sábado, 16 de março de 2013

"A Era do Capital" Eric J. Hobsbawm




Resenha Livro # 54 “A Era do Capital” – Eric J. Hobsbawm - Ed. Paz e Terra 

No dia 1º de outubro de 2012, faleceu o historiador marxista britânico Eric J. Hobsbawm. A ampla repercussão midiática da morte revela a importância da produção historiográfica do autor. O fato de Hobsbawm ser certamente conhecido para além do meio acadêmico o diferencia da historiografia tradicional. De fato, os seus livros não foram e não são lidos exclusivamente por historiadores (profissionais e acadêmicos). Sua produção, no campo de história, foi amplamente recepcionada por interessados em aprender algo sobre a história dos últimos três séculos, sobre a história do Jazz ou sobre a gênese do movimento operário e seu desenvolvimento ao longo do século XX. Talvez, o seu livro mais lido e mais lembrado é “A Era dos Extremos”, voltado à análise do século XX. Tratar-se-ia do curto e intenso século que vai de 1914 (primeira Guerra Mundial) até 1991(desmoronamento da URSS).

As Eras de Hobsbawm dão conta de todo um período que vai da derrocada dos Estados Absolutistas e da afirmação da burguesia como nova classe dominante, passando do momento “revolucionário” das burguesias (Era das Revoluções 1979 - 1884) e, no plano econômico, a importante Revolução Industrial que redesenha a conformação do capitalismo, superando sua fase comercial, em direção a sua etapa industrial.  Posteriormente temos a Era do Capital (1884 – 1875), marcado pela consolidação da hegemonia burguesa e sua ressignificação, de uma classe revolucionária sob o signo da Revolução Francesa, a uma classe reacionária, particularmente frente ao desenvolvimento do movimento operário que passaria ao questionamento das bases da sociedade do capital – o massacre da burguesia parisiense aos operários da Comuna de Paris ocorre neste período.

Os trabalhos do historiador prosseguem com a Era dos Impérios (1975 – 1914), descrevendo a fase que Lênin defini como o momento imperialista do capitalismo, que passa cada vez mais a se conformar em grandes monopólios que se serviam da ajuda do estado para explorar novos mercados e dominar desde os principais centros de poder do capital continentes inteiros, destacando-se a partilha da África.

Tivemos acesso à segunda das “Eras” analisadas por Hobsbawm, a Era do Capital – 1848-1875.

O marco inicial, o ponto de partido é certamente mais fácil de se identificar. Trata-se do ano conhecido como Primavera dos Povos, correspondente a uma série de revoluções na Europa que questionavam autocracias que perduravam, apesar do desenvolvimento e fortalecimento de movimentos nacionalistas, liberais e democráticos. Já o marco final do livro (1975)não é facilmente identificável, correspondendo, segundo Hobsbawm, ao encerramento de  ciclo de expansão mais ou menos permanente da economia capitalista para, a partir da década de 1870, o sistema entrar novamente em declínio.

De qualquer forma, a obra de Hobsbawm não se situa nos marcos de certa historiografia de matriz positivista cuja principal preocupação são exclusivamente os grandes eventos políticos de determinada era, tendo como fonte específica documentos e relatórios oficiais, tratando, portanto, de uma história dos grandes eventos meramente descritiva, sem esforços de interpretação e, mais importante, sem esforço de busca de sentidos para os diversos eventos históricos. Certamente, muita coisa ocorreu no mundo entre 1848-1875, destacando-se a conquista do oeste norte-americano, a guerra civil dos EUA que pôs fim à escravidão naquele país, a extinção do tráfico negreiro e a abolição da escravidão na maior porção das antigas ex-colônias latino-americanas (exceções feitas a Cuba e Brasil que aboliram a escravidão após 1875). 

Foi também o momento da abertura efetiva do Japão ao ocidente e a assimilação do capitalismo concorrencial por uma cultura até então extremamente fechada e com fortes valores culturais equiparáveis ao feudalismo. Foi o momento do desenvolvimento das primeiras organizações dos trabalhadores, datando-se 1871 como o ano da Comuna de Paris, primeira experiência de poder operário-popular, um governo sem a burguesia, apoiado em medidas de cunho igualitarista e que foi esmagado pela reação da classe dominante francesa pouco mais de dois meses após o seu início. Como se vê por todo mundo diversas “grandes eventos”,  eventos de importância local, regional ou mesmo mundial ocorriam durante aqueles anos, fazendo como que o autor, a partir da descrição dos fatos históricos, busque encadeá-los e encontrar um certo sentido pelo qual o mundo transformava-se sob a era do Capital, sem se restringir a uma história descritiva ou de tipo jornalística.

Este sentido mais geral da obra está bastante contemplado no título da obra.

Certamente, aqueles anos foram os anos de hegemonia na crença no liberalismo e na racionalidade do capitalismo: ainda que fosse o período que Marx escrevesse seu Manifesto Comunista e organizações embrionárias de trabalhadores aportassem no sentido de criticar a sociedade capitalista e propor alternativas (Ex. socialistas, proudhonistas ou anarquistas), há de se constatar que estes movimentos eram minoritários. Marx em vida não teve mais repercussão e não foi mais lido do que Hebert Spencer e seu racista darwinismo social. Havia, então, a crença em certa naturalização do capitalismo, talvez parecida com a ideologia pós-moderna de “Fim da História” de Francis Fukuyama, como se as relações de produção dominante fossem erigidas a um nível existencial para a justificativa: dentro do jogo livre e igual do mercado, os mais capazes sobrevivem, os mais fracos perecem e assim que deve ser. A vida imitava a economia e a economia imitava a vida.

Com a revolução industrial, o desenvolvimento das estradas de ferro e o aprimoramento da exploração do ferro e do aço na indústria, o capitalismo passava por uma fase de expansão. Novos aportes de investimentos eram levados aos EUA, promovendo um incremento significativo de imigração do velho continente para o Novo Mundo. A promessa do enriquecimento rápido por meio da exploração de jazidas de ouro fizeram muitos aventurarem-se no oeste americano, desbravando e dominando terras em locais sem lei, cuja forma de poder se podia comparar, com seus devidos ajustes, ao coronelismo brasileiro. Em sentido análogo, a expansão da indústria e especificamente das estradas de ferro (verdadeiros símbolos da era do capital) revolucionaram as possibilidades de comunicação, propiciando a troca de correspondência a lugares inacessíveis, reduzindo significativamente os tempos de viagem e o aumentando o turismo, este último apenas disponível às classes mais abastadas, por suposto. Do ponto de vista das ciências, aquele foi um momento de grande desenvolvimento da química, especificamente da química orgânica, por meio do alemão August Kekulé. A física também avançava, superando as bases tradicionais da física newtoniana – que seria, como se sabe, novamente revolucionada com a teoria quântica de meados do século XX. De maneira geral o desenvolvimento da ciência acompanhava a evolução industrial e as descobertas do período são narradas por Hobsbawm dentro deste sentido comum da história, qual seja a era da expansão do capital.

