Resenha Livro # 49 – “O Capital – O Processo de Produção do
Capital” – Livro I Volume I
Impressões decorrentes de uma visão panorâmica de “O Capital”
Ler a famosa crítica à economia política que é “O Capital”
pode parecer ou dar a impressão de ser uma tarefa árdua. De fato, aqueles que
tiveram contatos com obras de autores marxistas (ou autores que reivindicam algumas
de suas categorias de análise), já devem ter ouvido falar em mais valia absoluta,
mais valia relativa, capital constante, capital variável, força de trabalho, modo
de produção, meios de produção e capital. E, de fato, “O Capital” é um livro
essencialmente analítico e teórico, que se serve das experiências históricas apenas e na
medida em que as mesmas ilustram o desenvolvimento de uma teoria, uma teoria
para explicar a sociedade do capital, e, em última análise, interpretar o mundo
em que vivemos. Em certas passagens estas teorias determinam verdadeiras leis
econômicas. (Por exemplo, a determinação do valor da mercadoria a partir do
tempo médio socialmente necessário de trabalho para a sua composição).
Ocorre que Marx, além de teórico da mais importante obra de
análise crítica do capitalismo, foi, ele próprio, um militante comunista. (O
fato de Marx ter participado da construção da 1ª Internacional e o aspecto “militante”
da vida do velho Mouro, são sintomaticamente esquecidos por uma parcela da
esquerda marxista “academicista”, exclusivamente engajada no debate teórico,
sem qualquer compromisso com uma prática política cotidiana e consequente, uma
efetiva intervenção na luta política colocando todo o saber e o conhecimento
acumulado nas universidades à serviço das lutas e da organização dos
trabalhadores).
Pois bem, voltando a Marx, o fato do velho Mouro estar
efetivamente engajado nas disputas políticas e ideológicas (“batalha das ideias”)
de seu tempo implicou em importante preocupação no sentido de que suas ideias
fossem compreendidas, inclusive pelo mais humilde operário. É perceptível o
esforço com que Marx tenta ser didático, mesmo quando aborda temas inicialmente
bastante abstratos, como “o duplo caráter do trabalho materializado na
mercadoria” ou “a forma relativa de
valor” e “a forma equivalente de valor”.
Todos estes conceitos vão sendo enunciados de forma quase
exaustiva, por meio de exemplos abstratos ou exemplos da história do
capitalismo na Europa, ou até mesmo por fórmulas matemáticas e expressões
algébricas: é como se Marx fosse o professor que soubesse que o tema de sua
aula é árido e de difícil compreensão, e, especialmente por isso, tenta ser o
mais claro/didático possível.
Outrossim, Marx diferencia-se de toda uma tradição de
economistas burgueses que são incapazes de ver as relações de exploração e de
dominação de classes que existe, que são intrínsecas ao processo de formação de
capital. Ao criticar a tradicional economia política burguesa, nestes momentos,
a leitura pode ser um pouco mais difícil, já que ele discute temas candentes na
época e no contexto por que passava a Europa do séc. XIX, destacando a
revolução social introduzida para Revolução Industrial, a luta pela regulação da
jornada de trabalho e os efeitos econômicos das distintas jornadas, as novas tecnologias de produção e suas
implicações nas condições de vida da classe operária. A diminuição de extração
de mais valia absoluta e aumento de extração de mais valia relativa, por meio
da intensificação do ritmo de trabalho, sob jornadas de trabalho mais curtas, é
relatada por Marx por meio de dados/relatórios oficiais sobre a classe de
trabalhadores da Inglaterra a partir de meados do século XIX– o cenário descrito é de penúria, fome, péssimas
condições de trabalhos, insalubridade no trabalho e nas instalações onde moram os proletários, jornadas de 10 a 12 horas de trabalho, e presença
de crianças de até 5 anos de idade trabalhando nas fábricas.
