segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"Em torno de Marx" - Leandro Konder

Resenha livro #37 “Em torno de Marx” – Leandro Konder. Ed. Boitempo.




Leandro Konder nasceu em 1935, formou-se em Direito em 1958 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi advogado trabalhista. Com o golpe militar de 1964, foi preso, torturado e exilou-se em 1972, na Alemanha e depois na França. É professor da PUC-RJ e um dos principais intelectuais marxistas do país: junto a Carlos Nelson Coutinho, contribuiu para divulgar as ideias do filósofo húngaro Gyorge Lukács no Brasil.

Tem particular importância seus estudos sobre a recepção das ideias marxistas no Brasil: a obra “A Derrota da Dialética” expõe as dificuldades que houveram na interpretação e generalização dos textos de Marx no Brasil, seja a partir de dificuldades técnicas de tradução, seja pelo pouco acesso a textos (alguns inéditos no Brasil) e seja pela forte presença do pensamento positivista, influência pela qual o marxismo Brasileiro não é imune (Konder chama atenção para o fato de as ideias marxistas terem encontrado melhor terreno na Argentina, já na passagem do séc. XIX para o XX, por meio de Juan Bautista Justo (1865-1965), tradutor pioneiro do primeiro volume do Capital para o Espanhol).

“Em torno de Marx” trata de algumas premissas básicas do marxismo (sua relação com moral, com a religião, a questão da dialética, etc.) para, depois, discutir como as ideias do filósofo alemão tomaram corpo ao longo do séc. XX. A partir da parte II, há uma coletânea de ensaios sobre alguns autores importantes ligados ao marxismo ocidental, como Theodor Adorno e Walter Benjamin. Os autores são apresentados em capítulos curtos e sintéticos, oferecendo ao leitor uma visão panorâmica das principais ideias e obras aqueles que estão “em torno de Marx”.

A escolha por relatar e discutir os legados de Lukács, Gramsci, Sartre, além dos autores da chamada escola de Frankfurt sinaliza uma certa perspectiva sobre o marxismo, presente em todas as demais obras de Leandro Konder.

O marxismo em Konder reivindica a dialética e procura se afastar da chamada “linha-justa”, de orientações metodológicos mecanicistas e ortodoxas. Mesmo o texto do ensaísta carioca flui de forma diferente de manuais ou abordagens dogmáticas e formalistas do marxismo. Os autores analisados possuem particularidades próprias e cada um é apresentado de forma analítica e histórica, buscando relacionar como suas vidas dialogam com suas ideias políticas, como a teoria e a prática política de cada autor se manifestam em torno de uma práxis particular: Lukács, por exemplo, foi um homem de partido, o que, somado aos seus densos estudos teóricos, criou dificuldades pessoais, exercícios reiterados de “auto-críticas”, além de variações em sua linha de pensamento. Já Adorno foi diretor do Instituto de Pesquisa Social ligado à Universidade de Frankfurt: quando o mesmo instituto foi ocupado por estudantes em meio às turbulências do maio de 1968, Adorno solicitou a presença policial para a retirada dos estudantes e foi duramente criticado por Marcuse.

Igualmente, as práticas políticas (analisadas a partir de dados biográficos, correspondências, relatos, etc.) e as ideias teóricas formam um todo a partir do qual é possível lançar luz sobre os demais autores ligados à tradição marxista, levando em consideração as potencialidades das obras, mas igualmente aspectos contraditórios e zonas indefinidas de cada contribuição: uma perspectiva crítica que não faze das ideias dogmas.

“Em torno de Marx”, oferece ainda um capítulo sobre o Marxismo no Brasil e um estudo bastante interessante tratando como a direita, já em fins do séc. XIX, toma partido e denuncia as ideias marxistas: muito provavelmente sem a leitura dos originais, conforme se observa por artigos e livros de padres e bacharéis da elite acerca do “marxismo”, “comunismo” e “bolchevismo russo”. A contribuição de Konder, neste ensaio, é a de oferecer, sempre de forma acessível, elementos gerais para a compreensão de Marx e a forma como o marxismo influenciou e influencia a história das ideias.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

"Lênin e a Revolução Russa" - Christopher Hill

Resenha Livro #36 “Lênin e a Revolução Russa” – Christopher Hill – Ed. Zahar




Como se sabe, Lênin foi um dos dirigentes da Revolução Russa, membro da direção do Partido Operário Social Democrata Russo (fundado em 1898) e, após a cisão ocorrida no seu segundo congresso em 1903, articulador/criador do Partido Bolchevique (Partido da “maioria”).

Os Bolcheviques defendiam, por meio da publicação Iskra (“faísca” em russo), a via revolucionária e a ditadura do proletariado com participação camponesa, enquanto os Mencheviques (“minoria” em russo) atuavam pela aliança com setores da burguesia e pelo desenvolvimento do capitalismo em Rússia, etapa necessária para o desencadear da revolução.

