sexta-feira, 21 de setembro de 2018

“Crise Colonial e Independência (1808-1830)" – Alberto da Costa e Silva (Cordenação)


“Crise Colonial e Independência (1808-1830)" – Alberto da Costa e Silva (Cordenação)



Resenha Livro - “Crise Colonial e Independência (1808-1830) – Alberto da Costa e Silva (Cordenação) – Ed. Objetiva

“Foi nesse cenário econômico que, em rápidos movimentos, ocorreram as grandes transformações do capitalismo e a criação do Estado nacional brasileiro. No ponto inicial do séc. XIX, a onda burguesa era percebida na colônia como notícia distante, assunto apenas de debate entre pessoas cultas, preocupação que não fazia parte do cotidiano econômico. De um dia para outro, em 1808, com o desembarque da corte de D. João, que fugia de Napoleão Bonaparte, a onda chega e ganha forma física instantânea. Ela muda não apenas a percepção do cenário como a situação da economia real e, especificamente, o quadro institucional da economia. A existência de um Estado soberano de fato molda o período de permanência da corte. Nele, “Brasil” deixa de ser uma utopia nacional e passa a ser uma ideia dotada de conteúdo real, mesmo sem independência formal”.  (Pg.169)
                
A História como disciplina específica, com seus pressupostos teórico-metodológicos e objetos de investigação delimitados, é relativamente recente. Certamente, pelo menos desde Heródoto (485-425 a.C) houve cronistas e todo o tipo de homem de letras que legaram valiosos relatos sobre o passado. Mas é apenas no fim do séc. XIX com Leopold Von Ranke e aqui no Brasil com Francisco Adolfo Varnhagen  que a história ganha contornos de uma disciplina específica, separada da filosofia, da sociologia e da política. 

Podemos falar aqui de uma historiografia positivista, cujo foco dá-se em torno do que hoje chamaríamos de história político-administrativa, com a pretensão, todavia, de ser um relato imparcial, através da narrativa sequencial dos grandes eventos e datas que nem sempre correspondem à relevância percebida pelos contemporâneos que presenciaram dado evento[1].   

Hoje o positivismo historiográfico está superado. A partir do movimento modernista da historiografia nos anos de 1930 com as contribuições de Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Paulo Prado e Gilberto Freyre, observou-se um movimento de aproximação da História e das Ciências Sociais. A influência da missão francesa vinculada à escola dos Annales quando da criação da primeira faculdade de história em São Paulo também contaram para o avanço nas pesquisas, em particular no que tange à história da cultura e à história das ideias.

Todavia, a História enquanto disciplina de ensino superior tem frequentemente suas pesquisas circunscritas a temas extremamente específicos afastando a produção acadêmica de um público leitor não especializado. A título de exemplo, estuda-se em nível de pós-graduação temas de pouca abrangência, como “a alimentação da população citadina da capitania de São Vicente no séc. XVI” ou “o envio das ordens carmelitas à América Portuguesa em 1580”. São estudos que por um lado ganham em profundidade, mas por outro perdem em envergadura, frequentemente com um tratamento exaustivo sobre o objeto de pesquisa sem uma contextualização que ao menos conduza a leitura de não profissionais.

Daí a importância de trabalhos como o desta coleção “História do Brasil Nação: 1808-2010”. Neste primeiro volume temos ensaios de um período extremamente dinâmico, e em dado momento revolucionário, que envolve a fuga da corte portuguesa e sua instalação no Brasil (1808), a abertura dos portos rompendo com o exclusivismo comercial da era colonial (1810), a elevação do Brasil à condição de Reino Unido de Portugal e Algavres (1818) e, destaque, a revolução constitucionalista do Porto em 1820, para suscitarmos alguns eventos importantes.

Pode-se dizer que a vinda da família real no Brasil foi antes uma retirada militar: tropas napoleônicas já avançavam sobre o território português quando o monarca D. João VI, sob pressão da Inglaterra, transfere a sede do Império Português ao Rio de Janeiro. Os relatos descrevem uma situação dantesca com pessoas buscando embarcar submersas na água bem como a separação de famílias em meio à conturbada retirada.

Salvador fora a sede do Brasil Colônia até 1763 e quando a corte desembarcou no Brasil encontrou no Rio de Janeiro uma vila modesta, com uma forte presença de escravos e sem condições imediatas para a instalação não só da dinastia Bragança, mas de um séquito de nobres que acompanharam a família real. Muito foi feito num curto espaço de tempo de modo a concretizar a cidade do Rio de Janeiro como a capital de um Império intercontinental. Criou-se o Banco do Brasil, o Jardim Botânico e a Imprensa Régia. Uma missão de artistas franceses, modistas e escritores serviu aos desígnios de uma elite, tanto brasileira quanto portuguesa, que buscava requintar-se através da moda europeia, ou mais especificamente, francesa. Foi criado o Real Teatro de São João (1813), bem como foi incentivada a vinda de artistas plásticos e cientistas que buscavam pesquisar a fauna e flora brasileiras.

Os ensaios deste trabalho abordarão aspectos da sociedade, cultura, política e economia através de uma narrativa panorâmica, pontuando as mais recentes descobertas da historiografia acerca daquele período de crise e desagregação do sistema colonial, da consolidação de uma nova nação (ainda que ausente um sentimento de identidade nacional que só seria consolidado muito tempo depois com o modernismo).

Todavia, enquanto os autores lançam luzes sobre diferentes aspectos daquela conjuntura histórica, fica a cargo do leitor uma reflexão posterior, que envolve o sentido geral do movimento histórico naquele período e explique a singularidade da emancipação brasileira num processo conservador em que o desenvolvimento comercial e do próprio capitalismo no país[2] irão conviver com a escravidão e com um regime político que em diversos aspectos não se difere do antigo Antigo Regime, transplantado para terras americanas.

A coroa teve de lutar contra tendências desagregadoras externas e internas. A Revolução Constitucionalista do Porto de 1820 buscava romper com o absolutismo e criar em Portugal uma Monarquia Constitucional com o retorno de D. João VI ao continente europeu, o que efetivamente ocorreu. No âmbito interno, criou-se um clima em que se via o movimento do Porto como partidário da re-colonização do Brasil, algo já impensável em face das transformações sócio-econômicas por aqui operadas desde 1808  - há uma polarização entre brasileiros e portugueses que impulsiona a emancipação. Internamente, há a revolução pernambucana de 1817, de caráter federalista, autonomista e republicano. Há a Confederação do Equador de 1824 com nítido caráter separatista e republicano. E houve as guerras de independência, frequentemente olvidadas, precedidas da adesão espontânea de algumas províncias às cortes de Lisboa em claro desafio ao poder central localizado no Rio de Janeiro.

Estamos assim diante de um período histórico singular que opõe ideias derivadas da Revolução Americana (17776) e da Revolução Francesa (1789) e a centralização política que informa o absolutismo. O liberalismo econômico, nas palavras de um historiador, um grande mal entendido no Brasil,  apareceu no país de forma contraditória, coexistiu com o tráfico de escravos até 1850 e a escravidão até 1889, bem como conciliou com o regime monárquico absolutista. Aliás, após a abertura dos portos brasileiros às nações amigas, nunca houve um número tão alto de escravos ingressando no país – tratava-se, para além das culturas do açúcar e do tabaco, efetivamente do negócio mais rendoso do período, num comércio dominado principalmente por portugueses.  Considerando que em 1823 apenas 9% da população morava em cidades e em algumas das cidades mais de 50% da população era de escravos, percebe-se como seria difícil constituir um mercado interno que consolidasse uma economia capitalista.

