quinta-feira, 29 de agosto de 2019

“O Socialismo e a Guerra – A atitude do POSDR em relação à guerra” – V. I. Lênin


“O Socialismo e a Guerra – A atitude do POSDR em relação à guerra” – V. I. Lênin 




Resenha Livro - “O Socialismo e a Guerra – A atitude do POSDR em relação à guerra” – Lênin – Edições “Avante!” - Com base nas Obras Completas de V. I. Lênin, 5ª ed.

“O marxismo não é pacifismo. É necessário lutar pela mais rápida cessação da guerra. Mas só com o apelo à luta revolucionária a reivindicação de «paz» adquire um sentido proletário. Sem uma série de revoluções a chamada paz democrática é uma utopia filistina. O único verdadeiro programa de acção seria o programa marxista, que dá às massas uma resposta completa e clara sobre aquilo que aconteceu, que explica o que é o imperialismo e como combatê-lo, que declara abertamente que a falência da II Internacional foi provocada pelo oportunismo, que apela abertamente a edificar uma Internacional marxista sem e contra os oportunistas”

Já foi dito que a guerra é a continuação da política por outros meios, a saber, pela violência. A ideia, originalmente lançada por Clausewitz, é compartilhada por Lênin que, neste escrito, desenvolve uma ampla explicação sobre as relações entre a guerra mundial imperialista, então em curso, a capitulação de amplos setores da social democracia europeia ante o conflito, com a votação no parlamento dos créditos de guerra, e as tarefas do movimento.

O panfleto igualmente aborda de forma justa o problema da guerra para o marxismo revolucionário: a necessidade da mobilização ilegal nos países envolvidos na guerra, denunciando-a e a estratégia de transformar a guerra imperialista em guerra civil, desde a confraternização nas trincheiras de soldados de diferentes nações até a luta contra o governo. É preciso destacar que era necessário muita coragem para se desenvolver a atividade clandestina proposta pelos revolucionários russos: fazer campanha contra a guerra no curso da guerra era causa de pena de morte. Com isso, oportunistas e capitulacionistas se colocavam contra a atividade ilegal.

“Numa guerra reacionária a classe revolucionária não pode deixar de desejar a derrota do seu próprio governo”. Este é o ponto central sobre o qual as forças revolucionárias deveriam desenvolver sua atividade clandestina.

Este manifesto de cerca de 50 páginas foi redigido entre julho e agosto de 1915, com a guerra mundial imperialista já em curso portanto. Lênin encontrava-se então exilado mas politicamente ativo – poucos meses depois em 5-8 de Setembro de 1915 os revolucionários russos participariam da  conferência socialista internacional de Zimmerwald, por iniciativa de socialistas italianos e suíços, evento que o próprio Lênin chamaria de primeiro passo no desenvolvimento do movimento internacional contra a guerra.

A luta política em curso dentro do movimento socialista internacional dizia respeito então à capitulação dos principais partidos socialistas europeus ante sua burguesia. O social-chauvinismo denunciado por Lênin envolve a mistificação junto aos operários mais atrasados segundo a qual a defesa da pátria na presente guerra seria a política correta, em que pese trata-se, concretamente, de uma guerra inter-imperialista.

Num passado não tão remoto a burguesia vivera seu ciclo de revoluções, desde 1789 com a Revolução Francesa, até 1871, desde a Comuna de Paris. Tratava-se então da etapa em que a burguesia desenvolve e expande o capitalismo em face do absolutismo e do feudalismo. Realidade distinta da Guerra Mundial que é produto da etapa imperialista do capitalismo, quando nada menos do que 6 potências escravizam mais de 500 milhões de pessoas nas colônias.

Lênin já começa o seu artigo, por sinal, estabelecendo uma distinção clara entre a posição dos marxistas sobre a guerra e a posição de anarquistas e pacifistas. Vejamos:

“Os socialistas sempre condenaram as guerras entre os povos como coisa bárbara e brutal. Mas a nossa atitude em relação à guerra é fundamentalmente diferente da dos pacifistas (partidários e pregadores da paz) burgueses e dos anarquistas. Distinguimo-nos dos primeiros pelo facto de compreendermos a ligação inevitável das guerras com a luta de classes no interior do país, de compreendermos a impossibilidade de suprimir as guerras sem a supressão das classes e a edificação do socialismo, e também pelo facto de reconhecermos inteiramente o caráter legítimo, progressista e necessário das guerras civis, isto é, das guerras da classe oprimida contra a classe opressora, dos escravos contra os escravistas, dos camponeses servos contra os senhores feudais, dos operários assalariados contra a burguesia”.

Fica claro que tanto os defensores do social-chauvinismo e portanto da vitória do seu governo imperialista em detrimento do outro; e os defensores da palavra de ordem “nem vitória, nem derrota[1]”, adotam o mesmo ponto de vista burguês. Mais uma vez, numa guerra reacionária, a classe revolucionária não pode ter outro desejo senão a derrota do seu governo: o que parece abstrato ao leitor efetivamente se materializa com a confraternização dos soldados no front e nos desejos dos operários mais conscientes no sentido de transformar a guerra imperialista em guerra civil. Na Rússia, a maioria do proletariado apoia a fração dirigida por Lênin, contra os setores capitulacionistas e liquidacionistas.

O oportunismo perpetrado por Kautsky e Plekhanov  dizem respeito à fidelidade ao marxismo apenas em palavras e à submissão de fato da social democracia à burguesia.

Na prática, trata-se da guerra entre os opressores da maioria das nações do mundo, pelo reforço e alargamento da opressão. Nestes termos, um aspecto interessante suscitado nos últimos capítulos do panfleto diz respeito sobre a premência do marxismo revolucionário romper, naquele contexto, com o social-chauvinismo. Lênin já suscita a falência da II Internacional, diante do apoio da maioria dos partidos às suas respectivas burguesias na guerra. A atuação conjunta do marxismo revolucionário junto à social-democracia poderia engendrar confusão no seio das fileiras operárias acerca da política correta a se seguir. Numa situação dramática, a escolha da política correta assume consequências de longo alcanc, mais do que decisivas.  É como se a situação dramática da guerra exigisse que os revolucionários traçassem no chão uma linha definitiva de diferenciação entre a reforma e a revolução, a salvaguarda do capitalismo e sua destruição.

Se a guerra é a continuação da política pelos meios violentos, os critérios da guerra progressista/justa e guerra reacionária/injusta são um ponto de partida para apuração da linha a se seguir. Uma guerra de defesa à agressão imperialista como a que o Japão perpetrou contra a China entre os anos 30-40 do século passado certamente é uma guerra progressista e justa. Da mesma forma, uma agressão militar neocolonial e imperialista norte-americana sobre governos democrático-populares na américa latina devem ser justamente rechaçados. Não se trata portanto de uma condenação hipotética e idealista da guerra, mas da sua interpretação sobre o crivo da luta de classes dentro de um horizonte anticapitalista.




[1] Posição centrista adotada por Trótsky e denunciada neste panfleto por Lênin.

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