Joseph Stálin e a Herança Leninista
Resenha – Joseph Stálin – Textos
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Quando assumiu a direção do partido
comunista soviético no ano de 1926 Joseph Stálin já era uma liderança bastante
conhecida perante o movimento social daquele país. Identificava-se com a velha
guarda bolchevique. É importante assinalar desde o começo que Stálin já possuía
uma vasta experiência militante e partidária desde os primeiros anos do séc. XX,
passando por diversas prisões e exílios, num total de 10 anos de sua vida.
Joseph Vissarionovich Djugashvili
nasceu na cidade de Gori, região da Geórgia, no ano de 1879. A Geórgia é hoje
um país na interseção da Europa com a Ásia, com aldeias na cordilheira do
Cáucaso e praias no Mar Negro. Ao tempo de Stálin, a Geórgia condensava em si
diferentes culturas e nacionalidades: lá havia georgianos, armênios, kurdos,
turcos, judeus e maometanos. No Cáucaso dos tzares, um punhado de uma nobreza
georgiana vivia sob as custas das outras classes sob a proteção do Tzar. Como é
cediço, Stálin viria a exercer papel importante na condição de comissário das
nacionalidades e certamente este passado remoto deve ter pesado nos seus
aportes sobre o tema.
Falamos que Stálin ao tempo da
revolução russa era relacionado com a velha guarda bolchevique. Entrou no ano
de 1903 no partido bolchevique passando no ano de 1912 a integrar a redação do
jornal Pravda e o comitê central do partido. Posteriormente, nas lutas contra
os revisionistas e Trótsky, como também é cediço, desenhou-se uma aparente e
suposta luta no interior do partido entre os jovens e uma velha guarda de
militantes que teriam perdido o espírito revolucionário e sucumbido à
burocracia. Esta era a forma que os setores oportunistas buscavam retratar uma
luta que envolvia outra questão fundamental: o problema do partido e sua função
no contexto da ditadura do proletariado.
Combate ao antileninismo
A oposição que exsurgiu no meio da
acirrado luta de classes que perpassa os anos da revolução apontou caminhos que
certamente teriam levado a URSS a uma vida tão curta como a Comuna de Paris. É
comum até hoje escutar-se certa falsificação da história segundo a qual Trótsky
seria partidário do internacionalismo proletário através de sua teoria da
revolução permanente[1].
Na verdade, Trótsky participou da revolução de outubro – e mesmo Stálin o
reconhece - como dirigente da insurreição militar de São Petersburgo, lutando bem.
Mas, do ponto de vista político, Trótsky atuava com reservas, desde que negava
então a possibilidade de edificação do socialismo na Rússia. Com isso, negava a
vigência da Ditadura do Proletariado e a aliança operário camponesa. Apenas uma
revolução na Europa Ocidental poderia pavimentar a consolidação da vitória na
Rússia, de acordo com este ponto de vista.
Ainda de acordo com a falsificação
da história, Stálin seria uma espécie de nacionalista grão-russo ao defender o
socialismo num só país.
Em primeiro lugar, não foi Stálin,
mas Lênin quem formulou a tese do socialismo num só país. Veja-se o que Lênin
escreve no artigo “o programa de guerra da revolução proletária” em setembro de
1917:
“O socialismo num só país não exclui
de modo nenhum a possibilidade da guerra em geral. Pelo contrário,
pressupõe-na. O desenvolvimento do capitalismo processa-se de uma forma muito
desigual nos diversos países. Não pode ocorrer outra coisa com a produção
mercantil. Daí a conclusão irrefutável: o socialismo não pode vencer ao mesmo
tempo em todos os países. Vencerá primeiro num ou em vários países, mas os
outros permanecerão ainda durante um certo tempo países burgueses ou
pré-burgueses. Isso não deixará de provocar não só fricções, como também
esforços diretos da burguesia dos outros países para esmagar o proletariado
vitorioso do Estado Socialista”.
Lênin demonstra como a dinâmica do
capitalismo processa-se de forma desigual nas diferentes nações, implicando em
relações de força variáveis, implicando inevitavelmente na vitória da revolução
num só país ou num grupo de países. Não se trata, aqui, apenas da consolidação
de uma trincheira, mas de um ponto de partida da revolução mundial, de modo que
consolidar a existência da URSS, quebrando o imperialismo dentro de um de seus elos mais frágeis possibilitava (como
efetivamente possibilitou) o desenvolvimento da revolução nas outras nações. A
maior propaganda para a revolução nos demais países não advém do papel mas dos
fatos, das diversas vitórias acumuladas pela URSS na edificação do socialismo
naquele país.
É importante assinalar que as
reservas quanto à possibilidade de vitória na Rússia soviética era uma posição
compartilhada pelos mencheviques que, após outubro, assumiriam um
posicionamento abertamente contra-revolucionário. Diante da impossibilidade de
se avançar no sentido do socialismo, o proletariado no poder deveria
retroceder, no sentido da restauração do regime burguês. Não é casual que
Trótsky, que adveio do menchevismo e só aderiu ao movimento bolchevique no ano
da revolução, tenha compartilhado com estas teses derrotistas. De outro giro,
como esperar que um povo inteiro de centenas de milhões de habitantes, esmagado
pelos horrores da 1ª Guerra Mundial, sendo obrigado a reconstruir seu exército
a partir do zero, bem como devendo mobilizar um enorme esforço material para a
reconstrução da indústria e da agricultura sob novas bases, como seria possível
levar adiante estes objetivos tão amplos através de uma ideologia derrotista?