O processo histórico contraditório de rupturas e continuidades criou uma base pouco sólida para a dinastia Bragança – a opulência real, as festas civis/religiosas e os rendimentos devidos aos nobres que para cá imigraram foram arcados com impostos sobre a produção agrícola. Em troca, tanto D.  João quanto D. Pedro conferiam títulos de nobreza a centenas de brasileiros de modo indiscriminado e, importante, perpetuando práticas já obsoletas em países da Europa que passavam por sua experiência histórica das revoluções burguesas.

Em que pese este trabalho não ter a pretensão de oferecer novas interpretações sobre a crise colonial e a independência, o livro, pelo seu aspecto didático sem comprometer a fidelidade junto às fontes históricas, é uma boa iniciativa no sentido de fazer com que os estudos da história venham além dos trabalhos especializados, eventualmente acessíveis apenas ao historiador de ofício.   
       

Joaquim Cândido Guillobel - "Fiel retrato do interior de uma casa brasileira. (1814-1816)




[1] Poderíamos suscitar como exemplo o 7 de Setembro de 1822 com o Grito do Ipiranga, fato noticiado por um único jornal em sua época, não correspondendo, ao contrário do que se sugere, em um marco de ruptura mas a consolidação de movimento em direção à independência que os historiadores costumam rotular como processo de longa duração.
[2] Bem como a inserção do Brasil nas relações internacionais face ao desenvolvimento geral do capitalismo no mundo.

domingo, 26 de agosto de 2018

“Um Outro Olhar Sobre Stálin” – Ludo Martens


“Um Outro Olhar Sobre Stálin” – Ludo Martens

 Resenha livro – “Um outro olhar sobre Stálin” – Ludo Martens - Para a História do Socialismo Documentos



O escritor alagoano Graciliano Ramos certa feita bem observou: “nenhum homem é mais odiado pela burguesia do que Stálin. E com razão”. De fato, se houve um dirigente da esquerda revolucionária mais atacado e caluniado pelos meios de comunicação do imperialismo mundial, bem como pelos fascistas ao seu tempo, foi Stálin. E isto não é gratuito.

Em sentido contrário ao que se é aprendido frequentemente na escola e em filmes de hollywood, não foram os americanos com seu dia D que impediram o nazismo de triunfar. A guerra àquela altura já estava definida desde a batalha de Stalingrado, Kursk e a heroica resistência do povo soviético face ao cerco de Leningrado. O exército vermelho destruiu militarmente o nazismo e esta verdade deve ser levada em consideração com todas as suas implicações, bem como suscitando razões do êxito soviético.  Já os americanos, num momento em que os rumos da Guerra já estavam decididos, mataram 500 000 civis com a Bomba Atômica numa manobra para intimidar a URSS e o movimento comunista internacional.

Aqui aparece o interesse deste livro de Ludo Martens. Não se trata de biografia de Stálin, mas de uma análise objetiva calcada em vasto repositório de fontes que demonstram muito bem como somos muito mal informados acerca do que ocorreu na União Soviética e os fatos que se passaram no período de Stálin em particular.

No que tange à II Guerra, não haveria vitória em primeiro lugar sem a assombrosa industrialização que criou as condições para o desenvolvimento de um país extremamente atrasado, com uma maioria esmagadora de camponeses vivendo em condições medievais,  utilizando arados de madeiras e fortemente influenciados pela igreja com suas mistificações. Milhares de camponeses foram para a cidade e tornaram-se proletários e um forte estímulo no nível da cultura também fez avançar a consciência do povo - o engajamento na construção do socialismo. Não haveria vitória na II Guerra se não tivesse ocorrido igualmente importantes depurações dentro do partido e em particular no exército. As vésperas da guerra desbaratou-se a operação Tuckachév de inspiração bonapartista – dentro de URSS dos anos 30 havia atividade clandestina de todo o tipo de oportunistas que buscavam minar por dentro o primeiro país soviético. Se não houvesse depuração, o estrondoso número de 23 milhões de russos mortos na II Guerra Mundial seria maior.

O assassinato de Kirov em 1934 ou mesmo antes com a tentativa de morte de Lênin demonstram como havia uma intensa atividade clandestina buscando galgar posições para liquidar o regime soviético.

Talvez, a forma como se conta a história da Revolução Russa, muito inspirada nas narrativas anticomunistas, revisionistas e trotskystas, seria a de que a revolução correspondesse a uma data em outubro de 1917. Como se a revolução não fosse um processo histórico que perdura-se em encarniçada luta de classes em longa duração. Uma narrativa como se a revolução trinfou e uma suposta contra-revolução burocrático dirigida por Stálin engendrara um “estado operário deformado” desvirtua a realidade dos fatos. 

Para muitos militantes de esquerda, formados num ambiente onde ainda predomina os pontos de vista trotskystas e revisionistas, Stálin seria um ditador e um burocrata e de certa forma uma ruptura com a orientação leninista. Trótsky, aquele que aderiu ao menchevismo em 1903 e só aderiria ao bolchevismo em agosto de 1917; aquele que polemizou a vida inteira com Lênin nas questões mais essenciais como o problema a questão dos sindicatos (uma escola de comunismo em Lênin), sobre a I Guerra (enquanto Lênin dentro do espírito internacionalista proclama a guerra contra a guerra, Trótsky vacila achando oportuna a vitória militar do czar), sobre o socialismo num só país (que como veremos nada tem a ver com o nacionalismo e foi a tese defendida por Lênin).

Um novo olhar para o que foi a história da União Soviética nada mais é do que a constatação de que Stálin soube bem dirigir o partido num contexto que passa despercebido/desconhecido, com sabotadores de todo o tipo, com grandes proprietários especulando e com isso levando a fome às cidades, à infiltração de anticomunistas dentro do partido e até na direção, atuando no sentido de perseguir os mais capazes e mais valentes militantes, à destruição deliberada de Khulags de máquinas e animais para sabotar a coletivização da terra; uma situação de guerra de classes perdurou na URSS ao longo da segunda e terceira década do século passado fazendo com que alguns socialistas humanistas se chocassem com a “violência stalinista”.

Esta contextualização é importante para entender as razões da “unanimidade” de fascistas,  liberais, sociais democratas e trotskistas em caluniar Stálin. A vitória da revolução de Outubro despertou o ódio de todas as potências imperialistas que desde o início declararam guerra ao país dos soviets. Após a guerra perdura-se uma guerra civil numa frente ampla envolvendo a burguesia expropriada da Rússia, os grandes proprietários, militares do antigo regime e a intervenção de nada menos que 14 países diferentes operando em solo Russo. Além de consolidar a tomada do poder os bolcheviques tiveram que criar um exército desde o zero. As tropas do general branco Denekin e Kolchak, este último uma rara espécie de Hitler russo, estiveram perto de esmagar a revolução transformando a Rússia numa comuna de paris.