Na verdade, a Rússia, desde o final do séc. XIX, já fora palco de conflitos sociais e políticos de toda a sorte: já antes do século XX há ações de grupos terroristas como Rabocheye Dielo ou a agitação política feita pelo grupo revolucionário e camponês dos narodniks. Grupos políticos tensionavam as relações sociais e produtivas do campo. Nas cidades, a industrialização incipiente e em condições desfavoráveis ao trabalhador ampliavam o descontentamento social e favoreciam a disseminação do marxismo. O pensamento e a cultura da Rússia de fins do séc. XIX envolve desde setores apoiados nas relações feudais do campo, nas ideias da igreja católica ortodoxa e na defesa do czarismo e da tradição russa, até liberais e socialistas moderados e grupos revolucionário.

O irmão mais velho de Lênin participou do grupo Pervomartovtsi, tendo participado de tentativa assassinar o Czar. Foi condenado à morte em 1887, fato que impressionara e faria parte do pensamento político de Lênin. Referencias a romances de Tolstoi (feitas por Christopher Hill) e mesmo outros escritores como Dostoievsky e Tchekhov sinalizam o universo cultural da Rússia, a mística camponesa que envolve a cultura russa (camponeses que teriam participação decisiva na revolução) e as influencias de ideias liberais, socialistas revolucionárias e populistas. É sobre estas condições gerais que se desenvolve o pensamento político de Lênin.

Indivíduos e a História

O objetivo do ensaio de Christopher Hill (publicado em 1947 na Inglaterra e em meados dos anos 1960 no Brasil) não é o de fazer uma biografia de Lênin, nem o de relatar como se deu a Revolução Russa em suas diversas fases, desde os conflitos de 1905, passando por fevereiro e outubro de 1917. O livro de Hill pretende analisar e descrever a forma como as ideias de Lênin evoluem conforme os acontecimentos na Rússia e, por outro lado, a forma como os acontecimentos na Rússia (dentre diversas determinações causais) são influenciados pelas ideias políticas do líder revolucionário. Da relação dialética entre o indivíduo e a história, o autor enseja algumas discussões importantes, particularmente o papel do indivíduo na história, a relação entre direção política e revoluções, além da própria forma como o pensamento político de Lênin não pode ser entendido como um conjunto monolítico e linear de ideias, mas como uma evolução que mantém relações diretas com acontecimentos dos quais não é um expectador, mas alguém que atua, intervem, etc.

Não temos muitas informações sobre autor do livro. Numa rápida busca pela internet, há menção no Wikipédia de que o autor é um historiador britânico marxista cujas posições estão ligadas a outros autores como Eric Hobsbawm (cujo provável livro mais conhecido no país é “A Era dos Extremos”) e Thompson (responsável pelo importante estudo “A Formação da Classe Operária Inglesa”).

Crise Política e a Revolução.

Como se sabe, a Rússia, antes da Revolução, era um país predominantemente agrário, em incipiente processo de industrialização. No país estava vigente o regime feudal e no âmbito político o czarismo apresenta, desde fins do séc. XIX, sinais de degeneração.

Christopher Hill chama atenção para a figura sinistra e bizarra de Rasputim (uma espécie de guru intelectual da czarina Alexandra) como forma de ilustrar as origens de um descontentamento massivo que iria impulsionar a revolução: “Rasputin era notoriamente depravado, visivelmente corrupto, e ao menos provavelmente manobrado pelos agentes alemães. Não obstante, através da czarina, achava meios para fazer seus amigos bispos e arcebispos, e até para canonizar um santo inteiramente novo; por fim, era praticamente quem ditava a formação dos quadros do governo, influindo assim diretamente nos rumos da política e da guerra”.

Destaca-se, portanto, o ambiente de descontentamento político generalizado, ampliado pelo fiasco da guerra entre a Rússia e Japão (1904-1905), durante a qual uma rebelião de marinheiros do couraçado Potemkin já sinalizaria uma situação de revolta.

As enormes baixas da Rússia ao longo da I Guerra Mundial e o despertar da revolução durante o conflito revelam a força das ideias revolucionárias sobrepostas ao chauvinismo da guerra. São válidas as menções feitas por Hill às condições subjetivas e objetivas pelas quais a Rússia passou naqueles anos, de forma a melhor compreender como um país atrasado economicamente foi palco da primeira revolução socialista da história, levando-se em consideração particularmente as dimensões territoriais e as condições adversas daquela luta: cerco do imperialismo, guerra em nível mundial e guerra civil articulada por agentes estrangeiros e a elite econômica local.

Lênin afirmava que, frente às contradições explosivas colocadas na Rússia antes de 1917, seria, naquele país, mais fácil do que na Europa ocidental iniciar a revolução. Entretanto, as mesmas contradições e o atraso econômico do país corroborariam para tornar mais difícil a construção do socialismo na Rússia de forma isolada. Havia, então, a expectativa de que a revolução se generalizasse pela Europa e tomasse um sentido mundial.