Estrutura da Obra
Tivemos acesso ao Livro I Volume I do Capital, publicado
pela Ed. Civilização Brasileira, que trata da produção do capital. O Capital é uma relação social que pode ser descrita algebricamente como M (mercadoria força de trabalho) - D (retribuição monetária da força de trebalho correspondente ao mínimo necessário para a reprodução da força de trabalho - M' (valorização do capital por meio da extração de trabalho excedente, a chamada mais valia).
O Livro I foi o único publicado por Marx ainda vivo, e foi o único volume que contou com revisões do próprio autor. A edição da Civilização Brasileira contém o Prefácio da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Edições na Alemanha, além dos prefácios das edições francesas e Inglesas. No Livro 2, publicado em 1885, discute-se o processo de circulação do capital. O livro 3 trata do processo global da produção capitalista (1894) e, finalmente, o Livro 4 – publicado por Karl Kautsky – trata das Teorias da mais valia (1905).
O Livro I foi o único publicado por Marx ainda vivo, e foi o único volume que contou com revisões do próprio autor. A edição da Civilização Brasileira contém o Prefácio da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Edições na Alemanha, além dos prefácios das edições francesas e Inglesas. No Livro 2, publicado em 1885, discute-se o processo de circulação do capital. O livro 3 trata do processo global da produção capitalista (1894) e, finalmente, o Livro 4 – publicado por Karl Kautsky – trata das Teorias da mais valia (1905).
A guiza de conclusão.
Não é nosso objetivo aprofundar cada um dos conceitos e das
ideias originais introduzidas por Marx em “O Capital”. Neste ponto, vale ressaltar
que a profundidade de diversas passagens do texto com certeza podem ser melhor
apreendida a partir de esforço coletivo de leitura e debate da obra, por meio
de um grupo de estudos, portanto, estudando e destacando trecho por trecho, destrinchando
cada detalhe e buscando traduzir a crítica feita por Marx a partir da atual conformação do capital: em que medida as
análises de Marx permanecem atuais e dão conta de explicar, por exemplo, as
crises cíclicas do capital? Como não participamos de tal “grupo de discussão” e
como a nossa intenção com as resenhas é apenas a de introduzir o leitor às obras, convidá-lo a lê-las e provocar algum tipo de reflexão crítica, encerramos esta resenha com algumas passagens-chave, em
que, por meio de sínteses, Marx dá algumas mostras de sua genialidade. Sua crítica ao
capital é o que há de mais avançado em toda literatura da economia política dedicada
à análise das sociedades modernas.
“Uma teoria que considera a moderna produção capitalista
mero estágio transitório da história econômica da humanidade tem, naturalmente,
de utilizar expressões diferentes daquelas empregadas por autores que encaram
esse modo de produção como imperecível e final”.
“O reflexo religioso do mundo real só pode desaparecer
quando as condições práticas das atividades cotidianas do homem representem,
normalmente, relações racionais claras entre os homens e entre estes e a
natureza. A estrutura do processo vital da sociedade , isto é, do processo da
produção material, só pode depreender-se do seu véu nebuloso e místico no dia
em que for obra de homens livremente associados, submetida a seu controle consciente
e planejado. Para isso, precisa a sociedade de uma base material ou de uma
série de condições materiais de existência, que, por sua vez, só podem ser o
resultado natural de um longo e penoso processo de desenvolvimento”.
“A parte do capital, portanto, que se converte em meios de
produção, isto é, em matéria-prima, materiais acessórios e meios de trabalho
não muda a magnitude de seu valor no processo de produção. Chamo-a, por isso,
parte constante do capital, ou simplesmente capital constante.
A parte do capital convertida em força de trabalho, ao
contrário, muda de valor no processo de produção. Reproduz o próprio
equivalente e, além disso, proporciona um excedente, a mais valia, que pode
variar, ser maior ou menor. Esta parte do capital transforma-se continuamente
de magnitude constante em magnitude variável. Por isso, chamo-a parte variável
do capital ou simplesmente capital variável. As mesmas partes do capital, que
do ponto de vista do processo do trabalho, se distinguem em elementos objetivos
e subjetivos, em meios de produção e força de trabalho, do ponto de vista do
processo de produzir mais valia, se distinguem em capital constante e variável.
“
Adorei a reflexão
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