terça-feira, 1 de outubro de 2019

Joseph Stálin e a Herança Leninista


Joseph Stálin e a Herança Leninista



Resenha – Joseph Stálin – Textos Diversos – Marxists.org

Quando assumiu a direção do partido comunista soviético no ano de 1926 Joseph Stálin já era uma liderança bastante conhecida perante o movimento social daquele país. Identificava-se com a velha guarda bolchevique. É importante assinalar desde o começo que Stálin já possuía uma vasta experiência militante e partidária desde os primeiros anos do séc. XX, passando por diversas prisões e exílios, num total de 10 anos de sua vida.

Joseph Vissarionovich Djugashvili nasceu na cidade de Gori, região da Geórgia, no ano de 1879. A Geórgia é hoje um país na interseção da Europa com a Ásia, com aldeias na cordilheira do Cáucaso e praias no Mar Negro. Ao tempo de Stálin, a Geórgia condensava em si diferentes culturas e nacionalidades: lá havia georgianos, armênios, kurdos, turcos, judeus e maometanos. No Cáucaso dos tzares, um punhado de uma nobreza georgiana vivia sob as custas das outras classes sob a proteção do Tzar. Como é cediço, Stálin viria a exercer papel importante na condição de comissário das nacionalidades e certamente este passado remoto deve ter pesado nos seus aportes sobre o tema.

Falamos que Stálin ao tempo da revolução russa era relacionado com a velha guarda bolchevique. Entrou no ano de 1903 no partido bolchevique passando no ano de 1912 a integrar a redação do jornal Pravda e o comitê central do partido. Posteriormente, nas lutas contra os revisionistas e Trótsky, como também é cediço, desenhou-se uma aparente e suposta luta no interior do partido entre os jovens e uma velha guarda de militantes que teriam perdido o espírito revolucionário e sucumbido à burocracia. Esta era a forma que os setores oportunistas buscavam retratar uma luta que envolvia outra questão fundamental: o problema do partido e sua função no contexto da ditadura do proletariado.

Combate ao antileninismo

A oposição que exsurgiu no meio da acirrado luta de classes que perpassa os anos da revolução apontou caminhos que certamente teriam levado a URSS a uma vida tão curta como a Comuna de Paris. É comum até hoje escutar-se certa falsificação da história segundo a qual Trótsky seria partidário do internacionalismo proletário através de sua teoria da revolução permanente[1]. Na verdade, Trótsky participou da revolução de outubro – e mesmo Stálin o reconhece - como dirigente da insurreição militar de São Petersburgo, lutando bem. Mas, do ponto de vista político, Trótsky atuava com reservas, desde que negava então a possibilidade de edificação do socialismo na Rússia. Com isso, negava a vigência da Ditadura do Proletariado e a aliança operário camponesa. Apenas uma revolução na Europa Ocidental poderia pavimentar a consolidação da vitória na Rússia, de acordo com este ponto de vista.

Ainda de acordo com a falsificação da história, Stálin seria uma espécie de nacionalista grão-russo ao defender o socialismo num só país.

Em primeiro lugar, não foi Stálin, mas Lênin quem formulou a tese do socialismo num só país. Veja-se o que Lênin escreve no artigo “o programa de guerra da revolução proletária” em setembro de 1917:

“O socialismo num só país não exclui de modo nenhum a possibilidade da guerra em geral. Pelo contrário, pressupõe-na. O desenvolvimento do capitalismo processa-se de uma forma muito desigual nos diversos países. Não pode ocorrer outra coisa com a produção mercantil. Daí a conclusão irrefutável: o socialismo não pode vencer ao mesmo tempo em todos os países. Vencerá primeiro num ou em vários países, mas os outros permanecerão ainda durante um certo tempo países burgueses ou pré-burgueses. Isso não deixará de provocar não só fricções, como também esforços diretos da burguesia dos outros países para esmagar o proletariado vitorioso do Estado Socialista”.

Lênin demonstra como a dinâmica do capitalismo processa-se de forma desigual nas diferentes nações, implicando em relações de força variáveis, implicando inevitavelmente na vitória da revolução num só país ou num grupo de países. Não se trata, aqui, apenas da consolidação de uma trincheira, mas de um ponto de partida da revolução mundial, de modo que consolidar a existência da URSS, quebrando o imperialismo dentro de um de  seus elos mais frágeis possibilitava (como efetivamente possibilitou) o desenvolvimento da revolução nas outras nações. A maior propaganda para a revolução nos demais países não advém do papel mas dos fatos, das diversas vitórias acumuladas pela URSS na edificação do socialismo naquele país.