Revoluções

O ensaio de Christopher Hill supera obras de biografia que eventualmente lançam excessiva importância aos indivíduos em detrimento do movimento de massas, da situação econômica, social e política de cada conjuntura, etc. Um indivíduo projeta-se na história também por sua liderança dentro de uma luta concreta, mas sua intervenção individual não substitui as reais condições subjetivas/organizativas e objetivas de cada realidade.

Seja como for, a leitura do ensaio ainda nos é útil para compreender o que são conjunturas revolucionárias: num momento de crise estrutural do capitalismo, a saída revolucionária, mesmo reiteradamente deslegitimada pela ideologia dominante, é não só atual mas necessária.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

"Che Guevara - Política" - Ed. Expressão Popular

Resenha Livro #35 “Che Guevara – Política” – Eder Sader (org.)



Ernesto Che Guevara foi e é um dos mais conhecidos dirigente da revolução cubana junto a Fidel Castro e Camilo Centrifuegos.


A imagem de Che foi assimilada por um amplo número de pessoas por meio da disseminação de um certo senso comum que combina o engajamento político revolucionário com uma espécie de “romantismo de juventude”. Estas mediações correspondem não só a relatos e a história das lutas populares do séc. XX narradas em forma de livros e filmes, mas, principalmente, pela Indústria Cultural e publicidade comercial.



A imagem de Che, sua boina, as longas barbas e olhar expressando alguma severidade referenciada pelo comprometimento político “hasta la muerte” pela revolução, nem sempre evidenciam e favorecem o entendimento do sentido e das implicações históricas do movimento rebelde de 26 de Julho, da revolução cubana em seus diversos momentos e da construção do socialismo dentro de condições adversas – isolamento comercial em decorrência do embargo norte-americano e mesmo a própria violência bélica do imperialismo sob o a América Latina durante o séc. XX. Na verdade, os estereótipos afastam-nos de um maior entendimento dos personagens históricos, particularmente quando as caricaturas servem antes para vender camisetas do que para saudar e reivindicar as ideias do dirigente de uma das maiores revoluções populares do século passado. (Maiores em termos tanto de participação popular e camponesa, sem a qual a revolução não sairia vitoriosa, quanto no sentido do seu significado político naquela conjuntura).


O desafio aqui é o de trazer a tona em primeiro lugar o significado político da imagem de “Che” como um “idealista” ou “romântico”: tratar-se-ia de um "romântico" por ser também um inconseqüente ou sem os devidos "pés no chão". Ainda conforme a caricatura, a inspiração de Che apenas serviria de inspiração desde que a ação política seja circunscrita a um quadro domesticado – a “rebeldia” daquele estereótipo teria levado o “romântico revolucionário” à morte, o que, ainda segundo a construção ideológica, sinalizaria a inviabilidade do projeto revolucionário nos dias de hoje.

Poderíamos, finalmente, fazer menção à própria significação dada pela direita à Che Guevara, como um assassino cruel e bárbaro, igualmente sinalizando a forma como a interpretação acerca do passado revela expectativas de futuro.


Seja como for, a assimilação da imagem de Che Guevara por meio da publicidade comercial, por si só, contradita a percepção anti-capitalista que perpassa os textos e a prática política de Che, particularmente atento à construção de novos valores e de um novo homem sob o socialismo. O que gostaríamos de pontuar para introduzir e convidar o leitor a conhecer os textos originais de Che Guevara é que as diversas mediações a partir das quais a imagem de Che e a história da Revolução Cubana foram difundidas (seja para fins comerciais, seja como forma mais ou menos consciente de isolar o conteúdo revolucionário daquele movimento e sua projeção atual) podem ter esvaziado politicamente algumas premissas do pensamento e da prática daqueles que lideraram a Revolução Cubana de 1959.


E é a partir de uma leitura atenta dos escritos originais de Che Guevara que o livro (editado pela Expressão Popular) pode contribuir para uma melhor definição do sentido histórico daquele movimento e da própria participação de Che na Revolução Cubana, fugindo-se dos esteriótipos ou das mediações que buscam isolar a atualidade do projeto revolucionário dentro da perspectiva da construção do socialismo. E, ao mesmo tempo, interpretando aspectos do socialismo em Che que, na nossa opinião, não se mostraram eficazes historicamente, particularmente a tese do "socialismo em um único país".

Leitura dos textos originais de 'Che'

A seleção dos textos coube ao importante ativista político brasileiro Eder Sader – líder estudantil, militante da Liga Socialista Independente (de orientação luxemburguista) e da Polop. A seleção dos textos buscou contemplar em certa medida a própria evolução/amadurecimento político de Che. O livro começa a partir dos relatos da experiência das guerrilhas, o papel do campesinato e a teoria da revolução baseada em focos (o “foquismo”, como estratégia política que, como se sabe, foi igualmente praticada por organizações guerrilheiras da América Latina).

