Os Contos de Aluísio Azevedo
“A originalidade do romance de Aluísio está na consciência íntima do
explorado e do explorador, tornada logicamente possível pela própria natureza
elementar da acumulação num país que economicamente ainda era semicolonial” (Antônio
Cândido – “De cortiço a cortiço” – In: O discurso e a cidade. 2004. Pg. 20).
Aluísio Azevedo é inequivocamente o maior expoente do naturalismo
literário no Brasil.
Esta etapa da evolução histórica da literatura acentuou um sentido geral
de objetividade que advinha já da 3ª Fase do Romantismo e do Realismo. No caso
do naturalismo, a objetividade ganha contornos de cientificidade, havendo mesmo
uma proposta de fusão entre a arte e a ciência. Enquanto na escola romântica, a
salvação humana está no retorno do homem ao seu estado natural, no Naturalismo,
a salvação dá-se em torno da explicação científica mediante a descrição
empírica dos fenômenos sociais.
Este tipo de arte suscita evidentes fontes históricas para o leitor dos
dias de hoje. A descrição do cortiço no mais famoso romance de Aluísio Azevedo
possibilita um contato direto com a realidade do subúrbio do Rio de Janeiro do
século XIX, descrevendo os tipos populares, como o taverneiro português João Romão,
a quintandeira Bertoleza ou a mulata sensual Rita Baiana.
É certo, contudo, que este protagonismo dos tipos populares ainda é muito
parcial neste romance, publicado em 1890. O grande protagonista d’o Cortiço é o
próprio cortiço, que se apresenta ao leitor como um organismo social, com uma
vida própria, tendo ironicamente os personagens o caráter mais paisagístico. Além
disso os personagens do cortiço são retratados de uma maneira caricatural,
havendo um evidente diálogo entre a escrito de Azevedo e o seu trabalho
anterior como chargista de jornal. Seria apenas com a literatura pré-moderna de
Lima Barreto e definitivamente com a 2ª Geração Modernista (Graciliano Ramos,
Rachel de Queiróz, José Lins do Rego) que o povo pobre passa a ser retratado de
forma mais humana, suscitando suas contradições mais íntimas, e dando aos tipos
populares um verdadeiro protagonismo.
Aluísio de Azevedo ficou conhecido por seus romances, mas antes de
escritor, foi desenhista, chargista e caricaturista. Dedicou 17 anos de sua
vida à literatura, tendo escrito onze romances, uma novela policial, várias
peças de teatro, duas antologias de contos e inúmeros artigos em jornais e
revista. Obteve o reconhecimento do público ainda em vida e foi um sucesso de
vendas.
Contudo, em 1895, quando tinha 38 anos de idade, presta concurso público
para diplomata e é nomeado Vice Cônsul. Trabalhou em Vico, Yokohama, La Plata,
Salto Oriental, Cardiff, Nápoles, Assunção e Buenos Aires, onde faleceu em 21/01/1913.
Durante esta última etapa de sua vida abandonou por completo a literatura,
com a exceção de uma coletânea de impressões de viagens escrita quando de sua
estada em Yokohama. O livro se chama “O Japão” e só seria publicado em 1984. É
muito provável que ao sair do Brasil e deixar de ter contato direto com a
realidade brasileira, o escritor tenha se tornado improdutivo, nitidamente se
considerando o realismo da sua produção literária.
O escritor maranhense publicou dois livros de contos, denominados “Demônios”
(1893) e “Pegadas” (1898).
Dos doze contos publicados na primeira antologia, sete estão também
presentes na segunda. Alguns destes contos se diferenciam bastante dos
trabalhos mais especificamente naturalistas, baseados na impessoalidade e numa
descrição minuciosa e objetiva da realidade.
O conto “Demônios” trata de uma situação fantástica, em que um jovem apaixonado
se vê imerso numa realidade paralela, transformando-se ele e seu grande amor
Laura, sucessivamente em lobo, em árvore, em minério, em éter.
O conto “Insepulto” remete ao realismo machadiano, com suas discussões sobre
o problema da consciência, da culpa e da vergonha. Diferentemente da arte naturalista
que acaba tratando das pessoas e das coisas de uma forma um tanto mecanicista.
Este conto trata do envelhecimento, tanto do corpo, quanto da alma, quando o
protagonista, 35 anos depois, revê o seu primeiro amor, da infância e
adolescência.
Parte destes contos de Aluísio Azevedo foram reunidos por Maria Viana e publicados
pela editora DCL, trabalho a que remetemos o leitor desta resenha.
“Contos de Aluísio Azevedo” – (org.) Maria Viana – Ilustração Clayton
Barros – Coleção O Encanto do Conto – Ed. DCL
Nenhum comentário:
Postar um comentário