Como mobilizar milhões de trabalhadores e camponeses para edificação do
socialismo condicionando o seu êxito a novas revoluções de outubro nos países
do ocidente?
Stálin coloca que a essência do
trotskysmo é assim a negação da possibilidade da edificação do socialismo na Rússia.
A negação por conseguinte da necessidade de uma disciplina férrea do partido ao
reconhecer a liberdade de grupos e frações. A unidade do partido para assegurar
o sucesso na luta contra os inimigos de classe é objeto de ataques da oposição
que, nos anos de 1930, adotam medidas de sabotagem e militância clandestina em
face do estado soviético.
A concepção leninista de partido foi
igualmente combatida pela oposição que, ainda nos anos de 1926-1927, com o país
egresso de uma guerra civil particularmente cruenta, com a intervenção
imperialista de nada menos do que 14 nações estrangeiras, diante de todos estes
elementos, propunha gradualmente uma luta aberta contra a direção do partido
russo. Esta política é inteiramente contrária aos princípios de Lênin que
assegura a crítica e a autocrítica partidária mantendo-se a unidade de ação
ante os inimigos de classe. Não são os Soviets, nem agrupamentos
decentralizados amorfos, mas o partido proletário de vanguarda a forma de
organização superior da classe operário, o instrumento destinado a dirigir os
trabalhadores no sentido do socialismo. Ainda assim, tal política divisionista
da oposição foi levada até o ponto de partidários de Trótsky realizarem manifestação
pública contra o partido soviético no ano de 1927, em Moscou e São Petersburgo.
Consta que os próprios militantes de base que participavam da marcha se
insurgiram contra aquela manifestação obrigando os revisionistas ao recuo.
Dentre os textos de Stálin,
sobressaem igualmente as manifestações relacionadas ao problema nacional,
questões de linguística, o problema do materialismo histórico e dialético, além
de análises sobre o problema da China e Iuguslávia. No caso dos problemas que
surgem a partir de 1922-1926, trata-se frequentemente do ponto de vista
compartilhado pela direção soviética. O que há em comum nestes textos é a forma
simples com que se expressam conceitos e ideias, conforme o perfil do autor,
filho de camponeses, estudante de seminário de Tiflis e já aos 18 anos
militante clandestino na Geórgia. Desde que voltado sempre ao exame de questões
práticas, Joseph Stálin temperou-se menos nos livros e mais nas lutas sociais.
Balanços
O balanço da experiência soviética
no período de Stálin (1922/6 – 1953) é inequivocamente positivo. Em 1926 a URSS
estava ameaçada de um desastre econômico. Foi nos anos subsequentes que o país
reabilitou as finanças governamentais, organizou a exploração de matérias
primas, a indústria, o trabalho no campo e na cidade. As fileiras do partido
foram cerradas com os melhores quadros, depurando-se os elementos
restauracionistas burgueses. É certo que as denominadas purgas stalinistas garantiram
que a União Soviética, na II Guerra Mundial, fosse o país com mais baixo número
de colaboracionistas dos nazis, possibilitando o triunfo militar do exército
vermelho.
“É difícil negar a evidência, e a
evidência é que o Poder Soviético está firme como uma rocha. Em primeiro lugar,
o homem do povo, por mais ingênuo que seja em política, não pôde deixar de
perceber que o Poder Soviético talvez esteja mais firme do que qualquer governo
burguês, porque durante os sete anos de ditadura do proletariado os governos
burgueses sobem e caem, enquanto o Poder Soviético permanece. Ademais, o mesmo
homem do povo não pôde deixar de perceber que a economia do nosso país
progride, mesmo que só leve em conta que as nossas exportações vão crescendo
passo a passo. Será ainda necessário demonstrar que estas circunstâncias falam
a favor da União Soviética, e não contra ela? Acusam-nos de desenvolver na
Europa Ocidental a propaganda contra o capitalismo. Devo dizer que essa
propaganda não nos é necessária, que essa propaganda não nos faz falta. A
própria existência do Poder Soviético, o seu desenvolvimento, os seus progressos
materiais, o seu indubitável fortalecimento constituem a propaganda mais eficiente
entre os operários europeus em favor do Poder Soviético. Qualquer operário que
tenha vindo ao país soviético e observado a nossa ordem de coisas proletária,
terá podido ver o que representa o Poder Soviético e do que é capaz a classe
operária, quando se encontra no poder. É justamente esta a verdadeira
propaganda, uma propaganda de fatos, que tem eficiência muito maior entre os
operários do que a propaganda verbal e dos jornais”. Stálin.
Balanço do XIII Congresso do PC(b) da Rússia - 1924
[1]
Anote-se que a teoria da revolução permanente é uma formulação de Marx distinta
da formulação de Trótsky.
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