Há, posteriormente, alguns textos interessantes sobre o problema da indústria, da economia e do trabalho na Cuba pós-revolução. Após a tomada do poder político pelo movimento revolucionário e sua posterior adesão ao campo socialista, são relatados, por meio de polêmicas em torno de questões práticas, as enormes tarefas colocadas àquele grupo de dirigentes políticos: a transformação das bases de produção e do sentido do trabalho em Cuba e a construção de um novo homem.

Muitas das respostas dadas pelo movimento, soube-se depois, não lograram obter os resultados esperados. Apenas a vontade individual ou de um punhado de militantes não logra substituir um movimento real de massas ancorados numa transformação em nível mundial da economia, da política e da sociedade. Entretanto, a leitura dos textos de Che ainda nos interessa e muito, seja para assimilar melhor os erros (para não repeti-los), seja para assimilar a mística revolucionária daquela figura pessoal cativante, sem se deixar levar pelo senso comum e pelos mitos criados pela Indústria Cultural.

sábado, 22 de outubro de 2011

"Introdução ao Fascismo" - Leandro Konder

Resenha Livro #34 “Introdução ao Fascismo” – Leandro Konder






“Introdução ao Fascismo” oferece uma interpretação marxista do fenômeno histórico do fascismo: há a proposta de se dar uma definição àquele movimento político e situá-lo dentro de um contexto histórico particular. A tarefa de se delimitar a significação do conceito de fascismo não se limita simplesmente a entender sob quais condições tal tendência política constituiu-se em cada país durante o século XX, mas entender mesmo como, nas condições de implementação do capitalismo monopolista de Estado, alguns elementos mais ou menos comuns ocorreram e ocorrem na história. Ampliar e melhor dominar o conceito de fascismo significa entendê-lo como uma tendência política particular do capitalismo e, portanto, viva, mesmo sob formas ocultas. Por outro lado, a generalização do termo fascista para cada ação autoritária e violenta de governos, polícia ou organizações políticas pode afastar os socialistas de uma análise correta acerca de cada fenômeno concreto, perdendo de vista alguns traços essenciais que diferenciam a mera violência estatal (comum e natural sob a lógica do capitalismo) de um movimento fascista.

Alguns traços essenciais determinaram a ascensão do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha. No plano teórico, o fascismo “aproveita elementos das mais variadas linhas de pensamento reacionárias, reunindo-os de maneira eclética e em função de um uso muito claramente pragmático” (Lucácks). O fascismo, ainda, possui um claro caráter de Classe, estando intrinsecamente relacionado com a fase monopolista e imperialista do capitalismo. É politicamente conservador mesmo que eventualmente possa surgir sob uma roupagem “moderna”, como fora o caso do jovem e carismático duce. É um movimento chauvinista e que se serve da mistificação de um passado perdido a ser reconquistado (mitos), além do forte personalismo político, ambos, por suposto, relacionados a um projeto de poder fortemente autoritário, antiliberal e antisocialista.

No plano econômico, pressupõe a fase monopolística do capital a partir de um “certo nível de fusão do capital bancário com o capital industrial, isto é, a existência do capital financeiro” (Pg. 53).

No que se refere às classes sociais, o fascismo pressupõe a existência do que Konder afirma ser uma “sociedade de massas de consumo dirigido”. O fascismo serviu-se dos métodos então modernos de propaganda, incorporando as técnicas de estímulo ao consumo para a ação política. Assim, “no lugar da imagem dos políticos conservadores tradicionais, com seus fraques e cartolas, muitas vezes apoiados em bengalas seus vultos pálidos e senis, difundiu-se pela Itália inteira a imagem de um Duce cheio de vitalidade, viajando frequentemente de avião e ditando por telefone os artigos diários destinados aos leitores do seu jornal” (Pg. 47).

A interlocução dos líderes políticos com as massas por meio do rádio e da propaganda imagética (ambas facilmente manipuláveis) reforçou o caráter “modernizador” ou mesmo “revolucionário” do fascismo, disfarçando seu conteúdo político conservador e seu caráter social anti-popular.

Classes Sociais e aspectos econômicos

O apelo de massas das novas técnicas de propaganda criadas pela “sociedade de massas de consumo dirigido” sinaliza o conteúdo policlassista do movimento fascista. O apelo à unidade nacional, a criação de “inimigos comuns” e o mito da nação foi endossado a partir de um determinado contexto de desgaste de princípios do liberalismo, da democracia e do socialismo. Havia aquilo que Konder chama de uma “preparação cultural” para o fascismo, que envolve a difusão de preconceitos aristocráticos que influenciam inclusive as forças progressistas (abandonando o trabalho político com as massas e aumentando a confusão política destas).

