terça-feira, 3 de setembro de 2019

Mao Tsé Tung – Textos Diversos


Mao Tsé Tung – Textos Diversos



Resenha – Textos Diversos – Mao Tsé Tung – Marxists Internet Archive – Seção em Português

“A interpretação das palavras “para breve”, na expressão “torna possível, para breve, a verificação dum auge revolucionário”, constitui frequentemente um problema para muitos camaradas. Os marxistas não são oráculos. Quando eles falam do desenvolvimento e das modificações que intervirão no futuro, devem e podem indicar unicamente a direção geral, não devendo nem podendo determinar, mecanicamente, o dia ou a hora. Contudo, a minha afirmação segundo a qual na China se “torna possível, para breve, a verificação dum auge revolucionário” não é de modo algum uma frase vazia, no gênero das formulações apresentadas por outros: “é possível que intervenha um auge revolucionário”, as quais não expressam em coisa alguma a aspiração à ação e apresentam o auge revolucionário como qualquer coisa de ilusório, de inacessível. O auge revolucionário é como um navio no mar, do qual o cimo dos mastros já é visível à distância, para as pessoas que se encontram à beira da praia; é semelhante ao sol da madrugada que, levantando-se radioso a Oriente, pode ser visto de longe pelas pessoas que se encontram no topo das montanhas; é, enfim, semelhante à criança que já se agita no seio materno e há-de ver em breve o dia”

Em que pese Mao Tsé Tung ter sido de o maior expoente da revolução chinesa, ao se analisar sua trajetória como militante e dirigente do Partido Comunista Chinês, verifica-se que não foram poucos os momentos em que seus posicionamentos eram minoritários. Tanto é verdade que logo após a morte de Mao no ano de 1976, rapidamente uma série de correligionários do dirigente foram rapidamente afastados do partido. Em que pese uma certa propaganda anti-comunista que procura retratar a China da revolução como um sistema totalitário e fechado, o fato é que o PCC, fundado em 1921, teve sua trajetória marcada por lutas políticas que vão se desenvolvendo conforme a própria dinâmica dos acontecimentos: desde 1921 quando da fundação do partido, seu programa inicial reivindicava a centralidade do minoritário proletariado Chinês como classe mais progressista e protagonista da revolução. Contudo, no terceiro congresso já há uma importante mudança de orientação: sob influência da URSS, a estratégica do partido envolve a revolução democrático-burguesa em detrimento da revolução socialista, desde que estavam presentes resquícios de herança feudal nas relações do campo que precisavam ser aniquiladas em nome do progresso.

Um texto obrigatório para se compreender a composição de classes na China pré-revolução e a posição dos comunistas é o artigo “Análise das Classes na Sociedade Chinesa” redigido por Mao em março de 1926. Desde lá verifica-se que o inimigo principal da luta popular na China, país economicamente atrasado e semi colonial, é a classe dos senhores de terras e a burguesia compradora, vassalos perfeitos da burguesia internacional. Há, ademais, um elemento bastante peculiar da China que irá determinar o caráter da luta revolucionário naquele país. A China é país que está desde tempos remotos sob a intervenção não de um, mas de vários imperialismos, como o japonês, o inglês e o norte-americano. As frações diferentes das classes dominantes chinesas são mais ou menos associadas a estes imperialismos. As classes dominantes estão assim em guerra (militar) permanente e são incapazes de se estabelecer como um poder único.

São nos momentos de divisão interna no terreno da burguesia que a revolução popular chinesa deveria avançar. Outrossim, era preciso explorar os flancos abertos pelo inimigo mesmo através da frente única. Com a guerra contra a invasão militar da China pelo Japão, os comunistas fizeram um chamado pela unidade junto ao Koumitang, partido ligado à burguesia e aos imperialismos da Inglaterra e EUA e que, pelas circunstâncias, foram praticamente obrigados a se somar no terreno de batalhas. Mas a verdade é que foi o exército comunista o que mais arcou com vidas e custos na guerra pela pátria, o que fez com que o movimento comunista saísse extremamente fortalecido com a derrota do Japão em 1945, culminando na vitória da Revolução Chinesa em 1949.

Ainda com relação às classes sociais, Mao coloca justamente que o incipiente proletariado chinês é a classe social mais progressista da China. A revolução democrático burguesa na China só é possível sob a direção do proletariado.  Em que pese a maioria camponesa da população a vitória depende da direção do proletariado urbano. Até o lumpesinato, segundo Mao tse Tung, se organizado e dirigido pelo proletariado, cumprirá um papel revolucionário. .

Poderíamos apenas para fins didáticos suscitar três grandes temas quanto à produção teórica de Mao Tsé Tung. Os temas da política e da guerra, que na verdade estão inteiramente indissociados, desde que para  Mao, seguindo Von Clausewitz e Lênin, a guerra nada mais é do que o exercício da política por outros meios, pelos meios da violência e do derrubamento de sangue.

Lênin partiu desta premissa, da análise do fenômeno da guerra sob o crivo da luta de classes e da necessidade de se converter a guerra imperialista reacionária em guerra civil revolucionária, para denunciar a I Guerra e a capitulação da II Internacional. Mao aborda de maneira mais sistemática o problema da guerra desde o artigo “Sobre a Guerra Prolongada” escrito em maio de 1938, alguns meses após o início da Guerra da China contra o invasor Japonês.

Mao Tsé Tung prevê corretamente dois pontos da guerra: o seu caráter de guerra prolongada e a inequívoca vitória dos chineses. A vitória se explica por critérios políticos e finalísticos. A guerra em si não é ruim nem boa. Existem guerras justas e guerras injustas. As guerras justas são progressistas. As guerras injustas são reacionárias. A guerra perpetrada pelo Japão é uma guerra de rapina, uma intervenção imperialista. Mao lembra que naquele contexto a existência da URSS ajudaria a se criar uma consciência internacional que seria também um dos elementos decisivos da derrota do Japão e do fascismo. A existência da União Soviética encoraja particularmente a China na sua guerra de resistência. A mobilização do povo e proletariado japonês diante da guerra imperialista também conspira a favor da China. A Guerra Nacional chinesa, por seu lado, é uma guerra justa. É uma guerra progressista porém será necessariamente uma Guerra Prolongada, de modo que Mao se opõe a dos equívocos igualmente perniciosos – a tese dos derrotistas capitulacionistas do Japão e a teoria da vitória rápida.

No contexto da guerra a China é um país militarmente fraco. Contudo, tem vasto território e ampla população. Os comunistas pregam novas relações dentro do exército: uma maior unidade entre oficiais e os soldados rasos, bem como a mais íntima unidade entre o exército e o povo constituindo verdadeiros exércitos de massas, com efetivos na casa de milhões. Inverter a punição pela educação. Garantir como meios complementares o centralismo democrático.

Mao defende até mesmo uma política de clemência com relação aos prisioneiros de guerra – enquanto os japoneses e o Koumitang praticavam todo tipo de barbaridade, os comunistas buscavam até o convencimento de soldados japoneses rendidos para integrarem-se em brigadas internacionalistas contra o inimigo imperialista. Demonstrando assim a coincidência de interesses do povo Chinês e do povo Japonês.

A guerra contra o Japão duraria até 1945. Poucos anos depois a Revolução Chinesa triunfaria, dando espaço a uma série de novas questões a serem suscitadas: a mais conhecida delas, a denominada Revolução Cultural.  

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