quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

"O Jovem Marx" - Celso Frederico

Resenha Livro #38 “O Jovem Marx” – Celso Frederico – Ed. Expressão Popular




A Editora Expressão Popular cumpre o importante papel de disseminar, por meio de livros baratos, publicações teóricas que viabilizam maior conhecimentos teóricos e oferecem relatos históricos das lutas sociais para a militância de esquerda no país.

Trabalhadores, estudantes e ativistas têm acesso não só a livros do marxismo clássico (Marx, Engels, Rosa, Lenin, Tróstsky, etc.), mas à produção intelectual de marxistas brasileiros, eventualmente esquecidos e/ou apenas discutidos no meio universitário. A opção por divulgar obras de Leandro Konder, Florestan Fernandes, Carlos Nelson Coutinho e Celso Frederico (autor de “O Jovem Marx”) é importante não só por contribuir para a difusão e reconhecimento do marxismo no Brasil, como também para incentivar novos trabalhos, novas pesquisas e novas interpretações sobre o legado do marxismo de maneira geral e, particularmente, a história das ideias marxistas do Brasil. (Tarefa encampada, entre outros, por Leandro Konder em seu “Derrota da Dialética”, também lançado pela editora).

Feito esta exposição inicial, caberia aqui uma pequena crítica ao livro publicado pela Expressão Popular: faltaram informações sobre autor e contexto em que o livro foi escrito para os menos familiarizados com a produção teórica marxista nacional. A possibilidade de associar o estudo das obras do jovem Marx com os anseios de toda uma geração de marxistas não dependentes da ortodoxia oficial do marxismo, as influências teóricas dos autores e o momento histórico em que o ensaio foi escrito criariam melhores condições para os leitores entenderem não só a orientação política e metodológica de Celso Frederico e demais, mas mesmo contribuir para a tarefa da reconstituição da história do marxismo no Brasil. Ou seja, perceber melhor as principais preocupações dos autores marxistas brasileiros ao longo do séc. XX, como eles dialogam entre si, as diferenças entre eles, etc.

“O Jovem Marx”

Celso Frederico é formado, pós-graduado e professor de Sociologia USP. Segundo informações do Currículo Lattes extraídas da internet, o professor trabalha temas da formação da consciência política e a consciência operária no Brasil. Tem trabalhos publicados sobre estética e o autor marxista húngaro G. Lukács.

Em “O Jovem Marx”, o autor investiga as ideias do filósofo alemão em sua juventude: para tanto, faz uma análise direta de textos originais, confrontando-os com os interlocutores de Marx naquele período histórico, além da própria evolução do pensamento filósofo frente aos acontecimentos mais importantes do séc. XIX e a vida pessoal de Karl Marx. Assim, àqueles que desejam melhor entender as ideias de Marx, torna-se necessário em primeiro lugar saber localizar os momentos em que cada obra foram escritos e em que ponto, em qual estágio se encontra o pensamento de Marx naquela conjuntura.

O jovem Marx é comumente associado ao grupo de jovens hegelianos de esquerda do qual fizeram parte Bruno Bauer (com quem Marx trava polêmica em “Questão Judaica”) e Ludwig Feuerbach (a quem Marx durante a juventude mantém admiração). E é a partir do que Frederico chama de “dissolução do Hegelianismo” , encampada pelos próprios Jovens hegelianos, que se localiza o ponto de partida da evolução intelectual de Marx.

As críticas à noção de Estado em Hegel (corroborando para a defesa da Monarquia e a consolidação da burocracia estatal) e a noção de uma dialética marcada por mediações de tipo conciliatório são opostas pelo Jovem Marx à exigência da confrontação dos esquemas teóricos com a realidade – preocupação que deriva da influencia empirista de Feuerbach.

Igualmente, a alienação e a crítica à religião são, gradualmente, transferidas do plano das ideias e da cultura para somar-se à atividade humana, à propriedade privada e ao trabalho estranhado. (E posteriormente, às relações de produção...).

