A PRÉ HISTÓRIA DO BRASIL
“Como teriam vivido esses pioneiros da floresta tropical? Usavam pontas
de lança de pedra bifaciais triangulares e se alimentavam tanto da pesca e caça
como da coleta de frutos e vegetais. Comiam peixes, roedores, morcegos,
moluscos, jabutis, pássaros, anfíbios, mas também cobras e grandes mamíferos
terrestres. Não prescindiam dos frutos da palmeira, da castanha do pará e de
várias espécies de leguminosa.” (FUNARI, Pedro Paulo. NOELLI, Franciso
Silva. “Pré História do Brasil” – Ed. Contexto.).
Quando se discute sobre a história dos povos que habitavam o continente
americano, antes da chegada de Cristóvão Colombo em 1492, um primeiro problema
inicial é definir alguns conceitos explicativos.
Tradicionalmente, a partir do século XIX, surgiu na Europa a noção da
História como uma ciência voltada para o estudo do passado a partir dos
documentos escritos. Considerando assim a História como produto das fontes textuais,
convencionou-se que a invenção da escrita corresponderia ao início da História.
O problema é que a escrita começou a ser usada em diferentes momentos
ao longo do globo, há 5 mil anos no Egito e na Mesopotâmia e há 3 mil anos na
Grécia.
No caso da américa pré-colombiana, o conceito é ainda mais
problemático em se considerando que os Maias, civilização que se desenvolveu no
México e na América Central, possuíam uma escrita muito elaborada, embora
apenas utilizada em contextos religiosos.
Igualmente, os Incas do Peru utilizavam cordas para registrarem os
eventos, chamadas quipos.
Os povos nambiquaras e tupis também tinham sistemas de registros comparáveis
à escrita na forma de pinturas corporais, adereços e decorações de objetos.
Também é certo que no continente americano, a definição da Pré-história
esteve mais referendada na chegada dos europeus ao continente – os próprios
europeus chamavam a sua presença na América de “história”, reservando todo o
período anterior à “pré-história”. Há um fundo de verdade neste ponto, ao menos
no que se refere à constituição do Brasil – sua formação inicial efetivamente é
produto da expansão marítima portuguesas, e sua nacionalidade decorre da
constituição de um povo original, oriundo e formado por índios, brancos e
negros. Não faz sentido falar em Brasil antes de 1500.
Podemos, enfim, dizer que a Pré-história trata dos últimos 100 a 200
mil anos, período em que existe a espécie humana (Homo sapiens sapiens),
e também dos milhões de anos anteriores em que existiram os hominídeos,
espécies que antecederam à nossa: ou seja, 99,9% do nosso passado, portanto.
A despeito dos estudos da história nacional e no ensino médio e
universitário se concentrar na fase das primeiras civilizações em diante e a partir
da chegada dos portugueses no Brasil, este período de “História” corresponde a
0,1% do tempo de existência do homem.
A crítica acerca da terminologia de “índio” são conhecidas.
Trata-se de palavra que expressa o equívoco dos colonizadores espanhóis
que ao tocarem na América, pensaram ter chegado nas Índias. Contudo, o conceito
de “povos originários” também não é rigorosamente correto. Existe um consenso
entre os estudiosos que efetivamente a origem da espécie humana partiu da
África para se expandir por todo o globo. Os vestígios humanos no continente
americano datam de apenas 12 mil anos, ou seja, período relativamente recente, ainda
que novas pesquisas tendem a apontar para períodos anteriores. A rigor, os “povos originários” na verdade
eram oriundos da África, Europa e Austrália.
Também existe entendimento fundamentado de que a ocupação da América
decorreu de uma expansão que partiu do estreito de Bering que liga os oceanos
Pacífico e Ártico, entre a Rússia e o Alaska. Contudo, hoje não se descarta que
parcela destas populações teriam migrado através da navegação até o continente
americano, ainda que pouco se sobre isto, por enquanto.
Quando os portugueses chegaram no Brasil, estima-se que existiam por
aqui cerca de 8 milhões de indígenas. Aproximadamente 80% destas populações morreram,
não diante de um “genocídio” perpetrado por vingativos colonizadores, mas por
motivos de doença, considerando que as populações da América não tinham contato
com patologias trazidas pelos europeus.
Os estudos apontam cada vez mais para uma grande diversidade cultural
daquelas populações, muitas vezes em estágios evolutivos bastante distintos.
Uma estimativa aponta para a existência de 1200 línguas diferentes faladas em
território brasileiro, quando da chegada dos portuguesas.
Os traços físicos dos índios de uma certa maneira lembram os traços
dos povos do oriente, razão pela qual tradicionalmente entende-se que se trata
de população com ancestralidade comum mongoloide.
Inicialmente, os povos que ocuparam o território brasileiro eram do
tipo nômade e caçadores.
Sobreviviam da pesca e da caça de mamíferos (antas, capivaras, veados,
etc), roedores e répteis.
Por volta de 6 mil anos atrás, há o desenvolvimento, a partir de
populações do amazonas, da agricultura, que se expande por todo o continente. Trata-se
de um marco de desenvolvimento, já que a agricultura envolve o domínio de novas
tecnologias, conhecimento de plantas, solo e meio ambiente, aumento populacional,
circunscrição territorial, e maior complexidade das relações sociais, culturais
e políticas.
Eram plantadas turberosas, como a mandioca, a batata doce, o taiá, o
cará e a aratuta, e graníferas, como o milho, o feijão, a quina, o amendoim, o
pimentão e a pimenta. Havia o cauim, bebida alcóolica, utilizada dentro ou fora
de eventos religiosos, além da utilização da plantas alucinógenas.
Pode-se dizer que os estudos da Pré-história do Brasil ainda são
embrionários, havendo mais estimativas e deduções, do que fatos incontroversos
sobre a origem e trajetória dos povos anteriores à chegada dos portuguesas. Consta
que existem no Brasil apenas 300 arqueólogos atuando neste momento no país,
sendo absolutamente desconhecida a maior parte dos sítios arqueólogos do país.
As universidades brasileiras não oferecem cursos de arqueologia, e os cursos de
História pouco discutem esta disciplina.
Por outro lado, o desenvolvimento da genética, da linguística e da físico-química
apontam novos horizontes quanto às descobertas de vestígios e análises daqueles
povos a partir da cerâmica, das pedras, das pinturas de cavernas e dos vestígios
ósseos, combinados com as fontes históricas escritas a partir do século XVI.
Bibliografia
FUNARI, Pedro Paulo. NOELLI, Franciso Silva. “Pré
História do Brasil” – Ed. Contexto.
Quadro - "Índios adorando o Sol" - François Auguste Biard - 1860-1861 - Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário