terça-feira, 8 de setembro de 2020

LÊNIN A CAMINHO DO PODER

 

LÊNIN A CAMINHO DO PODER

 

 


 

Logo após a chegada de Lênin em Petrogrado em abril de 1917 foi publicado o seu famoso artigo “As Tarefas do Proletariado na presente revolução – Teses de Abril”.

 

O texto foi publicado no jornal Pravda de 7 de abril de 1917 com a assinatura de Lênin e foi escrito provavelmente no trem, na véspera da chegada do dirigente bolchevique a Petrogrado. Lênin leu as teses em duas reuniões realizadas em 4 de abril: na reunião dos bolcheviques e na reunião conjunta de bolcheviques e mencheviques delegados da Conferência de Toda a Rússia de Deputados Operários e Soldados no palácio Taride.

 

A peculiaridade do momento da Rússia consiste na transição da primeira etapa da revolução que deu o poder à burguesia à sua segunda etapa, que iria por o poder nas mãos do proletariado e das camadas pobres do campesinato. De um lado a continuidade da guerra imperialista e a ameaça da restauração do czarismo. De outro lado, a instauração de uma nova legalidade baseada na tomada do poder político dos operários e camponeses pobres.   

 

A dualidade de poderes se expressa pelo governo provisório burguês de um lado e pelos sovietes de deputados operários e camponeses do outro. Ainda em abril os bolcheviques são minorias no sovietes, o que faz com que os comunistas devam ter uma política de explicar os erros da tática dos conselhos  de um modo paciente, sistemático e adaptado às necessidades práticas das massas. Mesmo sendo minoria, os bolcheviques atuam nos sovietes e desenvolvem um trabalho de crítica e esclarecimento dos erros.

 

A palavra de ordem naquele contexto era a de lutar para quebrar as ilusões do povo no governo burguês. Além de denunciar o governo provisório, combater a influência ideológica da pequeno burguesia sobre o movimento operário. De maneira reiterada, Lênin opõe o governo republicano burguês da nova experiência de poder do sovietes, cuja prima mais próxima fora a Comuna de Paris de 1871. A dissolução da polícia, do exército e da burocracia substituída pelo povo em armas. A constituição de milícias operárias com a participação de homens de mulheres de 15 a 65 anos de idade. O mais absoluto controle e revogabilidade dos cargos de eleição. A necessidade de mudança do nome do partido como forma de se opor à social democracia europeia que capitulou perante a guerra imperialista: de partido social democrata para partido comunista. Finalmente, a necessidade da criação da III Internacional, ante a completa falência da II Internacional, dos social chauvinistas (Plekhanov) e dos centristas (Kautsky).

 

OS BOLCHEVIQUES DEVEM TOMAR O PODER

 

Contudo, no mês de julho, as jornadas contrarrevolucionárias dirigidas por Kornilov colocam em novos termos o desenvolvimento da revolução russa.  A vitória dos operários e soldados sobre a contrarrevolução em Julho coloca na ordem do dia a tomada do poder. Já em setembro de 1917 os bolcheviques já são maioria nos sovietes de deputados operários e soldados de ambas as capitais. Ainda em 12/14 de Setembro, Lênin lança a palavra de ordem que os bolcheviques devem tomar o poder:

 

“Depois  de ter conquistado a maioria dos Sovietes de Deputados Operários e Soldados de ambas as capitais, os bolcheviques podem e devem tomar o poder de Estado em suas mãos. Podem, pois a maioria ativa dos elementos revolucionários do povo de ambas as capitais é suficiente para levar consigo as massas, vencer a resistência do inimigo, derrota-lo, conquistar e manter o poder; podem, pois ao propor no ato a paz democrática, no ato de entregar a terra aos camponeses e restabelecer as instituições e liberdades democráticas, destruídas e destroçadas por Kerensky, os bolcheviques formarão um governo que ninguém poderá derrubar”.

 

Não foi sem vacilação que os demais dirigentes da fração mais consequente e revolucionária da Rússia encaravam a proposta de Lênin da tomada imediata no poder. Uma opinião era de que os bolcheviques devessem aguardar a realização da Assembleia Constituinte do governo provisório. Outra opinião dizia que os bolcheviques devessem aguardar a realização da Conferência Democrática. Mais do que uma mudança na data da insurreição, estavam em jogo diferentes posições táticas com implicações estratégicas: o partido bolchevique deve tomar para si o poder ou deve apenas tomar o poder para imediatamente entrega-lo aos sovietes de toda a Rússia? Quem é o sujeito histórico e quem é o sujeito político da revolução?

 

Neste aspecto, Lênin, seguindo as trilhas de Marx, chama atenção para o fato de que a insurreição deve ser encarada como uma arte: havia o risco objetivo da tomada da capital para contrarrevolução e o atraso da insurreição em Petrogrado e Moscou poderia colocar tudo a perder. A iminente tomada de Petrogrado tornaria as chances cem vezes maiores. Lênin chama a atenção de que não é possível “esperar” a Assembleia Constituinte, pois Kerensky, por conta da rendição de Petrogrado, pode perfeitamente frustrar sua realização.

 

“E para tratar a insurreição de um modo marxista, isto é, como uma arte, devemos, ao mesmo tempo e sem perder sequer um minuto, organizar um Estado-Maior dos destacamentos insurgentes, distribuir as forças, lançar os regimentos de confiança contra os pontos mais importantes, cercar o Teatro Alexandrinki e tomar a Fortaleza de Pedro e Paulo, prender o Estado-Maior general e o governo enviar contra os cadetes e contra a divisão selvagem tropas dispostas a morrer antes de permitir que o inimigo abra passagem em direção aos centros da cidade; devemos mobilizar os operários armados, convocando-lhes a uma luta desesperada, à luta final; devemos ocupar imediatamente as centrais de telégrafos e de telefones, instalar nosso Estado-Maior da insurreição junto à Central de telefones e coloca-los em contato telefônico com todas as fábricas, com todos os regimentos, como todos os pontos em que se desenrole a luta armada, etc.”.  

 

Nos escritos “Conselhos De Um Ausente” de 8 de outubro de 1917 e na “Carta Aos Membros do Comitê Central” de 24 Outubro, Lênin reforça que a demora na ação equivale à morte, que o triunfo da revolução russa e da revolução mundial depende de dois ou três dias de luta.

 

Finalmente, em 25 de Outubro de 1917, às 10 hors da manhã o Comitê Militar revolucionário adjunto ao Soviet de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado anuncia a queda do governo provisório e a vitória da revolução operária, dos soldados e dos camponeses.

 

No próximo artigo, analisaremos as intervenções de Lênin no contexto imediato da tomada do poder, de outubro de 1917 até 1923.

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