Em outras palavras, Marx partindo da crítica da religião feita por Feuerbach, passa a discutir criticamente a sociedade civil (“Questão Judaica”, “Manuscritos de K.”), a propriedade, o trabalho e a atividade econômica (“Crítica da Filosofia de Direito de Hegel” e “Manuscritos Econômico-Filosóficos”,).

A dissolução do hegelianismo, sob outra perspectiva, sinaliza um momento histórico: momento em que as ideias de Hegel (correspondentes às ideias liberais burguesas do séc. XIX) abandonam seu caráter revolucionário para assumir um caráter conservador. Ou seja, a oposição já existente entre teses de Hegel e seus jovens críticos expressam num nível filosófico embates que colocariam em campos opostos o pensamento liberal e o pensamento socialista (marxista) num momento posterior. Daí a atualidade da afirmação do revolucionário russo V. Lênin: “é impossível entender Marx sem entender Hegel”.

Implicações do Jovem Marx na maturidade

Cumpre ressaltar que no período estudado, Marx ainda não havia lançado sua grande obra de maturidade, o Capital (1867). Mesmo o famoso Manifesto do Partido Comunista só foi escrito em 1848, não sendo analisado no ensaio. O autor concentra-se nos estudos de obras em que Marx, ainda ligado à tradição dos jovens hegelianos, trata de assuntos gerais e pontuais de filosofia e política (em geral artigos de jornais e polêmicas), eventualmente sem o uso de termos posteriormente utilizados, como “ideologia” e “práxis”.

Não é possível entender Marx sem levar em consideração as principais influências teóricas que marcaram sua juventude: e é no Jovem Marx que vemos a forma como, intervindo ativamente em discussões por meio de artigos de jornais e publicações, Marx vai gradualmente invertendo a dialética hegeliana, recolocar as tensões e os conflitos sistêmicos dentro de um projeto de transformação societário possível e concreto. A atenção ao que vai além dos enunciados lógico-formais em Marx expressaria em alguma medida inquietações decorrentes da aproximação do autor com o movimento operário em França, além das revoluções por que passa a Europa e a própria emergência do movimento operário. Igualmente, a análise da Economia Política, a centralidade das relações de produção e a descoberta da Mais Valia também são resultado das leituras e da experiência de vida de Marx.

Citação Final

Nesta resenha, buscamos destacar a forma como o pensamento de Marx não pode ser entendido como um todo homogêneo, mas como um processo que expressa, por um lado, as discussões filosóficas e embates do qual o Jovem Marx toma parte, e por outro lado, as próprias circunstâncias históricas e da vida de Marx. Destacamos também que a evolução do pensamento de Marx tem como ponto de partida o grupo dos jovens hegelianos de esquerda, particularmente preocupados com os problemas da ligação entre os enunciados teóricos de Hegel e a situação experimentada pelos homens em sua interação com os outros e com a natureza. Para fazer avançar o movimento socialista no âmbito da batalha das ideias, os textos de Marx na juventude contribuem para melhor entender o marxismo como um todo sem dogmatismo, ou seja, considerando o pensamento de Marx como um processo vivo e dinâmico, que deve igualmente ser analisado historica e criticamente.



"De 1843 a 1844, o fio vermelho da teoria revolucionária de Marx deslocou-se de uma posição basicamente feuerbachiana para um novo patamar, no qual as influências conflitantes de Feuerbach e Hegel coexistem ao lado da nova problemática aberta pelo contato com a Economia Política – a chave da anatomia da sociedade civil, apenas entrevista pelo jovem crítico. Em meio às rápidas mudanças em tão curto espaço de tempo, a teoria crítica do Marx jovem-hegeliano transformou-se numa ontologia materialista incipiente que orientou os posteriores estudos de Economia Política. O materialismo de Feuerbach e a dialética de Hegel passam por uma simbiose crítica, por um processo de síntese original, para servir de fundamento orientador às pesquisas marxianas".

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