Entretanto, mesmo intuitivamente, é fácil anotar como praticamente nada evolui de forma permanente e infinita, e certamente este não seria o caso do capitalismo (completamente eivado de contradições quanto à sociedade que ele engendra) que seria uma exceção. Entretanto, as turbulências que o desenvolvimento do capitalismo levariam o mundo – do neocolonialismo do final do século XIX às 2 Guerras Mundiais – serão objetos de análises nas demais “eras” de Hobsbawm, a Era dos Impérios e a Era dos Extremos.

Em certa passagem do prefácio do livro, o historiador britânico confessa que o período que passará a abordar não lhe agrada. Como marxista, ele certamente encontra, na análise crítica, boa dose de hipocrisia nos valores daquela burguesia profundamente otimista quanto a sua suposta capacidade de liderar o progresso, além do profundo eurocentrismo e do gritante etnocentrismo na cultura produzida pela Era do Capital. Mesmo desgostoso quanto ao tema estudado, a “Era do Capital” é magnificamente escrita e sem dúvida uma tremenda contribuição para aqueles que querem entender as origens da formação das ideias burguesas e suas bases materiais e idológicas de então, da revolução industrial, do nacionalismo, do liberalismo e da democracia.  

domingo, 24 de fevereiro de 2013

"A Guerra Civil Na França" - Karl Marx


Resenha Livro #53 “A Guerra Civil na França” – Karl Marx

 

A Comuna de Paris foi a primeira experiência na história de um governo operário, sob bases econômicas cooperativistas, sob os signos do igualitarismo e do laicismo. Durou 72 dias: o governo operário na capital francesa vai de 26 de março até 28 de maio de 1871. Desde a 1ª Intenacional (Associação Internacional dos Trabalhadores), Marx atua em prol da Comuna de Paris, objeto das maiores calúnias pelos jornalões burgueses europeus.

“Que é a Comuna, essa esfinge tão atordoante para o espírito burguês”?, pergunta-se Marx em 1871, quando redige o folheto “Guerra Civil na França”. O documento esclarece o leitor acerca dos acontecimentos de Paris sob um ponto de vista não burguês, elucidando a luta de classes que perpassa a guerra franco-prussiana e tem como principal vítima o proletariado francês.

Thieres, líder dos capituladores instalados em Versalhes, estabelece uma paz com a Prússia cujos termos envolviam o esmagamento da Comuna de Paris. Os traidores da republica social parisiense abandonaram estrategicamente canhões e armas que serian utilizados pelas forças armadas prussianas para atacar a Comuna. Por suposto aquela “esfinge” já era motivo de temor por toda burguesia europeia e a capitulação francesa envolvia e perpassava pelo massacre daquela experiência, denunciando o caráter classista daquela luta.

A guerra franco-prussiana inicia-se em 1870: claramente, a França subestimava de início o poderio militar prussiano. Na verdade as hostilidades entre franceses e alemães remetem às guerras napoleônicas, cujo final foi o exílio de Napoleão em Elba e a vitória da Santa Aliança, da reação monárquica sobre a República. Após a ascensão de Napoleão III (sobrinho de Napoleão I), por meio de um golpe de Estado, a França consolidaria o Segundo Império, cuja vida seria breve e se encerraria com a derrota dos franceses na guerra franco-prussiana.

A capitulação oficial de Paris foi conduzida por Thiers em fevereiro de 1971. Entretanto, a população de Paris recusou-se a depor as armas. Havia diferenças políticas entre a capital e as províncias. Durante a guerra, as províncias francesas elegeram para a Assembleia Nacional Francesa deputados monarquistas (os “Rurais”), bancada  francamente favorável à capitulação ante a Prússia. A população de Paris, no entanto, opunha-se a essa política. Marx lembra que as províncias sofriam com a desinformação provocada pela burguesia francesa, que impedia qualquer forma de comunicação entre as províncias e a Comuna, além de todas as mentiras reinteradas a respeito a república social de paris. Louis Thiers, político experiente, sistematicamente ironizado por Marx, foi elevado à chefia do gabinete conservador com a queda do Segundo Império. Tentou esmagar os insurretos parisienses. Estes, porém, com o apoio da Guarda Nacional e de combatentes que se recusavam a atirar em crianças e mulheres, derrotaram as forças legalistas, obrigando os membros do governo a abandonar Paris e dirigir sua política desde Versalhes. Segundo Marx, toda a escória da sociedade parisiense, ou seja, sua parcela improdutiva, fugiu junto com a burguesia. A partir da medida socialista de eliminação das forças armas e da polícia, e a constituição do povo em armas, Marx comenta a redução total da criminalidade em Paris.

Enquanto a Comuna resistia, Thiers foi buscar auxílio junto à Prússia para esmagá-la. Publicamente, o astuto político dizia não ceder um palmo de terra francesa aos alemães. Entretanto, seus termos de rendição envolveram a entrega de Alsácia e Lorena à Prússia. Além disso,  a França foi obrigada a pagar uma indenização de guerra de cinco bilhões de francos de ouro. A Prússia, de outro lado, garantiu que fossem libertados 100 mil prisioneiros de guerra franceses, os quais foram admitidos para reprimir a Comuna.

Depois de pouco mais de dois meses de lutas, a Comuna foi esmagada pelas tropas da reação.

A Comuna de Paris nos legou a bandeira vermelha do igualitarismo e a canção da Internacional. Legou-nos igualmente uma série de medidas que nos fazem crer ser aquela experiência, algo à frente de seu tempo. Limitou por exemplo o salário máximo de cada mandatário a valor correspondente ao salário de um trabalhador; eliminou o trabalho noturno, legalizou os sindicatos, instituiu a igualdade de sexos, tornou eletivo o cargo de juiz, incorporou o internacionalismo não só no discurso, mas na prática, com a participação de estrangeiros nos órgãos de funcionamento da comuna. Separou a religião do estado e eliminou o ensino religioso. Todas estas mudanças introduzidas pelo governo operário não poderiam subsistir a um cerco de centenas de milhares de homens armados amplamente pelas principais potencias europeias. Ainda assim, em meio a fome e a todas as dificuldades, a Comuna subsistiu brava e heroicamente por 72 dias todas as atrocidades da reação.

Marx não detalha o número de mortos, mas ilustra em diversas passagens a forma bárbara como a reação esmagou a Comuna. Estima-se que 80.000 pessoas foram mortas pelas tropas da burguesia franco-prussiana, das quais 20.000 foram executadas, sumariamente. Fala-se que só interrompeu-se o banho de sangue quando se constatou que o enorme número de cadáveres disseminaria doenças na cidade. Das 40.000 pessoas presas, uma parcela foi levada à Ilha da Nova Caledônia, onde, ainda hoje, é possível ver as marcas deixadas pelos comunards. Presos numa ilha perdida num lugar esquecido do mundo, as marcas dizem “Viva a Comuna”. Mais de um século passou-se e a luta da Comuna por uma sociedade igualitarista permanece tão viva quanto as marcas das prisões da Nova Caledônia.   

sábado, 16 de fevereiro de 2013

"As Origens do Fascismo" - José Carlos Mariátegui


Resenha # 51 - “As Origens do Fascismo” – José Carlos Mariátegui – Luiz Bernardo Pericás

 

Sobre o autor

José Carlos Mariátegui foi um jornalista e ativista marxista peruano. Filho de mãe índia e de pai branco funcionário público, começou a trabalhar ainda jovem, em 1909, como ajudante e entregador do periódico La Prensa. Pouco tempo depois, começou a escrever os seus próprios artigos. Já próximo de ideias socialistas, funda em 1919 o Jornal La Razón, que toma partido em favor dos operários peruanos em sua luta pela redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e em favor dos estudantes da Universidade de San Marcos e de sua luta por uma Reforma Universitária no país.

