terça-feira, 16 de maio de 2023

“O Homem Nu” – Fernando Sabino

 “O Homem Nu” – Fernando Sabino



“Acredito que se conseguíssemos recuperar o menino que devíamos ter vivo dentro de nós, todos nos entenderíamos muito mais. Haveria mais paz e alegria, se os homens voltassem a ser meninos” (Fernando Sabino – “A Nudez da verdade”).

 

Fernando Sabino é um dos muitos grandes romancistas e poetas oriundos do Estado de Minas Gerais. É de lá que vieram, para citar alguns poucos nomes, Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa e Rubem Fonseca.

 

O mais famoso romance de Sabino, chamado “O Grande Mentecapto” conta a epopeia de Geraldo Viramundo, uma espécie de Dom Quixote mineiro, que percorre estradas sem fim (daí o nome “Viramundo”)  da sua cidade natal no Rio Acima, para Mariana, onde Viramundo ingressa no seminário; para Ouro Preto onde confraterniza com os estudantes; para Barbacena onde foi candidato (quase) vitorioso à prefeitura; pra Juiz de Fora, onde ingressou no exército; para São João Del Rei; para Tiradentes; para Belo Horizonte, etc. etc.

 

Aqui o leitor entra em contato com cada uma das realidades regionais que em conjunto dão contornos ao pitoresco e belo estado mineiro.  

 

Fernando Sabino nasceu em 1923 em Belo Horizonte. Aos 15 anos, iniciou sua carreira literária escrevendo nas revistas “Mensagem”, “Alterosa” e “Belo Horizonte”, com publicações de contos e crônicas.

 

Em 1941 inicia o Curso de Direito em sua cidade natal, terminando a graduação no Rio de Janeiro, para onde se mudara em 1946.

 

Em 1956 publica o seu primeiro romance denominado “Encontro Marcado”. Quatro anos depois publicaria a coletânea de contos e crônicas reunidas sob o nome de “O Homem Nu”, em que são reunidas 40 pequenas histórias, das quais a cômica situação de um homem pelado ficando preso ao lado da porta de seu apartamento (que dá o nome ao livro) é certamente o texto mais conhecido do público.

 

Nessas crônicas e contos o escritor explora com senso de humor o que há de pitoresco e poético no dia a dia: as fontes de suas histórias são fatos do cotidiano em que eventos inusitados acarretam situações que envolvem o ridículo e o cômico.

 

É  história de um homem que apanha de sua mulher até o momento em que inverte essa realidade, quando se descobre que o desejo da sua mulher não era bater, mas apanhar; um sujeito hipocondríaco que apenas encontra conforto psicológico após se casar com uma enfermeira; uma reunião de diretores de uma empresa onde um dos sócios escuta clandestinamente num rádio portátil o jogo do Brasil; e a já referida situação trágico cômica de um homem nu trancado para fora do apartamento que por isso é perseguido por vizinhos e as demais pessoas que com ele cruza.

 

Em 1993, Fernando Sabino publica “A Nudez da Verdade” em que conta a história completa de Telmo Proença, o personagem principal do conto “O Homem Nu”, escrito 30 anos antes.

 

Proença é um professor e pesquisador do folclore brasileiro e é convidado a participar de um lançamento de livro em São Paulo, para onde deveria partir de em um voo noturno partindo do Rio de Janeiro.

 

Aqui começa uma série sucessiva de fatos que só realçam o reiterado azar do protagonista. O seu voo foi cancelado por conta de uma chuva, razão pela qual se recolheu no apartamento de uma amiga, com quem manteve durante a noite relação sexual extraconjugal.

 

Pela manhã, vai preparar o café e buscar o pão do lado de fora do apartamento: a porta fecha e Proença fica trancado para fora, nu, iniciando-se a sua via crucis: é perseguido por moradores, vizinhos, transeuntes da rua e até pela polícia, por conta do atentado ao pudor. A história do “Homem Nu” é noticiada por toda a cidade, não se sabendo se se trata de um tarado, de um louco, de um bandido armado (e onde esconderia a arma, posto que nu?) ou de um homem em fuga por ser flagrado por um marido traído.

 

Desde o paraíso bíblico, Deus fez o homem nu, até as vestimentas se fazerem necessárias após o pecado original. Com isso, Telmo Proença é caçado como um animal: é um anátema diante do mundo e de Deus, banido pelo resto da sociedade cujos homens que, por dentro das suas roupas, igualmente estão nus.

 

Fernando Sabino faleceu em 2004, pouco antes de completar 81 anos de idade.

 

Bibliografia:

“O Homem Nu” – Fernando Sabino – Ed. Record

 

“A Nudez da verdade” – Fernando Sabino – Ed. Record.

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