É importante assinalar que as reservas quanto à possibilidade de vitória na Rússia soviética era uma posição compartilhada pelos mencheviques que, após outubro, assumiriam um posicionamento abertamente contra-revolucionário. Diante da impossibilidade de se avançar no sentido do socialismo, o proletariado no poder deveria retroceder, no sentido da restauração do regime burguês. Não é casual que Trótsky, que adveio do menchevismo e só aderiu ao movimento bolchevique no ano da revolução, tenha compartilhado com estas teses derrotistas. De outro giro, como esperar que um povo inteiro de centenas de milhões de habitantes, esmagado pelos horrores da 1ª Guerra Mundial, sendo obrigado a reconstruir seu exército a partir do zero, bem como devendo mobilizar um enorme esforço material para a reconstrução da indústria e da agricultura sob novas bases, como seria possível levar adiante estes objetivos tão amplos através de uma ideologia derrotista? Como mobilizar milhões de trabalhadores e camponeses para edificação do socialismo condicionando o seu êxito a novas revoluções de outubro nos países do ocidente?

Stálin coloca que a essência do trotskysmo é assim a negação da possibilidade da edificação do socialismo na Rússia. A negação por conseguinte da necessidade de uma disciplina férrea do partido ao reconhecer a liberdade de grupos e frações. A unidade do partido para assegurar o sucesso na luta contra os inimigos de classe é objeto de ataques da oposição que, nos anos de 1930, adotam medidas de sabotagem e militância clandestina em face do estado soviético.

A concepção leninista de partido foi igualmente combatida pela oposição que, ainda nos anos de 1926-1927, com o país egresso de uma guerra civil particularmente cruenta, com a intervenção imperialista de nada menos do que 14 nações estrangeiras, diante de todos estes elementos, propunha gradualmente uma luta aberta contra a direção do partido russo. Esta política é inteiramente contrária aos princípios de Lênin que assegura a crítica e a autocrítica partidária mantendo-se a unidade de ação ante os inimigos de classe. Não são os Soviets, nem agrupamentos decentralizados amorfos, mas o partido proletário de vanguarda a forma de organização superior da classe operário, o instrumento destinado a dirigir os trabalhadores no sentido do socialismo. Ainda assim, tal política divisionista da oposição foi levada até o ponto de partidários de Trótsky realizarem manifestação pública contra o partido soviético no ano de 1927, em Moscou e São Petersburgo. Consta que os próprios militantes de base que participavam da marcha se insurgiram contra aquela manifestação obrigando os revisionistas ao recuo.

Dentre os textos de Stálin, sobressaem igualmente as manifestações relacionadas ao problema nacional, questões de linguística, o problema do materialismo histórico e dialético, além de análises sobre o problema da China e Iuguslávia. No caso dos problemas que surgem a partir de 1922-1926, trata-se frequentemente do ponto de vista compartilhado pela direção soviética. O que há em comum nestes textos é a forma simples com que se expressam conceitos e ideias, conforme o perfil do autor, filho de camponeses, estudante de seminário de Tiflis e já aos 18 anos militante clandestino na Geórgia. Desde que voltado sempre ao exame de questões práticas, Joseph Stálin temperou-se menos nos livros e mais nas lutas sociais.

Balanços

O balanço da experiência soviética no período de Stálin (1922/6 – 1953) é inequivocamente positivo. Em 1926 a URSS estava ameaçada de um desastre econômico. Foi nos anos subsequentes que o país reabilitou as finanças governamentais, organizou a exploração de matérias primas, a indústria, o trabalho no campo e na cidade. As fileiras do partido foram cerradas com os melhores quadros, depurando-se os elementos restauracionistas burgueses. É certo que as denominadas purgas stalinistas garantiram que a União Soviética, na II Guerra Mundial, fosse o país com mais baixo número de colaboracionistas dos nazis, possibilitando o triunfo militar do exército vermelho.

“É difícil negar a evidência, e a evidência é que o Poder Soviético está firme como uma rocha. Em primeiro lugar, o homem do povo, por mais ingênuo que seja em política, não pôde deixar de perceber que o Poder Soviético talvez esteja mais firme do que qualquer governo burguês, porque durante os sete anos de ditadura do proletariado os governos burgueses sobem e caem, enquanto o Poder Soviético permanece. Ademais, o mesmo homem do povo não pôde deixar de perceber que a economia do nosso país progride, mesmo que só leve em conta que as nossas exportações vão crescendo passo a passo. Será ainda necessário demonstrar que estas circunstâncias falam a favor da União Soviética, e não contra ela? Acusam-nos de desenvolver na Europa Ocidental a propaganda contra o capitalismo. Devo dizer que essa propaganda não nos é necessária, que essa propaganda não nos faz falta. A própria existência do Poder Soviético, o seu desenvolvimento, os seus progressos materiais, o seu indubitável fortalecimento constituem a propaganda mais eficiente entre os operários europeus em favor do Poder Soviético. Qualquer operário que tenha vindo ao país soviético e observado a nossa ordem de coisas proletária, terá podido ver o que representa o Poder Soviético e do que é capaz a classe operária, quando se encontra no poder. É justamente esta a verdadeira propaganda, uma propaganda de fatos, que tem eficiência muito maior entre os operários do que a propaganda verbal e dos jornais”.   Stálin. Balanço do XIII Congresso do PC(b) da Rússia - 1924


[1] Anote-se que a teoria da revolução permanente é uma formulação de Marx distinta da formulação de Trótsky.

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