Naqueles anos, a conjuntura política do Peru estava marcada por crise que criaria condições para uma reviravolta na vida de Mariátegui. Augusto Leguía toma o poder por meio de um golpe de estado e instaura uma ditadura naquele país, fazendo como que o La Razón colocasse-se no campo de oposição política. Com o risco de ser preso, é oferecida ao jovem periodista a possibilidade de ir viver na Europa para trabalhar como “agente de propaganda” do governo – este convite do governo foi aceito por Mariátegui mesmo com as críticas de opositores mais radicais que viam ali uma capitulação. O fato é que nos três anos e quatro meses em que viveu no Velho Continente, Mariátegui teve oportunidade de observar de perto as rápidas transformações sociais por que passava a Europa do contexto histórico posterior à 1ª Guerra Mundial, além de ter tido contato com novas ideias, culturas e movimentos artísticos (dedicando um escrito particular sobre o Futurismo e a política).

Participou em 1921 do Congresso do Partido Socialista Italiano. Conheceu intelectuais, artistas e ativistas políticos que passariam a influenciar o seu pensamento: em particular Georges Sorel. (Marxista heterodoxo, influenciado por Proudhon, Sorel foi teórico francês da linha do sindicalismo revolucionário, muito popular na Itália dentro da Confederação Geral do Trabalho). E, em menor medida, seria influenciado por Antônio Gramsci. (Não se sabe ao certo se Mariátegui chegou a conhecer pessoalmente o revolucionário italiano que iria depois dirigir a ala revolucionária do Partido Socialista Italiano que se converteria no Partido Comunista Italiano. De qualquer forma, Mariátegui se refere ao movimento fascista e sua inserção na legalidade como um “transformismo”, fazendo menção portanto a uma categoria de análise gramsciana).

Sobre a obra

Talvez o título “As Origens do Fascismo” não represente muito fielmente o conteúdo da obra organizada pelo professor Luiz Berdardo Pericás. O livro representa uma coletânea de artigos e ensaios jornalísticos, escritos na Itália e publicados em órgãos da imprensa Peruana: El Tiempo, La escena contemporânea, Variedades, etc. Os textos versam principalmente sobre a conjuntura política da Itália entre 1919 e 1923 – por tal intervalo de tempo coincidir com a gestação do fascismo, sua tomada do poder em 28 de Outubro de 1921, sua consolidação no poder e sua “crise” com o assassinato do deputado socialista Matteotti pelos camisas negras, por estas razões explica-se as “Origens” do título da obra. Por outro lado, os assuntos tratados pelos artigos não versam apenas sobre o problema do fascismo. Mariátegui demonstra ter uma sensibilidade incomum ao abordar temas como o futurismo, as características do Partido Socialista Italiano ou ao traçar rápidas descrições de personagens políticos importantes, como os liberais Giolitti primeiro ministro italiano antes da tomada do poder político pelos fascistas e Francesco Saverio Nitti, primeiro ministro da Itália entre 1919 e 1920. A sensibilidade é perceptível no texto a partir da capacidade de Mariátegui de destacar detalhes dos movimentos políticos e das principais forças políticas da Itália, eventualmente não percebidos pelo senso comum, e por ser capaz de traçar um belo raio x do ascenço fascista desde suas origens – capacidade ímpar para um estrangeiro há pouco tempo instalado no país. Mariátegui parece conhecer bem os principais fatos políticos e os seus respectivos personagens, o que provavelmente só foi possível por meio de sua curiosidade jornalística e de contatos pessoais.

A conjuntura política italiana daquele momento era explosiva. A Itália participara da 1ª Guerra Mundia, sem contudo obter as vantagens materiais das demais potências vencedora. A divisão política do país entre apoiadores ou não da entrada na guerra teria implicações posteriores: Mussolini, por exemplo, que inicialmente foi um militante da esquerda do Partido Socialista Italiano, rompe justamente com partido por defender enfaticamente a entrada da Itália na Guerra. De outro modo, a política internacional do pós-guerra também dividia as forças políticas de Itália, incluindo as distintas frações burguesas. Um setor da burguesia moderado, liderado por Giolliti defendia uma política colaboralcionista, que se colocasse pela paz naquele contexto histórico, participando de forma colaborativa com os demais países.

O deputado Gabriele d'Annunzio, precursor e fonte de influência sobre a ideologia fascista, liderou um exército de 2000 voluntários e tomou a cidade de Fiume. Fundou-se um movimento d’annunziano, cuja perspectiva era a da expansão das fronteiras itálicas. Em contraponto aos colaboracionistas, os fasci defendiam uma política externa claramente imperialista e exigiam tratados internacionais que colocassem a Itália numa melhor posição, após a primeira guerra mundial. Numa conjuntura de crise, guerras e revoluções, a orientação burguesa colaboracionista tinha apelo muito menor do que a demogogia e o chauvinismo fascista.

Sobre o Fascismo

Para Mariátegui o Fascismo não pode ser considerado um conjunto teórico de ideias sistematizadas, tal qual o marxismo ou o liberalismo. Via, em primeiro lugar, o fascismo como um movimento do tipo miliciano e militar, um movimento contra-revolucionário cujo propósito seria o de salvaguardar o país da ameação da revolução operária. (Nesse sentido, Mariátegui chama atenção para a total capitulação da burguesia italiana ao fascismo, encarando-o como uma ofensiva preventiva contra a revolução proletária). Ademais, o fascismo seria a continuação do  d’annunzionismo, ainda que o d’annunzismo não fosse fascista. Mussolini imitou de D’Annunzio: o modo de governo em Fiume, a economia do estado corporativo, emotivos rituais nacionalistas, a saudação romana, seguidores devotados com camisas negras, respostas brutais e uma forte repressão contra a dissidência.

Segundo Mariátegui, “o fascismo podia vencer na guerra; não podia vencer na paz. O fascismo não é um partido; é um exército. É um exército contra-revolucionário, mobilizado contra a revolução proletária num instante de febre e belicosidade, pelos diversos grupos e classes conservadoras. O fascismo é, por conseguinte, um instrumento de guerra.”.

Quanto à violência, Mariátegui descreve a ação de grupos milicianos de camisas negras que, portando porretes, invidiam e destruiam cooperativas de trabalho, jornais socialistas, sindicatos e comunas dirigidas por socialistas. Benedito Crocce – importante filósofo da história e opositor do fascismo  – teve sua biblioteca destruída pelos fascistas. Mas foi como o assassinato do deputado socialista Giacomo Matteotti que o fascismo entraria em crise. Setores burgueses, que antes viam naquele movimento um obstáculo para o ascenço operário, passam a retirar o seu apoio ao governo do Partido Nacional Fascista. A opinião pública exige esclarecimento e a punição dos assassinos e os “métodos” do fascismo passam a ser questionados por setores que até então apoiavam ou não combatiam os fasci. Neste momento, pode ser que Mariátegui tenha subestimado a capacidade do fascismo de se manter no poder, o que ocorreria até o final da 2ª Guerra Mundia, quando Mussolini foi executado pela população.