Este livro de Ludo Martens, nesse sentido, não pretende ser uma biografia de Stálin, mas a refutação das principais críticas que ouvimos sobre Stálin. Um trabalho altamente documentado que demonstra como foi montada uma verdadeira operação de guerra ideológica pelo imperialismo (e ao seu tempo o fascismo) contra a URSS[1].

As chamas depurações (1938/9) na verdade mostraram a sua justeza com o término da II Guerra. Quando os nazistas tomaram territórios soviéticos, a primeira coisa que faziam eram identificar as lideranças locais do movimento comunista e levá-los, com familiares, para morte nos campos de concentração: quantos colaboracionistas nazis, brancos, partidários do tzarismo, sociais revolucionários e kulags não prestariam ajuda a Hitler com o intuito de varrer os comunistas do poder. Criminosos políticos  foram devidamente afastados naquela conjuntura em que o país se preparava para uma guerra em proporção jamais vista. As fontes que são suscitadas em livros anticomunistas falam em 9 milhões de mortos na depuração. Após a abertura de arquivos nos anos 80, pesquisas de historiadores orçam em centenas de milhares de mortos – uma minoria por execução e uma maioria por problemas de saúde relacionadas a dificuldades de abastecimento as quais atingiam toda população. E mais, a primeira depuração foi entendida como exagerada e em 6 meses Stálin estabelece mudança de diretriz.

Todos os mitos que escutamos sobre Stálin bem como a história da revolução russa precisam cair por terra. É preciso entender que o nascimento do socialismo na Rússia foi um evento cuja violência é proporcional à reação não só das classes sociais proprietárias derrotadas, mas do imperialismo mundial: a URSS constitui uma ameaça de novas revoluções de outubros e a URSS sob Stálin que transformou um país donde camponeses aravam a terra com arado de madeira na segunda maior potência mundial, que colocou centenas de milhares de pessoas em escolas, institutos e universidades, que em 13 anos desenvolveu a indústria num ritmo jamais visto até então, que coletivizou a terra e destruiu politicamente a última classe social exploradora do país, os kulags, um país poderoso e influente que reivindicava o socialismo foi uma ameaça real ao sistema de exploração capitalista. A existência da URSS e a vitória do exército vermelho sobre o nazismo contagiou os trabalhadores por todo o mundo, colocando o capitalismo nos países centrais em grave risco[2] – da mesma forma ocorre com os países da periferia que se mobilizam contra o neocolonialismo, com apoio da URSS.

Outros mitos envolvem o aspecto burocrático da direção stalinista, quando Stálin combateu da forma mais reiterada os desvios, o relaxamento e acomodamento de dirigentes e suscitava as bases a controlarem a direção. A noção leninista de que o exército deve ter comissários políticos, estabelecendo uma relação coerente entre princípios e estratégias políticas e atividade militar foi aplicada a risca por Stálin.  Trótsky por sinal tinha posição diferente de Lênin e Stálin até aqui: a rejeição da direção ideológica e política do exército pelo partido. O chamado “culto à personalidade” também não tem qualquer embasamento face aos documentos de pessoas que conviveram com Stálin. Quando Kaganovich, um bolchevique que se manteve fiel às ideias revolucionárias, emendou em texto uma passagem com a expressão marxista-leninismo-stalinismo,  foi imediatamente repelido por Stalin.  Stálin não aceitou a redação de um livro sobre sua infância identificando que a publicação era toda ela laudatória, inverídica e impertinente. A grande verdade é que Stálin foi marxista-leninista, e, se quisermos, um leninista ortodoxo. É da velha guarda bolchevique e seu espírito rebelde remonta ao tempo do seminário quando lia Marx escondido sob a capa de uma bíblia. Expulso do seminário, iniciou atividade de luta direta com a autocracia:

“Stálin tinha 26 anos, quando pela primeira vez se encontrou com Lênin, na Finlândia. Foi em Dezembro de 1905, por ocasião da conferência bolchevique. Entre 1905 e 1908, o Cáucaso é o palco de uma intensa atividade revolucionária. Durante esse período, a polícia registra 1150 “atos terroristas”. Stálin desempenha aqui um grande papel. Em 1907-1908, dirige com Ordjonikídze e Vorochílov secretário do Sindicato do Petróleo, uma luta legal de grande envergadura dos 50 mil trabalhadores da indústria petrolífera em Baku. Obtêm o direito de eleger representantes dos trabalhadores, que se reúnem em conferência para discutir uma convenção coletiva de trabalho. Lênin saudou esta luta travada num momento em que a maior parte das células revolucionárias na Rússia havia cessado toda a atividade”.

A oposição Stálin e Trótsky, com a adesão de boa parte da esquerda junto ao segundo, explica muito das nossas debilidades. Só um idiota acredita que o socialismo em um só país de que falou não só Stálin mas também Lênin nada tem a haver com o internacionalismo. Trata-se de garantir a existência de uma trincheira abatido o inimigo, e desde esta trincheira avançar (e não recuar). A verdade é que Trósky até meados de 1930 não acreditava que uma país atrasado como a Rússia poderia avançar rumo ao socialismo (crença compartilhada por Bukharin) – apenas a vitória da revolução em países avançados poderia salvar a Rússia. Se este espírito de derrotismo e de renúncia à luta de classes encarniçada que se seguia da revolução à guerra civil prevalecesse, não se teriam criado as condições para uma resistência heroica do povo soviético face ao imperialismo e à guerra – Lênin e Stálin orientavam o partido e o povo a avançar, a engajar-se no trabalho e construir o socialismo, bem como defendê-lo em todos os níveis. A URSS foi uma trincheira do socialismo em nível mundial e isto explica a fúria dos capitalistas internacionais face a Stálin. O derrotismo de Trótsky mostrou-se errado na prática. Trótsky foi um oportunista, criou divisões e facções internas no partido, desenvolveu atividade clandestina e antipartidária em período que abrande as mais duras lutas de classe. Trótsky teve a ousadia de sugerir que a derrota da URSS face aos nazis poderia ser algo de bom pois criaria as condições para a revolução “antiburocrática” contra o stalinismo.

Por isso em todo mundo são os marxistas-leninistas os que lutam, não se desmoralizam e são aqueles que a burguesia e os capitalistas mais temem e odeiam. Trata-se o marxismo-leninismo não de uma narrativa, nem de uma visão social do mundo, nem de uma “moral” como fala o menchevique Trótsky, mas de uma ciência com seus pressupostos teórico metodológicos que quando bem assimilados fazem com que cada um sinta a mais plena convicção da justeza desta orientação política, firmeza e intransigência na ação.   
  




