sábado, 2 de junho de 2018

Resenha – Textos Diversos[1] – V. Lênin


Resenha – Textos Diversos[1] – V. Lênin



“Sou obrigado apresentar o pedido de demissão do CC, o que faço, mas reservando a mim a liberdade de agitação nas bases do partido e no Congresso do partido.

Porque estou profundamente convencido de que se “esperarmos” pelo Congresso dos Sovietes e deixarmos passar agora o momento, deixaremos a perder a revolução”. Lênin Set. 1917. 

A noção de que a política é uma interface da guerra pode ser extraída de diversas fontes[2] e definitivamente denota o legado teórico prático do dirigente da Revolução Russa Vladimir Ilich Lênin.

A passagem acima supracitada refere-se ao texto “A Crise Amadureceu” de 29 de Setembro de 1917 em momento decisivo na história em que os bolcheviques se colocam na possibilidade  imediata de tomar o poder político sob pena de perder uma única chance na história. A situação na Rússia naqueles meses era caótica com o governo republicano de Kerensnky em meio de uma intensa crise política especialmente em face da esmagadora maioria dos camponeses. A diferença aqui é que apenas os Bolcheviques apontavam a política correta para a questão camponesa que envolvia o fim imediato da Guerra, a saída do país do conflito imperialista enquanto no começo centenas e depois milhares de caixões voltavam com os filhos dos camponeses alistados mortos – e os reformistas reiteravam que o importante era a luta pelo território e não pela vida de milhares de soldados. A terra não havia sido distribuída como prometido e sob o governo revolucionário nada sequer havia sido feito para suprimir as relações de servidão no campo.

Outro dado importante é a consideração, conforme as análises de Marx, de que a insurreição é uma arte de modo que dias, semanas e meses valem anos sendo contra-revolucionárias as vacilações que puseram empecilhos à tomada do poder conquanto toda a sociedade, com os camponeses, rompiam com os mencheviques e socialistas revolucionários. Outro ponto de vista advogado por Trotsky era de que a revolução deveria esperar o Congresso dos Sovietes que teria a incumbência (ilegítima segundo Lênin) de “entregar o poder” aos bolcheviques. Por razões militares tal espera seria inviável com a perspectiva de tropas cossacas desfazerem qualquer movimentação com uma revolução fixada temporalmente. Lênin chama a posição de Trotsky de idiotice ou completa traição:

“Esperar pelo congresso dos Soviets é uma completa idiotice, pois isso significa deixar passar semanas, e as semanas e mesmo os dias agora decidem tudo. Isso significa renunciar cobardemente à tomada de poder, pois 1-2 de Novembro ela será impossível (tanto política como tecnicamente: concentrarão os cossacos para o dia da insurreição fixada estupidamente)”.

Abrir mão do elemento surpresa da insurreição quando as condições objetivas pavimentam a tomada do poder – este era o fundo do debate

Alguns desavisados ou pouco experientes acreditam ter sido Trótsky a solução de continuidade do leninismo. Nada mais falso e dado que precisa ser desmistificado com a leitura dos textos originais do próprio Lênin.

Trótsky apenas ingressou no partido bolchevique em meados de 1917 quando a rigor o movimento revolucionário russo inicia-se com o 1905-07.

E mesmo quando esteve Trótsky à frente de órgãos dirigentes como delegado da conferência de Brest-Litovsk[3]: uma acirrada crítica leninista.

Trótsky lançou mais uma de suas palavras de ordem confusa de “nem guerra, nem paz”, se opondo à orientação leninista.

“Durante as conversações com o comando alemão, Trótsky violou conscientemente as instruções de Lênin e do comitê central, recusando-se à conclusão imediata da paz, o que acarretou para a república dos soviets condições de paz ainda mais desvantajosas. “

Durante a Guerra Trótsky tem uma posição vacilante. Enquanto o internacionalismo leninista era bastante enfático quanto à luta do proletariado dos respectivos países contra a sua própria burguesia mesmo implicando na derrota militar, havia setores que buscavam conciliar o inconciliável, a luta contra a guerra e a não derrota no conflito.

É interessante que esta fórmula confusa do “nem...nem” já pode ser motivo de anedota para quem analisa as posições, especialmente diante do problema internacional, de algumas organizações trotskystas. A Política do PSTU na Síria assim se revela, contra Assad e contra supostamente o campo imperialista norte-americano mas, ainda assim, reivindicando armas do imperialismo para derrubar o governo nacionalista de um país periférico atacado pelo mesmo imperialismo. A neutralidade em política costuma ser ilusória e favorece o mais forte em litígio. 

Em contrapartida, em Lênin não há vacilações mas uma linha orientada e bem traçada pelo marxismo ortodoxo. Por ser um ortodoxo, conhecer a teoria revolucionária e ter uma atividade prática, Lênin soube prever o desenvolvimento da revolução russa no sentido da vitória.   



[1] Textos Lidos: “Carta a um Camarada” (1902); “O Começo da Revolução Russa” (1905); “Do Artigo: a Greve e a Luta de Rua em Moscou” (1905); “Os Destinos Históricos da Doutrina da Karl Marx” (1913); “Os Armamentos e o Capitalismo” (1913); “V Congresso Internacional de Luta Contra a Prostituição” (1913); “O Direito ao Divórcio” (1916); “Resolução Sobre a Guerra” (1917); “A Crise Amadureceu” (1917); “Sobre os Sindicatos, o Momento Atual e os Erros de Trótsky” (1920)
[2] Talvez a mais conhecida delas, em Maquiavel.
[3] Paz com setor imperialista da Guerra dirigido pelos alemães. A situação extremamente defensiva dos russos naquele momento pode sugerir que tal negociação equivaleria à coação mediante arma de fogo a um indivíduo desarmado e incapaz de reagir objetivamente. O indivíduo é obrigado a entregar o que tem. Esta paz vergonhosa foi revertida pela URSS posteriormente.

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