Mariátegui via naquela “crise”, indício de que o fascismo não perduraria no tempo sem que houvesse algum tipo de “normalização institucional”, de forma a trazer de volta o apoio da burguesia constitucional e liberal. Haveria assim uma pressão pela legalização daquele movimento que nasceu operando por meio de práticas ilegais e violentas. Naquela conjuntura histórica Mariátegui não teve tempo de ver ascender o nazismo na Alemanha, o que corroboraria para o fortalecimento e permanência do fascismo no poder. De outra monta, Mariátegui negligenciou a capacidade de mobilização do fascismo, por meio de seus mitos, do seu nacionalismo exacerbado, da sua retórica, do seu anti-internacionalismo e anti-comunismo, da sua pregação a uma volta ao passado do Império Romano, reivindicando um caráter de potência imperialista à itália. Ainda que faltasse substância teórica aquele movimento, ainda que o fascismo não tivesse uma delimitação de classe, abrangendo operários, predominantemente a pequeno burguesia e frações dos grandes capitalistas, o mesmo foi capaz de sobreviver por mais tempo do que Mariátegui previa. Entretanto, tal como Walter Benjamim, Mariátegui conseguiu perceber um traço marcante do fascismo: este é o resultado de uma revolução derrotada. Aqui, há uma conclusão simples e atual: o fascimo é a reação absoluta ao ascenço operário. Derrotado este, vitorioso aquele.  

Mariátegui subestima o fascismo? Perspectivas do fascismo segundo Mariátegui (1924)

“A ditadura fascista, consequentemente, terá uma fisionomia menos carcteristicamente fascista a cada dia. Sustentada pela sólida maioria parlamentar que ganhou nas últimas eleições, adquirá um perfil análogo ao de outras ditaduras desta Itália da Unidade e da dinastia de Saboya. Crispi, Pelloux, o próprio Giolitti governaram a itália ditatorialmente. Suas ditaduras estiveram desprovidas de todo gesto demagógico e se conformaram com um papel e um caráter burocrático. A ditadura de Mussolini, estrondosa, retórica, olímpica e d’annunziada em suas origens, como convém nesta época tempestuosa, acabará por contentar-se com as modestas proporções de uma ditadura burocrática. Perderá pouco a pouco sua ênfase heóica e sotaque épico. Empregará para conservar o poder os recursos e expedientes oportunistas da velha democracia”.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

"Teoria da Organização Política V. II" Ademar Bogo (Org.)



Resenha Livro #50 “Teoria da Organização Política” Volume II. Ed. Expressão Popular. Ademar Bogo (Org.).



 “Teoria da Organização Política” (V. II) corresponde à compilação de escritos de dirigentes revolucionários do século XX, tendo por fio condutor a questão de como organizar a classe trabalhadora e seus aliados para a derrubada do capitalismo e a construção do Socialismo. Nesta seara, discute-se a relação entre partido político e as massas, as características essenciais do partido revolucionário em cada conjuntura e a combinação da luta anti-imperialista com a luta por um novo tipo de sociedade (ideias presentes particularmente nos escritos de Mariátegui, Che, Ho Chi-minh e Agostinho Neto). Destacamos dois nomes presentes em “Teoria da Organização Política V. II”, um peruano e um brasileiro.

José Carlos Mariátegui

Filho de pai espanhol e funcionário público e mãe índia, Mariátegui nasceu em 1894 no interior do Peru. Em 1909 passa a trabalhar como funcionário de um jornal diário e dois anos depois escreve seu primeiro artigo, tornando-se, com o passar do tempo, jornalista.  Em 1919 é enviado pelo governo do Peru à Itália para atuar como agente de propaganda: na Europa, tem contato com o marxismo e com as ideias de A. Gramsci, participando do congresso do Partido Socialista Italiano (1921). Em 1929 publicou sua principal obra (a única traduzida no Brasil): “Sete ensaios de interpretação da realidade peruana”. Nos escritos de Mariátegui observa-se em primeiro lugar uma preocupação incomum na literatura marxista com a questão da cultura e, especificamente, da identidade latino-americana como elementos prementes da luta revolucionária. Em outro sentido Mariátegui se coloca como alguém à frente de seu tempo: já na década de 1920 denuncia as ilusões de setores da esquerda com as burguesias nacionais e as pequeno-burguesias, como supostos aliados da luta anti-imperialista. “Nem a burguesia, nem a pequena burguesia no poder podem realizar uma política anti-imperialista”. Em primeiro lugar porque Mariátegui não superestima ou romantiza a luta anti-imperialista, enquanto certos setores falam em uma “segunda independência”, situando a burguesia nacional dentro desta luta. Para Mariátegui o anti-imperialismo não é um fim em si mesmo, mas um momento da revolução socialista. “Em suma, somos anti-imperialistas porque somos marxistas, porque somos revolucionários, porque contrapomos ao capitalismo o socialismo como sistema antagônico”. 

O outro elemento central no pensamento de Mariátegui é o papel da cultura e do imaginário social quanto à composição, aos movimentos e aos conflitos das classes sociais. Assim, enquanto na China, a aliança com a burguesia nacional forjou-se por meio de uma luta comum contra o invasor japonês, na América Latina “a aristocracia não se sente solidária com o povo por não ter história e nem uma cultura comum”. O mito da “segunda independência” desconsidera o fato de não haver contradições de fundo entre as burguesias nacionais e o imperialismo – as elites dominantes veem-se antes como parceiras do antigo colonizador do que colaboradoras das lutas populares. Tal concepção mostrar-se-ia correta pela forma mais dolorosa possível na América Latina – a confiança do movimento de massas em lideranças da burguesia “nacionalista” ou pequeno-burguesa negligenciou a fraqueza destas direções frente ao inimigo imperialista e sua preferência em ceder o poder à reação do que apostar suas forças na revolução operário-popular. Em termos práticos, esta política levou à vitória dos diversos golpes militares na América Latina e a implementação das mais brutais ditaduras. Quanto ao elemento cultural, ele também está presente, em Mariátegui, nas suas considerações, no Peru, acerca das massas indígenas, que deveriam ser protagonistas no processo de revolucionário naquele país.

Luiz Carlos Prestes

Se por um lado Prestes é um conhecido personagem da história brasileira do séc. XX – do movimento tenentista e da Coluna Prestes até a sua adesão ao Partido Comunista – pouco se discute e se lembra dos seus escritos e de sua colaboração teórica.

Prestes foi durante 30 anos dirigente do PCB, atuando como secretário-geral. Via de regra, deixou-se centralizar pelas orientações da III Internacional Comunista, o que o levou a alguns equívocos, decorrentes das diferenças de condições objetivas e subjetivas para a luta revolucionária, dentro da experiência soviética e brasileira. Assim, no Manifesto de 5 de Julho da Aliança Nacional Libertadora, quando aborda a unificação nacional e a luta contra o imperialismo e o “feudalismo” (sic) no Brasil, deposita confiança numa suposta “parte da burguesia nacional não vendida ao imperialismo”. A própria caracterização do Brasil como um país ainda com resquícios “feudais” dava suporte ao “etapismo”, concepção segundo a qual o Brasil deveria primeiro passar por uma revolução que resolvesse as suas tarefas democrático-burguesas, eliminando o feudalismo, para depois passar à ofensiva socialista. Esta estratégia (sem delimitações de classe e ancorada na ilusão de uma frente política com a Burguesia) corroborou para a tragédia do golpe militar 1º de Abril de 1964: a falta de confiança no movimento de massa e a permanência de uma direção pequeno-burguesa e vacilante criou as condições para a dispersão dos movimentos sociais após o golpe.

