“O Saci” – Monteiro Lobato
Monteiro Lobato certamente é o
escritor mais conhecido do Brasil. E ficou notabilizado por conta dos seus
livros infantis.
Ocorre que a opção por escrever
livros para crianças ocorreu num momento tardio da produção ficcional do escritor.
O primeiro livro da Coleção Sítio do Picapau Amarelo, chamado “O Saci”, foi
publicado em 1921, quando o escritor tinha 39 anos de idade. Consta ter sido o retorno à literatura infantil um reflexo dos desgostos dos adultos que o
perseguiram injustamente.
O escritor nasceu na cidade de
Taubaté, no interior paulista. E foi no interior de São Paulo que passou a
maior parte da sua vida. Depois de diplomar-se em Direito pela Faculdade de
Direito do Largo São Francisco, é nomeado Promotor na cidade de Areias em maio
de 1907. Já no ano de 1911, morre o seu avô, o Visconde de Tremembé, e dele
herda a fazenda de Buquira. Deixou de ser promotor de justiça para ser fazendeiro.
E foi o cenário dessa fazenda que
imaginou e criou as histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo.
“O sítio de Dona Benta ficava num lugar muito bonito. A casa era das
antigas, de cômodos espaçosos e frescos. Havia o quarto de Dona Benta, o maior
de todos, e junto o de Narizinho, que morava com sua avó. Havia ainda o ‘quarto
de Pedrinho’ que lá passava as férias todos os anos; e o da tia Nastácia, a
cozinheira e faz-tudo da casa. Emília e Visconde não tinham quartos; moravam
num cantinho do escritório, onde ficavam as três estantes de livros e a mesa de
estudo da menina”.
Saci é o primeiro livro da série
do Sítio do Pica-pau Amarelo.
Em uma das férias de verão,
Pedrinho escuta de Dona Benta a história de Saci Pererê, um ser astucioso que
se diverte fazendo pequenas trapaças. Traz sempre na boca um cachimbo acesso e
na cabeça uma carapuça vermelha. A força do Saci Pererê está na carapuça
vermelha, como a força do Sansã está nos cabelos.
O Saci é incapaz de cometer uma
grande maldade. Mas diverte-se cometendo pequenas reinações: azeda o leite,
quebra as pontas das agulhas, faz dedal das costureiras cair nos buracos, bota
moscas na sopa.
Pedrinho vai em busca de um
vizinho chamado Tio Barnabé que lhe explica
e orienta como captar um Saci. Ao finalmente entrar em contato com o pequeno
diabo, trava com ele uma aventura na floresta, onde se deparam com o lobisomem,
a caipora, o curupira, o negrinho do pastoreio, a mula sem cabeça, a Iara e
finalmente a temida Cuca.
Em breves tintas, somos
introduzidos a cada um desses personagens do folclore brasileiro.
Conta-se a história do negrinho
do pastoreio, considerando um santo pelo povo gaúcho. O menino foi sacrificado
por um estancieiro malvado para puni-lo por ter lhe perdido um novilho. Amarrou-o
sobre um formigueiro de formigas carnívoras e deixou-as come-lo vivo. Como ele
sofreu na pele o maior dos sofrimentos, ele se compadece daqueles que sofrem.
Há a história de mula sem cabeça
que vomita fogo pelas ventas. Conta a história da caipora que é um duende
peludo, meio homem, meio mono, que costuma cavalgar os porcos do mato e deter
os viajantes para exigir fumo. E
finalmente, a Cuca que mencionamos na canção de dormir:
“Durma, nenê, que a Cuca já lá vem, Papai está na roça; mamãezinha no
Belém...”.
A Cuca tem cara de Jacaré, garras
de gavião e 3000 anos de idade. Ela sequestra Narizinho, fazendo com que Pedrinho
e o Saci saíssem em resgate da neta de Dona Benta. Há o confronto entre a
astúcia do Saci e a força da Cuca. E ao final, a inteligência prevalece sobre a
força.
O protagonista deste livro é
certamente o Saci.
Ele sagra-se vencedor sobre a
Cuca por conhecer a fundo a natureza a ponto de, num determinado momento, numa
conversa filosófica com Pedrinho, afirmar que os animais são mais inteligentes
que os homens. Por que? Porque os homens precisam aprender antes de fazer. Já
os animais já nascem sabendo a fazer.
O Saci possui a astúcia e o
conhecimento sobre a vida misteriosa da floresta.
O preto com cachimbo na boca foi
alçado a condição de herói pelo escritor que os ignorantes e mal intencionado acusam
de ser um supremacista branco!
Falamos que o escritor passou
para a literatura infantil já na meia idade, desgostoso com as perseguições que
a vida adulta lhe impunham. Seu mérito literário e sua importância política
como criador da primeira editora de livros brasileira e defensor do petróleo fazem-no
perseguido ainda nos dias de hoje. Para sua glória, perseguidos por aqueles que
odeiam o Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário