domingo, 6 de março de 2022

Breves Notas Sobre Alexandre Púchkin

 Breves Notas Sobre Alexandre Púchkin




 

“Na época em que Púchkin nasceu (1799), o czar que reinava sobre a Rússia anda era Paulo I, o filho insano de Catarina II, que viria a ser morto dois anos depois numa conspiração palaciana, da qual tornaria secretamente parte seu filho e sucessor, Alexandre I. Moscou havia se tornado o centro da vida intelectual e artística do país. A alta sociedade, que em São Petersburgo gravitava em volta da Corte, em Moscou, via de regra, entediava-se. Os jovens promissores liam os imitadores russos de Parny, Rousseau, Racine, Voltaire, enquanto as jovens (e velhas) suspiravam com romances sentimentais que apareciam aos montes, todos iguais e de qualidade duvidosa. A mesmice dominava também o cotidiano. De manhã, praticavam equitação e, à noite, em dias certos da semana, quando não havia baile ou carteados, frequentavam salões. Os chefes de família cuidavam da administração de suas propriedades rurais, onde a família passava temporadas anuais, justamente com numerosa criadagem, parentes, servos e agregados. O povo, como sempre, sofria”. (BRNARDI, Aurora. “Púchkin e o Começo da Literatura Rua”. Caderno de Literatura e Cultura Russa. USP).

 

Aleksandr Sergeevich Púchkin é aclamado como o maior poeta russo e fundador da moderna literatura daquele país. Transitou pela poesia lírica e épica, pelo teatro e pelo romance, sendo tradicionalmente relacionado ao movimento romântico, com aproximação do realismo, especialmente nas suas obras mais tardias.

 

Pode-se dizer que sua importância está para literatura Russa de maneira equivalente ao papel de Willian Shakespeare para o teatro Inglês. É tido como iniciador da literatura Russa: inaugurou um novo modelo literário, sem se basear em heranças ou escolas literárias anteriores, posto que inexistentes na Rússia. Ele se inspirava na cultura e na poesia popular medieval russa.

 

O escritor nasceu em 6 de Junho de 1799 em Moscou. Seu pai era um jovem oficial da guarda, mal administrador, colérico e atormentado por dívidas. Sua mãe era neta de Ibraim Hannibal, conhecido como primeiro grande intelectual negro da história do ocidente. Este bisavó de Puchkin, em 1703, foi capturado e vendido ao sultão de Constantinopla, que por sua vez o deu de presente ao czar Pedro, o Grande. O imperador russo adotou Hannibal e o colocou na corte para viver como seu afilhado, posteriormente o enviado para Paris, onde conclui seus estudos, se formando em engenharia militar.

 

Hannibal conheceu em Paris Voltaire, Montesquieu e Didetor, entre outros pensadores, que o chamavam de “estrela negra do iluminismo”.

 

De modo que não é incorreto dizer que o maior dos poetas russos tinha descendência africana!

 

Na biblioteca do pai, Púchkin leu Plutarco, Homero, La Fontaine, Moliére, Corneille, Rancine, Diderot e Voltaire. Seguindo um costume da época, aprendeu francês por meio de seus preceptores, sendo patente a influência da cultura francesa na Rússia, especialmente no período de Catarina II (1762/1796), imperatriz com reputação de mecenas das artes e correspondente dos iluministas Voltaire, Diderot e D’Alambert.

 

Aos quinze anos, quando estudava num Liceu situado numa das fazendas do Czar, Púchkin escreveu os seus primeiros poemas.

 

Após sua formatura, aos 18 anos de idade, passa a residir em São Petersburgo, onde vive uma vida de poeta, que poderíamos hoje denominar de “boêmio”.

 

Granjeava popularidade na capital por conta dos seus poemas, despertando a atenção e vigilância do Czar. Por conta da interceptação de uma carta em que se dizia “ateu” e pela redação de um poema (“Ode à Liberdade”) em que faz menção a tentativa de assassinato do pai do Czar Alexandre I, o poeta foi removido para o Sul da Rússia, numa espécie de exílio, até a morte do referido czar e da ascensão de Nicolau I, que deu anistia ao escritor, mas manteve a vigilância sobre o mesmo.  

 

O conto “A Dama de Espada” é representativo de um estilo literário com certo realismo na descrição das personagens e até mesmo do cenário cultural da Rússia de fins do XVIII e inícios do XIX.

 

Em uma das cenas em que uma condessa solicita de uma criada um livro para ler, fica espantada quando é informada que existem romances russos, indicando também a previsibilidade de romances de folhetim e sentimentais – uma literatura que igualmente estaria presente no Brasil, durante o nosso romantismo, algumas décadas depois.

 

A história relata um segredo guardado por uma Condessa, já idosa, adquirido após ela perder um jogo de cartas e não ter recursos financeiros para quitar sua dívida. Após solicitar ajuda a um amante, ele, ao invés de oferecer dinheiro, lhe revelou um mistério em que bastaria que escolhesse três cartas determinadas, apostasse uma atrás da outra, e todas as três como “sônica” (no jogo francês bassette, carta que ganha ou perde assim que aparece) lhe dariam a vitória.

 

O personagem Herman ao saber do referido segredo, passa a obsessivamente desejar contato com a condessa para, de posse do mistério jamais revelado, conseguir o dinheiro certo na aposta de cartas.

 

Para isso, simula interesse amoroso junto a uma criada da condessa, para conseguir uma entrevista com a velha, requerendo ou mesmo compelindo-a a esclarecer o mistério das cartas.

 

Este personagem Herman aparece como alguém diferenciado logo no início do conto: num salão onde jovens russos apostam, este filho de alemão, com aparência de estrangeiro, apenas observa e se mantem distante das apostas: apostar dinheiro para ele é o mesmo que “sacrificar o indispensável na esperança de obter o supérfluo.”. Se num primeiro momento, esta recusa ao jogo de cartas ao leitor parece sinal de virtude, logo depois verifica-se que Herman, descrito como alguém com “perfil de Napoleão e alma de Mefistófeles” será aquele que levará até as últimas consequências a ambição e ganâncias relacionados às apostas.  




 

Púschkin teve um casamento infeliz, surgindo escândalo de que sua esposa havia o traído, razão pela qual desafiou o desafeto a um duelo, o que ocasionou a sua morte, em fevereiro de 1837.      

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