Quanto aos escritos de Prestes, particularmente interessante é a sua Carta Aos Comunistas (1980). Trata-se de um documento elaborado quando da volta de Prestes do exílio. Aborda a crise política do PCB do final dos anos 1970. O partido deixava de exercer um papel de vanguarda e, sob o efeito de forças externas que visavam aniquilar o comunismo no Brasil, deixava-se domesticar, transformando-se num partido reformista. Prestes responsabiliza a direção do partido pela sua atual situação: a direção não preparou os comunistas para enfrentar a ditadura e não tomou sequer providências para defender seus militantes da repressão. Além disso, a direção era incapaz de se debruçar sobre a realidade brasileira (problema que, como vimos, também se reproduziu quando Prestes dirigia o partido) e não exercitava a "auto-crítica".

Enfim, “o oportunismo, o carreirismo e compadrismo, a falta de uma justa política de quadros, a falta de princípios e a total ausência de democracia interna no funcionamento do partido” são os principais problemas do PCB, relatados por Prestes. A carta situa-se nos marcos da realização do VII Congresso do Partido Comunista Brasileiro. Posteriormente, este partido foi terminantemente extinto, criando-se em seu lugar o direitista PPS. Mais recentemente e a partir de um esforço militante digno de respeito por parte de todos os comunistas brasileiros, o PCB foi re-construído e atua hoje no campo de oposição de esquerda aos governos social-liberal de Lula/Dilma.

Em fevereiro de 1980 Prestes rompe pela com o PCB. A esta altura, sua crítica ao partido diz respeito à sua adaptação à realidade institucional, perdendo de vista a perspectiva revolucionária:


"Nós, comunistas, não podemos abdicar de nossa condição de lutadores pelo socialismo, restringindo-nos à suposta “democracia” que nos querem impingir agora os governantes, nem às conquistas muito limitadas alcançadas pela atual “abertura”, que na prática exclui as grandes massas populares. Não podemos concordar com uma situação que assegure liberdades apenas para as elites, em que a grande maioria da sociedade continua na miséria e sem a garantia dos mais elementares direitos humanos. Um partido comunista não pode, em nome de uma suposta democracia abstrata e acima das classes, abdicar do seu papel revolucionário e assumir a posição de freio dos movimentos populares, de fiador de um pacto com a burguesia, em que sejam sacrificados os interesses e as aspirações dos trabalhadores.”


A crítica ao reformismo é atual e aplicável aos partidos de “esquerda” voltados a administração do capital no país.      

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

"O Capital" - Karl Marx



Resenha Livro # 49 – “O Capital – O Processo de Produção do Capital” – Livro I Volume I



Impressões decorrentes de uma visão panorâmica de “O Capital”

Ler a famosa crítica à economia política que é “O Capital” pode parecer ou dar a impressão de ser uma tarefa árdua. De fato, aqueles que tiveram contatos com obras de autores marxistas (ou autores que reivindicam algumas de suas categorias de análise), já devem ter ouvido falar em mais valia absoluta, mais valia relativa, capital constante, capital variável, força de trabalho, modo de produção, meios de produção e capital. E, de fato, “O Capital” é um livro essencialmente analítico e teórico, que se serve das experiências históricas apenas e na medida em que as mesmas ilustram o desenvolvimento de uma teoria, uma teoria para explicar a sociedade do capital, e, em última análise, interpretar o mundo em que vivemos. Em certas passagens estas teorias determinam verdadeiras leis econômicas. (Por exemplo, a determinação do valor da mercadoria a partir do tempo médio socialmente necessário de trabalho para a sua composição).

Ocorre que Marx, além de teórico da mais importante obra de análise crítica do capitalismo, foi, ele próprio, um militante comunista. (O fato de Marx ter participado da construção da 1ª Internacional e o aspecto “militante” da vida do velho Mouro, são sintomaticamente esquecidos por uma parcela da esquerda marxista “academicista”, exclusivamente engajada no debate teórico, sem qualquer compromisso com uma prática política cotidiana e consequente, uma efetiva intervenção na luta política colocando todo o saber e o conhecimento acumulado nas universidades à serviço das lutas e da organização dos trabalhadores).

Pois bem, voltando a Marx, o fato do velho Mouro estar efetivamente engajado nas disputas políticas e ideológicas (“batalha das ideias”) de seu tempo implicou em importante preocupação no sentido de que suas ideias fossem compreendidas, inclusive pelo mais humilde operário. É perceptível o esforço com que Marx tenta ser didático, mesmo quando aborda temas inicialmente bastante abstratos, como “o duplo caráter do trabalho materializado na mercadoria”  ou “a forma relativa de valor” e “a forma equivalente de valor”.

Todos estes conceitos vão sendo enunciados de forma quase exaustiva, por meio de exemplos abstratos ou exemplos da história do capitalismo na Europa, ou até mesmo por fórmulas matemáticas e expressões algébricas: é como se Marx fosse o professor que soubesse que o tema de sua aula é árido e de difícil compreensão, e, especialmente por isso, tenta ser o mais claro/didático possível.

Outrossim, Marx diferencia-se de toda uma tradição de economistas burgueses que são incapazes de ver as relações de exploração e de dominação de classes que existe, que são intrínsecas ao processo de formação de capital. Ao criticar a tradicional economia política burguesa, nestes momentos, a leitura pode ser um pouco mais difícil, já que ele discute temas candentes na época e no contexto por que passava a Europa do séc. XIX, destacando a revolução social introduzida para Revolução Industrial, a luta pela regulação da jornada de trabalho e os efeitos econômicos das distintas jornadas, as novas tecnologias de produção e suas implicações nas condições de vida da classe operária. A diminuição de extração de mais valia absoluta e aumento de extração de mais valia relativa, por meio da intensificação do ritmo de trabalho, sob jornadas de trabalho mais curtas, é relatada por Marx por meio de dados/relatórios oficiais sobre a classe de trabalhadores da Inglaterra a partir de meados do século XIX– o cenário descrito é de penúria, fome, péssimas condições de trabalhos, insalubridade no trabalho e nas instalações onde moram os proletários, jornadas de 10 a 12 horas de trabalho, e presença de crianças de até 5 anos de idade trabalhando nas fábricas.  

Estrutura da Obra

Tivemos acesso ao Livro I Volume I do Capital, publicado pela Ed. Civilização Brasileira, que trata da produção do capital. O Capital é uma relação social que pode ser descrita algebricamente como M (mercadoria força de trabalho) - D (retribuição monetária da força de trebalho correspondente ao mínimo necessário para a reprodução da força de trabalho - M' (valorização do capital por meio da extração de trabalho excedente, a chamada mais valia).

