quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A atualidade do Trabalho em Marx na Batalha das ideias.


Resenha Livro #1 - "A Dialética do Trabalho" - Org. Ricardo Antunes - Ed. Expressão Popular



A série de artigos organizados por Ricardo Antunes no livro "A Dialética do Trabalho" da Ed. Expressão Popular cumpre papel decisivo e atual.

Em primeiro lugar, é a partir da apresentação dos textos históricos de Marx e Engels que o leitor terá acesso introdutório às diversas dimensões (econômicas, sociais e filosóficas) que o trabalho assume na tradição marxista. O contato com as fontes originais - em que pesem dificuldades de tradução e os recortes das seleções de textos fragmentados - são provavelmente o melhor ponto de partida para eventuais aprofundamentos.

Em segundo lugar, o trabalho de Ricardo Antunes é mais um aporte para fazer frente à ideologia capitalista sob sua atual roupagem "pós-moderna". Os atuais apologistas do fim do trabalho combatem as supostas "teleologias" conceituais, incapazes de contemplar uma realidade fragmentada e pautada mais por pequenas contingências e menos pelos processos ou tendências gerais.

No que se refere ao conceito do Trabalho, sua negação conceitual pelo pos-modernismo é emblemática. Afinal, a negação da validade da categoria do trabalho não é exatamente uma "novidade", é antes produto histórico do modo de produção capitalista (do qual o pós-modernismo é sub-produto) que, ao alienar o trabalhador de seus meios de produção, cria condições históricas para a rearticulação do trabalho em um sentido anti-humano, em trabalho alienado, ou em "não trabalho".

O Capitalismo funda o momento histórico em que o trabalho deixa de ter a finalidade de satisfazer a necessidade humana em sua interação com a natureza (fim) convertendo o trabalho na expressão da nova relação social fundada na propriedade privada, capital e dinheiro (meio).


A Dupla dimensão do Trabalho: Retomar o sentido do Trabalho

Verificamos uma dupla dimensão do Trabalho. Em primeiro lugar, há o seu caráter emancipatório, decorrente do desenvolvimento da sociabilidade humana e da própria transformação do homem em sua relação com a natureza mediada pelo trabalho - é sobre a centralidade do trabalho na afirmação do homem como sujeito social e na capacidade de planificar seus atos sobre a natureza a partir de sua vontade que Engels identifica a passagem do Macaco ao Homem - primeiro artigo da coleção.

Acrescentaríamos, ainda sobre a dimensão emancipatória do trabalho, a participação revolucionária da classe operária na superação do trabalho assalariado no âmbito do capitalismo. Salta aos olhos do leitor a radicalidade política dos textos originais de Marx, em especial em sua Crítica ao Programa de Gotha onde destacamos sua crítica frontal ao reformismo ou às saídas meramente jurídicas ou no âmbito da democracia capitalista. "O governo é o órgão da sociedade encarregada da manutenção da ordem social", afirma lipidamente Marx. Outras passagens interessantes colocam o que, mais tarde, Lênin chamaria de "definhamento" do Estado a partir de um processo de transição revolucionária conduzida pelos trabalhadores (produtivos ou não) que vai além das "ilusões democráticas" do programa lassaliano. Marx refere-se ainda às experiências da economia de cooperativas, reivindicando sua autonomia em relação ao Estado. Marx crítico da burocracia também surge na crítica à Educação, que deve, num programa revolucionário, banir a influência da Igreja e do Governo. "É o Estado que precisa ser educado pelo povo", afirma o autor.

No que se refere ao caráter alienante do trabalho, reportamos a passagem do texto "Preço, Salário e Lucro" de Marx. É um trecho longo, mas vale a pena resgatá-lo pela força simbólica com que descreve o trabalho alienado e o condicionamento do homem à máquina. "O homem que não disponha de nenhum tempo livre, cuja vida - afora as interrupções puramente físicas, do sono, das refeições etc. - esteja toda ela absorvida pelo seu trabalho para o capitalista, é menos que uma besta de carga. É uma simples máquina, fisicamente destroçada e brutalizada intelectualmente, para produzir riqueza para outrem. E, no entanto, toda a história da indústria moderna revela que o capital, se não tiver um freio, tudo fará, implacavelmente e sem contemplações, para conduzir toda a classe operária a esse nível de extrema degradação".


Conhecer as categorias do mundo do trabalho (trabalho produtivo, força de trabalho, salário, capital, mais valia, etc.) não tem a finalidade meramente acadêmica, não cumpre função descritiva de fenômenos, mas torna-se ponto de partida para compreender a complexidade do trabalho no sentido de retomar o seu sentido humanizador e transformar a história. Se o trabalho situa-se dentro de um quadro em que a alienação naturaliza a forma assalariada como "justa", cabe a reflexão e o debate sobre a forma como se conformou o trabalho na história e, particularmente, no capitalismo, quando o trabalho não mais satisfaz, mas degrada: "O homem estranha-se em relação ao próprio homem, tornando-se estranho em relação ao gênero humano", já alerta Antunes no prefácio da obra.

Se partimos do ponto de vista de que as condições sociais não estão simplesmente dadas ao "acaso" ou a "naturalidade da essência humana", será com contribuições como a desta coletânea que poderemos, em alto e bom som, afirmar que, assim como a História, o trabalho não acabou.

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