[1] Stálin propôs à Inglaterra e França uma aliança anti-hitler, mas a proposta foi rejeitada. Logo os comunistas se aperceberam de que a expectativa dos anglo-saxões era a de que Hitler atacaria a Rússia e destruiria o socialismo como lhes convinha. O pacto de não agressão foi nada menos que uma trégua de dois país que sabiam caminhar para o conflito. O pacto foi assinado entre a URSS e Alemanha e em termos militares foi decisivo – junto com a vitória na guerra da Finlândia pelo Exército Vermelho – para preparar a URSS para guerra.
[2] Aqui reside a origem do Estado de Bem Estar Social: benefícios aos trabalhadores para que não ocorram novas Revoluções de Outubro.

segunda-feira, 25 de junho de 2018


“Três Vezes Zumbi” – Jean França e Ricardo Ferreira



Resenha Livro – Três Vezes Zumbi: a construção de um herói brasileiro – Jean M. C. França e Ricardo A. Ferreira - Editora Três Estrelas

“Nenhuma categoria social lutou de forma veemente e consequente contra a escravidão que a dos próprios escravos. Nem por terem fracassado em seus esforços deixaram de condicionar em grau considerável o processo histórico brasileiro, em quase todos os seus aspectos mais importantes. No dia em que forem resgatadas da grande face oculta brasileira  - face mais ampla e importante que a visível e oficial – as revoltas escravas projetarão luz sobre um sem número de contradições históricas que de outro modo sempre permanecerão incompreensíveis. Na história das revoltas brasileiras, a de Palmares ocupa lugar ímpar. Não foi apenas a primeira, mas a de maior envergadura”. Décio Freitas in “Palmares: a Guerra dos Escravos”.

                
Este ensaio dos professores da UNESP Jean França e Ricado Ferreira não se propõe a ser mais uma biografia do Líder Zumbi ou um relato histórico do Quilombo dos Palmares. A proposta do trabalho é fazer uma síntese das diversas leituras e interpretações daquela insurreição e seu líder na história. Aqui reside o que há de mais interessante no ensaio: desde os cronistas, viajantes estrangeiros e homens de estado do Brasil colônia até as leituras mais contemporâneas daqueles eventos elaborando uma noção de resistência, de luta contra o elemento opressor Branco diante da barbárie da escravidão, até a construção do ícone de movimento negro, Zumbi.
                
Os autores identificam três grandes ondas que expressam diferentes noções acerca de Palmares. São diferentes visões sociais de mundo e contextos históricos que também vão se revelando conforme se observa como o Brasil colonial, o Brasil egresso da independência política em 1822 e as renovações dos estudos que se destacam a partir de Nina Rodrigues em fins do XIX e especialmente Edson Carneiro já em meados do século XX; como em cada período surgiu formas muito distintas envolvendo a figura de Zumbi e Palmares.

No período colonial a insurreição de Palmares era entendida como uma ameaça constituída à ordem vigente que se fundava no poderio quase incontrastável dos latifundiários. Sociedade construída à sombra da monocultura do açúcar, algodão e tabaco, sob a base do trabalho escravo. Como se sabe o Brasil colonial reduzia seu número de letrados a uma ínfima minoria: bacharéis e homens do estado que expressam o ponto de vista daquelas elites agrárias. Há paralelamente o relato dos jesuítas: os religiosos a princípio não se opõem a escravidão dos negros mas pretendem reformas no trato entre o senhor e seu escravo no sentido de sua adequação aos preceitos religiosos cristãos. Acerca da percepção dos colonos sobre a insurreição na Serra da Barriga:

“Ao longo dos Seiscentos e Setescentos, o quilombo despertou grande interesse e mereceu atenção de muitos letrados do período, holandeses e portugueses”. Pg.  149

O Palmares reconstruído por aqueles homens brancos e eventualmente ligados à administração da coroa se voltam aos contornos militares e administrativos do conflito.

“São extensas descrições da geografia da região, da configuração e disposição dos mocambos, estimativas sobre a população, notas sobre suas capacidades militares e, sobretudo, relatos de batalhas movidas contra os revoltosos”. Pg. 149

No séc. XIX com eventos bastante dinâmicos que envolvem a transferência da corte para o Brasil em 1808 e a nossa emancipação política ulterior, parece reduzir o interesse dos letrados de então pelos acontecimentos em Palmares. Quando se encontra menções, o grande Quilombo de Alagoas se mostra como um foco de barbárie, um empecilho ao desenvolvimento da civilização brasileira, nação que se constrói e identidade que deveria se forjar menos no negro e mais no elemento branco e indígena[1]. Certa literatura ufanista por outro lado ressalta os feitos do paulista Domingos Jorge Velho, bandeirante que alcançou a aniquilação de Palmares e foi erigido à condição de herói nacional.

Este mesmo Domingos Jorge Velho seria retratado na 3ª onda de interpretação não como um herói, mas como um cruel vilão, na verdade, um particular que à custa da destruição de palmares exige datas das terras então conquistas – alguém movido portando pela ambição de riquezas.  

Astrogildo Pereira, então secretário-geral do PC, lança as bases para uma primeira interpretação mais materialista do fenômeno histórico enxergando no quilombo manifestação de luta de classes, local de resistência em face dos poderes constituídos. Para os marxistas, Zumbi surge como um ícone dos oprimidos e com os movimentos identitários em fins dos anos 1980 como um símbolo da consciência negra[2]. Outro destaque dado pela mais recente historiografia revela o caráter multi-étnico de Palmares. Estudos arqueológicos que estão em curso revelam a presença de cerâmica  indígena, e mais de um historiador diz haverem no Quilombo não só negros, mas índios, mestiços e até brancos.

Uma questão a ser formulada aqui é: quais das distintas versões se aproximam da verdade, do que de fato ocorreu em Palmares e quem foi seu líder. Os documentos são bastante contraditórios nesse sentido. Para alguns, Zumbi é uma espécie de patente político militar e não um indivíduo em específico. Outros dizem que Zumbi advém da cultura Banto e tem caráter de divindade. Outros ao contrário dizem Zumbi significar diabo. Mais recentemente a historiografia passou a se referir de um lado a Ganga Zumba, primeiro “rei” de Palmares, e que, ao fazer um acordo e ser morto pelos combatentes oficiais, abriria espaço para o verdadeiro Zumbi, aquele que se recusou a capitular até a morte. Algumas versões dizem que, ao constatar a derrota militar, Zumbi se suicida jogando-se de um penhasco. Outros combatentes também se suicidam revelando preferir a morte à vida no cativeiro, sujeito a castigos que vão do pelourinho até a amputação de braços e pernas. Outros relatos dizem que Zumbi pelejou até a morte, com honradez.

Os autores em seu prefácio sinalizam para certa concepção equivocada de intangibilidade da verdade na história. Não estamos com isso endossando o ponto de vista Positivista, que de fato pretendia uma história definitiva, a verdade vista através dos documentos (fontes primárias), ou nas palavras do pai fundador da historiografia positivista Von Ranke, “Die Geschichte wie es eigentlich gewesen hat” – a história como de fato aconteceu. As diferentes versões da história evoluíram ao lado das inovações no campo político e teórico- metodológico da disciplina História. É possível contar a história da Palmares sob diversos enfoques e vieses políticos, mas é a confrontação crítica dos documentos por meio do materialismo histórico o meio de se aproxima mais da verdade[3] da história. Negar a verdade pode simplesmente significar que os relatos dos jesuítas e cronistas dos séculos XVII e XVIII são tão verdadeiros quanto às pesquisas arqueológicas em curso na Serra da Barriga - são verdadeiros parcialmente na medida em que revelam à reação das autoridades e da sociedade colonial à rebelião. Para usar uma bela ilustração de Michel Löwy, se a verdade científica das ciências exatas e da natureza não se equiparam às das ciências sociais, pode  pensar-se num mirante com diferentes andares em que cada narrativa terá um campo de visão mais ou menos vasto, bem como mais ou menos próximo do que ocorreu no principal quilombo das Américas Espanhola[4] e Portuguesa. O que os autores chamam de narrativa esquerdista nada mais fez do que elaborar uma história materialista, chamando atenção para, não “o risco” de Palmares para país sob o jugo da escravidão, mas como iniciativa pioneira de resistência do setor mais oprimido daquela sociedade. 