O Livro I foi o único publicado por Marx ainda vivo, e foi o único volume que contou com revisões do próprio autor. A edição da Civilização Brasileira contém o Prefácio da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Edições na Alemanha, além dos prefácios das edições francesas e Inglesas. No Livro 2, publicado em 1885, discute-se o processo de circulação do capital. O livro 3 trata do processo global da produção capitalista (1894) e, finalmente, o Livro 4 – publicado por Karl Kautsky – trata das Teorias da mais valia (1905).

A guiza de conclusão.

Não é nosso objetivo aprofundar cada um dos conceitos e das ideias originais introduzidas por Marx em “O Capital”. Neste ponto, vale ressaltar que a profundidade de diversas passagens do texto com certeza podem ser melhor apreendida a partir de esforço coletivo de leitura e debate da obra, por meio de um grupo de estudos, portanto, estudando e destacando trecho por trecho, destrinchando cada detalhe e buscando traduzir a crítica feita por Marx a partir da  atual conformação do capital: em que medida as análises de Marx permanecem atuais e dão conta de explicar, por exemplo, as crises cíclicas do capital? Como não participamos de tal “grupo de discussão” e como a nossa intenção com as resenhas é apenas a de introduzir o leitor às obras, convidá-lo a lê-las e provocar algum tipo de reflexão crítica, encerramos esta resenha com algumas passagens-chave, em que, por meio de sínteses, Marx dá algumas mostras de sua genialidade. Sua crítica ao capital é o que há de mais avançado em toda literatura da economia política dedicada à análise das sociedades modernas.

“Uma teoria que considera a moderna produção capitalista mero estágio transitório da história econômica da humanidade tem, naturalmente, de utilizar expressões diferentes daquelas empregadas por autores que encaram esse modo de produção como imperecível e final”.


“O reflexo religioso do mundo real só pode desaparecer quando as condições práticas das atividades cotidianas do homem representem, normalmente, relações racionais claras entre os homens e entre estes e a natureza. A estrutura do processo vital da sociedade , isto é, do processo da produção material, só pode depreender-se do seu véu nebuloso e místico no dia em que for obra de homens livremente associados, submetida a seu controle consciente e planejado. Para isso, precisa a sociedade de uma base material ou de uma série de condições materiais de existência, que, por sua vez, só podem ser o resultado natural de um longo e penoso processo de desenvolvimento”.


“A parte do capital, portanto, que se converte em meios de produção, isto é, em matéria-prima, materiais acessórios e meios de trabalho não muda a magnitude de seu valor no processo de produção. Chamo-a, por isso, parte constante do capital, ou simplesmente capital constante.


A parte do capital convertida em força de trabalho, ao contrário, muda de valor no processo de produção. Reproduz o próprio equivalente e, além disso, proporciona um excedente, a mais valia, que pode variar, ser maior ou menor. Esta parte do capital transforma-se continuamente de magnitude constante em magnitude variável. Por isso, chamo-a parte variável do capital ou simplesmente capital variável. As mesmas partes do capital, que do ponto de vista do processo do trabalho, se distinguem em elementos objetivos e subjetivos, em meios de produção e força de trabalho, do ponto de vista do processo de produzir mais valia, se distinguem em capital constante e variável. “      

domingo, 13 de janeiro de 2013

"Terra e Liberdade" - Ken Loach

Resenha Filme #4 “Terra e Liberdade” – Ken Loach




“Terra e Liberdade” aborda a Guerra Civil Espanhola a partir das experiências de David Carr. David é um jovem desempregado de Manchester, filiado ao Partido Comunista Inglês. Assistiu palestra sobre a luta contra o fascismo na Europa que o cativou a se inserir nas fileiras de batalha do campo Republicano, contra Franco e o Fascismo.

A questão do internacionalismo é reiterada ao longo do filme: das milícias do POUM (Partido Operário de Unificação Marxista) havia irlandês, francês, alemão e inglês. Sob outro aspecto o conflito apontava para o internacionalismo – o fascismo avançava sobre a Itália e Alemanha, de forma que a derrota de Franco poderia significar o fortalecimento tanto dos setores democrático-liberais, como dos partidos comunistas e socialistas naqueles países. Nesse sentido, a Espanha era observada pelo mundo e palco privilegiado da luta de classes.

David Carr, por uma questão de contingência e não, inicialmente, por opção política, adere ao POUM: ele havia conhecido militantes desta organizaão na sua viagem de trem para a Espanha.

A Guerra Civil Espanhola foi o produto de uma tentativa de golpe liderado por militares de Direita contra o governo legal e democrático. Em 17 de Julho de 1936, após um pronunciamento dos militares rebeldes, teve início a guerra. O POUM nascera em 1935, a partir de uma fusão da Esquerda Comunista Espanhola (trotskysta) e do Bloco Operário Camponês. Este último era de orientação comunista, implantado e com maior força na Catalunha, tendo como principal referência Joaquim Maurín.

O partido ao qual David se inseriu atuava na guerra por meio de milícias. Pelo filme de Ken Loach, nota-se que as brigadas mantinha tratamento equitativo entre homens e mulheres: as mulheres também tomavam parte das lutas nas barricadas e das discussões políticas. Após libertar um vilarejo do domínio fascista, o filme retrata o que seria uma primeira assembleia geral dos moradores do local. Os milicianos socialistas puderam, antes de assembleia, experimentar do ódio que aquele povoado mantinha pelos fascistas. Mães denunciavam o Padre local – que havia dedurado e provocado a morte de alguns jovens anarquistas. O ódio popular fez com que fossem feitas fogueiras e queimados os adereços da Igreja. Agora, na assembleia, ainda sob o calor daqueles acontecimentos, os moradores passaram a dirigir os rumos do povoado. Inicialmente os militantes do POUM buscavam não intervir e deixar os moradores deliberarem sobre o que fazer com as terras abandonadas. Convidados a participar do debate, os mesmos se dividem: uns defendem a imediata coletivização da terra e o fim da propriedade privada, enquanto outros defendem a manutenção da pequena propriedade e a liberdade de comerciar. Prevaleceu a 1ª tese após a defesa de um militante alemão do POUM que, oportunamente, lembrou que as hesitações e vacilações reformistas dos comunistas daquele país estava levando o fascismo ao poder – não poderiam cometer o mesmo erro na Espanha. Era parte da percepção daquele pequeno agrupamento revolucionário que a luta contra Franco caminhava junto com a revolução.

