Breves Notas Sobre Alexandre Púchkin
“Na época em que Púchkin nasceu (1799), o czar que reinava sobre a
Rússia anda era Paulo I, o filho insano de Catarina II, que viria a ser morto
dois anos depois numa conspiração palaciana, da qual tornaria secretamente
parte seu filho e sucessor, Alexandre I. Moscou havia se tornado o centro da vida
intelectual e artística do país. A alta sociedade, que em São Petersburgo
gravitava em volta da Corte, em Moscou, via de regra, entediava-se. Os jovens
promissores liam os imitadores russos de Parny, Rousseau, Racine, Voltaire,
enquanto as jovens (e velhas) suspiravam com romances sentimentais que
apareciam aos montes, todos iguais e de qualidade duvidosa. A mesmice dominava também
o cotidiano. De manhã, praticavam equitação e, à noite, em dias certos da
semana, quando não havia baile ou carteados, frequentavam salões. Os chefes de
família cuidavam da administração de suas propriedades rurais, onde a família
passava temporadas anuais, justamente com numerosa criadagem, parentes, servos
e agregados. O povo, como sempre, sofria”. (BRNARDI, Aurora. “Púchkin e o
Começo da Literatura Rua”. Caderno de Literatura e Cultura Russa. USP).
Aleksandr Sergeevich Púchkin é aclamado como o maior poeta russo e
fundador da moderna literatura daquele país. Transitou pela poesia lírica e
épica, pelo teatro e pelo romance, sendo tradicionalmente relacionado ao movimento
romântico, com aproximação do realismo, especialmente nas suas obras mais
tardias.
Pode-se dizer que sua importância está para literatura Russa de
maneira equivalente ao papel de Willian Shakespeare para o teatro Inglês. É
tido como iniciador da literatura Russa: inaugurou um novo modelo literário,
sem se basear em heranças ou escolas literárias anteriores, posto que
inexistentes na Rússia. Ele se inspirava na cultura e na poesia popular
medieval russa.
O escritor nasceu em 6 de Junho de 1799 em Moscou. Seu pai era um
jovem oficial da guarda, mal administrador, colérico e atormentado por dívidas.
Sua mãe era neta de Ibraim Hannibal, conhecido como primeiro grande intelectual
negro da história do ocidente. Este bisavó de Puchkin, em 1703, foi capturado e
vendido ao sultão de Constantinopla, que por sua vez o deu de presente ao czar
Pedro, o Grande. O imperador russo adotou Hannibal e o colocou na corte para
viver como seu afilhado, posteriormente o enviado para Paris, onde conclui seus
estudos, se formando em engenharia militar.
Hannibal conheceu em Paris Voltaire, Montesquieu e Didetor, entre
outros pensadores, que o chamavam de “estrela negra do iluminismo”.
De modo que não é incorreto dizer que o maior dos poetas russos tinha descendência
africana!
Na biblioteca do pai, Púchkin leu Plutarco, Homero, La Fontaine,
Moliére, Corneille, Rancine, Diderot e Voltaire. Seguindo um costume da época,
aprendeu francês por meio de seus preceptores, sendo patente a influência da
cultura francesa na Rússia, especialmente no período de Catarina II (1762/1796),
imperatriz com reputação de mecenas das artes e correspondente dos iluministas
Voltaire, Diderot e D’Alambert.
Aos quinze anos, quando estudava num Liceu situado numa das fazendas
do Czar, Púchkin escreveu os seus primeiros poemas.
Após sua formatura, aos 18 anos de idade, passa a residir em São Petersburgo,
onde vive uma vida de poeta, que poderíamos hoje denominar de “boêmio”.
Granjeava popularidade na capital por conta dos seus poemas, despertando
a atenção e vigilância do Czar. Por conta da interceptação de uma carta em que
se dizia “ateu” e pela redação de um poema (“Ode à Liberdade”) em que faz
menção a tentativa de assassinato do pai do Czar Alexandre I, o poeta foi
removido para o Sul da Rússia, numa espécie de exílio, até a morte do referido
czar e da ascensão de Nicolau I, que deu anistia ao escritor, mas manteve a
vigilância sobre o mesmo.
O conto “A Dama de Espada” é representativo de um estilo literário com
certo realismo na descrição das personagens e até mesmo do cenário cultural da Rússia
de fins do XVIII e inícios do XIX.
Em uma das cenas em que uma condessa solicita de uma criada um livro
para ler, fica espantada quando é informada que existem romances russos,
indicando também a previsibilidade de romances de folhetim e sentimentais – uma
literatura que igualmente estaria presente no Brasil, durante o nosso
romantismo, algumas décadas depois.
A história relata um segredo guardado por uma Condessa, já idosa, adquirido
após ela perder um jogo de cartas e não ter recursos financeiros para quitar
sua dívida. Após solicitar ajuda a um amante, ele, ao invés de oferecer
dinheiro, lhe revelou um mistério em que bastaria que escolhesse três cartas
determinadas, apostasse uma atrás da outra, e todas as três como “sônica” (no
jogo francês bassette, carta que ganha ou perde assim que aparece) lhe dariam a
vitória.
O personagem Herman ao saber do referido segredo, passa a
obsessivamente desejar contato com a condessa para, de posse do mistério jamais
revelado, conseguir o dinheiro certo na aposta de cartas.
Para isso, simula interesse amoroso junto a uma criada da condessa,
para conseguir uma entrevista com a velha, requerendo ou mesmo compelindo-a a
esclarecer o mistério das cartas.
Este personagem Herman aparece como alguém diferenciado logo no início
do conto: num salão onde jovens russos apostam, este filho de alemão, com
aparência de estrangeiro, apenas observa e se mantem distante das apostas: apostar
dinheiro para ele é o mesmo que “sacrificar o indispensável na esperança de
obter o supérfluo.”. Se num primeiro momento, esta recusa ao jogo de cartas ao
leitor parece sinal de virtude, logo depois verifica-se que Herman, descrito
como alguém com “perfil de Napoleão e alma de Mefistófeles” será aquele que
levará até as últimas consequências a ambição e ganâncias relacionados às
apostas.
Púschkin teve um casamento infeliz, surgindo escândalo de que sua
esposa havia o traído, razão pela qual desafiou o desafeto a um duelo, o que
ocasionou a sua morte, em fevereiro de 1837.
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