Além disso, o próprio capitalismo, como sistema econômico que engendra e difunde cultura, teria papel na disseminação do chauvinismo.

“O capitalismo, como sistema, jogara os homens uns contra os outros, numa competição desenfreada onde só uma coisa podia contar: o lucro privado. Desenvolveram-se enormes metrópoles capitalistas, povoadas por multidões de indivíduos solitários, amendrotados, cheios de desconfiança. As condições técnicas da produção industrial aproximavam os seres humanos, socializavam a vida deles, mas as condições privadas, exacerbadamente competitivas, criadas pelo capitalismo para a apropriação da riqueza produzida afastavam-nos uns dos outros” (pg. 44).

Se o terreno cultural – profundamente anti-socialista e com aspectos aristocráticos e individualistas – encontra eco na difusão do fascismo, este, mais uma vez, expressa tendências inerentes ao capitalismo, seja em função das próprias condições técnicas da publicidade assimilada pela política, seja pela criação da “sociedade de massas de consumo dirigido”, seja pela própria condição do homem comum (afastado de práticas solidárias e alienado do trabalho) sob o capitalismo.

Um último e pequeno ponto, eventualmente inconcluso numa obra de Introdução, seria o de uma maior averiguação da participação do proletariado (e as razões para tal) dentro do movimento fascista. Segundo Leandro Konder, a classe operária teria sido menos envolvida pelo fascismo do que a pequeno burguesia, mesmo reconhecendo que parcelas do proletariado em Itália e Alemanha tivessem aderido ao fascismo.

Mauro Iasi, no prefácio do livro, alerta para a lacuna, o que implica, aqui, pensar a respeito dos papeis das classes sociais em momentos de radicalização política: a classe operária alemã e italiana desempenharam qual papel durante os regimes de Hitler e Mussolini? Se o fascismo (como afirma Adorno) é o resultado de uma revolução derrotada, como avalizar o papel das forças socialistas revolucionárias, da social-democracia da II Internacional e da URSS para a ascensão do fascismo?

Quais lições a classe operária pode tirar no sentido de romper o cerco de uma ofensiva cultural fascista promovida pela sociedade do consumo e pelo capitalismo monopolista de Estado?

Para fazer avançar melhor entendimento do fascismo e armar teoricamente aqueles que lutam pela liberdade e emancipação humanas, o desafio colocado por Konder vai além da mera determinação formal do fascismo. Ao discutir, assim, a forma como o fascismo foi interpretado ao longo da história, as relações entre o fenômeno político e sua projeção econômica e as ligações entre o fascismo e a desmobilização do movimento de massas (por meio da força e de derrotas históricas da classe trabalhadora) o leitor de “Introdução ao Fascismo” deverá ter melhores condições para analisar criticamente movimentos que tangenciam ou que se revestem de caráter fascista na atualidade.

“As condições atuais da luta não animam o capital financeiro a correr o risco de apoiar partidos de massa, capazes de empunhar bandeiras com cruzes suásticas nas ruas: é prefirível tentar manipular a maioria silenciosa que fia discretamente em casa, entregue ao consumo da Coca-cola e da televisão. Novos padrões de conduta política passar a ser inculcados sob a capa de atitudes não políticas.
As circunstâncias exigem dos fascistas que eles sejam mais prudentes e mais discretos do que desejariam. Pragmaticamente, adaptam-se às exigências dos novos tempos. Mas continuam a trabalhar, infatigavelmente, preparando-se para tempos “melhores”, que lhes permitam maior desenvoltura” (P. 178).

domingo, 2 de outubro de 2011

"O Idiota" - Fiódor Dostoiévski

Resenha Livro #33 “O Idiota” – Editora 34 – Tradução Paulo Bezerra



“O Idiota” (1868) foi escrito sob determinadas circunstâncias da vida de Dostoiévski, de maneira que a história narrada e, particularmente, a forma como é contada, ecoa a vida pessoal do escritor. Fugindo de credores, em meio a dívidas e crises de convulsão, o volume (682 páginas) parece ter sido escrito com compulsão, acessos de ímpetos e refluxos por parte das personagens, além de um nível de tensão dramática alto e permanente – situações limites desatam as personagens ora a rir e gargalhar, ora a chorar, ora a discutir e humilhar, ora a confraternizar, num pequeno espaço de tempo.

Para quem não está habituado ao texto do escritor, pode haver estranhamentos. Parágrafos com a extensão de páginas, repetições de palavras e reiterações de expressões do tipo “não obstante”, “ainda que”, “quero dizer...”, “por outro lado”, “por exemplo” “etc.”, expressam, aqui, a forma como a palavra sai de forma fugidia (e, nesse sentido, polissêmica) da boca dos personagens.