A direita ainda mantém os seus heróis como os Bandeirantes e homens de estado que nomeiam rus e avenidas das cidades brasileiras. A esquerda aliada aos setores explorados e oprimidos deve se permitir a eleger os seus heróis, papel legítimo atribuído ao Quilombo dos Palmares e especialmente a Zumbi.  




[1] A maior expressão do “nacionalismo” indianista é José de Alencar.
[2] Nesse sentido, o 20 de Novembro, dia da consciência negra ocorre na provável data da morte de Zumbi em 1695.
[3] Sem com isso “torturar” os documentos para que eles digam o que se tem como pressuposto teórico, o que foi o caso de nossos primeiros marxistas pouco familiarizados na doutrina de Marx.
[4] A título de exemplo, o Quilombo de Saramaka no Suriname.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

“Raízes do Brasil” – Sérgio Buarque de Holanda


“Raízes do Brasil” – Sérgio Buarque de Holanda



Resenha Livro - “Raízes do Brasil” – Sérgio Buarque de Holanda – Companhia das Letras - 26ª Edição

“Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade — daremos ao mundo o “homem cordial” . A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar “ boas maneiras” , civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo — ela pode exprimir-se em mandamentos e em sentenças. Entre os japoneses, onde, como se sabe, a polidez envolve os aspectos mais ordinários do convívio social, chega a ponto de confundir-se, por vezes, com a reverência religiosa. Já houve quem notasse este fato significativo, de que as formas exteriores de veneração à divindade, no cerimonial xintoísta, não diferem essencialmente das maneiras sociais de demonstrar respeito. Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida do que o brasileiro” Holanda. S. B. Pg 146-7
                
Sabe-se que o primeiro cronista da nossa a história foi o Frei Vicente do Salvador, franciscano da Bahia. Seu “História do Brasil” data de 1627. Assim como ele, outros cronistas e viajantes deixaram relatos valiosos sobre o nosso passado colonial, nossa herança rural, patriarcal cuja opulência e hábitos de fidalguia herdados da tradição ibérica conviviam candidamente com o trabalho servil. Todavia àquela altura não se pode cogitar de uma História enquanto disciplina ou fonte de conhecimento autônomo, com seus próprios pressupostos teórico-metodológicos. A História, bem como a Sociologia e demais ciências humanas irão ter seus contornos e sentido de especialização só no séc. XIX com o alemão Von Ranke e aqui no Brasil com o fundador da historiografia brasileira propriamente dita, Varnhagen.

Pode-se aqui falar de uma primeira geração de historiadores positivistas cuja história acerca das coisas brasileiras não raro cae num certo ufanismo: uma história dos grandes eventos e das personalidades dos estadistas e demais notáveis. Influenciados pelo naturalismo francês, alguns destes pioneiros da nossa historiografia como um Euclides da Cunha ou um Capistrano de Abreu interpretam o Brasil influenciados pelas noções de raça, pelo determinismo geográfico, com certo protagonista do elemento Português – em seu Capítulos da História Colonial, Capistrano embaralha o índio com elementos paisagísticos, quase como um elemento irrelevante e acidental da nossa trajetória – quando se sabe que o índio, em especial os tupis da região litorâneo, jogaram um papel estratégico no desbravamento do interior, ou mesmo antes associando-se aos portugueses na exploração do Pau Brasil, além de miscigenação profunda envolvendo os mamelucos de modo que na São Paulo colonial os habitantes, incluindo os colonizadores, falam a língua tupi, inclusive no recinto doméstico.

Se a Semana da Arte Moderna de 1922 criou as condições para a edificação de uma arte genuinamente nacional, não só quanto à temática – considerando o “nacionalismo” dos românticos indianistas – mas quanto à forma, ao estilo e mesmo aos propósitos, anos depois a revolução de 1930 colocaria em marcha mudanças estruturais, com o desenvolvimento associado à intervenção decisiva do Estado na economia e na sociedade. Uma revolução modernista na historiografia brasileira ocorreria na década de 1930, com o advento de “Casa Grande e Senzala” (1933) de G. Freire, “Evolução Política do Brasil” (1933) de Caio Prado Júnior e este “Raízes do Brasil”[1] (1936) de Sérgio Buarque de Holanda.

Trata-se de um momento em que a História se aproxima das Ciências Sociais. Cada qual parte de pressupostos teóricos bastante distintos mas movimentam-se no mesmo sentido de busca da especificidade Brasileira. Num país donde o Estado antecedeu a Nação, cumpria a este grupo de intelectuais forjar uma identidade nacional ou buscar as especificidades do Brasileiro sempre a partir da reflexão acerca do nosso passado, de nossa herança colonial. “Raízes do Brasil” é um notável ensaio que traça as linhas gerais da psicologia brasileira, da cultura e da história das nossas ideias. 

Para Sérgio Buarque o que há de mais essencial no povo brasileiro envolve por um lado nossas raízes ibéricas e por outro nossa herança rural, expresso no pessoalismo que se contrapõe à impessoalidade do Estado e da lei, o desleixo com que o colono aqui tratou a agricultura reproduzindo na lavoura de cana o métodos arcaicos dos índios sem o uso de arados, a nossa cordialidade que envolve não exatamente bondade, mas um sentimentalismo intimista que informa inclusive as relações comerciais para o espanto de viajantes estrangeiros no país. Nada mais avesso ao trabalho repetitivo, cotidiano, a longo prazo, em contraponto ao espírito de aventura que busca grandes fortunas no menor intervalo de tempo.

Ao contrário da tradicional historiografia positivista ou naturalista que interpreta o homem a partir das influências do meio, Sérgio Buarque segue uma orientação culturalista. Apropriação da dialética tratando de explicar nosso país a partir de oposições como cidade x campo, família x estado, aventureiro x trabalhador.

Vejamos algumas passagens que revelam a propósito a orientação webberiana do nosso autor:

“É compreensível, assim, que jamais se tenha naturalizado entre gente hispânica a moderna religião do trabalho e o apreço à atividade utilitária. Uma digna ociosidade sempre pareceu mais excelente, e até mais nobilitante, a um bom português, ou a um espanhol, do que a luta insana pelo pão de cada dia. O que ambos admiram como ideal é uma vida de grande senhor, exclusiva de qualquer esforço, de qualquer preocupação. E assim, enquanto povos protestantes preconizam e exaltam o esforço manual, as nações ibéricas colocam-se ainda largamente no ponto de vista da Antigüidade clássica. O que entre elas predomina é a concepção antiga de que o ócio importa mais que o negócio e de que a atividade produtora é, em si, menos valiosa que a contemplação e o amor”. Pg. 38

“Se semelhantes característicos predominaram com notável constância entre os povos ibéricos, não vale isso dizer que provenham de alguma inelutável fatalidade biológica ou que, como as estrelas do céu, pudessem subsistir à margem e à distância das condições de vida terrena. Sabemos que, em determinadas fases de sua história, os povos da península deram provas de singular vitalidade, de surpreendente capacidade de adaptação a novas formas de existência. Que especialmente em fins do século xv puderam mesmo adiantar se aos demais Estados europeus, formando unidades políticas e econômicas de expressão moderna. Mas não terá sido o próprio bom êxito dessa transformação súbita, e talvez prematura, uma das razões da obstinada persistência, entre eles, de hábitos de vida tradicionais, que explicam em parte sua originalidade?”. Pg. 36

De uma certa maneira a incapacidade do português de desenvolver a colônia a partir de uma orientação bem delimitada e estratégica ao invés do furor, da anarquia, do retirar o máximo da terra com o menor dos esforços tem definitivamente explicações que envolvem a questão da cultura. Em Portugal como se sabe o feudalismo não deitou raízes profundas. Uma burguesia mercantil granjeou ascensão social e o independência nacional portuguesa foi consolidado já no séc. XIV com a Revolução de Avis, antes de qualquer outro país europeu. Por suposto, tal burguesia estava muito longe de se assemelhar aos seus pares franceses da Revolução de 1789 que constitui o Estado controlado pela lei e condições ótimas para o desenvolvimento do capitalismo – a burguesia mercantil portuguesa aspira não ao acúmulo de riquezas, mas à fidalguia, despreza o trabalho, em especial o trabalho manual, em detrimento da busca de títulos de nobreza, consoante a visão social de mundo medieval. O gosto pelo discurso rebarbativo, o bacharelismo e o desprezo pelo trabalho manual causou estranheza ao pintor francês Auguste F. Biard que nos trouxe belos quadros retratando o Brasil do séc. XIX. Aquela influencia de cultura de fidalguia observou o pintor quando foi orientado a contratar um escravo para carregar seus instrumentos de trabalho, sendo mal visto pelos brasileiros quando pintava e carregava seus instrumentos por conta própria.

Todavia, uma análise restrita ao problema cultural se por um lado nos oferece retratos preciosos do passado, ainda possui limites nas questões mais fundamentais: por que o brasileiro é cordial? Por que da confusão entre o público e o privado que revela nosso patrimonialismo. Qual a base que engendra a nossa aversão natural à burocracia que remete a impessoalidade, à norma jurídica abstrata que contrasta com as vicissitudes da realidade – este último fato relacionado com a forma deturpada com que o liberalismo grassou entre nós. Ausente em Sérgio Buarque de Holanda uma análise mais materialista da história capaz de conferir-lhe sentidos que ultrapassem uma interpretação pessoal, ainda que muito bem feita. Ainda assim, além da riqueza de informações, este notável livro de história oferece interpretações pertinentes e de certa forma se soma ao marxista Caio Prado Júnior quando propugna uma revolução que dissipe nossas raízes ibéricas – até então, a respostas dadas pelos homens ilustrados deu-se em torno de sistemas em geral teleológicos e com suposta vocação de aplicabilidade universal, como o nosso positivismo, muito em voga em fins do XIX. Uma colônia agro-exportadora de poucos produtos suscetíveis às variações do mercado europeu, sob o predomínio dos Senhores de Engenho e dos Barões de Café e sob a base do modo de produção escravagista. De opinião semelhante ao de Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda:

“Se, conforme opinião sustentada em capítulo anterior, não foi a rigor uma civilização agrícola o que os portugueses instauraram no Brasil, foi, sem dúvida, uma civilização de raízes rurais. É efetivamente nas propriedades rústicas que toda a vida da colônia se concentra durante os séculos iniciais da ocupação européia: as cidades são virtualmente, se não de fato, simples dependências delas. Com pouco exagero pode dizer-se que tal situação não se modificou essencialmente até à Abolição. 1888 representa o marco divisório entre duas épocas; em nossa evolução nacional, essa data assume significado singular e incomparável”. Pg. 73


[1] Outra edição modificada de “Raízes do Brasil” foi publicada em 1947.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Joseph Stálin – Textos Diversos


Joseph Stálin – Textos Diversos

A imagem pode conter: Paulo Marçaioli, close-up

Resenha Livro – Joseph Stálin – Textos Diversos[1]

“A essência do trotskysmo consiste, antes de mais, na negação da possibilidade de edificar o socialismo na URSS pelas forças da classe operária e do campesinato no nosso país. O que é que isso significa? Significa que se, num futuro próximo, o apoio da revolução mundial vitoriosa não chegar, teremos de capitular diante da burguesia e abrir o caminho à república democrática burguesa. Portanto, temos aí uma negação burguesa da possibilidade de edificar o socialismo no nosso país, negação mascarada por uma frase revolucionária sobre a vitória da revolução mundial”.  Stálin 1930.

No ano passado por ocasião dos 100 anos da Revolução Russa ocorreram diversos debates envolvendo intelectuais, estudantes, trabalhadores e militantes partidários por todo o país.

Há uma certa narrativa sobre a Revolução de Outubro que sintomaticamente teve hegemonia dentre as diversas forças de esquerda no país a partir da derrocada da URSS e com o fortalecimento em nível global do neoliberalismo. Tal narrativa basicamente entende que a Revolução Russa evoluía no sentido do Socialismo até Lênin e seu afastamento por enfermidade da direção do partido para, com Stálin, observar-se um processo contra-revolucionário que resultaria num “estado operário degenerado”. Estamos obviamente nos referindo à narrativa dos trotskystas, havendo alguns que levaram esta delirante versão ao cúmulo do irracionalismo: nos anos 1920 da Rússia Soviética, em plena guerra civil contra as potências imperialistas da entente e seus prepostos capitalistas russos, estaria o poder soviético a caminho de passar por uma restauração capitalista. Indivíduos trotskystas como Tony Cliff e Alex Callinicus[2] advogam que na etapa em que Stálin e seus camaradas dirigiram a URSS houve a consolidação naquele país de um “capitalismo de estado[3]”. Ora para haver capitalismo, deve haver propriedade privada dos meios de produção (o que não era o caso) e luta de classes entre trabalhadores e burguesia (o que pela lógica deveria supor que a URSS saída da revolução de Outubro, trincheira a partir da qual evoluem novas revoluções por todo o mundo, sempre com o apoio decisivo da III Internacional, que esta nação era tão capitalista quanto seus mais encarniçados inimigos). Enquanto alguns trotskystas falam numa burocracia no poder, outros chegam a sugerir que o Partido Comunista e a sua direção transformaram-se numa classe social, e mais, numa classe social burguesa em luta contra os trabalhadores. Trabalhadores russos que na prática seguiram os comunistas sob Lênin e sob Stálin em sua maioria, não só na Rússia, mas no movimento comunista internacional.

Felizmente, em decorrência de fatores que envolvem a própria desmoralização de forças políticas trotskystas nas lutas concretas aqui no Brasil, cada vez mais se observa como a narrativa supracitada ganha menos peso e se constata que Stálin é a solução de continuidade de Lênin. Stálin foi um dirigente político extremamente lúcido e coerente com o leninismo: se Lênin foi o maior dos ortodoxos em face de Marx, ler as intervenções de Stálin é compreender que o mesmo foi o maior dos leninistas ortodoxos.

