Resenha Livro #28 – “A Questão Judaica” – Karl Marx - Ed. Moraes
“Sobre a Questão Judaica” é um ensaio do Jovem Marx (1818-1883) que dá respostas às análises de Bruno Bauer acerca das formas de emancipação dos Judeus. O texto, escrito em 1843, aborda temas que seriam, posteriormente, desenvolvidos nas obras mais teóricas de Karl Marx.
Assim, os conceitos de alienação, materialismo dialético e ideologia, senão discutidos especificamente em “Questão Judaica”, são tangenciados e abordados, sempre com outras palavras. Fala-se de alienação quando se discute as relações de complementaridade (e não oposição, tal qual surgem em Bruno Bauer) entre religião, política e histórica. Tangencia-se o tema do materialismo dialético nas análises das especificidades do desenvolvimento histórico alemão em relação à França. E aborda-se (igualmente sem citar os termos) a ideologia, ao discutir-se/criticar-se a tese baueriana de emancipação pela mera via do estado laico político. Neste ensaio, finalmente, encontra-se frase, repetida à exaustão, referente ao papel ideológico da religião: “a religião é o ópio do povo”.
Emancipação Política x Emancipação Humana
Bruno Bauer (jovem hegeliano, como Marx) identifica o estado político leigo como momento da superação da religião. A emancipação política, decorrente da formação dos estados modernos, traria consigo liberdades civis, de maneira que, ainda segundo Bauer, o estado livre implicaria na liberação do homem. Marx parte da ideia de que a emancipação política pode perfeitamente co-existir ou mesmo relacionar-se com as religiões.
“O limite da emancipação política manifesta-se imediatamente no fato de que o Estado pode livrar-se de um limite sem que o homem dele se liberte realmente, no fato de que o Estado pode ser um Estado livre sem que o homem seja um homem livre”.
A consolidação do estado político tem como decorrência mais importante, no que se refere a suposta emancipação religiosa, a separação entre o público e o privado. Duas conseqüências importantes da oposição público x privado: a primeira, já citada, significa a sobrevivência real/material da religião de forma complementar à política (e, ainda neste ponto, Marx traça um paralelo interessante entre aspectos da religião judaica e o desenvolvimento do capitalismo); segundo, a separação do homem à comunidade, a conformação do individualismo burguês e da liberdade desprovida de sentidos humanos.
Concluindo, o homem, no Estado Político de Bauer, apenas emancipa-se politicamente da religião, banindo-a “do direito público ao direito privado” – fica, portanto, a meio caminho da emancipação humana geral. Outrossim, o Estado Político, ainda segundo Marx, ao afastar o homem do homem, e instituir a divisão entre o público e privado, assume, ele próprio, um caráter religioso.
“Os membros do Estado Político são religiosos pelo dualismo existente entre a vida individual e a vida genérica, entre a vida da sociedade burguesa e a vida política; são religiosos, na medida em que o homem se conduz, frente à vida do Estado, - que está muito além de sua individualidade real – como se esta fosse sua verdadeira vida”.
Outras discussões passam pelo breve ensaio de Marx: a noção geral de estado, o significado da liberdade e sua relação com os direitos de propriedade, o sentido ideológico dos direitos humanos inatos à luz de alguns artigos da constituição francesa.
A leitura individual de Marx, todavia, tem os seus problemas. Muitas dúvidas surgiram acerca do significado de algumas passagens, sem que fosse possível discutir e relacionar as interpretações pessoais (pelo diálogo), o que certamente limitam o entendimento. A leitura da “Questão Judaica”, neste sentido, fica inconclusa. Apresentaremos, assim, algumas problematizações, decorrentes da leitura, para serem pensadas/discutidas com o tempo.
Problematizando
1- De que maneira a evolução histórica e política da Alemanha tornou impossível a emancipação política sem uma emancipação real do homem? A história confirmou o prognóstico de Marx?
2- Existe anti-semitismo na interpretação que Marx faz da religião judaica?
3- Como conciliar, nos contextos de luta anticapitalista dentro do movimento popular, a liberdade religiosa (emancipação política) com a emancipação real?
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