sábado, 7 de maio de 2022

A PRÉ HISTÓRIA DO BRASIL

 A PRÉ HISTÓRIA DO BRASIL




 

“Como teriam vivido esses pioneiros da floresta tropical? Usavam pontas de lança de pedra bifaciais triangulares e se alimentavam tanto da pesca e caça como da coleta de frutos e vegetais. Comiam peixes, roedores, morcegos, moluscos, jabutis, pássaros, anfíbios, mas também cobras e grandes mamíferos terrestres. Não prescindiam dos frutos da palmeira, da castanha do pará e de várias espécies de leguminosa.” (FUNARI, Pedro Paulo. NOELLI, Franciso Silva. “Pré História do Brasil” – Ed. Contexto.).

 

Quando se discute sobre a história dos povos que habitavam o continente americano, antes da chegada de Cristóvão Colombo em 1492, um primeiro problema inicial é definir alguns conceitos explicativos.

 

Tradicionalmente, a partir do século XIX, surgiu na Europa a noção da História como uma ciência voltada para o estudo do passado a partir dos documentos escritos. Considerando assim a História como produto das fontes textuais, convencionou-se que a invenção da escrita corresponderia ao início da História.

 

O problema é que a escrita começou a ser usada em diferentes momentos ao longo do globo, há 5 mil anos no Egito e na Mesopotâmia e há 3 mil anos na Grécia.

 

No caso da américa pré-colombiana, o conceito é ainda mais problemático em se considerando que os Maias, civilização que se desenvolveu no México e na América Central, possuíam uma escrita muito elaborada, embora apenas utilizada em contextos religiosos.

 

Igualmente, os Incas do Peru utilizavam cordas para registrarem os eventos, chamadas quipos.

 

Os povos nambiquaras e tupis também tinham sistemas de registros comparáveis à escrita na forma de pinturas corporais, adereços e decorações de objetos.

 

Também é certo que no continente americano, a definição da Pré-história esteve mais referendada na chegada dos europeus ao continente – os próprios europeus chamavam a sua presença na América de “história”, reservando todo o período anterior à “pré-história”. Há um fundo de verdade neste ponto, ao menos no que se refere à constituição do Brasil – sua formação inicial efetivamente é produto da expansão marítima portuguesas, e sua nacionalidade decorre da constituição de um povo original, oriundo e formado por índios, brancos e negros. Não faz sentido falar em Brasil antes de 1500.

 

Podemos, enfim, dizer que a Pré-história trata dos últimos 100 a 200 mil anos, período em que existe a espécie humana (Homo sapiens sapiens), e também dos milhões de anos anteriores em que existiram os hominídeos, espécies que antecederam à nossa: ou seja, 99,9% do nosso passado, portanto.

 

A despeito dos estudos da história nacional e no ensino médio e universitário se concentrar na fase das primeiras civilizações em diante e a partir da chegada dos portugueses no Brasil, este período de “História” corresponde a 0,1% do tempo de existência do homem.

 

A crítica acerca da terminologia de “índio” são conhecidas.

 

Trata-se de palavra que expressa o equívoco dos colonizadores espanhóis que ao tocarem na América, pensaram ter chegado nas Índias. Contudo, o conceito de “povos originários” também não é rigorosamente correto. Existe um consenso entre os estudiosos que efetivamente a origem da espécie humana partiu da África para se expandir por todo o globo. Os vestígios humanos no continente americano datam de apenas 12 mil anos, ou seja, período relativamente recente, ainda que novas pesquisas tendem a apontar para períodos anteriores.  A rigor, os “povos originários” na verdade eram oriundos da África, Europa e Austrália.

 

Também existe entendimento fundamentado de que a ocupação da América decorreu de uma expansão que partiu do estreito de Bering que liga os oceanos Pacífico e Ártico, entre a Rússia e o Alaska. Contudo, hoje não se descarta que parcela destas populações teriam migrado através da navegação até o continente americano, ainda que pouco se sobre isto, por enquanto.

 

Quando os portugueses chegaram no Brasil, estima-se que existiam por aqui cerca de 8 milhões de indígenas. Aproximadamente 80% destas populações morreram, não diante de um “genocídio” perpetrado por vingativos colonizadores, mas por motivos de doença, considerando que as populações da América não tinham contato com patologias trazidas pelos europeus.

 

Os estudos apontam cada vez mais para uma grande diversidade cultural daquelas populações, muitas vezes em estágios evolutivos bastante distintos. Uma estimativa aponta para a existência de 1200 línguas diferentes faladas em território brasileiro, quando da chegada dos portuguesas.

 

Os traços físicos dos índios de uma certa maneira lembram os traços dos povos do oriente, razão pela qual tradicionalmente entende-se que se trata de população com ancestralidade comum mongoloide.  

 

Inicialmente, os povos que ocuparam o território brasileiro eram do tipo nômade e caçadores.

 

Sobreviviam da pesca e da caça de mamíferos (antas, capivaras, veados, etc), roedores e répteis.

 

Por volta de 6 mil anos atrás, há o desenvolvimento, a partir de populações do amazonas, da agricultura, que se expande por todo o continente. Trata-se de um marco de desenvolvimento, já que a agricultura envolve o domínio de novas tecnologias, conhecimento de plantas, solo e meio ambiente, aumento populacional, circunscrição territorial, e maior complexidade das relações sociais, culturais e políticas.

 

Eram plantadas turberosas, como a mandioca, a batata doce, o taiá, o cará e a aratuta, e graníferas, como o milho, o feijão, a quina, o amendoim, o pimentão e a pimenta. Havia o cauim, bebida alcóolica, utilizada dentro ou fora de eventos religiosos, além da utilização da plantas alucinógenas.  

 

Pode-se dizer que os estudos da Pré-história do Brasil ainda são embrionários, havendo mais estimativas e deduções, do que fatos incontroversos sobre a origem e trajetória dos povos anteriores à chegada dos portuguesas. Consta que existem no Brasil apenas 300 arqueólogos atuando neste momento no país, sendo absolutamente desconhecida a maior parte dos sítios arqueólogos do país. As universidades brasileiras não oferecem cursos de arqueologia, e os cursos de História pouco discutem esta disciplina.

 

Por outro lado, o desenvolvimento da genética, da linguística e da físico-química apontam novos horizontes quanto às descobertas de vestígios e análises daqueles povos a partir da cerâmica, das pedras, das pinturas de cavernas e dos vestígios ósseos, combinados com as fontes históricas escritas a partir do século XVI.

 

Bibliografia

FUNARI, Pedro Paulo. NOELLI, Franciso Silva. “Pré História do Brasil” – Ed. Contexto.


Quadro - "Índios adorando o Sol" - François Auguste Biard - 1860-1861 - Pinacoteca do Estado de São Paulo. 



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