segunda-feira, 14 de setembro de 2020

LÊNIN NO PODER – 1917/1923

 LÊNIN NO PODER – 1917/1923

 

 


 

No dia 25 de Outubro de 1917 (7 de Novembro) o comunicado escrito por V. I. Lênin “Aos Cidadãos Russos” informou a população da derrubada do governo provisório. O poder foi tomado pelo Comitê Militar Revolucionário, órgão do Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado.

 

Poucos dias depois a insurreição de outubro se estenderia de Petrogrado à Moscou e às províncias. Uma cruenta guerra civil teria início imediatamente após a Revolução Socialista de Outubro: aliada até então dos imperialismos inglês e francês, a Rússia sairia pouco depois da I Guerra Mundial através de uma paz em separado com os Alemães. Entre 1917-1921, uma guerra civil cruenta mobilizou nada menos do que 14 estados nacionais contra o poder soviético.  

 

Aleksandr Vasiliyevich Kolchak dirigiu a contrarrevolução da Sibéria mobilizando os exércitos brancos de 1917 até a sua derrota em Omsk no ano de 1919. Anton Denikin dirigiu o exército branco desde o sul até a captura de Moscou, sendo derrotado em 1920. Tropas japonesas intervinham pelo oriente e os grupos contrarrevolucionários obtiveram apoio em dinheiro e armas principalmente de Inglaterra, França e EUA.

 

Em uma intervenção Lênin comparou a situação da Rússia após a revolução de outubro à situação de alguém que ao mesmo tempo busca erguer do zero a sua casa e tem de defendê-la dos ataques e torpedos de um assaltante.

 

Quando se analisa as intervenções de Lênin após a tomada do poder, duas questões de imediato surgem: a necessidade de vencer a resistência contrarrevolucionária e a nova questão de aprendizagem quanto à administração do estado soviético.

 

Quanto ao tema da contrarrevolução, a paz de Brest-Litovski de 3 de Março de 1918 cumpriu o importante papel de estabelecer uma trégua, ainda que profundamente desfavorável aos russos, dos inimigos externos possibilitando direcionar as forças vermelhas sobre a contrarrevolução interna (Kolchak, Denikin, socialistas revolucionários, mencheviques, etc.).

 

O programa de paz dos bolcheviques enunciado antes mesmo de Outubro de 1917 se diferencia de uma paz imperialista imposta pelos vencedores da guerra, como foi a Paz de Versalhes de 28 de Junho de 1919. A palavra de ordem bolchevique era uma paz justa e democrática, sem qualquer anexação ou contribuição de guerra.

 

Este tema da Paz foi abordado por Lênin em setembro de 1917 no escrito “As Tarefas da Revolução”:

 

“O governo soviético deverá propor sem demora a todos os povos beligerantes (isso é, a seus governos e, simultaneamente, às massas de operários e camponeses) a conclusão imediata de uma paz geral sobre bases democráticas e, além disso, um armistício imediato (ainda que somente por três meses). A condição fundamental para uma paz democrática é renunciar às anexações, mas não no sentido falso de que todas as potências devam recuperar o que tenham perdido, mas no único sentido justo, ou seja, no sentido se que todo o povo, sem exceção alguma, tanto na Europa, quanto nas colônias, obtenha liberdade e possibilidade de decidir por conta própria se deseja constituir um Estado independente ou participar de qualquer outro. Ao propor estas condições de paz, o governo soviético deverá, por sua vez, coloca-las em prática sem qualquer demora, isto é, deverá tornar público e anular os tratados secretos que ainda nos ligam, tratados concluídos pelo tsar, nos quais se promete aos capitalistas russos o saque da Turquia, Áustria, etc.”.

 

 A vitória da Revolução de Outubro, a Paz de Brest Litovisk e a vitória vermelha na Guerra Civil 1917/1921 marcam a primeira fase de existência do poder soviético, período caracterizado como “comunismo de guerra” (expressão utilizada por Lênin). Nesta primeira etapa, pode-se falar de uma revolução democrática no sentido de acabar com os resquícios feudais da economia, da cultura e das instituições políticas soviéticas. Vencer este atraso medieval, considerando a esmagadora maioria populacional russa de pequenos camponeses, envolveria mesmo o estabelecimento de um capitalismo de estado, caracterizado por Lênin, como uma antecâmara do socialismo . Neste primeiro momento, havia a necessidade urgente de reestabelecer a grande indústria e organizar a troca direta dos seus produtos pelos da pequena agricultura camponesa, contribuindo para a socialização desta; tomar aos camponeses, a título de empréstimos, uma determinada quantidade de víveres e matérias primas através da requisição. Com o fim da Guerra Civil, surge a necessidade de aumentar a circulação de mercadorias através de concessões pontuais ao capitalismo: ao invés das requisições armadas dos tempos da guerra civil, o imposto em espécie.

 

Portanto, uma segunda etapa da revolução tem início com a partir de meados de 1921 e esta nova situação se expressa nas cogitações de Lênin nesta última fase de sua vida.

 

Os comunistas devem colocar a si a tarefa de elevar a produtividade do trabalho social – nesta etapa não há a necessidade de impulsos histéricos, como na fase imediata após outubro, mas uma marcha cadenciada, sabendo avançar e recuar conforme as exigências do momento. “Melhor Menos, Porém Bom” e “Sobre o Cooperação” são textos representativos desta última fase dos escritos de Lênin, quando surge a ideia de uma revolução cultural e mudanças nas instituições soviéticas, como a criação da Inspeção Operário Camponesa para melhorar e reformar o estado soviético.

 

Em cartas direcionadas ao XII Congresso do Partido, Lênin sugere o aumento número de membros do comitê central de 50 até 100 militantes, que deveriam  ser recrutados dentro da base operária. Uma das razões é que Lênin já previa uma cisão no partido e cita nominalmente Trótsky e Stálin como a provável origem da cisão.

 

Desde a segunda metade de 1921, Lênin sofre de dores de cabeça e insônia regulares. Em 30 de agosto de 1918 já havia sido vítima de um atentado a bala, o que debilitou desde então a sua saúde. Em março de 1923 Lênin sofreu um terceiro acidente vascular cerebral e perdeu sua capacidade de fala. No dia 21 de janeiro de 1924 falecia Vladimir Ilyich Ulianov, Lênin.

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