Resenha – Textos Diversos[1]
– V. Lênin
“Sou obrigado apresentar o pedido de demissão do CC, o que
faço, mas reservando a mim a liberdade de agitação nas bases do partido e no
Congresso do partido.
Porque estou profundamente convencido de que se “esperarmos”
pelo Congresso dos Sovietes e deixarmos passar agora o momento, deixaremos a
perder a revolução”. Lênin Set. 1917.
A noção de que a política é uma interface da guerra pode ser
extraída de diversas fontes[2]
e definitivamente denota o legado teórico prático do dirigente da Revolução
Russa Vladimir Ilich Lênin.
A passagem acima supracitada refere-se ao texto “A Crise
Amadureceu” de 29 de Setembro de 1917 em momento decisivo na história em que os
bolcheviques se colocam na possibilidade
imediata de tomar o poder político sob pena de perder uma única chance
na história. A situação na Rússia naqueles meses era caótica com o governo
republicano de Kerensnky em meio de uma intensa crise política especialmente em
face da esmagadora maioria dos camponeses. A diferença aqui é que apenas os
Bolcheviques apontavam a política correta para a questão camponesa que envolvia
o fim imediato da Guerra, a saída do país do conflito imperialista enquanto no
começo centenas e depois milhares de caixões voltavam com os filhos dos
camponeses alistados mortos – e os reformistas reiteravam que o importante era
a luta pelo território e não pela vida de milhares de soldados. A terra não
havia sido distribuída como prometido e sob o governo revolucionário nada
sequer havia sido feito para suprimir as relações de servidão no campo.
Outro dado importante é a consideração, conforme as análises
de Marx, de que a insurreição é uma arte de modo que dias, semanas e meses
valem anos sendo contra-revolucionárias as vacilações que puseram empecilhos à
tomada do poder conquanto toda a sociedade, com os camponeses, rompiam com os
mencheviques e socialistas revolucionários. Outro ponto de vista advogado por Trotsky
era de que a revolução deveria esperar o Congresso dos Sovietes que teria a
incumbência (ilegítima segundo Lênin) de “entregar o poder” aos bolcheviques.
Por razões militares tal espera seria inviável com a perspectiva de tropas
cossacas desfazerem qualquer movimentação com uma revolução fixada temporalmente. Lênin chama a posição de Trotsky de idiotice ou completa
traição:
“Esperar pelo congresso dos Soviets é uma completa idiotice,
pois isso significa deixar passar semanas, e as semanas e mesmo os dias agora
decidem tudo. Isso significa renunciar cobardemente à tomada de poder, pois 1-2
de Novembro ela será impossível (tanto política como tecnicamente: concentrarão
os cossacos para o dia da insurreição fixada estupidamente)”.
Abrir mão do elemento surpresa da insurreição quando as
condições objetivas pavimentam a tomada do poder – este era o fundo do debate
Alguns desavisados ou pouco experientes acreditam ter sido
Trótsky a solução de continuidade do leninismo. Nada mais falso e dado que
precisa ser desmistificado com a leitura dos textos originais do próprio Lênin.
Trótsky apenas ingressou no partido bolchevique em meados de
1917 quando a rigor o movimento revolucionário russo inicia-se com o 1905-07.
E mesmo quando esteve Trótsky à frente de órgãos dirigentes como delegado da conferência de Brest-Litovsk[3]: uma acirrada crítica leninista.
Trótsky lançou mais
uma de suas palavras de ordem confusa de “nem guerra, nem paz”, se opondo à orientação leninista.
“Durante as conversações com o comando alemão, Trótsky
violou conscientemente as instruções de Lênin e do comitê central, recusando-se
à conclusão imediata da paz, o que acarretou para a república dos soviets
condições de paz ainda mais desvantajosas. “
Durante a Guerra Trótsky tem uma posição vacilante. Enquanto
o internacionalismo leninista era bastante enfático quanto à luta do proletariado
dos respectivos países contra a sua própria burguesia mesmo implicando na
derrota militar, havia setores que buscavam conciliar o inconciliável, a luta
contra a guerra e a não derrota no conflito.
É interessante que esta fórmula confusa do “nem...nem” já
pode ser motivo de anedota para quem analisa as posições, especialmente diante
do problema internacional, de algumas organizações trotskystas. A Política do
PSTU na Síria assim se revela, contra Assad e contra supostamente o campo
imperialista norte-americano mas, ainda assim, reivindicando armas do imperialismo
para derrubar o governo nacionalista de um país periférico atacado pelo mesmo imperialismo. A neutralidade em política costuma ser ilusória e favorece o mais forte em litígio.
Em contrapartida, em Lênin não há vacilações mas uma linha
orientada e bem traçada pelo marxismo ortodoxo. Por ser um ortodoxo, conhecer a
teoria revolucionária e ter uma atividade prática, Lênin soube prever o
desenvolvimento da revolução russa no sentido da vitória.
[1]
Textos Lidos: “Carta a um Camarada” (1902); “O Começo da Revolução Russa”
(1905); “Do Artigo: a Greve e a Luta de Rua em Moscou” (1905); “Os Destinos
Históricos da Doutrina da Karl Marx” (1913); “Os Armamentos e o Capitalismo”
(1913); “V Congresso Internacional de Luta Contra a Prostituição” (1913); “O
Direito ao Divórcio” (1916); “Resolução Sobre a Guerra” (1917); “A Crise
Amadureceu” (1917); “Sobre os Sindicatos, o Momento Atual e os Erros de Trótsky”
(1920)
[2]
Talvez a mais conhecida delas, em Maquiavel.
[3]
Paz com setor imperialista da Guerra dirigido pelos alemães. A situação
extremamente defensiva dos russos naquele momento pode sugerir que tal
negociação equivaleria à coação mediante arma de fogo a um indivíduo desarmado
e incapaz de reagir objetivamente. O indivíduo é obrigado a entregar o que tem.
Esta paz vergonhosa foi revertida pela URSS posteriormente.
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