A despeito de alguns que julgam Dostoiévski um mal escritor, destacamos justamente o texto truncado, as palavras fugidias e polissêmicas das personagens, as longas orações e a falta de objetividade como aspectos que antes tornam “O Idiota” uma obra de arte de valor incomum do que manifestação de prolixidade. Ao longo da leitura, percebe-se certo domínio do narrador/escritor acerca dos fatos e, particularmente, das reações emotivas particulares de cada personagem. O “fugidio” e a “falta de objetividade” parecem antes ser manifestação de certo realismo do autor: o mesmo, de acordo com algumas notas de rodapé do livro, entendia ser o realismo antes produto de situações fantásticas do que de momentos ordinários, relatos objetivos de fatos cotidianos.

Na verdade, a intensidade dramática do texto, combinada com uma linguagem truncada que contempla fluxos de pensamentos e sentimentos irracionais, sugere-nos, antes, um completo domínio do autor sobre sua obra: o “realismo” em Dostoiévsky dá-se antes pela sua capacidade de descrever sentimentos contraditórios e ambíguos (igualmente expressos em palavras e ações “fantásticas”) tal qual eles (sentimentos) surgem-nos, muitas vezes: de forma indefinida, confusa e irracional.

O “realismo” aqui se deve, em sentido análogo, à provável percepção do autor de que a realidade fática antes se assemelha ao “fantástico” do que o que se pode entender como rotina. Mesmo diante daquelas circunstâncias em que o livro fora escrito (em meio a crises de saúde e cobranças financeiras), “O Idiota”, pareceu-nos, tratar-se de um relato fiel (e “realista”) da sociedade burguesa e aristocrática da Rússia do sec. XIX. As situações de elevada carga emocional, em Dostoiévski, parecer servir para criar condições para o leitor perceber e conhecer melhor o mundo descrito. A mesma intensidade dramática resulta tanto em uma forma textual diferente da habitual, quanto, mais importante, numa profunda viagem no coração e mente das personagens que vivenciam aquele momento histórico a partir das respectivas classes sociais (burgueses, pequenos burgueses e aristocratas).

O enigmático Príncipe Míchkin e questões políticas

Ora entendido como um louco, ora como uma criança, ora como um gênio, o protagonista de “O idiota” representa um contraponto às expectativas e aspirações comuns da sociedade russa do séc. XIX. Por meio do Príncipe (que faz lembrar Dom Quixote e Jesus Cristo), Dostoiévsky faz mostrar como na alta e média sociedade russa do séc. XIX um personagem com boas intenções pessoais é, antes de mais nada, um incompreendido.

Há um certo pessimismo aqui, havendo a ideia de que as ações boas e altruístas não encontram espaços em meios onde vigoram os valores burgueses e urbanos importados da Europa, co-existindo, não obstante, com o tradicionalismo Russo. A divisão de opinião acerca da modernização política e cultural da Rússia, pela via “ocidental” (“ocidentalistas”) ou por uma via tipicamente russa (“eslavófilos”) era objeto de debate, então. Não temos elementos suficientes para afirmar com segurança a qual grupo Dostoipevsky se filiava. Segundo informações bibliográficas – contidas na edição da “34” – o escritor era sim um crítico da linha ocidentalista, sem com isso ser um adepto sectário e sem críticas da linha eslavófila.

Seja como for, em “O idiota”, o Príncipe vê-se diante de uma sociedade em transformação, que importa valores e ideias liberais (havendo controvertidos diálogos acerca da “questão feminina”) e, não obstante, conserva entre alguns personagens valores e práticas antigas, como sinaliza as lembranças do general Ívolguin e algumas falas da velha Lisavieta Prokófievna. Excluído daquela sociedade por meios certamente injustos aos olhos do leitor, o Príncipe pode, hoje, retratar de maneira alegórica os limites dos discursos da ética, da justiça e do bem fazer em meio a um mundo movido pela busca incessante do lucro pessoal. O pessimismo dostoiésvkiano dá pistas da política de “O Idiota”.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

"O Mulato" - Aluísio Azevedo

Resenha livro # 32 - "O Mulato" - Aluísio Azevedo - Ed. Martin Claret





"O Mulato" (1881) foi escrito quando Aluízio Azevedo tinha 20 anos de idade. Segundo o prefácio do próprio autor, o livro foi feito e sentido a partir da perspectiva de um jovem escritor. Poderia haver aqui indicação de que a obra corresponderia à certa fase em que um dos inauguradores do naturalismo na literatura ainda não tivesse atingido total maturidade. Entretanto, surpreende, sim, a maturidade política e artística do texto - perceptível a partir das críticas às instituições tradicionais da sociedade patriarcal do Maranhão e de certa sensibilidade capaz de captar sensações bastante íntimas das personagens.

