“Os Grandes Líderes – Napoleão” – Leslie McGuire
Resenha Livro 227 - “Os Grandes Líderes – Napoleão” – Leslie McGuire
– Ed. Nova Cultural
Biografia é palavra cujo prefixo “Bio” significa vida e “grafia”
remete à ideia de escrever, redigir. Trata-se portanto de livros voltados a
descrever a história de vida de indivíduos.
Podemos classificar a Biografia como uma espécie do gênero
História. E dentre as Biografias, verificamos distintas sub- espécies: há as Biografias
autorizadas, em geral realizadas em parceria com o biografado e não raro com
omissões acerca de detalhes embaraçosos ou comprometedores; há as biografias
não autorizadas, que eventualmente são publicadas quando seu protagonista ainda
está vivo, ensejando uma interessante discussão acerca da ponderação entre o
direito à intimidade e proteção à imagem e, por outro lado, à liberdade de
expressão; há as Biografias históricas stricto senso, com maior densidade
teórica e senso crítico, que não só percorre a vida do biografado mas o situa
em seu tempo, contextualiza o indivíduo na história; e há Biografias do tipo
enciclopédicas, que são mais informativas, remetendo o leitor às datas e fatos
relevantes sem um aprofundamento teórico e uma interpretação da história quanto
aos seus sentidos.
A coleção “Os Grandes Líderes” da Nova Cultural pode ser
classificada nesta última sub-espécie. Em que pese portanto a ausência de uma
análise mais profunda acerca do fenômeno da era Napoleônica, a leitura da obra
ainda se faz relevante: a rica diversidade de fontes e dados é um ponto de
partida essencial para situar um posterior estudo sobre o sentido daquele
fenômeno histórico.
Importa ressaltar que a era Napoleônica teve influência
decisiva nos rumos da história do Brasil. Durante a chamada Guerra Peninsular,
com a deposição do Rei de Espanha em 1808 por imposição de Napoleão e sua
substituição por seu Irmão José, diante do bloqueio continental imposto pelo
Imperador contra a Inglaterra e com as tropas francesas às porta das fronteiras
Portuguesas, não restou outra alternativa à coroa de Portugal que não sua fuga
ao Brasil – pela primeira vez no mundo uma colônia seria a sede de uma Coroa Europeia
e o Brasil seria elevado à condição de Reino Unido de Portugal e Algaveres. Há
no Brasil o fim do exclusivismo comercial o que na prática significa o fim do
regime colonial, a abertura dos portos às nações amigas, a criação da imprensa
Régia, a Fundação do Banco do Brasil, dentre outras mudanças significativas.
Napoleão nasceu na ilha de Córsega, situada no Mar
Mediterrâneo, equidistante da Itália e França. A ilha tem um dialeto próprio e
naquela época, apesar de sua proximidade com a Itália, pertencia à França. Sua
família é de origem pequeno burguesa – seu pai Carlo é advogado. Aos 10 anos,
Napoleão ingressa na Escola Militar de Brienne no norte da França. A sua origem
social modesta, o seu sotaque estrangeiro e sua aparência física inusitada
fizeram com que o futuro imperador encontrasse dificuldades de relacionamento
social em Brienne e posteriormente na Escola Militar Real de Paris, para onde é
transferido em outubro de 1784.
“(....) Bonaparte tinha o rosto emoldurado por longos
cabelos pretos que pareciam nunca ter sido penteados. O uniforme era-lhe grande
demais, assentando desajeitadamente em sua
figura de 1,58 m; suas botas, sem nenhum brilho, tinham os saltos gastos e
ficavam tão grandes em suas pernas magras que pareciam pertencer a outra
pessoa, e seu francês soava com um sotaque estranho”.
1789 é o ano da tomada de Bastilha, o ano um da Revolução Francesa.
Suas causas decorrem da opressão brutal sobre a qual os camponeses estavam
submetidos pela aristocracia e pelo clero, além da burguesia que, em ascensão,
não admitia ser excluída do poder. É dentro do contexto das jornadas revolucionárias
que Napoleão, formado como oficial de artilharia, irá, por etapas e numa
escalada vertiginosa, ascender ao poder.
A primeira etapa corresponde ao cerco de Toulan, quando
nosso protagonista tinha 24 anos. Tal cidade, localizada no sul da França, estava
tomada pelos contra-revolucionários monarquistas, apoiados por tropas Inglesas.
“O capitão Bonaparte começou a estudar o posicionamento de
sua artilharia, e se deu conta de que todo o cerco estava muito mal organizado.
Os canhões seriam inúteis a menos que se fizessem algumas mudanças importantes.
Ele se propôs a efetuar tais mudanças e, como ninguém mais parecia entender
tanto quanto ele de artilharia, sua proposta foi aceita”.
O cerco aos Ingleses foi exitoso e Bonaparte teve seu primeiro
reconhecimento como dirigente militar eficiente. Sua reputação seria elevada em
5 de Outubro de 1785 com uma exitosa repressão a uma insurreição realista
(monarquista) que salvou a Convenção Nacional. Desde então foi nomeado
subcomandante.
A Revolução Francesa granjeava inimigos externos em função
das possíveis repercussões do movimento contra as demais coroas europeias.
Bonaparte foi assim recrutado para a Missão Italiana cujo pano de fundo era o
combate à Áustria. As cidades italianas estavam sob domínio do Império
Austríaco e receberam as tropas de Napoleão como libertadores do jugo imperial:
“Os cidadãos de Milão receberam Napoleão jubilosos e de
braços abertos. Ele, então, esvaziou os cofres da cidade e, em seguida, marchou
em direção ao Sul. Conquistou o grande Ducado da Toscana, os ducados de Módena
e Parma, e os Estados papais de Bolonha e Ferrara. Essa intensa atividade
ocupou-o durante um mês inteiro e lhe permitiu ficar de posse de grandes
quantidades de dinheiro, alimentos, cavalos, munições e armamentos. Napoleão
também tomou posse de grandes tesouros culturais destes Estados, enviando para
a França muitas pinturas de valor incalculável e inúmeras outras obras de arte”.
Não é a nossa intenção aqui reproduzir toda a trajetória da
vida de Napoleão, mas pincelar algumas passagens e tecer algumas reflexões.
Desde a Missão Italiana, há uma solução de continuidade em
ascensão com a Missão no Egito, com o fito de combater a Inglaterra e com
importante importância cultural no sentido de descobertas arqueológicas por uma
missão especial junto às tropas francesas; o golpe do 18 de Brumário que põe
termo ao Diretório e instala o consulado, fazendo de Napoleão o 1º Consul aos
30 anos de idade; o ano de 1804 em que o Parlamento faz de Napoleão Imperador,
um título hereditário. E momentos de descenso como a invasão da Rússia e a
batalha de Borodino que custaram aos franceses centenas de milhares de Morte;
posteriormente o exílio, primeiro em Elba, durante 10 meses, e depois em Santa
Helena, onde falece no ano de 1821.
O que importa perquirir aqui é qual o sentido mais geral da
era Napoleônica? Numa boa síntese, aponta Marx:
“Napoleão criou dentro da França as condições que tornaram
possível a livre concorrência para o desenvolvimento, a redistribuição da terra
a ser explorada e a possibilidade de pôr em uso a força produtiva da nação,
recentemente liberada; fora dos limites da França, acabou com as instituições
feudais.”
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