Paris.
Enquanto a Comuna resistia, Thiers foi buscar auxílio junto
à Prússia para esmagá-la. Publicamente, o astuto político dizia não
ceder um palmo de terra francesa aos alemães. Entretanto, seus termos de
rendição envolveram a entrega de Alsácia e Lorena à Prússia. Além disso, a França foi obrigada a pagar uma indenização
de guerra de cinco bilhões de francos de ouro. A Prússia, de outro lado,
garantiu que fossem libertados 100 mil prisioneiros de guerra franceses, os
quais foram admitidos para reprimir a Comuna.
Depois de pouco mais de dois meses de lutas, a Comuna foi
esmagada pelas tropas da reação.
A Comuna de Paris nos legou a bandeira vermelha do
igualitarismo e a canção da Internacional. Legou-nos igualmente uma série de
medidas que nos fazem crer ser aquela experiência, algo à frente de seu tempo.
Limitou por exemplo o salário máximo de cada mandatário a valor correspondente
ao salário de um trabalhador; eliminou o trabalho noturno, legalizou os
sindicatos, instituiu a igualdade de sexos, tornou eletivo o cargo de juiz,
incorporou o internacionalismo não só no discurso, mas na prática, com a
participação de estrangeiros nos órgãos de funcionamento da comuna. Separou a
religião do estado e eliminou o ensino religioso. Todas estas mudanças
introduzidas pelo governo operário não poderiam subsistir a um cerco de
centenas de milhares de homens armados amplamente pelas principais potencias europeias.
Ainda assim, em meio a fome e a todas as dificuldades, a Comuna subsistiu brava
e heroicamente por 72 dias todas as atrocidades da reação.
Marx não detalha o número de mortos, mas ilustra em diversas
passagens a forma bárbara como a reação esmagou a Comuna. Estima-se que 80.000
pessoas foram mortas pelas tropas da burguesia franco-prussiana, das quais 20.000
foram executadas, sumariamente. Fala-se que só interrompeu-se o banho de sangue quando se
constatou que o enorme número de cadáveres disseminaria doenças na cidade. Das 40.000
pessoas presas, uma parcela foi levada à Ilha da Nova Caledônia, onde, ainda
hoje, é possível ver as marcas deixadas pelos comunards. Presos numa ilha
perdida num lugar esquecido do mundo, as marcas dizem “Viva a Comuna”. Mais de
um século passou-se e a luta da Comuna por uma sociedade igualitarista
permanece tão viva quanto as marcas das prisões da Nova Caledônia.
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