Há, igualmente, certa auto-referência no texto, como se a história do "Mulato" contemplasse as expectativas do jovem Aluísio Azevedo, particularmente quanto às críticas do provincianismo maranhense. Assim como o protagonista Raimundo planeja o quanto antes sair do Maranhão para a corte, Aluísio, ele próprio, sairia do norte para residir no Rio de Janeiro, onde viria a se tornar escritor reconhecido. (Cumpre ressaltar que o lançamento de "O Mulato" foi hostilizado no Maranhão e bem recebido no Rio de Janeiro, conforme constata-se na biografia do autor no wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alu%C3%ADsio_Azevedo)

Enredo

A história descreve a trajetória de Raimundo, filho de um português e uma escrava, enviado muito jovem para estudar na Europa, sem ter conhecimento de sua origem familiar. Ao retornar à província, busca re-construir o seu passado, desde que os seus tutores portugueses nunca revelaram quem foram os seus pais e em que contexto o mulato nasceu.

Raimundo retorna à província para reaver algumas terras herdadas do pai falecido. Instala-se na casa do tio, o potuguês Manuel. Apaixona-se e é correspondido pela prima Ana Rosa, anteriormente prometida a um caixeiro do pai. O relacionamento de ambos é inviável à família de Ana Rosa e à toda sociedade do Maranhão, que ver-se-ia "escandalizada" com um casamento de uma branca com um "mulato que foi forro à pia", referência aos filhos de escravos que tornaram-se livres com a Lei do Ventre Livre.

No que se refere ao relacionamento amoroso dos primos, há aqui todos os ingredientes para o que poderia ser mais uma história típica do romantismo brasileiro em suas primeiras manifestações. Assim como nas histórias de José de Alencar, há certa expectativa de que "o amor vença as barreiras impeditivas da sociedade", consagrando-se o relacionamento do casal, que viveria um final. Felizmente, o romance, comprometido com uma descrição naturalística tento do ambiente quanto das relações humanas, acaba tendo um final nada previsível e que escapa bastante à tradição literária romântica.

Crítica Social

Seja como for, a presença do mulato naquele ambiente social e, particularmente, o relacionamento de Raimundo com Ana Rosa cria condições para o autor fazer críticas sociais. Há a crítica da escravidão como um todo, relatando-se o tratamento bárbaro dado aos escravos. A denúncia do racismo vai mesmo além da escravidão, refletindo-se nas falas das personagens acerca do Mulato, criando os melhores momentos para o leitor perceber como foi se consolidando ideias racistas na sociedade patriarcal brasileira e mesmo localizando certas falas que explicam um pouco a conformação histórica do racismo no âmbito do capitalismo brasileiro. As críticas de Aluísio Azevedo, pela boca do mulato "Raimundo", também incidem sobre a religião e toda forma de mistificação. Conforme as ideias europeias importadas por setores da classe dominante brasileira do final do Séc. XIX, o romance naturalista explicita a defesa do cientificismo e do método positivista como formas de apreensão do real, em oposição à filosofia religiosa.

Religião x Ilustração

A oposição entre modernidade/racionalidade/ ilustração e religiosidade/ tradicionalismo/ mistificação ganha esteira na própria oposição entre espaços geográficos e gerações. O atraso da província do Maranhão, suas superstições, as carolagens ridículas das beatas e as mentiras do padre Diogo encontram lugar na Província onde se passa a história e é reproduzida, particularmente, pelos mais velhos. No aspecto geracional, há muitas menções, particularmente da velha Amância, acerca da liberalização dos costumes sociais, sempre se criticando, por exemplo, o fato de mulheres criarem o hábito da leitura ou de tocar piano, associando o papel da mulher sempre à resignação completa perante o pai, marido e a religião. O Jovem Aluísio de Azevedo, por meio do jovem estudante Raimundo, representa um outro pólo, correspondendo à ilustração racionalista européia, o ceticismo com relação à religião e políticas associadas às teses republicanas do final do séc. XIX. No que se refere ao papel da mulher, não há um rompimento essencial com a tese da subordinação, mas, por meio de algumas falas de Raimundo, identificamos, ao menos, certo reconhecimento de maior autonomia para "uma mulher crescida decidir com quem deve se casar". O fim da trama sinaliza de forma bastante pessimista a quais termos chegam os conflitos decorrentes das oposições geracionais e geográficas.

A leitura de "O Mulato" torna-se peça fundamental para historiadores que eventualmente pesquisem temas relacionados ao racismo no Brasil, ao papel da mulher nas sociedades patriarcais e escravagistas e os conflitos geracionais decorrentes de uma sociedade em rápida transformação, tal qual o Brasil do séc XIX, experimentando o início do regime republicano, a abolição jurídica da escravidão e a disseminação da ideologia positivista.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

"A Rebelião dos Marinheiros" - Avelino Bioen Capitani

Resenha livro #31 “A Rebelião dos Marinheiros” – Avelino Bioen Capitani. Ed. Expressão Popular




"A Rebelião dos Marinheiros" é, na verdade, uma auto-biografia de Avelino Bioen Capitani

