Resenha
Livro # 73 “V. I. Lênin – Pequena Biografia” – Cadernos de Iniciação Ao Marxismo
Leninismo - Edições Avante! Nº14
Esta pequena síntese
da vida, da produção intelectual e da atividade política de Lênin foi preparado
pela “Edições Avante!”. Trata-se de editora ligada ao PCP, Partido Comunista
Português.
Por suposto, a
análise desta e de qualquer obra referente à vida do dirigente da Revolução Russa
de 1917 deve partir de um olhar crítico. Como se sabe, não existe neutralidade
quando lidamos com os distintos ramos de conhecimento das ciências humanas. O
olhar crítico ou a crítica radical (que vai até a raiz das questões analisadas)
encontra nos pressupostos teórico-metodológicos do marxismo o seu melhor ponto
de apoio. No caso concreto, uma análise crítica da obra acerca do controvertido
e muitas vezes mal compreendido Lênin deve ter como ponto de partida a posição
prática das distintas vozes narrativas no âmbito da Luta de Classes.
Assim, como pudemos
estudar na análise da obra “Marxismo no Ocidente”, escrita nos anos 1960,
durante a fase de maior tensão entre as duas potências (URSS e EUA) na Guerra
Fria, aquele livro redigido por distintos expoentes acadêmicos do mundo
capitalista só podia partir de grosseiras falsificações, sendo muito fácil
observar a intenção permanente de desmoralizar a principal liderança do
movimento comunista mundial depois de Marx e Engels. Naquela obra, Lênin é
pintado como um homem “maníaco” – um “obsessivo”, um louco, autoritário,
grosseiro nos tratos pessoais, indiferente aos conselhos de seus companheiros
de partido e, pior, dos operários e camponeses. Já neste trabalho da Edição
Avante! é possível encontrar uma versão um pouco mais verossímil da figura de
Lênin – afinal, fica muito difícil de acreditar como um “maníaco-obsessivo”
granjou o respeito, admiração e carinho de enormes massas proletárias e
camponesas, sinalizada, por exemplo, nos momentos em que teve graves problemas
de saúde (após tomar 3 tiros com balas envenenadas por uma agente da reação) ou
mesmo após sua morte, em 1924, quando todo o país comoveu-se e peregrinações
vieram de todo canto a Moscou vê-lo. Aliás, o Mausoléu do Lênin continua até os
dias de hoje disponível para visitas gratuitas, na Praça Vermelha. Mesmo após a
brutal restauração capitalista daquele país, ainda hoje ainda é possível ver
nos metrôs de Moscou e nas ruas de São Petersburgo monumentos e referências a
V. I. E como se diz ainda hoje, “Lênin viveu, Lênin
vive, Lênin viverá”.
Infância e juventude
V. I Uliánov (Lênin)
nasceu em 1870 numa pequena cidade camponesa às margens do rio Volga. Seu pai,
Ilia Nikoláevitch, veio de uma pobre família camponesa, mas com grande esforço
conseguiu alcançar e concluir os estudos secundários e superiores e tornou-se
professor e educador geral de Simbisrk e outras pequenas cidades, onde abria e
ajudava a organizar novos estabelecimentos de ensino, atuando como diretor. A
vida no campo correspondeu a uma fase de aprendizagem para Lênin, aprendizado
que levaria para o resto da vida. Após a conclusão do curso de Direito, pôde
atuar junto aos trabalhadores pobres do campo, orientando-os e aprendendo sobre
as suas condições de vida. Este aspecto da vida de Lênin é importante, pois
teria desdobramentos importantes na luta revolucionária e posteriormente na
consolidação do Socialismo. Ao contrário de León Trótsky, que nunca foi capaz
de entender completamente as especificidades da luta de classes na Rússia,
Lênin sempre soube que uma revolução socialista num país como a Rússia czarista
(de industrialização recente, ainda que em ritmo acelerado) só poderia triunfar
com o apoio das massas de camponeses pobres. Tróstky, caracterizado pelo
próprio Lênin em sua carta testamento como um militante bruocrático apenas
voltado ao trabalho meramente administrativo, não soube entender a importância
do campesinato para a revolução. E de fato foi a aliança efetiva entre o
proletariado urbano os camponeses pobres a força social e imbatível que
derrotou a contra-revolução, apoiada com tropas e armas por diversas potências ocidentais,
como Estados Unidos da América, França, Inglaterra, entre outros. Após a
vitória da Revolução de Outubro, os camponeses seriam novamente requisitados,
desta vez para garantir os mantimentos nos fronts da guerra revolucionária e na
cidade, sendo, até a NEP, necessárias expedições de bolcheviques da cidade ao
campo para, pela força das armas, garantir a distribuição do trigo, frente aos
especuladores.
O chefe da Revolução
de Outubro
Algo interessante
desta obra da editora Avante! é a preocupação em relacionar a história e
trajetória de Lênin com sua respectiva evolução intelectual. Cada uma das
principais obras de Lênin, da polêmica com os “Amigos do Povo” (1884), aos
pronunciamentos junto aos congressos do Partido Comunista Russo após a
consolidação da vitória pelos bolcheviques (1919-1924), sua produção
intelectual vai sendo confrontada com as exigências de cada conjuntura
histórica.
Após o triunfo da
etapa burguesa da revolução em Fevereiro, Lênin, que estava no exílio na
Finlândia, se organiza para voltar à Rússia e dirigir pessoalmente a revolução
socialista. E, a despeito da vacilação de alguns, mesmo no interior do partido
bolchevique, a palavra de ordem colocada por Lênin era “todo poder aos soviets”,
contra o governo provisório burguês. Viu antes de muitos a possibilidade do
triunfo da revolução socialista e lançava-se inteiramente na luta política,
contra a vacilação e insegurança de certos setores do partido, no sentido dos
revolucionários prepararem-se o quanto antes para a insurreição: dizia que
naquela conjuntura revolucionária não havia tempo para meias palavras e por
isso combatia com todas as suas forças os setores vacilantes. Após o assalto ao
poder em Outubro de 1917, viria a guerra civil e a dura fase do Comunismo de
Guerra. A luta revolucionária só viria a ser concluída em 1919, com a vitória final
das massas trabalhadoras e camponesas contra a reação, burguesia e o
imperialismo.
Sínteses
Logo no início de sua
obra “O Esquerdismo, a Doença Infantil do Comunismo”, Lênin começa dissertando
como, apesar de certas particularidades, a experiência da revolução russa
oferecia ensinamentos universais, aplicáveis, portanto, aos demais países. A
revolução estourou não, conforme previam Marx e Engels, nos países centro do
capitalismo, mas na sua periferia, em um de seus elos mais fracos. Este fato
inusitado por explicável, acima de tudo, lançava luz aos revolucionários dos
demais países, especialmente frente à capitulação da II Internacional à Guerra Imperialista.
Nesse sentido, é impossível compreender as lições de Outubro sem se ater às
intervenções de Lênin – foi ele quem dirigiu o partido, desde as fases de luta
contra o tzarismo até após o triunfo e consolidação da revolução. E este
caderno da Edições Avante! pode ser um bom ponto de partida para um estudo
sistematizada da vida e do legado intelectual de V. Ilich Lênin.
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