segunda-feira, 12 de março de 2012

Estudos Economia Política #3

PINASSI, Maria Orlanda. “A ideologia da crise e o surto incontrolável da irrazão”. – Profª de Sociologia da UNESP – ARARAQUARA




Seguem alguns destaques do artigo de Maria Orlanda Pinasse e algumas reflexões pessoais

1- A burguesia vive uma crise ideológica desde a sua conformação como classe dominante, uma vez que ela é incapaz, por si só, de garantir de forma substantiva a liberdade e a igualdade – estas só existem formalmente ou estão apenas no plano teórico.

2- O ápice do desenvolvimento civilizatório do regime burguês data dos anos 1960: desde então, o capitalismo passa, segunda a teoria da qual a profª reivindica, por uma crise insolúvel: o capitalismo é “irreformável”.

3- Alguns desdobramentos práticos da crise civilizatória do capitalismo: desemprego, retirada de direitos trabalhistas. Dados da FAO (ONU): No Brasil, segunda a FAO, existem 14 milhões de famintos. (Precisa ver a data desta pesquisa!).

4- A tragédia ideológica dos apologistas do capital implica na disseminação da noção do “fim” da história, “fim” do trabalho, “fim” da luta de classes, etc. Ademais, a autora cita o discurso da “naturalização” da competição e de outras práticas associadas à sociedade capitalista, fazendo-nos crer, por exemplo, que a competitividade seria algo inato ao ser humano. (Aspecto negativo da ideologia dominante – mascarar as relações sociais históricas como relação essenciais ao ser humano)

5- Lukács defende a tese do irracionalismo generalizado como modelo a ser seguido. O irracionalismo é fruto de uma apropriação histórica da filosofia idealista alemã e pode ser verificado em termos práticos na política dos eua no pós-guerra. O imperialismo norte-americano do Pós-guerra, segundo Lukács, rejeita menos a imoralidade das mortes e assassinatos promovidos pelo nazi-fascismo e mais a forma como se conformou o imperialismo alemão naquele contexto histórico.

6- Existia nos anos 1920 nos EUA um alinhamento político entre a Ku Klux Klan e círculos de extrema direita nos EUA. Já nesse sentido, passa a ser um engodo a tese de que houvesse uma oposição entre a “democracia” norte-americana e a experiência nazi-fascista. “Portanto, para Losurdo, os termos liberdade e democracia, há muito tempo, carregam a insígnia da segregação sócio -racial e da dominação por meios explicitamente violentos, motivos pelos quais perderam, nos limites da perspectiva do capital, as prerrogativas de sua razão histórica”.

7- A autora traça um paralelo entre as práticas de extermínio dos Judeus na II Guerra (Progroms), e os extermínios do estado de israel, as “guerras cirúrgicas de combate ao narco-tráfico”, ou o extermínio de negros e pobres nas periferias do Brasil.

8- Há uma nota de rodapé em que a autora lembra que o aumento do efetivo policial nas periferias coincide com o aumento de ongs que realizam “serviço social” nas comunidades.

9- Dados do Brasil de mortes relacionadas à repressão policial: 1996 – 19 trabalhadores sem-terra mortos Eldorado dos Carajás (Pará); 111 assassinados no Carandiru em 1992; 446 mortos em ações policiais em represália aos ataques do PCC (que vitimaram por sua vez 47 pessoas).

10- Pogrom – massacres com o consentimento e apoio da população. Se consideramos todas as mortes legitimadas pelo discurso dominante (exterminar os terroristas; exterminar o tráfico de drogas; exterminar os “bárbaros” do MST), é fácil perceber como os pogroms do nazi-fascismo estão presente no âmbito do capitalismo e das democracias liberais.

11- Há o predomínio, inclusive no meio acadêmico, da “ilusão jurídica”, que atribui ao melhoramento do estado a possibilidade de restaurar a ordem.

12- O embate entre fascismo e democracia liberal tem como pano de fundo diferentes concepções políticas para se lidar com as crises cíclicas do capitalismo. As saídas keynesianas mostraram-se as mais eficazes.

13- Do ponto de vista da resistência do mundo e suas respectivas organizações políticas, a autora chama atenção para os movimentos sociais, organizações que estão propondo novas formas de se organizar – piqueteros na argentina, zapatistas no méximo, sem terras e sem tetos no Brasil.

Sínteses: É necessário demonstrar como a conformação histórica das instituições políticas, sob o capitalismo, não podem ser "naturalizadas". Por serem justamente o resultado de determinado processo histórico, as noções de igualdade e liberdade e as instituições parlamentares e do judiciário são muitas vezes apresentadas como a “única forma possível de se organizar a sociedade”, desconsiderando modos alternativos de se organizar a economia e a política.

Esta "naturalização" tem a ver com o próprio impasse ou “crise ideológica” da burguesia que, desde quando se conformou como classe dominante, não é mais capaz de levar até as últimas consequências as palavras-de-ordem correspondentes ao período em que a Burguesia fora uma classe revolucionária. Há um debate interessante proposto pela professora no sentido de entender o nazi-fascismo não como a manifestação isolada de um regime político particular de meados do séc. XX, mas como uma resposta dada em determinada conjuntura às crises cíclicas do capital: nesse sentido, o nazi-fascismo é também uma faceta do capitalismo, ou, mais precisamente, do capitalismo em tempos de crise. Entretanto, a alternativa keynesiana, associada ao modelo liberal-democrático, mostrou-se mais eficiente para lidar com as crises. Isso não significa que o nazi-fascismo ainda não seja uma forma possível que as distintas frações da burguesia possam optar como meio de sanar ou atenuar as contradições do capitalismo.

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