“A Revolução Russa de 1917” – Marc Ferro
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Resenha Livro 204 – “A Revolução Russa de 1917” – Marc Ferro – Editora Perspectiva
A história não corresponde a uma mera sequência de fatos que seguem uns aos outros de forma linear, cabendo ao historiador a tarefa de fazer uma espécie de inventário das principais passagens e momentos do passado. O passado relatado como uma sequência de grandes eventos com igual valor, cabendo ao "historiador" simplesmente situá-los junto às datas, sem qualquer interpretação quanto ao sentido dos fatos, sem especular as razões pelas quais a sociedade ou a economia passa por ciclos de desenvolvimento ou retrocesso, sem identificar os conflitos das classes sociais e a forma como em cada etapa histórica foi-se organizada a produção e distribuição das riquezas não tem o condão de ser denominado "história".
O estudo da teoria da história ou da filosofia da história ou mesmo da metodologia da história oferecem os primeiros sinais de que a história se desenvolve como um processo em que as relações econômicas irão ao longo do tempo transformar a si mesmas e, concomitantemente, transformar as demais instâncias da vida social. Como bem coloca K. Marx, não é a “consciência que determina o ser social, mas antes o ser social que determina a consciência”, o que, no âmbito da história traduz-se tanto pelos vínculos entre política, sociedade e cultura associados que estão ao modo de produção historicamente determinado, à etapa histórica em que dada sociedade produz os meios necessários para sua sobrevivência; quanto pela centralidade específica das formas como as sociedades organizam sua produção, desde os modos de produção escravistas, feudal (super estrutura desde o Antigo Regime) até o modo de produção Capitalista (que cria as relações de trabalho baseadas no antagonismo capital x trabalho).
O estudo da teoria da história ou da filosofia da história ou mesmo da metodologia da história oferecem os primeiros sinais de que a história se desenvolve como um processo em que as relações econômicas irão ao longo do tempo transformar a si mesmas e, concomitantemente, transformar as demais instâncias da vida social. Como bem coloca K. Marx, não é a “consciência que determina o ser social, mas antes o ser social que determina a consciência”, o que, no âmbito da história traduz-se tanto pelos vínculos entre política, sociedade e cultura associados que estão ao modo de produção historicamente determinado, à etapa histórica em que dada sociedade produz os meios necessários para sua sobrevivência; quanto pela centralidade específica das formas como as sociedades organizam sua produção, desde os modos de produção escravistas, feudal (super estrutura desde o Antigo Regime) até o modo de produção Capitalista (que cria as relações de trabalho baseadas no antagonismo capital x trabalho).
Talvez seja nos momentos revolucionários em que fique claro tanto a dinâmica processual (não linear) da história quanto sua relação íntima com as mudanças de base da sociedade, o que, por decorrência das transformações dentre as formas de organização na forma de produção e distribuição da riqueza social, inevitavelmente terão implicações decisivas na conformação da luta de classes (conforma Marx e Engels desde o Manifesto, o motor da história).
Marc Ferro é um historiador de ofício, ligado à escola de Annales (França) e aqui oferece um guia sintético, porém seguro sobre a primeira e mais importante revolução do séc. XX.
Dizíamos que o momento revolucionário possui um conteúdo quase didático ao demonstrar o caráter processual, a dinâmica de classes e a base social voltada a diferentes modos de produção na sociedade. O que observamos lendo atentamente o livro de Ferro é que o ano de 1917 na Rússia surge como se o tempo histórico daquele país houvesse uma aceleração em que um dia daquele ano equivale-se provavelmente a uma década da Rússia estagnada da idade média. O próprio Lênin captou algo semelhante, no que tange a consciência revolucionária: “Nos períodos revolucionários, a consciência da classe trabalhadora avança 20 anos em 20 dias”. O que ocorre? A Revolução Russa em 1917 tem duas etapas concentradas num mesmo movimento: Fevereiro, com a derrubado do Czar, correspondendo à fase democrático burguesa da Revolução e Outubro, com a etapa propriamente socialista, com a tomada do poder pelos bolcheviques. Em todo este período, a revolução depara-se com o problema da Guerra, com o perigo da contra-revolução (Kornilov, forças estrangeiras operando militarmente conforme a continuidade da Guerra, outras forças contra-revolucionárias), com o levante espontâneo camponês este num sentido revolucionário: todas estas questões exigem respostas que envolvem combates dentre os partidos e um maior envolvimento de soldados, operários e camponeses na política, resultando em transformações institucionais em série na Rússia que levariam aquele país a mudanças importantes num curto espaço de tempo.