Tróstky não foi um bolchevique da velha guarda como Stálin que ainda em 1903, junto à fração leninista, já atuava politicamente no Cáucaso, especialmente em ações práticas que envolviam expropriação de bens da burguesia através de assaltos e ações armadas. Stálin é preso em Batum de onde foge e dirige-se a Tíflis em 1904 onde é levado à frente do Comitê do Partido Operário Social Democrata do Cáucaso.

É absurdo dizer que Trótsky seria a solução de continuidade de Lênin quando o primeiro adveio da ala menchevique, polemizou publicamente a vida toda com Lênin, com posições e concepções antagônicas em vários momentos – os dois tinham opiniões distintas sobre a Guerra Imperialista, sobre a questão da Paz com a Alemanha, sobre o papel dos camponeses na luta revolucionária – aliás não só na Rússia mas também na Revolução Chinesa, donde Trótsky subestima a etapa democrático burguesa da Revolução.

Trótsky apenas ingressou no partido bolchevique em Agosto de 1917 e, em que pese ter participado da insurreição de Outubro, intimamente não acreditava na vitória da revolução soviética sem a correspondente vitória dos trabalhadores contra a burguesia nos países adiantados do ocidente.

Lênin polemizou com Trotsky acerca da questão sindical, sua opinião era diferente do “ex-menchevique” no sentido de que os sindicatos longe de se reduzirem ao tradeunismo e às lutas econômicas, deveriam ser uma “Escola de Comunismo” – por sinal, as greves políticas que estouraram na Rússia na etapa revolucionária de 1905-7 num nível espantoso obrigou o Czar a conceder 4 diferentes Dumas .

A política de boicote a Duma foi defendida tanto por Lênin quanto por Stálin:

“Duas condições são necessárias a uma boa tática social-democrática: a primeira é que não deve estar em contradição com o curso da vida social e a segunda é que deve elevar cada vez mais o espírito revolucionário das massas.

A tática da participação  nas eleições está em contradição com o curso da vida social, uma vez que a vida mina os alicerces da Duma e a participação nas eleições reforça-a e portanto se contrapõe à vida”.  Stálin 1906
De qualquer modo, a narrativa predominante de que Trótsky corresponderia a um caminho justo da revolução e, pior, seria a solução de continuidade de Lênin revela-se como falaciosa diante das atividades do “ex-menchevique” em sua “oposição de esquerda”. Como se sabe a Revolução Russa deu-se em meio a 4 anos de Guerra Mundial e 3 anos de Guerra Civil, com a Intervenção Militar da Entente, guerras com a Finlândia e Polônia e a contra revolução interna representada por Anton Ivanovich Denikin que chegou a marchar sobre Moscou e o terrível Kolchak uma espécie de versão russa piorada de Adolf Hitler. Há de se constatar que os revolucionários em pouco tempo tiveram que criar um exército, o exército vermelho, considerando que a revolução envolvia a destruição do aparato-repressivo ideológico do estado capitalista, incluindo a desmobilização do antigo exército – os vermelhos tiveram que lutar começando um exército do zero. A fome assolava as cidades com as ferrovias paradas e o boicote do trigo e a sua especulação pelos proprietários rurais. Neste contexto de guerra civil, quando a unidade dos trabalhadores e a mais sólida disciplina partidária exigiam que o partido se colocasse como verdadeiramente um Estado Maior do proletariado na guerra contra os imperialistas e a reação, nesta conjuntura, Trótsky, em 1923, lança carta pública denunciando o CC do partido e dizendo que a direção proletária levaria o país à ruína – uma intervenção no mínimo ultra-divisionista.
Em 7 de Novembro quando do aniversário da Revolução Russa os trotskystas ousaram fazer uma manifestação contra o poder soviético. Consta que os próprios operários de Moscou desmascararam estes inimigos da revolução e expulsaram-nos literalmente da manifestação. Ainda em 1927 Trótsky e Zinoviev foram expulsos do partido e desde então o “ex-menchevique” desenvolveu atividades anti-soviéticas em Rússia e no exterior. Seus correligionários discutiram com a Alemanha e o Japão fascistas a possibilidade de uma guerra contra a URSS o que geraria a restauração capitalista em Rússia e a tomada de poder pela “oposição” – Stálin refere-se aqui a uma mudança qualitativa do trotskysmo de fração interna do movimento operário a um instrumento objetivamente contra-revolucionário, à serviço do imperialismo. Aliás, ainda quando esteve na oposição Trótsky reivindicava a possibilidade da criação das frações no partido, rompendo inteiramente com a essência do modelo leninista de partido que mantém a unidade (sem ser monolítico) baseando sua intervenção na teoria revolucionária de Marx e, importante, na auto-crítica constante.
Poucos dirigentes da história mundial do movimento comunista foram tão caluniados e injuriados como Stálin: a direita e os imperialistas hoje chegam ao ponto de equipararem-no à Hitler quando se sabe que foi o exército vermelho “estalinista” que destruiu militarmente o nazi-fascismo granjeando a URSS após a II Guerra Mundial o respeito e a admiração de proletários no mundo inteiro, colocando o capitalismo numa crise em que se viu obrigado a construir o Estado de Bem Estar Social – concessões para impedir novas Revoluções de Outubro.
Em que pese haver claramente uma nova tendência de resgatar e reivindicar corretamente Stálin como patrimônio de grandes homens que deram contribuição decisiva ao socialismo, ainda grassa entre nós as narrativas falaciosas dos grupos trotskystas. Iniciativas como a legalização do PCR (partido que reivindica Stálin) e a publicação das obras completas de Stálin pela editora Nova Cultura são dois indicativos de mudanças.
Ler as intervenções de Stálin significa quebrar mitos, ressignificar o desenvolvimento da Revolução Russa, compreender tanto a importância do vasto desenvolvimento industrial e militar da URSS quanto a relação entre as vitórias do socialismo sob Stálin e a concepção do socialismo num só país que é o verdadeiro internacionalismo leninista contra o “internacionalista” Trótsky. O internacionalismo de Trótsky era o resultado da sua não convicção na possibilidade de um país como Rússia avançar em direção ao socialismo sem o socorro do movimento internacional – e assim os trabalhadores não deveriam lutar e caminhar em direção ao socialismo, inclusive como norte ou trilha a ser caminhada nas frentes de trabalho e de batalha.
O Trotskysmo envolve práticas políticas como a calúnia dos adversários e uma concepção “moral” ou “teológica” do marxismo, extremamente vulgar, com ideias nada originais (como a concepção de “revolução permanente”[4] que se chocou com as 3 etapas distintas da Revolução em China, ou mesmo com a experiência de fevereiro e outubro em Russa).
É preciso avançar no trabalho de esclarecimento acerca da: (i) história da Revolução Russa e os seus desdobramentos ao longo do século XX; (ii) a prática objetiva política de Trótsky o que não se confunde com os seus pronunciamentos; (iii) um estudo acurado de Stálin, de seus textos, especialmente sobre a Questão Nacional, que oferecem ideias originais e se desdobram até em artigo sobre linguística[5]; (iv) e finalmente a conclusão inevitável que é a rejeição total de Trotsky e do trotskysmos nas suas mais variadas vertentes.   
        




