quarta-feira, 16 de junho de 2021

Os Contos de Aluísio Azevedo

 Os Contos de Aluísio Azevedo




 

“A originalidade do romance de Aluísio está na consciência íntima do explorado e do explorador, tornada logicamente possível pela própria natureza elementar da acumulação num país que economicamente ainda era semicolonial” (Antônio Cândido – “De cortiço a cortiço” – In: O discurso e a cidade. 2004. Pg. 20).

 

Aluísio Azevedo é inequivocamente o maior expoente do naturalismo literário no Brasil.

 

Esta etapa da evolução histórica da literatura acentuou um sentido geral de objetividade que advinha já da 3ª Fase do Romantismo e do Realismo. No caso do naturalismo, a objetividade ganha contornos de cientificidade, havendo mesmo uma proposta de fusão entre a arte e a ciência. Enquanto na escola romântica, a salvação humana está no retorno do homem ao seu estado natural, no Naturalismo, a salvação dá-se em torno da explicação científica mediante a descrição empírica dos fenômenos sociais.

 

Este tipo de arte suscita evidentes fontes históricas para o leitor dos dias de hoje. A descrição do cortiço no mais famoso romance de Aluísio Azevedo possibilita um contato direto com a realidade do subúrbio do Rio de Janeiro do século XIX, descrevendo os tipos populares, como o taverneiro português João Romão, a quintandeira Bertoleza ou a mulata sensual Rita Baiana.

 

É certo, contudo, que este protagonismo dos tipos populares ainda é muito parcial neste romance, publicado em 1890. O grande protagonista d’o Cortiço é o próprio cortiço, que se apresenta ao leitor como um organismo social, com uma vida própria, tendo ironicamente os personagens o caráter mais paisagístico. Além disso os personagens do cortiço são retratados de uma maneira caricatural, havendo um evidente diálogo entre a escrito de Azevedo e o seu trabalho anterior como chargista de jornal. Seria apenas com a literatura pré-moderna de Lima Barreto e definitivamente com a 2ª Geração Modernista (Graciliano Ramos, Rachel de Queiróz, José Lins do Rego) que o povo pobre passa a ser retratado de forma mais humana, suscitando suas contradições mais íntimas, e dando aos tipos populares um verdadeiro protagonismo.

 

Aluísio de Azevedo ficou conhecido por seus romances, mas antes de escritor, foi desenhista, chargista e caricaturista. Dedicou 17 anos de sua vida à literatura, tendo escrito onze romances, uma novela policial, várias peças de teatro, duas antologias de contos e inúmeros artigos em jornais e revista. Obteve o reconhecimento do público ainda em vida e foi um sucesso de vendas.

 

Contudo, em 1895, quando tinha 38 anos de idade, presta concurso público para diplomata e é nomeado Vice Cônsul. Trabalhou em Vico, Yokohama, La Plata, Salto Oriental, Cardiff, Nápoles, Assunção e Buenos Aires, onde faleceu em 21/01/1913.

 

Durante esta última etapa de sua vida abandonou por completo a literatura, com a exceção de uma coletânea de impressões de viagens escrita quando de sua estada em Yokohama. O livro se chama “O Japão” e só seria publicado em 1984. É muito provável que ao sair do Brasil e deixar de ter contato direto com a realidade brasileira, o escritor tenha se tornado improdutivo, nitidamente se considerando o realismo da sua produção literária.

 

O escritor maranhense publicou dois livros de contos, denominados “Demônios” (1893) e “Pegadas” (1898).

 

Dos doze contos publicados na primeira antologia, sete estão também presentes na segunda. Alguns destes contos se diferenciam bastante dos trabalhos mais especificamente naturalistas, baseados na impessoalidade e numa descrição minuciosa e objetiva da realidade.

 

O conto “Demônios” trata de uma situação fantástica, em que um jovem apaixonado se vê imerso numa realidade paralela, transformando-se ele e seu grande amor Laura, sucessivamente em lobo, em árvore, em minério, em éter.

 

O conto “Insepulto” remete ao realismo machadiano, com suas discussões sobre o problema da consciência, da culpa e da vergonha. Diferentemente da arte naturalista que acaba tratando das pessoas e das coisas de uma forma um tanto mecanicista. Este conto trata do envelhecimento, tanto do corpo, quanto da alma, quando o protagonista, 35 anos depois, revê o seu primeiro amor, da infância e adolescência.  

 

Parte destes contos de Aluísio Azevedo foram reunidos por Maria Viana e publicados pela editora DCL, trabalho a que remetemos o leitor desta resenha.


BIBLIOGRAFIA  


“Contos de Aluísio Azevedo” – (org.) Maria Viana – Ilustração Clayton Barros – Coleção O Encanto do Conto – Ed. DCL   

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