Dizíamos que o momento revolucionário possui um conteúdo quase didático ao demonstrar o caráter processual, a dinâmica de classes e a base social voltada a diferentes modos de produção na sociedade. O que observamos lendo atentamente o livro de Ferro é que o ano de 1917 na Rússia surge como se o tempo histórico daquele país houvesse uma aceleração em que um dia daquele ano equivale-se provavelmente a uma década da Rússia estagnada da idade média. O próprio Lênin captou algo semelhante, no que tange a consciência revolucionária: “Nos períodos revolucionários, a consciência da classe trabalhadora avança 20 anos em 20 dias”. O que ocorre? A Revolução Russa em 1917 tem duas etapas concentradas num mesmo movimento: Fevereiro, com a derrubado do Czar, correspondendo à fase democrático burguesa da Revolução e Outubro, com a etapa propriamente socialista, com a tomada do poder pelos bolcheviques. Em todo este período, a revolução depara-se com o problema da Guerra, com o perigo da contra-revolução (Kornilov, forças estrangeiras operando militarmente conforme a continuidade da Guerra, outras forças contra-revolucionárias), com o levante espontâneo camponês este num sentido revolucionário: todas estas questões exigem respostas que envolvem combates dentre os partidos e um maior envolvimento de soldados, operários e camponeses na política, resultando em transformações institucionais em série na Rússia que levariam aquele país a mudanças importantes num curto espaço de tempo.
Observa-se como a Revolução Russa abriu uma série de possibilidades aos distintos partidos, desde os cadetes (monarquistas constitucionalistas), passando aos socialistas (SR’s) até os Bolcheviques (Lênin).
Tratou-se de saber aproveitar as melhores oportunidades no momento certo, o que Lênin soube fazer, tendo inclusive que avançar sobre posições vacilantes dentro do seu próprio partido, no que se refere, entre outros, à data da insurreição bolchevique. Quando Lênin observa que seu partido possui a maioria dos Soviets nas duas capitais (Petrogrado e Moscou), tem notícia de que seus adversários encontram-se dispersos (mencheviques e SR’s) e olha para o campo diante do levante camponês, entende que é chegada a hora de agir, enquanto posições vacilantes como a de Kamenev entendem que se deve aguardar o Congresso dos Soviets de Toda a Rússia para dar legitimidade ao movimento – uma alternativa vacilante e uma traição, rebate Lênin, já que colocaria todo o movimento insurrecional presa fácil da repressão.
Como se sabe, por 10 a 2 venceu a posição de Lênin no Comitê Central
A pesquisa de Ferro é minuciosa ao ponto de separar os efeitos da revolução sobre diferentes camadas sociais da população russa. Além da questão camponesa, do problema dos soldados no front e da penúria dos operários nas cidades, havia a questão dos alógenos, com destaque para os ucranianos e finlandeses, que tiveram, pelos bolcheviques, direito de se auto-governar. A Revolução teria ainda como desafio a celebração da Paz, que foi concluída em Brest Litovisk.
“Quando Lenine desencadeou a insurreição de outubro, não lhe vinha à mente que a revolução se limitaria a um só país, sem que poderia ser socialista, se reduzida à Rússia. Não que ele pretendesse estendê-la à Europa inteira, pelo menos nessa ocaisão: apenas pensava que uma revolução assim circunscrita não seria viável . A tomada do poder na Rússia, o fim da guerra por uma via democrática, a revolução proletária na Europa, tais eram a seu ver os elementos de um processo inelutável, inseparável".
Assim, a 8 de novembro de 1917 (27 de Outubro) não foi a preocupação de salvaguardar os vínculos com os aliados que levou Lênin e Trotski a propor a paz a todos os beligerantes.
O oferecimento devia levar inevitavelmente a um levante do proletariado contra todos os governos que se lhe opusessem.
“Se acontecesse o menos provável", declarava Lênin "se nenhum beligerante aceitasse nem mesmo um armistício, então de nossa parte a guerra se tornaria defensiva: os russos se fariam os aliados do proletariado de todos os países dos povos oprimidos do mundo inteiro”. De qualquer modo, o governo soviético seria o inspirador e a Rússia o foco da revolução mundial.
O oferecimento devia levar inevitavelmente a um levante do proletariado contra todos os governos que se lhe opusessem.
“Se acontecesse o menos provável", declarava Lênin "se nenhum beligerante aceitasse nem mesmo um armistício, então de nossa parte a guerra se tornaria defensiva: os russos se fariam os aliados do proletariado de todos os países dos povos oprimidos do mundo inteiro”. De qualquer modo, o governo soviético seria o inspirador e a Rússia o foco da revolução mundial.
Conhecer a fundo a primeira experiência prática de uma revolução socialista na história é fundamental para situar os limites e possibilidades do que já foi construído pela tradição marxista-leninista dentro de sua experiência histórica. Outra questão a se destacar aqui é o universo, certamente conflitante, de versões daquela experiência histórica, o que deve certamente dar motivo de confiança política àqueles que reivindicam um pouco daquela tradição já que muitos foram aqueles que detrataram e caluniaram a revolução russa bolchevique, sob os mais diferentes pretextos. Livros de historiadores de “ofício” como Marc Ferro, amplamente documentados e voltados ao debate historiográficos não são exatamente neutros (expediente impossível e mesmo indesejável), mas bem vindos para dar esclarecimentos e aprofundar as análises.
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