domingo, 24 de fevereiro de 2013

"A Guerra Civil Na França" - Karl Marx


Resenha Livro #53 “A Guerra Civil na França” – Karl Marx

 

A Comuna de Paris foi a primeira experiência na história de um governo operário, sob bases econômicas cooperativistas, sob os signos do igualitarismo e do laicismo. Durou 72 dias: o governo operário na capital francesa vai de 26 de março até 28 de maio de 1871. Desde a 1ª Intenacional (Associação Internacional dos Trabalhadores), Marx atua em prol da Comuna de Paris, objeto das maiores calúnias pelos jornalões burgueses europeus.

“Que é a Comuna, essa esfinge tão atordoante para o espírito burguês”?, pergunta-se Marx em 1871, quando redige o folheto “Guerra Civil na França”. O documento esclarece o leitor acerca dos acontecimentos de Paris sob um ponto de vista não burguês, elucidando a luta de classes que perpassa a guerra franco-prussiana e tem como principal vítima o proletariado francês.

Thieres, líder dos capituladores instalados em Versalhes, estabelece uma paz com a Prússia cujos termos envolviam o esmagamento da Comuna de Paris. Os traidores da republica social parisiense abandonaram estrategicamente canhões e armas que serian utilizados pelas forças armadas prussianas para atacar a Comuna. Por suposto aquela “esfinge” já era motivo de temor por toda burguesia europeia e a capitulação francesa envolvia e perpassava pelo massacre daquela experiência, denunciando o caráter classista daquela luta.

A guerra franco-prussiana inicia-se em 1870: claramente, a França subestimava de início o poderio militar prussiano. Na verdade as hostilidades entre franceses e alemães remetem às guerras napoleônicas, cujo final foi o exílio de Napoleão em Elba e a vitória da Santa Aliança, da reação monárquica sobre a República. Após a ascensão de Napoleão III (sobrinho de Napoleão I), por meio de um golpe de Estado, a França consolidaria o Segundo Império, cuja vida seria breve e se encerraria com a derrota dos franceses na guerra franco-prussiana.

A capitulação oficial de Paris foi conduzida por Thiers em fevereiro de 1971. Entretanto, a população de Paris recusou-se a depor as armas. Havia diferenças políticas entre a capital e as províncias. Durante a guerra, as províncias francesas elegeram para a Assembleia Nacional Francesa deputados monarquistas (os “Rurais”), bancada  francamente favorável à capitulação ante a Prússia. A população de Paris, no entanto, opunha-se a essa política. Marx lembra que as províncias sofriam com a desinformação provocada pela burguesia francesa, que impedia qualquer forma de comunicação entre as províncias e a Comuna, além de todas as mentiras reinteradas a respeito a república social de paris. Louis Thiers, político experiente, sistematicamente ironizado por Marx, foi elevado à chefia do gabinete conservador com a queda do Segundo Império. Tentou esmagar os insurretos parisienses. Estes, porém, com o apoio da Guarda Nacional e de combatentes que se recusavam a atirar em crianças e mulheres, derrotaram as forças legalistas, obrigando os membros do governo a abandonar Paris e dirigir sua política desde Versalhes. Segundo Marx, toda a escória da sociedade parisiense, ou seja, sua parcela improdutiva, fugiu junto com a burguesia. A partir da medida socialista de eliminação das forças armas e da polícia, e a constituição do povo em armas, Marx comenta a redução total da criminalidade em Paris.

Enquanto a Comuna resistia, Thiers foi buscar auxílio junto à Prússia para esmagá-la. Publicamente, o astuto político dizia não ceder um palmo de terra francesa aos alemães. Entretanto, seus termos de rendição envolveram a entrega de Alsácia e Lorena à Prússia. Além disso,  a França foi obrigada a pagar uma indenização de guerra de cinco bilhões de francos de ouro. A Prússia, de outro lado, garantiu que fossem libertados 100 mil prisioneiros de guerra franceses, os quais foram admitidos para reprimir a Comuna.

Depois de pouco mais de dois meses de lutas, a Comuna foi esmagada pelas tropas da reação.

A Comuna de Paris nos legou a bandeira vermelha do igualitarismo e a canção da Internacional. Legou-nos igualmente uma série de medidas que nos fazem crer ser aquela experiência, algo à frente de seu tempo. Limitou por exemplo o salário máximo de cada mandatário a valor correspondente ao salário de um trabalhador; eliminou o trabalho noturno, legalizou os sindicatos, instituiu a igualdade de sexos, tornou eletivo o cargo de juiz, incorporou o internacionalismo não só no discurso, mas na prática, com a participação de estrangeiros nos órgãos de funcionamento da comuna. Separou a religião do estado e eliminou o ensino religioso. Todas estas mudanças introduzidas pelo governo operário não poderiam subsistir a um cerco de centenas de milhares de homens armados amplamente pelas principais potencias europeias. Ainda assim, em meio a fome e a todas as dificuldades, a Comuna subsistiu brava e heroicamente por 72 dias todas as atrocidades da reação.

Marx não detalha o número de mortos, mas ilustra em diversas passagens a forma bárbara como a reação esmagou a Comuna. Estima-se que 80.000 pessoas foram mortas pelas tropas da burguesia franco-prussiana, das quais 20.000 foram executadas, sumariamente. Fala-se que só interrompeu-se o banho de sangue quando se constatou que o enorme número de cadáveres disseminaria doenças na cidade. Das 40.000 pessoas presas, uma parcela foi levada à Ilha da Nova Caledônia, onde, ainda hoje, é possível ver as marcas deixadas pelos comunards. Presos numa ilha perdida num lugar esquecido do mundo, as marcas dizem “Viva a Comuna”. Mais de um século passou-se e a luta da Comuna por uma sociedade igualitarista permanece tão viva quanto as marcas das prisões da Nova Caledônia.   

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