Numa rápida busca pela internet encontramos poucas referencias do nome do marinheiro e ativista político. Encontramos e indicamos um artigo escrito pelo historiador Márcio Marquetto Cay (marido de uma prima de Capitani) com dados biográficos, uma fotografia de Capitani e alguns dos personagens descritos em "A Rebelião dos Marinheiros". (Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/resistencias-a-ditadura)

Surpreende negativamente a falta de informação sobre a história de Avelino Capitani. Igualmente, não nos consta haverem muitos relatos da história da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), importante na história das lutas sociais do país desde a sua fundação, ao resgatar a combatividade legada pela revolta dos marinheiros liderada por João Cândido, pela politização pela esquerda de setores importantes e de base das forças armadas e pela organização de ativistas que combateriam as forças armadas durante a ditadura.

Associação de Marinheiros

A história da associação de marinheiros e de sua Rebelião tem importância decisiva para se compreender como a polarização política do pré-1964 atravessava as forças armadas. O relato de Capitani sobre a história da associação e sua orientação política antes, durante e após o golpe revela como havia setores importantes da marinha (e mesmo do exército) preparadas e com real capacidade de reação ao golpe, disposição e combatividade para lutar por reformas internas das forças armadas no sentido de ampliação de direitos aos oficiais de baixa batente e, após o golpe, resistir à ditadura e lutar pela independência nacional.

A associação dos marinheiros foi a primeira tentativa de organização política pela base de membros do baixo escalão das forças armadas. Tinha um caráter sindical e lutava por direitos mínimos: reivindicava melhores salários à “marujada”, direito à folga e a não obrigatoriedade do uso de uniformes nas folgas. Foram, desde a fundação, reprimidos pela direção e atuavam em semi-clandestinidade. O fato dos associados serem trabalhadores e gente do povo (como o próprio Capitani, filho de camponeses) e a radicalização política da década de 1960 fizeram com que a associação se aproximasse do campo popular. Promove ações junto à UNE, busca apoio junto a sindicatos e movimentos sociais.

Capitani cita um evento ilustrativo e que serve para reflexão, particularmente frente à recente polêmica dentro da esquerda nacional sobre o caráter de classes dos bombeiros durante suas manifestações no RJ. A aproximação da Associação dos Marinheiros com o campo popular implicou em sabotagem de repressão de um acampamento das Ligas Camponesas em Goiás.

"O Local foi detectado pelos serviços de informação e o batalhão de fuzileiros, sediado em Brasília, recebeu ordens de reprimir. A subsede de Brasília informou a diretoria da associação e nós, imediatamente, repassamos o informe para Francisco Julião, líder nato das ligas, que resolveu pedir o nosso apoio. Tínhamos uma grande simpatia pelas Ligas e um bom relacionamento com Julião. Traçamos um plano imediatamente. Enquanto orientávamos a subsede para atrasar ao máximo a operação militar, Julião e seus companheiros deveriam sair do local.”

Igualmente, a forma de mobilização particular dos marinheiros e sua capacidade de combate teriam repercussões no momento pós golpe de 1964. Capitani participa da guerrilha de Caparaó, ajuda no treinamento militar e em ações de resistência à ditadura: fugas de presos políticos, tentativa frustrada de roubo a banco, recolhimento de armas para a guerrilha. Em diversas passagens sinaliza-se o fato de que os grupos guerrilheiros, mesmo contando com militantes treinados em Cuba, cometiam erros grosseiros, decorrentes da falta de conhecimentos técnicos acumulados pelos marinheiros. (Evidentemente, não se afirma aqui que as guerrilhas não lograram derrotar a ditadura por falta de capacidade militar e Capitani em diversas passagens identifica a desconexão entre a guerrilha e o movimento de massas como real origem da derrota. Aliás, já no exílio em Cuba, Capitani convence-se da não aplicação do foquismo à realidade brasileira).

De qualquer forma, o importante aqui é destacar alguns elementos da luta dos marinheiros de maneira a sinalizar possibilidade de ressuscitar movimento parecido no país. A possibilidade de se obter informação privilegiada e sabotar iniciativas de repressão aos movimentos sociais, o caráter popular das bandeiras levantadas pela associação dos marinheiros e o repertório de conhecimentos de práticas militares - indispensáveis para uma revolução que ponha em marcha as massas contra as forças de repressão da ordem - não podem ser desconsideradas em função de caprichos teóricos que, eventualmente, sejam resultados de mera tentativa de diferenciação de posição dentre forças políticas da “vanguarda”.

A Incrível história de Bioen Capitani

Ao final do livro, Capitani afirma ter a sensação de ter vivido 200 anos. A trajetória e toda a vida dedicada à militância política (cuja orientação, ao longo do tempo, aproxima-se das referencias da esquerda latino-americana, Che Guevara e Simon Bolívar) implicaram num livro bastante inspirador, particularmente àqueles que se identificam/atuam com/na luta popular.