A desmobilização do POUM

No filme, podemos acompanhar cena de forte carga emotiva em que soldados do exército republicano apontam armas para os milicianos do POUM, exigindo a sua desmobilização, em troca de um exército regular, com hierarquias, sem mulheres e sem perspectiva revolucionária – um exército controlado pelo governo e internacionalmente apoiado pela URSS. A guerra revolucionária , que era então conduzida dentro desta perspectiva mobilizadora, com variações táticas, pelo POUM e pelos anarquistas da CNT, implicava na desestabilização política de um regime de conciliação com a burguesia. Além disso, uma revolução socialista em Espanha não interessava a União Soviética àquele momento – do ponto de vista diplomático a linha era não criar conflitos e ganhar tempo para se armar para o iminente conflito mundial. O Partido Comunista Espanhol stalinista entra em confronto com este campo político (Poum e anarquistas). Enquanto os fascistas eram alimentados pela máquina de Guerra da Alemanha e Itália, comunistas de um lado e anarquistas e socialistas revolucionários do outro lado da trincheira combatiam em armas nas ruas de Barcelona (Jornadas de Maio), ambos acusando-se reciprocamente de favorecerem o fascismo. O fato é que Stálin e sua teoria do socialismo em um só país via tanto como um risco revolucionário as milícias operarias que, por meio do PCE, tratava de impedir que as armas soviéticas chegassem aos milicianos. A radicalização e o transcrescimento da luta anti-fascista em uma mobilização na perspectiva socialista não estava na agenda dos burocratas de moscou. David Carr rasga sua carteira de membro do partido comunista inglês, mas, sem contarmos o final do filme, concluímos que Carr morreu ainda esparançoso quanto ao advento do socialismo. De fato a guerra civil espanhola teve como vitorioso o regime reacionário e detestável do fascismo. Mas a mobilização espontânea e generosa de milhares de brigadistas de todo o mundo e mesmo da Espanha para lutar nas trincheiras daquela guerra ainda nos lança esperança, até hoje, sobre a existência de pessoas em todo mundo que amam a liberdade e por isso estão dispostas a lutar até a morte contra o fascismo. Não Passarão!

sábado, 12 de janeiro de 2013

"A vida de Lênin" - Louis Fischer

Resenha livro #48 “A vida de Lênin” – Louis Fischer – Volume II


capa

Tivemos acesso unicamente ao volume II desta majestosa biografia do líder do partido bolchevique e da Revolução Russa Vladimir I. Lênin. Nossa edição contém do capítulo 25, “A Paz é uma Arma”, correspondente aos anos de Guerra Civil, até o capítulo 51, “O Fim”, com relatos da reação popular e da burocracia à morte do principal dirigente do país, àquela altura, já incapacitado para o trabalho.


Sobre o autor


Louis Fischer (1896-1970) foi um jornalista norte-americano que teve a oportunidade de ver de perto a realidade da Rússia dos primeiros anos pós-revolução. Iniciou a carreira trabalhando como correspondente na Revista The Nation, a mais antiga publicação em forma de revista dos Estados Unidos. Fischer participou como correspondente durante a Guerra Civil Espanhola e efetivamente tomou parte na brigada internacional contra o fascismo. Finalmente, Fisher deu aulas sobre a URSS na Universidade de Princeton, até a sua morte.

Visão panorâmica da obra

Ao contrário do que ocorre com alguns biógrafos, Fischer consegue manter certa distância crítica de seu objeto de estudo. Não hesita em estabelecer críticas e traça um panorama o mais realista possível da vida de Lênin, desde os anos do comunismo de guerra, passando pela NEP, a disputa pelo poder e a conformação da burocracia, corroborando para ascensão de Stálin - falo aqui, por suposto, do volume II da obra. Todo o relato é embasado por documentação extensa, que envolve correspondências pessoais, documentos oficiais e relatos pessoais de pessoas que conheceram Lênin.

Também a personalidade do líder é extraída de suas correspondências e de relatos de jornalistas, políticos estrangeiros, militantes do partido e diplomatas que puderam conhecê-lo pessoalmente. Em geral, a impressão pessoal destas pessoas fazem-nos crer que Lênin, pessoalmente, era uma pessoa afável e que tendia a escutar mais do que falar. Tinha estatura baixa e certa mania de forçar a vista e os olhos quando estava diante de seu interlocutor. Gostava de gatos e deixou-se fotografar em algumas ocasiões com felinos. Tal temperamento aparentemente doce contrasta com sua intransigente defesa de princípios e das suas ideias da tática e estratégia políticas, em geral. A ineficiência da administração do governo soviético, com os atrasos de abastecimento, a falta de produtos e as dificuldades de relacionamento com os camponeses implicavam em cartas bastante duras, apontando onde há o erro, condenando os responsáveis e ditando o que se devia fazer.

É bastante perceptível a clareza de Lênin quanto à necessidade de outras revoluções estourarem na Europa ocidental: esta seria pré-condição para o êxito total da Revolução Russa. Seu internacionalismo já contrastava tanto com a linha de Stálin acerca nas minorias nacionais em Rússia, quanto com a teoria stalinista de socialismo “em um só país”. Muito provavelmente, e teoria do “socialismo em um só país” deveria ter provocado risos ou, talvez, revolta e indignação em Lênin, se tivesse vivido ao ponto de conhecê-la.

Por último, o biógrafo lembra que Lênin era capaz de manter alguma separação entre relações pessoais e políticas. Ainda que os primeiros anos da revolução tenham exigido censura, prisões e pena de morte aos elementos contra-revolucionários, Lênin, por exemplo, dizia gostar da pessoa de Molotov, apesar das divergências políticas. Por outro lado, segundo Fischer, Trótsky – que, principalmente nos anos imediatamente anteriores à morte de Lênin, juntou-se a Lenin contra Stálin quanto à questão da Geórgia –não causava uma boa impressão pessoal ao líder do partido bolchevique. Lênin achava Trótsky excessivamente vaidoso e muito focado no aspecto administrativo e não político dos problemas. Entretanto, em sua carta testamento, não deixou de citar Trotsky como um dos militantes mais capazes. (Stálin não é citado por Lênin).
 
Comunismo de Guerra

O livro inicia-se narrando a difícil situação do Estado Operário, diante da guerra imperialista e da contra-revolução burguesa, envolvendo desde elementos que vão do antigo feudalismo russo, até mencheviques e socialistas revolucionários (partido socialista moderado com maior adesão no campo), todos engajados em desestabilizar o regime dos Soviets. Durante os primeiros momentos da revolução russa, o Estado Operário buscou estabelecer um controle total sobre economia e sociedade. O monopólio do comércio exterior por parte do estado, a proibição da comercialização e a distribuição de terras aos camponeses, com o fim do comércio neste setor, tinha a ver com o próprio esforço de sobrevivência da Rússia. O país, que já sofrera com os efeitos da guerra e com a guerra civil, via seu parque produtivo completamente desorganizado, levando ao desabastecimento nas cidades, à fome e epidemias, como de tifo. A vitória definitiva do exército vermelho sobre as forças da reação ainda não resolveriam outros impasses significativos naquela país. Uma dificuldade particularmente significativa era a falta de quadros capazes de assumir o Estado e mesmo as tarefas administrativas: muitos dos revolucionários bolcheviques tombaram na sangrenta Guerra Civil.

Em síntese o comunismo de guerra implicou no controle estatal direto da economia, em decorrência da fuga dos capitalistas, da destruição do mercado pela guerra e relação de desconfiança com a classe camponesa. A tensão entre cidade e campo expressava um desnível nas relações sociais entre a Rússia e os demais países capitalistas. Enquanto estes já possuíam um proletariado em expansão e organizando-se, a Rússia ainda era um país predominantemente rural, com maioria populacional camponesa. Inicialmente, os bolcheviques distribuíram as terras aos camponeses, montaram algumas cooperativas agrícolas, estatizaram fábricas e proibiram o comércio. Havia distribuição de tíquetes e talões de racionamento no lugar de pagamentos em moeda e trocas diretas de produtos. Ainda assim, ao longo do livro somos constantemente deparados com uma Rússia extremamente carente materialmente, com enormes dificuldades de locomoção sobre seu enorme território, com a fome e as mortes assombrando a cidade e o campo.