[1] Textos Lidos: “Como a Social-Democracia considera a Questão Nacional?” 1904; “A Duma de Estado e a Tática da Social Democracia” 1906; “Marx e Engels Sobre a Insurreição” 1906; “A Luta de Classes” 1906; “Fortalece-se a Reação” – 1905; “Anarquismo ou Socialismo” 1907; “A RADA Ucraniana” 1917; “A Independência da Finlândia” 1917; “Carta a V. I. Lênin” 1918; “Relatório a V I Lênin” 1919; “A Frente de Petrogrado” 1919. “O Novo Ataque da Entente Contra a Rússia” 1920. “Três anos de Ditadura do proletariado” 1920.  "Sobre o Marxismo na Linguística" 1950
[2] Ligado ao partido SWP (Socialist Workers Party) britânico, uma espécie de PSOL inglês.
[3] Talvez os defensores desta tese nunca pararam para refletir que o Estado é capitalista, o Direito é especificamente capitalista e que não existe “capitalismo” sem “estado”.
[4] O conceito é de Marx e Trótsky o deturpa em benefício de sua política vacilante.
[5] Aqui se quebra outro mito: o de que Stálin era despreparado teoricamente em face do cosmopolita e intelectual Trótsky, o camponês dominava o marxismo-leninismo de forma invulgar.

sábado, 2 de junho de 2018

Resenha – Textos Diversos[1] – V. Lênin


Resenha – Textos Diversos[1] – V. Lênin



“Sou obrigado apresentar o pedido de demissão do CC, o que faço, mas reservando a mim a liberdade de agitação nas bases do partido e no Congresso do partido.

Porque estou profundamente convencido de que se “esperarmos” pelo Congresso dos Sovietes e deixarmos passar agora o momento, deixaremos a perder a revolução”. Lênin Set. 1917. 

A noção de que a política é uma interface da guerra pode ser extraída de diversas fontes[2] e definitivamente denota o legado teórico prático do dirigente da Revolução Russa Vladimir Ilich Lênin.

A passagem acima supracitada refere-se ao texto “A Crise Amadureceu” de 29 de Setembro de 1917 em momento decisivo na história em que os bolcheviques se colocam na possibilidade  imediata de tomar o poder político sob pena de perder uma única chance na história. A situação na Rússia naqueles meses era caótica com o governo republicano de Kerensnky em meio de uma intensa crise política especialmente em face da esmagadora maioria dos camponeses. A diferença aqui é que apenas os Bolcheviques apontavam a política correta para a questão camponesa que envolvia o fim imediato da Guerra, a saída do país do conflito imperialista enquanto no começo centenas e depois milhares de caixões voltavam com os filhos dos camponeses alistados mortos – e os reformistas reiteravam que o importante era a luta pelo território e não pela vida de milhares de soldados. A terra não havia sido distribuída como prometido e sob o governo revolucionário nada sequer havia sido feito para suprimir as relações de servidão no campo.

Outro dado importante é a consideração, conforme as análises de Marx, de que a insurreição é uma arte de modo que dias, semanas e meses valem anos sendo contra-revolucionárias as vacilações que puseram empecilhos à tomada do poder conquanto toda a sociedade, com os camponeses, rompiam com os mencheviques e socialistas revolucionários. Outro ponto de vista advogado por Trotsky era de que a revolução deveria esperar o Congresso dos Sovietes que teria a incumbência (ilegítima segundo Lênin) de “entregar o poder” aos bolcheviques. Por razões militares tal espera seria inviável com a perspectiva de tropas cossacas desfazerem qualquer movimentação com uma revolução fixada temporalmente. Lênin chama a posição de Trotsky de idiotice ou completa traição:

“Esperar pelo congresso dos Soviets é uma completa idiotice, pois isso significa deixar passar semanas, e as semanas e mesmo os dias agora decidem tudo. Isso significa renunciar cobardemente à tomada de poder, pois 1-2 de Novembro ela será impossível (tanto política como tecnicamente: concentrarão os cossacos para o dia da insurreição fixada estupidamente)”.

Abrir mão do elemento surpresa da insurreição quando as condições objetivas pavimentam a tomada do poder – este era o fundo do debate

Alguns desavisados ou pouco experientes acreditam ter sido Trótsky a solução de continuidade do leninismo. Nada mais falso e dado que precisa ser desmistificado com a leitura dos textos originais do próprio Lênin.

Trótsky apenas ingressou no partido bolchevique em meados de 1917 quando a rigor o movimento revolucionário russo inicia-se com o 1905-07.

E mesmo quando esteve Trótsky à frente de órgãos dirigentes como delegado da conferência de Brest-Litovsk[3]: uma acirrada crítica leninista.

Trótsky lançou mais uma de suas palavras de ordem confusa de “nem guerra, nem paz”, se opondo à orientação leninista.

“Durante as conversações com o comando alemão, Trótsky violou conscientemente as instruções de Lênin e do comitê central, recusando-se à conclusão imediata da paz, o que acarretou para a república dos soviets condições de paz ainda mais desvantajosas. “

Durante a Guerra Trótsky tem uma posição vacilante. Enquanto o internacionalismo leninista era bastante enfático quanto à luta do proletariado dos respectivos países contra a sua própria burguesia mesmo implicando na derrota militar, havia setores que buscavam conciliar o inconciliável, a luta contra a guerra e a não derrota no conflito.

É interessante que esta fórmula confusa do “nem...nem” já pode ser motivo de anedota para quem analisa as posições, especialmente diante do problema internacional, de algumas organizações trotskystas. A Política do PSTU na Síria assim se revela, contra Assad e contra supostamente o campo imperialista norte-americano mas, ainda assim, reivindicando armas do imperialismo para derrubar o governo nacionalista de um país periférico atacado pelo mesmo imperialismo. A neutralidade em política costuma ser ilusória e favorece o mais forte em litígio. 

Em contrapartida, em Lênin não há vacilações mas uma linha orientada e bem traçada pelo marxismo ortodoxo. Por ser um ortodoxo, conhecer a teoria revolucionária e ter uma atividade prática, Lênin soube prever o desenvolvimento da revolução russa no sentido da vitória.   



[1] Textos Lidos: “Carta a um Camarada” (1902); “O Começo da Revolução Russa” (1905); “Do Artigo: a Greve e a Luta de Rua em Moscou” (1905); “Os Destinos Históricos da Doutrina da Karl Marx” (1913); “Os Armamentos e o Capitalismo” (1913); “V Congresso Internacional de Luta Contra a Prostituição” (1913); “O Direito ao Divórcio” (1916); “Resolução Sobre a Guerra” (1917); “A Crise Amadureceu” (1917); “Sobre os Sindicatos, o Momento Atual e os Erros de Trótsky” (1920)
[2] Talvez a mais conhecida delas, em Maquiavel.
[3] Paz com setor imperialista da Guerra dirigido pelos alemães. A situação extremamente defensiva dos russos naquele momento pode sugerir que tal negociação equivaleria à coação mediante arma de fogo a um indivíduo desarmado e incapaz de reagir objetivamente. O indivíduo é obrigado a entregar o que tem. Esta paz vergonhosa foi revertida pela URSS posteriormente.