Em termos práticos as primeiras medidas tomadas pelo estado operário envolviam: requisição de cereais, o que era feito com muita dificuldade já que os camponeses escondiam parte da produção para comercializar clandestinamente; nacionalização de todos os bancos, fábricas e terras; decreto do trabalho obrigatório; requisição da produção agrícola; Retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial, estabelecida por meio do meio do Acordo de Brest-Litovski.

Paz, Terra e Pão

Sobre a questão da primeira guerra mundial, é válido um pequeno destaque. Deve se observar que ela é um dos motivos que explicam a própria Revolução Rússia. Tratou-se a guerra de um conflito extremamente impopular naquele país, em particular em função dos cerca de quatro milhões de russos mortos. O descontentamento da guerra e as desersões foram instrumentalizados politicamente pelos bolcheviques.

Após a Revolução de fevereiro, com a vinda de Lênina da Finlândia, de forma clandestina e com anuência dos alemães, o dirigente manifestou aquilo que ficou conhecido como as teses de abril. O pilar da tese era “Paz, Terra e Pão”, palavra de ordem da subsequente à revolução (ou golpe?) de outubro de 1917.

Em meio a toda esta turbulência, Lênin veio a se destacar como líder por meio de suas intervenções nos órgãos do partido e nos veículos de imprensa. Defendia suas posições com ênfase e força, mas quando era derrotado, centralizava-se pelo partido. Fischer cita alguns pontos de divergência entre os bolcheviques, destacando-se, particularmente, a questão das nacionalidades, o problema do comércio exterior, a relação conflituosa com os camponeses e estreitamento cada vez maior (implicando em maior autoritarismo político) entre estado e partido.

A Questão Nacional

A questão nacional colocou-se com vigor em um país de proporções continentais. Não é difícil perceber a enorme tarefa que estava à frente dos bolcheviques: articular diferentes etnias, línguas e culturas dentro de uma União de Repúblicas Soviéticas. “Como se fora gerente de uma empresa gigante, Lênin sabia que não podia ser rígido, tinha de manobrar, para que as coisas pudessem andar. Para espalhar a revolução, ordenou ao exército vermelho avançar Polônia adentro no verão de 1920. Mas ordenou contenção na reconquista das áreas do antigo império czarista”.

O fato é que um encaminhamento satisfatório para a questão das nacionalidades no interior da União Soviética envolvia a análise de cada caso em concreto – haviam regiões muçulmanas, e outras em que vigorava forte tendência anti-russa. Lênin advogava pela “independência” destes países, buscando relacionar a intervenção soviética como parte de uma luta geral anti-imperialista. Divergia de Stálin (ele próprio georgiano) que advogava um controle mais duro junto a tais nacionalidades. Ambos não abriam mão da liderança do Estado Operário frente às minorias étnicas da rússia. A diferença foi a de que Stálin advogava um controle ainda maior e mais duro, sem concessões.

Luta de classes sob o estado operário

Não só o descontentamento e o espírito separatista ou nacionalista de alguns povos da Rússia punham em risco a coesão e estabilidade do governo. O fato é que se observa a reprodução da luta de classes dentro do Estado Operário. O descontentamento dos marinheiros de Kronstadt (1921), uma rebelião operária esmagada pelos bolcheviques, e que ainda hoje divide ativistas quanto à conduta dos bolcheviques e de Trótsky. Greves ocorreram durante os anos 1920 da URSS e o descontentamento aumentava – na cidade pela falta de abastecimento, pelas epidemias, pela ineficiencia administrativa e corrupção, e no campo especialmente pela política de requisição forçada. Neste contexto, o governo operário adota a NEP (Nova Política Econômica), uma tentativa de restaurar elementos do capitalismo para avançar no desenvolvimento material e administrativo de um estado ainda esfacelado pela revolução e guerra civil. Lênin escreve artigos defendendo a implantação de empresas estrangeiras na Rússia – só assim, poderiam desenvolver as técnicas de produção, já que a produtividade do trabalho era muito baixa na Rússia. No campo ainda se trabalhava com os arados da época medieval. Outras diretrizes da NEP: liberdade de comércio; autorização para o funcionamento de empresas particulares; liberdade de salário para os empregados. O slogan pelo qual ficou conhecida a restauração parcial capitalista na URSS é "dar um passo para trás e dois para frente."

Últimos momentos da vida de Lênin

Lênin dedicou inteiramente sua vida à causa da Revolução. A partir da tomada do poder político pelos bolcheviques, relata-se que o mesmo trabalhava de 12 a 14 horas por dia. Todos os médicos foram unânimes em dizer que a gradual convalescência tinha a ver com o excesso de labor. Em sua sala de estudos, empilhavam-se livros sobre história, economia, relatórios da produção industrial e agrícola da Rússia, jornais e periódicos internacionais. Lênin dizia não ter tempo para ler romances, saia pouco, ia pouco ao teatro, e estava sempre acompanhado de Krupskaja, companheira e militante bolchevique. Antes de morrer, uma das principais preocupações de Lênin era a burocratização do poder, observada por por meio de uma série de exemplos de ineficiência administrativa ou mesmo corrupção – ineficiência que, por suposto, criava descontentamento popular e punha em risco mesmo a sobrevivência do estado operário. Lênin via se formar um contingente de burocratas intermediários sem qualquer preparo técnico para dirigir as fábricas, conduzir e administrar os serviços estatais, etc. Nos últimos anos de vida, já havia observado a excessiva concentração de poder nas mãos de Stálin. Para Lênin, o mais importante era a sobrevivência do governo soviético russo, mesmo havendo de fazer concessões.

A Nova Política Econômica é parte desta preocupação em fazer concessões para salvar o governo operário, assim como a diplomacia soviética e a condução política das nacionalidades remotas da Rússia. A falta de “democracia” e a centralização do poder não se explicam, naquele contexto, como algum desvio, ou o fruto de um temperamento “autoritário” de Lênin. Como político genial que foi, tenha certo senso pragmático (a teoria, para Lênin, é um guia para a ação). Entendia o partido como uma organização centralizada, com hierarquia e disciplina - sem este tipo de organização, pensava Lênin, jamais poderiam ter se organizado, principalmente nos anos de repressão czarista, até a tomada do poder político. Fischer nos faz crer que para um país atrasado como a rússia, avançar e dar passos em direção à industrialização, era necessário um regime mais centralizado.

Lênin também sabia bem que no campo havia uma tendência pró-capitalista e para garantir a direção do proletariado no governo, tinha de fazer concessões. Sabia e reiterava francamente que tanto do ponto de vista do desenvolvimento das técnicas de produção, quando do nível educacional, cultural e civilizatório do povo russo naqueles anos estava inferior à situação média dos países capitalistas.

O legado

O legado de Lênin traduz-se pelo seu exemplo de vida: foi um homem que vivem cada minuto da vida adulta pensando e agindo em torno da luta socialista. Literalmente, morreu de tanto trabalhar. Sua obra teórica igualmente merece lembrança, como parte do legado do que há de mais importante dentre os autores ligados à tradição marxista.